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Tratamento clínico de fimose em crianças

PANORAMA INTERNACIONAL

PEDIATRIA

Tratamento clínico de fimose em crianças

Uenis Tannuri

Em dois artigos recentes, investigaram-se prospectivamente os efeitos da aplicação tópica prolongada de cremes de corticosteróides no prepúcio de meninos com fimose, em que se indicara postectomia, com o objetivo de se obter a abertura do anel prepucial e, por conseguinte, evitar a cirurgia. O uso dos cremes por períodos que variaram de dez dias a seis semanas permitiu a exposição da glande em até 92% das crianças estudadas, evitando-se o tratamento cirúrgico nestes casos. Em ambos os artigos os autores concluem que o tratamento clínico proposto é altamente eficaz e que deve ser indicado em todos os meninos, antes de se propor a cirurgia1,2.

Comentário

A leitura dos trabalhos, aliada a grande experiência clínica no assunto, dá origem a algumas observações. A primeira se refere aos critérios utilizados pelos autores para indicação da postectomia. Tais critérios são muitas vezes subjetivos e baseiam-se na impossibilidade (ou dificuldade) de exposição da glande para higiene durante o banho. Portanto, os autores apresentam dados estatísticos, numéricos, baseados em critérios meramente subjetivos. Verifico na prática clínica que é freqüente a indicação errônea da postectomia em virtude da dificuldade de exposição da glande decorrente de simples aderências bálano-prepuciais e não pela constrição provocada pelo prepúcio. Como segunda observação, os autores não fazem avaliação em longo prazo, quando certamente muitos pacientes necessitarão, de fato, da postectomia, por falha tardia do tratamento clínico. Por último, lembrar que a presença do prepúcio redundante e estreito irá provocar, no decorrer da vida, inconvenientes como processos inflamatórios, dificuldade de higiene, desconforto e dor durante o ato sexual.

Em nosso meio, a consulta à internet revela que médicos da UNICAMP criaram uma pomada composta de valerato de betametasona e hialuronidase (enzima proteolítico) para uso tópico no prepúcio de meninos com fimose. Acompanhei pessoalmente mais de 20 crianças em que este produto foi aplicado pelo prazo de dois meses. Em metade dos casos a pomada permitiu, de fato, a exposição da glande, ainda que de forma muito dolorosa. Nos outros casos não verifiquei qualquer efeito. No entanto, a observação mais importante a ser enfatizada é que logo após a interrupção do uso da pomada ocorre recidiva completa do quadro. Se dermos crédito aos trabalhos citados e com base na experiência prática, deveremos exigir que, em lugar da postectomia, nossos pacientes utilizem a pomada diariamente, durante toda a vida. Tal conduta é desprovida de qualquer bom senso.

Referências

1. Iken A, Ben Mouelli S, Fontaine E, Quenneville V, Thomas L, Beurton D. Treatment of phimosis with locally applied 0.05% clobetasol propionate. Prog Urol 2002;12:1268-71.

2. Ashfield JE, Nickel KR, Siemens DR, Mac Neily AE, Nickel JC. Treatment of phimosis with topical steroids in 194 children. J Urol 2003;169:1106-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jul 2005
  • Data do Fascículo
    Jun 2005
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