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Como investigar as anamolias dos ductos müllerianos?

À BEIRA DO LEITO

GINECOLOGIA

Como investigar as anamolias dos ductos müllerianos?

Maurício Paulo Angelo Mieli; José Mendes Aldrighi

O ginecologista deve estar atento quando atende casos de amenorréia associada a dor pélvica recorrente ou dismenorréia na adolescência. O raciocínio clínico deve ser complementado com as possibilidades propedêuticas atuais.

Na anamnese deve ser indagado sobre ocorrência ou não da menarca e se a história da paciente associa-se a queixas de dores no baixo ventre tipo cólica, muitas vezes cíclicas e, não raro, progressivas. O exame ginecológico pode revelar hímen imperfurado, malformação congênita do trato genital feminino, onde ocorre falha de tunelização da membrana himenal; percebe-se, por vezes, septos vaginais.

Exames complementares como ultra-som, ressonância magnética, vaginoscopia, histeroscopia e videolaparoscopia devem ser obrigatórios no diagnóstico correto, além de assumir especial importância no planejamento cirúrgico. O ultra-som pode sugerir imagens de hidrossalpinge e/ou hematometra, associadas ou não a hidro ou hematocolpo. A ressonância magnética avalia imagens específicas do trato genital e é fundamental para mostrar os tipos de anomalias dos ductos müllerianos. A vaginoscopia é útil na caracterização da cavidade vaginal, tanto para diagnóstico de septos transversais ou longitudinais, quanto mensuração da profundidade vaginal. A histeroscopia diagnóstica deve ser sempre considerada nos casos em que se faz necessária a avaliação de cavidade uterina. A videolaparoscopia permite adequada visualização das estruturas pélvicas e, embora seja procedimento cirúrgico, permite não só o diagnóstico de algumas malformações müllerianas, bem como diagnóstico diferencial com outras ginartresias e disgenesias gonádicas, evitando-se laparotomia.

Anomalias dos ductos müllerianos que causam obstrução à saída espontânea do fluxo menstrual, quando diagnosticadas corretamente, certamente permitem correção cirúrgica apropriada, podendo, não raro, salvaguardar o futuro reprodutivo das jovens acometidas. A não exteriorização do fluxo menstrual após a menarca pode ser causa de criptomenorréia e acúmulo de sangue retrógrado na via genital.

Assim, presença de desconforto na região perineal em adolescentes portadoras de amenorréia primária deve ser sempre valorizada. Ademais, sintomas como retenção urinária servem de alerta para possível compressão das vias urinárias ocasionada por coleções que não escoam nas estruturas vizinhas, como em casos de hematocolpos. A avaliação ultra-sonográfica de outros órgãos, em especial das vias urinárias, auxilia no rastreamento de malformações associadas, face a freqüente associação.

É importante ressaltar a possibilidade de se indicar ultra-sonografia transperineal no diagnóstico diferencial da amenorréia primária, caso não seja possível o acesso vaginal; este exame pode detectar, em casos de amenorréia primária, atresias cervicais, vaginais ou septo transverso no terço médio da vagina. É recomendável a utilização adjuvante de outros procedimentos, como monitorização ultra-sonográfica e laparoscópica com a histeroscopia, com o intuito de aprimorar diagnóstico e tratamento.

A intervenção cirúrgica antes de esgotada a capacidade de repleção vaginal evita complicações como hematometra ou hematossalpinge e preserva o futuro reprodutivo dessas adolescentes.

Referências

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4. Folch M, Pigem I, Konje JC. Müllerian agenesis: etiology, diagnosis, and management. Obstet Gynecol Surv 2000; 55(10):644-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2004
  • Data do Fascículo
    Set 2004
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