DIRETRIZES EM FOCO
OBSTETRÍCIA
Diretrizes para o câncer de mama gestacional
Waldemir Rezende; Marcelo Zugaib
A tendência atual em se retardar a gravidez para a terceira ou quarta décadas de vida, associada a maior risco de câncer de mama em pacientes jovens e maior sobrevida dessas pacientes, contribuem para maior incidência de câncer de mama gestacional (CMG). Considerando seu diagnóstico durante gravidez e até 12 meses após o parto, a incidência varia entre 0,7% e 3,9%, estabelecendo freqüência de um caso para 3.000 ou 10.000 partos.
Diante das alterações fisiológicas gestacionais, a vascularização aumentada, a hiper-celularidade, o edema, a secreção láctea, intensificam a densidade do parênquima, dificultam o exame físico, reduzem o contraste do tecido adiposo e prejudicam a interpretação da mamografia e ultra-sonografia.
A tolerância imunológica gestacional, constatada pela ausência de antígenos específicos (MHC-I), presença de moléculas HLA e redução dos anticorpos bloqueadores, restringe a imuno-reatividade.
O maior percentual de casos com linfonodos positivos, os receptores de estrogênio (ER) ou progesterona (PR) negativos, C-erbB-2 e p53 mais elevados e os índices elevados de mutação BRCA, comparando-se com o câncer de mama esporádico, depreendem agressividade tumoral.
Entretanto, analisando-se o mesmo estádio clínico e seus fatores de prognóstico, a sobrevida das pacientes com CMG parece semelhante, quando comparado com os casos não associados à gravidez.
Parece que o retardo no diagnóstico, a doença avançada, o padrão anatomopatológico e o perfil imuno-histoquímico agressivos, próprios dessa faixa etária, refletem em pior prognóstico circunstancial do CMG.
O tratamento obedece aos mesmos princípios da não-grávida. A radicalidade máxima deve obter o controle loco-regional e sistêmico da doença, objetivando-se o menor prejuízo estético possível e reduzida morbimortalidade materno-fetal, imediata ou tardia.
Comentário
Consideramos essencial a integração e sinergia entre obstetras, neonatologistas, oncologistas, mastologistas, integrando múltiplas instituições, intensificando as discussões sobre o tema, amplificando os recursos disponíveis para atenção integral à gestante com antecedente de câncer de mama ou com o diagnóstico de câncer gestacional.
Aperfeiçoando as atividades assistenciais com ensino e pesquisa, amplificaremos os convencimentos relacionados aos fatores imunologicos e imuno-histoquímicos para maximizar o prognóstico materno e fetal, das gestantes com câncer de mama.
Referências
1. Johannsson O, Loman N, Borg A, Olsson. Pregnancy-associated breast cancer in BRCA1 and BRCA2 germline mutation carriers Lancet 1998; 352:135960.
2. Smith LH. Obstetrical deliveries associated with maternal malignancy in California, 1992 through 1997 [Transactions of the Sixty-Seventh Annual Meeting of the Pacific Coast Obstetrical and Gynecological Society]. Am J Obstet Gynecol 2001;184:1504-13.
3. Woo JC, Yu T, Hurd TC. Breast cancer in pregnancy: literature review. Arch Surg 2003; 138(1):918.Medicina Baseada em Evidências.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
07 Maio 2004 -
Data do Fascículo
2004