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Gordura abdominal visceral após a menopausa: novo tratamento?

À BEIRA DO LEITO

GINECOLOGIA

Gordura abdominal visceral após a menopausa: novo tratamento?

Luiz Flávio Cordeiro Fernandes; Ana Paula Santos Aldrighi; José Mendes Aldrighi

Queixa muito comum nos consultórios de ginecologistas refere-se ao aumento da gordura abdominal em mulheres após a menopausa. Inúmeras têm sido as intervenções propostas, variando desde dieta, prática regular de exercícios e uso de fármacos, incluindo anorexígenos e a metformina, com resultados nem sempre satisfatórios.

Nova alternativa foi proposta em recente artigo publicado no J Clin Endocrinol Metab (março, 2005), em que Franco et al.1 analisaram o impacto de um ano de tratamento com hormônio de crescimento (GH), em doses progressivas de 0,13 mg/dia nas duas primeiras semanas, com aumento para 0,4 até a quarta semana, 0,53 na quinta e 0,67mg/dia a partir da sexta semana até completar um ano. Foram incluídas 40 mulheres, após a menopausa; e, em estudo randomizado, duplo cego e placebo controlado, objetivou-se primariamente avaliar os efeitos do GH sobre a resistência insulínica. Concluíram que o fármaco , além de melhorar a resistência insulínica, propicia redução da gordura abdominal visceral, da LDL - colesterol e do conteúdo hepático de gordura.

Como se sabe, a gordura abdominal está associada com moderada secreção de GH e a um grupo de fatores de risco para doença cardiovascular, destacando o diabetes tipo 2, a dislipidemia, resistência insulínica e os estados pró-trombóticos, que caracterizam a síndrome metabólica. Ademais, as mulheres após a menopausa com distribuição de gordura andróide manifestam quadro psicológico de perda da auto-estima.

Os mecanismos fisiopatológicos que justificam o acúmulo de gordura visceral ainda não são conhecidos, mas múltiplas alterações endócrinas podem estar incluídas, tais como perturbações no funcionamento dos eixos hipotálamo-adrenal, gonadal e somatotrófico2; por outro lado, estudos in vitro observaram que o metabolismo do tecido adiposo após a menopausa, nas regiôes glútea e abdominal subcutânea, exibem menor atividade lipolítica e maior atividade da lipase lipoprotéica3.

Estudo realizado4 em homens obesos sob tratamento com GH revelou redução do tecido adiposo abdominal e efeitos benéficos sobre o perfil metabólico. Até então, só existia um estudo5 em mulheres obesas após a menopausa que comparou dois grupos: um combinando dieta, atividade física e uso de GH durante 12 semanas e outro associando exclusivamente dieta e exercícios; os resultados foram símiles nos dois grupos.

O artigo de Franco et al. teve o ineditismo de ser o primeiro de longa duração que tivesse avaliado o impacto do tratamento da obesidade abdominal com GH em mulheres após a menopausa e que descortinou importantes resultados para a clínica do dia-a-dia, como o tratar mulheres após a menopausa com gordura visceral indicando o GH, propiciando efeitos muito mais benéficos do que as intervenções até agora postuladas, como redução na ingestão calórica ou qualquer outro tipo de mudança no estilo de vida. A limitação do tratamento proposto, no nosso entender, é o custo.

Referências

1. Franco C, Brandberg J, Lönn L, Andersson B, Bengtsson BA, Johannsson G. Growth Hormone treatment reduces abdominal visceral fat in postmenopausal women with abdominal obesity: a 12-month placebo-controlled trial. J Clin Endocrinol Metab 2005; 90:1466-74.

2. Bjorntorp P. Visceral Obesity: a "civilization syndrome". Obes Res 1993;1:206-22.

3. Ferrara CM, Lynch NA, Nicklas BJ, Ryan AS, Berman DM. Differences in adipose tissue metabolism between postmenopausal and perimenopausal women. J Clin Endocrinol Metab 2002;80:936-41

4. Johannsson G, Marin P, Lonn L, Ottosson M, Stenlof K, Bjorntorp P, et al. Growth hormone treatment of abdominally obese men reduces abdominal fat mass, improves glucose and lipoprotein metabolism, and reduces diastolic blood pressure. J Clin Endocrinol Metab 1997;82:727-34.

5. Taaffe DR, Thompson JL, Butterfield GE, Hoffman AR, Marcus R. Recombinant human growth hormone, but not insuline-like growth factor-I, enhaces central fat loss in postmenopausal women undergoing a diet and exercise program. Horm Metab Res 2001; 33:156-62.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jul 2005
  • Data do Fascículo
    Jun 2005
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