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Aspectos do 7º Joint

DIRETRIZES EM FOCO

CLÍNICA MÉDICA

Aspectos do 7º Joint

Rui Póvoa

A recente publicação do JNC-VII (The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and the Treatment of High Blood Pressure) destaca alguns aspectos novos em relação à hipertensão arterial sistêmica que é a doença crônica mais prevalente no mundo e um dos principais fatores de risco cardiovascular. Esta publicação ressalta a falha do sistema de saúde na detecção e no controle da hipertensão arterial. Nos Estados Unidos somente 59% dos hipertensos detectados estão em tratamento e em 34% a pressão arterial está controlada. Em países não menos desenvolvidos, como a Inglaterra, o percentual de controle não chega a 9%. Não temos estatísticas no Brasil a respeito do tratamento e controle da hipertensão, e é fácil imaginar como deve ser calamitosa a situação. Por isso é importante a conscientização, tanto da população quanto dos profissionais da saúde.

Os tópicos deste JNC-VII em destaque foram:

•Apresentação de uma nova classificação, onde os indivíduos com PAS (Pressão arterial sistólica) entre 120-139 mm Hg ou PAD (Pressão arterial distólica) entre 80-89 mm Hg, são considerados pré-hipertensos. Continuou a definição de hipertensão arterial quando os níveis pressóricos são iguais ou superiores a 140/90 mm Hg. Porém, na classificação em estágios restou apenas dois; Estágio I (PAS entre 140-159 ou PAD entre 90-99 mm Hg) e Estágio II (PAS igual ou superior a 160 ou PAD igual ou superior a 100 mm Hg)

•Em pessoas com idade acima de 50 anos a PAS superior a 140 mm Hg é um fator de risco para todas as doenças cardiocerebrovasculares mais importante que a PAD.

•O risco de eventos cardiocerebrovasculares em indivíduos com pressão arterial acima de 115/75 mm Hg, dobra a cada aumento de 20/10 mm Hg.

•As modificações do estilo de vida que mais diminuem os níveis pressóricos são a redução do peso (5-20 mm Hg/10 Kg de PAS) e a dieta rica em frutas, vegetais e com pouca gordura saturada (Dieta DASH).

•Os diuréticos tipo tiazidas devem ser utilizados no tratamento farmacológico da maioria dos pacientes com hipertensão arterial não complicada, únicos ou em combinação com outras classes de drogas.

•A maioria dos pacientes hipertensos necessita de duas ou mais classes de medicamentos para atingir o objetivo preconizado (PA inferior a 140/90 mm Hg, ou inferior a 130/80 mm Hg nos diabéticos ou com doença renal crônica).

•Se a pressão arterial está 20/10 mm Hg acima do objetivo pressórico a ser alcançado, deve-se considerar a terapia com dois agentes, dentre os quais um pertencente à classe dos diuréticos tipo tiazida.

Comentário

Um dos aspectos mais polêmicos deste Joint VII foi a classificação de pré-hipertensos, que causou uma discussão muito grande no meio médico. Porém, é plenamente justificável, em vista destes indivíduos terem uma probabilidade maior de virem a ser hipertensos. E este alarme mobilizou a sociedade em geral para as graves conseqüências da hipertensão e da necessidade de uma conscientização geral, inclusive da classe médica. Neste grupo de indivíduos, se enfatiza a necessidade de mudança de estilo de vida como medida terapêutica, não havendo necessidade de intervenção farmacológica. Outro tópico muito importante foi priorizar os diuréticos tiazídicos entre os medicamentos mais eficientes quando não existir condições clínicas associadas que necessitem de um medicamento anti-hipertensivo em especial. E sempre reforça que nas associações, se não existir contra-indicação, o diurético é em geral uma boa escolha. O suporte para estas considerações terapêuticas está baseado em um grande estudo, patrocinado pelo governo americano (ALLHAT), onde o diurético foi pelo menos igual em reduzir eventos cardiocerebrovasculares em relação aos medicamentos mais recentes e evidentemente mais caros. Este aspecto financeiro nos dias atuais tem papel fundamental, pois deveríamos estar tratando 25% da população mundial, que é hipertensa.

Referências

1. The Seventh Report of the Joint National Commitee on Prevention, evaluation, and treatment of high blood pressure. The JNC 7 report. JAMA 2003; 289:2560-72.

2. The antihypertensive and lipid-lowering treatment to prevent heart attack trial (ALLHAT). JAMA 2002; 228:2981-97.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Maio 2004
  • Data do Fascículo
    2004
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