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Deficiência de vitaminas e de minerais afeta um terço da população mundial

PANORAMA INTERNACIONAL

SAÚDE PÚBLICA

Deficiência de vitaminas e de minerais afeta um terço da população mundial

Ruy Laurenti

O "Bulletim - World Health Organization", em seu número de março 2004, na seção ("News") publicou comentários a respeito do problema que representa as deficiências vitamínicos e de sais minerais para quase todos os países do hemisfério sul.

Os comentários baseiam-se no relatório feito pela UNICEF e apresentado em janeiro de 2004, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. O relatório conclui que os esforços que vêm sendo feitos para melhorar a situação nas nações mais pobres do mundo estão sendo inadequados e a situação permanecerá, caso não sejam adotadas políticas mais agressivas.

Segundo o relatório, aquelas deficiências estão fazendo com que 2 bilhões de pessoas vivam em condições abaixo de seus potenciais físico e mental.

O relatório apresenta os resultados de estudos feitos em 80 países, identificando quatro nutrientes que são cruciais à saúde e desenvolvimento, quer intra-útero quer na infância: ferro, vitamina A, iodo e folato. A deficiência desses elementos produz alterações específicas que são descritas no relatório. Também se comenta que se na farinha de trigo fossem adicionados ferro e ácido fólico, ocorreria uma redução de deficiência de ferro em cerca de 10% e os defeitos congênitos poderiam ser reduzidos a cerca de um terço em cinco anos. Os custos para isso atingiriam um total de US$ 85 milhões, correspondendo somente a US$ 0,4 por pessoa.

Os comentários a respeito do problema, baseando-se no citado relatório, foram feitos por Judith Mandelbaum- Schimid, de Zurich, e terminam citando o diretor do Departamento de Nutrição para a Saúde e Desenvolvimento da OMS: "A suplementação é importante, mas não resolverá o problema sem a concomitante melhoria da dieta, saneamento e controle de doenças infecciosas."

Comentário

Realmente a questão das deficiências é um importante problema para as áreas e países pobres, a quase totalidade dos quais se encontram na África, Sudeste da Ásia e América Latina. A adição de micronutrientes, particularmente ferro e vitaminas como a "A" e o ácido fólico, tem feito parte de políticas de saúde em numerosos países. Entretanto, como aparece no relatório da UNICEF, é preciso ser mais agressivo.

É preciso chamar a atenção para o número de pessoas afetadas, segundo o relatório e que seria de 2 bilhões. Não resta dúvida que o problema é sério e grave, porém seriam 2 bilhões? É preciso muito cuidado com os números apresentados pelas agências internacionais como OMS, UNICEF, UNPRA e outras. Apenas como exemplo, essas agências apresentam o Brasil como tendo uma taxa de mortalidade materna em torno de 26 por 100.000 n.v, enquanto estudos sérios e bem planejados indicam ser em torno de 74-75. Recentemente, a Organização Mundial do Trabalho (OIT) informava que existem no Brasil 320.000 órfãos por morte de pais devido à AIDS. O Ministério da Saúde contestou esse dado, informando que o número não passaria de 30.000.

Voltando às deficiências de vitaminas e minerais: elas existem e são importantes, porém, afetariam um terço da população mundial? É preciso cuidado, ou melhor, muito cuidado com as estimativas feitas por agências internacionais e que nunca informam a fonte dos dados.

Referência

Mandelbaum-Schimid J. Vitamin and mineral deficiencies harm one-third of the World population, says new report. Bull World Health Org 2004; 82(3):230-1.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2004
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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