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O óxido nítrico não deve ser recomendado para lesão pulmonar aguda

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

O óxido nítrico não deve ser recomendado para lesão pulmonar aguda

Werther Brunow de Carvalho

A hipoxemia e a hipertensão pulmonar estão presentes na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) e a gravidade de cada uma está intimamente relacionada com a mortalidade. A utilização do óxido nítrico inalatório (NOi) determina uma vasodilatação pulmonar sem nenhum efeito sistêmico. Taylor RW et al, 20041, realizaram uma pesquisa multicêntrica, randomizada, placebo controlada, avaliando 385 pacientes com lesão pulmonar aguda (LPA) e SDRA moderadamente grave (relação PaO2 / FiO2 = 250), sem sepse ou evidência de disfunção orgânica não pulmonar. O grupo placebo recebia gás nitrogênio e o grupo com intervenção NOi na dose de 50ppm por um tempo de até 28 dias, interrupção da ventilação assistida ou óbito. Observaram como resultados que o NOi a 5ppm não aumentou o número de dias que os pacientes permaneceram vivos e sem respiração assistida (média [DP], 10.6 [9.8] dias no grupo placebo e 10.7 [9.7] dias no grupo com NOi; p= 0.97; diferença, - 0.1 dia [95% intervalo de confiança, - 2,0 a 1,9 dias]). A mortalidade foi similar entre os grupos (20% no grupo placebo versus 23% no grupo com NOi; p= 0.54). Observou-se, a curto prazo (primeiras 24 horas), uma melhora estatisticamente significante na PaO2. Os autores concluíram que não existe um impacto substancial na duração da ventilação pulmonar mecânica ou mortalidade, apesar da melhora precoce da oxigenação utilizando-se doses baixas de NOi em pacientes com LPA.

Comentário

Pesquisas anteriores em pacientes adultos e pediátricos2,3,4 demonstraram que o NOi determinava melhora da oxigenação nos pacientes com LPA e SDRA, mas não tinha nenhum efeito na mortalidade ou na duração da ventilação pulmonar mecânica.

Portanto, os dados cumulativos das pesquisas clínicas sugerem que o NOi não tem lugar na terapêutica de rotina em pacientes com LPA e SDRA, não sendo recomendado como uma intervenção padrão nestes pacientes. A sua utilização pode ser justificada em pacientes nos quais a melhora da oxigenação manteria a estabilidade clínica durante a fase aguda da disfunção respiratória hipoxêmica, tendo um papel como terapêutica de resgate dentro de uma abordagem múltipla que incluiria outras estratégias, como a posição prona e a utilização de oscilação de alta freqüência.

Referências

1. Taylor RW, Zimmerman JL, Dellinger RP, Straube RC, Criner GJ, Davis K Jr, et al. Low-dose inhaled nitric oxide in patients with acute lung injury: a randomized controlled trial. JAMA 2004; 291(13):1603-9.

2. Michael JR, Barton RG; Saffle JR, Mone M, Markewitz BA, Hillier K, et al. Inhaled nitric oxide versus conventional therapy: effect on oxygenation in ARDS. Am J Respir Crit Care 1998; 1571(5 pt 1):1372-80.

3. Lundin S, Mang H, Smithies M, Stenqvist O, Frostell C. Inhalation of nitric oxide in acute lung injury: results of European multicentre study. Intensive Care Med 1999; 25:911-9.

4. Dobyns EL, Cornfield DN, Anas NG, Fortenberry JD, Tasker RC, Lynch A, et al. Multicenter randomized controlled trial of the effects of inhaled nitric oxide therapy on gas exchange in children with acute hypoxemic respiratory failure. J Pediatr 1999; 134:406-12.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Jul 2004
  • Data do Fascículo
    Abr 2004
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