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Efeitos da ventilação não-invasiva com pressão positiva no edema agudo de pulmão cardiogênico

PANORAMA INTERNACIONAL

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Efeitos da ventilação não-invasiva com pressão positiva no edema agudo de pulmão cardiogênico

A ventilação não-invasiva com pressão positiva (VNIPP) tem reduzido o uso da ventilação pulmonar mecânica (VPM) invasiva para pacientes com edema agudo de pulmão cardiogênico (EAPC). A metaanálise1 de Peter JV et al., comparou três grupos de 29 estudos (1966 a 2005), com pacientes apresentando EAPC: Grupo 1 (G1= pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) versus terapêutica padrão-oxigênio por máscara facial, diuréticos, nitratos e outros cuidados de suporte) 12 estudos; Grupo 2 (G2= pressão positiva em vias aéreas com dois níveis de pressão (BiPAP) versus terapêutica padrão) 7 estudos; e Grupo 3 (G3= BiPAP versus a CPAP) 10 estudos, com os objetivos de verificar a redução da mortalidade, a necessidade de VPM invasiva e o tempo de permanência hospitalar.

Nos resultados, a CPAP foi associada com a redução da mortalidade em relação a terapêutica padrão (RR 0.59, 0.38-0.90) P=0.015; uma tendência a redução da mortalidade na utilização do BiPAP em relação a terapêutica padrão (RR 0.63, 0.37-1.10) P=0.11; não houve diferença significativa entre a ventilação com BiPAP em relação ao uso da CPAP (RR 0.75, 0.40-1.43). Quanto à necessidade da VPM invasiva, a CPAP foi considerada melhor do que a terapêutica padrão (RR 0.44, 0.29-0.66) P< 0.001; a BIPAP também foi melhor do que a terapêutica padrão (RR 0.50,0.27-0.90) P=0.02; não houve diferença entre CPAP e BiPAP (RR 0.94, 0.48-1.86). Em relação ao tempo de permanência hospitalar, não foi encontrada diferença significativa, assim como na duração da VNIPP entre os modos ventilatórios. Este estudo concluiu que nos casos de EAPC, a CPAP e a BiPAP reduzem a necessidade do uso de VPM invasiva. Comparada com a terapêutica padrão, a CPAP diminui a mortalidade; e há uma tendência à redução da mortalidade após o uso de BiPAP.

Comentário

Nas últimas duas décadas, o interesse pela VNIPP tem aumentado no tratamento do EAPC. Os efeitos fisiológicos da CPAP incluem2,3: aumento do débito cardíaco, fornecimento de oxigênio, diminuição da pós-carga do ventrículo esquerdo, melhora da capacidade residual funcional e da mecânica ventilatória e conseqüente redução do esforço ventilatório. Atualmente, tem-se referido que o uso da BiPAP reduz de forma mais significante o trabalho ventilatório e a fadiga do que a CPAP4. A British Thoracic Society recomenda a utilização da CPAP para pacientes que permanecem em hipóxia apesar do tratamento médico otimizado, reservando o uso da BiPAP para os pacientes que não apresentarem sucesso com a CPAP.

O estudo 1 é importante por confirmar os benefícios da CPAP e os possíveis benefícios da BiPAP no tratamento do EAPC, sendo ainda necessários outros com poder suficiente para detectar uma redução verdadeira na mortalidade com o uso da BiPAP.

Werther Brunow de Carvalho

Cíntia Johnston

Referências

1. Peter JV, Moran JL, Phillips-Hughes J et al. Effect of non-invasive positive pressure venilation (NIPPV) on mortality in patients with acute cardiogenic pulmonary oedena: a meta-analysis. Lancet 2006;367:1155-63.

2. Leniqye F, Habis M, Lafosa F, Dubois-Rande JL, Harf A, Brochard L. Ventilatory and hemodynamic effects of continuous positive airway pressure in left heart failure. Am J Respir Crit Care Med 1997;155:500-5.

3. International Consensus Conference in Intensive Care Medicine. Noninvasive positive pressure ventilation in acute respiratory failure. Am J Respir Crit Care Med 2001,163:283-91.

4. Mehta S, Hill NS. Noninvasive ventilation. Am J Respir Crit Care Med 2001;163:540-77.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2006
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