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Adesão ao tratamento anti-retroviral

EDITORIAL

Adesão ao tratamento anti-retroviral

O principal objetivo da terapêutica anti-retroviral é reduzir o máximo possível, pelo maior período de tempo, a quantidade de vírus HIV circulante (carga viral plasmática).

A adesão ao tratamento é um desafio constante para os pacientes, pois os protocolos atuais determinam o uso de pelo menos três medicamentos, variando entre uma a três tomadas por dia, com horários que devem ser rigorosamente cumpridos. O conhecimento dos obstáculos ao cumprimento destas orientações pode auxiliar na escolha individualizada do tratamento e melhorar os resultados.

Existem vários fatores descritos em diferentes estudos publicados na literatura sobre a redução do desejo e/ou da capacidade dos pacientes de cumprir as ordens médicas. Eles podem estar relacionados ao próprio vírus (carga viral elevada e sensibilidade aos medicamentos), às drogas (restrição quanto à ingestão junto com água ou alimentos, tamanho do comprimido, tolerabilidade), a problemas de relacionamento com os profissionais de saúde (má comunicação, ignorância, insensibilidade a diferenças culturais e falta de experiência no tratamento da infecção pelo HIV), à própria organização do sistema de saúde (dificuldade de acesso, superlotação, horários restritos de distribuição) ou a dificuldades psicossociais (família, colegas de trabalho, relacionamento social).

O presente estudo analisou os fatores associados à interrupção do tratamento em 498 pacientes adultos com Aids no Rio Grande do Norte, Brasil. O percentual de adesão (64%) foi semelhante ao de muitos serviços especializados brasileiros, mas muito inferior aos 95% considerados necessários para a eficácia máxima da terapêutica escolhida, respeitando-se interações medicamentosas, doses e intervalos de horário. Como foi avaliada adesão a partir da retirada dos medicamentos da farmácia, este percentual pode ser ainda menor.

Os resultados obtidos por meio da análise multivariada mostraram como fatores estatisticamente significantes para interrupção do tratamento os seis primeiros meses de medicação, ser adulto jovem, ter história prévia de acompanhamento psiquiátrico, o uso de drogas lícitas e não lícitas até um ano antes do tratamento, iniciar medicação após internação hospitalar e ter baixo nível de escolaridade.

Ressalta-se que o tema adesão é complexo, apresenta características que variam com o tipo de população envolvida e com aspectos regionais, mas tem como ponto comum a grande dificuldade que é tomar uma série de medicamentos, com muitas intera ções e importantes efeitos adversos, por um prazo indefinido, muito provavelmente por toda a vida.

David Everson Uip

Tânia Mara Varejão Strabelli

Referência

Castilho EA, Szwarcwald CL, Brito AM. Fatores associados à interrupção de tratamento anti-retroviral em adultos com Aids. Rio Grande do Norte, Brasil, 1999 – 2002. Rev Assoc Med Bras 2006; 52 (2): 86-92.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Abr 2006
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