À BEIRA DO LEITO
CLÍNICA CIRÚRGICA
A videolaparoscopia na hérnia inguinal deve ser rotineira?
Osvaldo Antonio Prado Castro; Rodrigo Vincenzi; Hassan Fahd El Malat; Elias Jirjoss Ilias; Paulo Kassab
As supostas vantagens da hernioplastia videolaparoscópica sobre a técnica convencional, até o momento, não foram consistentemente demonstradas, tanto que, nos Estados Unidos da América, somente 13% das correções de hérnias inguinais são feitas por este método6.
Alguns aspectos podem ser citados para tentar explicar a aceitação limitada desta técnica: a relativa facilidade de realizar reparos abertos sem tensão, até mesmo com anestesia local e curta permanência hospitalar; índices de recidiva e de complicações bastante reduzidos na cirurgia convencional; maior custo e necessidade de equipamentos mais complexos para a realização da técnica laparoscópica; maior potencial de complicações relacionadas ao procedimento laparoscópico, ao pneumoperitôneo e à anestesia geral; maior familiaridade do cirurgião com a anatomia da região inguinal pela via anterior; e o uso rotineiro e obrigatório de prótese em todos os casos pela via laparoscópica6.
Apesar disso, duas vantagens relacionadas ao método laparoscópico são citadas e amplamente aceitas na literatura: quase ausência de dor pós-operatória; maior facilidade na dissecção anatômica de hérnias recidivadas, tratadas previamente pelo acesso anterior; e um tempo de retorno mais precoce às atividades habituais e ao trabalho5.
Outro aspecto que deve ser discutido é com relação à curva de aprendizado excessivamente longa na técnica videolaparoscópica, sendo que muitos autores relacionam os índices de complicações à inexperiência dos cirurgiões2,3. Entretanto, muitos dos trabalhos que mostram taxas de complicações pela técnica laparoscópica inferiores à aberta não discriminam com precisão os grupos de pacientes estudados e o tipo de hérnia que eles apresentavam4.
O que se nota com clareza, na literatura, é que as complicações intra-operatórias da correção laparoscópica, quando ocorrem, são significativamente mais graves do que as complicações encontradas nos reparos abertos. Podemos destacar as lesões provocadas pelos trocarteres, e pela clipagem de nervos e vasos1.
Dessa forma, até o presente momento, não há dados na literatura que possam recomendar o emprego rotineiro da hernioplastia inguinal videolaparoscópica.
Referências
1. Bendavid R. Complications of groin hernia surgery Surg Clin North Am 1998;78:1089-103.
2. DeTurris SV, Cacchione RN, Mungara A, Pecoraro A, Ferzli GS. Laparoscopic herniorrhaphy: beyond the learning curve. J Am Coll Surg 2002;194:65-73.
3. Felix E, Scott S, Crafton B, Geis P, Duncan T, Sewell R, et al. Causes of recurrence after laparoscopic hernioplasty: multicenter study. Surg Endosc 1998;12:226-31.
4. Liem MS, Van der Graaf Y, Van Steensel CJ, Boelhouwer RU, Clevers GJ, Meijer WS, et al. Comparison of conventional anterior surgery and laparoscopic surgery for inguinal-hernia repair. N Engl J Med 1997;336:1541-7.
5. Oberlin P. Faut-il opérer toutes les hernies de láine? Ann Chir 2002; 127:161-3.
6. Safadi BY, Duh QY. Minimally invasive approaches to inguinal hernia repair. J Laparoendosc Adv Surg Tech A 2001;11:361-6.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
01 Nov 2005 -
Data do Fascículo
Out 2005