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Marcadores inflamatórios e prevenção cardiovascular: aplicação à prática clínica

DIRETRIZES EM FOCO

EMERGÊNCIA

Marcadores inflamatórios e prevenção cardiovascular: aplicação à prática clínica

Caio Brito Vianna

A aterosclerosclerose foi considerada doença degenerativa durante muitas décadas. Durante os anos 90, passou-se a compreender que, mais que degenerativa, a aterosclerose é uma resposta inflamatória a diversos fatores genéticos e ambientais.

Recente ''Guideline'' abordou a aplicação de marcadores inflamatórios (exames sangüíneos), para a prevenção de eventos cardiovasculares1, diretriz publicada pela American Heart Association.

O texto analisou diversos fatores inflamatórios e concluiu que nenhum deve ser utilizado preventivamente em saúde pública. Contudo, concluiu que proteína-C reativa, com técnica quantitativa, ultra-sensível, é exame de alto valor preventivo2-4.

A proteína-C reativa deve ser dosada com rotina, mas apenas em pacientes com alto risco para doença cardiovascular (pacientes diabéticos, hipertensos, dislipidêmicos, fumantes, com história familiar evidente, ou com múltiplos fatores de risco) e, como prevenção secundária, em pacientes com doença cardiovascular comprovada.

Comentário

É notório que a doença aterosclerótica visa causar morte natural das pessoas, conforme o envelhecimento. Ocorre sobremaneira nas artérias coronárias, nas carótidas e nas artérias cerebrais. Fica evidente a intenção da natureza em controlar a sobrevida, dando prioridade às proles, ou seja, às pessoas mais jovens.

De fato, aterosclerose parece ser uma resposta inflamatória em resposta a diversos fatores genéticos e ambientais de risco, como que um tipo de relógio biológico, de certa forma, um pouco impreciso. Contudo, pessoas idosas que demonstram atividade física expressiva, e em tese úteis para apoio de suas proles (isso para o homem natural), parecem de alguma forma prolongar a sobrevida.

Na última década, vários exames sangüíneos de atividade inflamatória foram identificados como fatores independentes (corrigidos para riscos tradicionais), capazes de prever risco elevado de eventos cardiovasculares. Diversos podem ser citados: proteína-C reativa2-4, amilóide-A, fibrinogênio, velocidade de hemossedimentação, leucócitos totais, interleucinas, adesividade de leucócitos e plaquetas, moléculas de adesão em leucócitos, plaquetas e no endotélio arterial, atividade da mieloperoxidase dos leucócitos (atividade leucocitária), fatores quimiotácicos de leucócitos e de plaquetas, fatores proliferativos derivados de diversos tipos de célula, em fim, inúmeros1,2.

O referido guideline1 traz conclusão prática. Apenas proteína-C reativa (ultra-sensível) é exame suficientemente estudado para ser aplicado na prática clínica. Conclui também que não deve ser usada para prevenção pública ou generalizada. Trata-se de um previsor confiável para pacientes com alto risco para doença cardiovascular (diabéticos, hipertensos, dislipidêmicos, fumantes, com forte história familiar ou múltiplos fatores de risco). Assim, deve ser exame de rotina nestas condições. Em pacientes com doença cardiovascular comprovada, para prevenção secundária, o Guideline recomenda examinar proteína-C reativa periodicamente, como espelho de eficácia dos medicamentos e do estilo de vida sobre a atividade inflamatória da aterosclerose.

Referências

1. Pearson TA, Mensah GA, Alexander RW, Anderson JL, Cannon RO 3rd, Criqui M, et al. Markers of inflammation and cardiovascular disease: application to clinical and public health practice: A statement for healthcare professionals from the Centers for Disease Control and Prevention and the American Heart Association. Circulation 2003, 107:499-511.

2. Blake GJ, Ridker PM. Novel clinical markers of vascular wall inflammation. Circ Res 2001, 89:763-71.

3. Ridker PM, Hennekens CH, Buring JE, Rifai N. C-reactive protein and other markers of inflammation in the prediction of cardiovascular disease in women. N Engl J Med 2000, 342:836-43.

4. Ridker PM, Rifai N, Clearfield M, Downs JR, Weis SE, Miles JS, et al. Measurement of C-reactive protein for the targeting of statin therapy in the primary prevention of acute coronary events. N Engl J Med 2001, 344:1959-65.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Maio 2004
  • Data do Fascículo
    2004
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