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Transplante de órgãos: pagamento ao doador? Utilizar órgãos de condenados à morte após a execução?

PANORAMA INTERNACIONAL

BIOÉTICA

Transplante de órgãos: pagamento ao doador? Utilizar órgãos de condenados à morte após a execução?

Regina C. R. M. Abdulkader

O transplante de órgãos nos leva a várias questões polêmicas. J. Stewart Cameron e Raymond Hoffenberg trazem mais polêmica ao analisar o pagamento de órgãos e a utilização de órgãos de condenados à morte após a execução. Os autores mostram inicialmente a distinção entre Ética e Moral ressaltando que a análise ética de um problema deve ser clara e racional: O que deve ser feito? Quem deve decidir? Quais foram as bases para a decisão? O que foi decidido é o que eu desejaria para mim mesmo se colocado na mesma situação? Lembram que alguns assuntos levantam sentimentos de repugnância que podem interferir na análise. Após essa introdução, os autores passam a discutir o nefrologista (e, na minha opinião, o médico em geral) que se vê diariamente diante de dilemas éticos, e sobre as sociedades médicas que devem discutir ampla e profundamente os dilemas mais prementes e propor possíveis diretrizes, sempre tendo em mente que diretrizes das sociedades ocidentais podem não ser apropriadas em partes do mundo com diferentes filosofias e culturas. A questão do pagamento pela doação de órgãos é condenada pela maioria das sociedades nacionais e internacionais de transplante de órgãos, baseando-se em cinco principais argumentos. Eles são um a um contestados pelos autores, que concluem que não existiria um imperativo moral absoluto que proíba a venda de órgãos. O que provoca maiores celeumas é, na realidade, a exploração dos doadores pelos intermediários da doação, exploração que poderia ser solucionada pela criação de agências intermediadoras sem fins lucrativos. Ao discutir a utilização, para transplante, de órgãos de condenados à morte após a execução, os autores frisam que a grande questão é a existência da pena de morte e apresentam contra-argumentos que justificariam a utilização dos órgãos. Os autores concluem que as Sociedades Internacionais devem estar abertas para critérios éticos diferentes dos dominantes no mundo ocidental, que diretrizes amplas são difíceis de serem criadas e que é fundamental que os debates sejam mantidos.

Comentário

Um artigo que é, no mínimo, um exercício para a inteligência e um desafio para a noção de conceitos estabelecidos. Deve ser lido por todos aqueles que se propõem a tentar entender as contradições da Medicina atual.

Referência

Cameron JS, Hoffenberg R. The ethics of organ transplantation reconsidered: paid organ donation and the use of executed prisoners as donors. Kidney Int 1999; 55:724-32.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2004
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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