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Erros médicos associados com a deprivação do sono em UCI

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Erros médicos associados com a deprivação do sono em UCI

Werther Brunow de Carvalho

Lesões iatrogênicas são comuns em pacientes hospitalizados e são freqüentemente preveníveis. Recentemente, duas pesquisas1,2 analisaram a diminuição das horas de trabalho em relação a erros médicos graves em unidade de cuidados intensivos (UCI). Landrigan CP et al., em 20041, realizaram um estudo prospectivo randomizado comparando as taxas de erros médicos graves cometidas por internos enquanto trabalhavam de acordo com uma escala tradicional (ET) que incluía 24 horas ou mais de trabalho com uma escala de intervenção (EI) com redução do número de horas trabalhadas por semana. De um total de 2.203 pacientes/dia envolvendo 634 admissões, os internos cometeram 35,9% a mais de erros médicos sérios durante a ET do que durante a escala com um número reduzido de horas. A taxa total de erros graves nas UCIs foi 22% maior durante a ET do que durante a EI em relação ao número de horas trabalhadas. Os internos realizaram 20,8% mais erros graves de medicação durante a ET do que durante a EI (99,7 vs 82,5/1000 pacientes/dia, p= 0,03). Os internos também cometeram 5,6 vezes mais erros diagnósticos graves durante a ET do que durante a EI (18,6 vs 3,3 por 1000 pacientes/dia, p<0.0001). Portanto, diminuindo-se o número de horas trabalhadas pelos internos por semana, pode-se reduzir os erros médicos graves na UCI.

Comentário

Estas pesquisas analisaram a deprivação do sono e a possibilidade de erros médicos graves, mas é importante que se reconheça também outros fatores latentes, conhecidos como fatores contribuintes que podem causar ou permitir a oportunidade para que ocorra o erro. Os fatores latentes são elementos que interagem e influenciam o funcionamento de uma pessoa ou sistema. Os fatores latentes (presença de fadiga, doença, inexperiência, equipamento inadequado) podem provocar erro ou determinar um ponto de vulnerabilidade (local de trabalho com pobre disponibilidade de equipamentos, pessoal). Quase todos os eventos adversos envolvem uma combinação de um erro ativo dependente da pessoa e de fatores latentes3.

Os pacientes pediátricos têm um risco significativamente maior de erros relacionados a drogas, particularmente nas situações de terapêutica com múltiplas drogas, doenças complexas e imaturidade dos sistemas orgânicos. Esta afirmação é particularmente verdadeira em áreas de cuidados intensivos neonatais e pediátricos, locais onde a intensidade das intervenções e cuidados é bastante alta, os pacientes freqüentemente não têm possibilidade de comunicar os sintomas, e os sinais clínicos podem ser difíceis de serem reconhecidos.

Referências

1. Landrigan CP, Rothschild JM, Cronin JW, Kaushal R, Burdick E, Katz JT, et al. Effect of reducing interns ' work hours on serious medical errors in intensive care units. N Eng J Med 2004;351(18):1838-48.

2. Lockley SW, Cronin JW, Evans EE, Cade BE, Lee CJ, Landrigan CP, et al. Effect of reducing interns' weekly work hours on sleep and attentional failures. N Eng J Med 2004;351(18):1829-37.

3. Carvalho WB. Prevenção de erros de medicação: uma visão multiprofissional-médico. In: Harada MJ; Peterlini MA, editores. Erros médicos. São Paulo: Atheneu; 2005. (no prelo).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Mar 2005
  • Data do Fascículo
    Fev 2005
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