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Um longo debate: albumina versus soro fisiológico

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Um longo debate: albumina versus soro fisiológico

Werther Brunow de Carvalho

A escolha de fluidos para a ressuscitação do paciente criticamente enfermo permanece não esclarecida em relação à sobrevida.

Recentemente, Finfer S et al., 20041, realizaram uma pesquisa randomizada, duplo-cega, multicêntrica, comparando o efeito da ressuscitação fluídica com albumina a 4% versus soro fisiológico (Saline versus albumin evaluation - SAFE study), avaliando a evolução para óbito no 28.º dia após a randomização. Foram analisados 6.997 pacientes (3.497 receberam albumina e 3.500 receberam soro fisiológico). Não houve diferença significante entre os pacientes que receberam albumina a 4% e os que receberam soro fisiológico (risco relativo de óbito no grupo da albumina 0.99, 95% de intervalo de confiança, 0.91 a 1.09; p= 0.87). As taxas de evolução secundária - tempo de sobrevida, disfunção de órgãos, duração da ventilação pulmonar mecânica, duração da terapêutica de reposição renal e os tempos de permanência na UCI e hospitalar foram também similares.

Comentário

Uma metaanálise, realizada em 19982, concluiu que os pacientes que eram tratados com albumina tinham um aumento do risco de óbito (6% a mais). Uma outra meta-análise realizada por Choi PT et al, 19993, demonstrou que, nos pacientes com trauma, os que receberam cristalóide tinham uma mortalidade significativamente mais baixa do que aqueles que receberam colóides. Estas pesquisas geraram uma considerável discussão e controvérsia, até que Wilkes MM et al, 20014, realizaram uma outra metaanálise com 55 pesquisas avaliando 3.504 pacientes, concluindo que não foi observado nenhum efeito na mortalidade com a utilização da albumina e que os achados confirmavam a segurança do uso da albumina. A pesquisa SAFE é precursora de uma nova era em cuidados intensivos, caracterizada por um estudo randomizado, com uma grande população de pacientes e foi popularizada pelos especialistas em cardiologia5. Em termos práticos, a pesquisa conclui que a administração de albumina é segura e que os fatores que podem influenciar a escolha da ressuscitação fluídica para os pacientes criticamente enfermos incluem a preferência individual do clínico intensivista, tolerabilidade do tratamento, sua segurança e os custos, já que tanto a albumina quanto o soro fisiológico são clinicamente equivalentes para a ressuscitação do volume intravascular em uma população heterogênea de pacientes em UCI.

Referências

1. Finfer S, Bellomo R, Boyce N, French J, Myburgh J, Norton R, et al. A comparison of albumin and saline for fluid resuscitation in the intensive care unit. N Engl J Med 2004;350(2):2247-56.

2. Cochrane Injuries Group Albumin Reviewers. Human albumin administration in critically ill patients: systematic review of randomized controlled trials. BMJ 1998;317:235-40.

3. Choi PT, Yip G, Quinonez LG, Cook DJ. Crystalloids vs colloids in fluid resuscitation: a systematic review. Crit Care Med 1999;27(1):200-10.

4. Wilkes MM, Navickis RJ. Patient survival after human albumin administration. A meta-analysis of randomized, controlled trials. Ann Intern Med 2001;135(1):149-64.

5. Cook D. Is albumin safe? JAMA 2004; 350(22):2294-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2004
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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