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Como fazer o controle glicêmico em UTI?

À BEIRA DO LEITO

CLÍNICA MÉDICA

Como fazer o controle glicêmico em UTI?

Camila Paiva de Vasconcelos; Dimas T. Ikeoka

Hiperglicemia e resistência insulínica são comuns em pacientes criticamente enfermos. Isso se deve provavelmente a um excesso de hormônios contra-regulatórios (glicocorticóides, catecolaminas, hormônio do crescimento e glucagon) e citocinas secretados em situações de estresse metabólico, bem como a resistência insulínica e diabetes pré-existentes.

A assim chamada hiperglicemia de estresse, comumente observada em ambiente intra-hospitalar, era considerada antes um marcador de doença grave do que uma entidade médica per si. Evidências recentes, no entanto, mudaram esse panorama. Hiperglicemia intra-hospitalar tem se mostrado preditor independente de eventos adversos, incluindo mortalidade.

Van den Berg et al., num artigo publicado no New England Journal of Medicine em 2001, testaram a hipótese de que a normalização da glicose sangüínea com terapia insulínica intensiva reduziria a morbi-mortalidade em pacientes críticos. Realizaram um estudo prospectivo, randomizado, controlado por placebo envolvendo 1548 pacientes adultos mecanicamente ventilados, admitidos em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cirúrgica. Na admissão, os pacientes eram randomizados para receber terapia intensiva insulínica (manter a glicemia entre 80 e 110 mg/dl) ou tratamento convencional (iniciar insulina somente se a glicemia > 215mg/dl e mantê-la entre 180-220mg/dl).

Aos 12 meses de seguimento, observou-se que a terapia insulínica intensiva diminuiu a mortalidade de 8% para 4,6% (p<0,04). Alem disso, neste grupo houve diminuição do tempo de permanência em UTI (15 vs 12 dias; p<0,03), diminuição da necessidade de suporte ventilatório (12 vs 10 dias; p=0,006), menor necessidade de suporte renal (64 vs 37 pacientes; p=0,007), menor incidência de sepsis (61 vs 32 pacientes; p=0,003) e de polineuropatia (107 vs 45 pacientes; p<0,001).

Deve-se considerar que este estudo inclui uma população de pacientes de moderada gravidade com índice APACHE II igual a nove, sendo a mortalidade no grupo controle de apenas 8%. Além disso, quase dois terços dos pacientes admitidos eram procedentes de cirurgia cardíaca. Podemos então aplicar este protocolo em uma UTI geral e para pacientes mais graves? Estudos mais amplos são necessários para que esta prática seja considerada padrão no tratamento de pacientes graves em uma UTI geral.

Referências

1. Van den Berg G, Wouters P, Weekers F, et al.: Intensive insulin therapy in critically ill patients. N Engl J Med 2001;345:1359-1367.

2. Van den Berg G, Wouters P, Bouilon R, Weekers F, et al.: Outcome benefit of intensive insulin therapy in the critically ill: Insulin dose versus glycemic control. Crit Care Med 2003 vol 31, n°. 2.

3. McCowen KC, Malhotra A, Bistrian BR. Stress-induced hyperglycemia. Crit Care Clin 2001;17:107-124.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jun 2005
  • Data do Fascículo
    Abr 2005
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