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Cirurgia de derivação gástrica em y de Roux ou banda gástrica no tratamento da obesidade mórbida?

À BEIRA DO LEITO

CLÍNICA CIRÚRGICA

Cirurgia de derivação gástrica em y de Roux ou banda gástrica no tratamento da obesidade mórbida?

Os autores revisaram os 21 trabalhos de maior importância publicados entre 1997 e 2005, principalmente pelo tempo de acompanhamento pós-operatório. Os 21 estudos representavam 13.980 pacientes obesos operados, analisando-se as principais complicações e a taxa de insucesso de cada técnica. Angrisani et al. (2004) operaram 3.319 pacientes com IMC médio de 33,9 submetidos à colocação de banda gástrica. Em cinco anos de seguimento, esses pacientes chegaram a 28,2 de IMC médio, portanto dentro da faixa de sobrepeso. Os mesmos autores, em 2003, estudaram 1.893 pacientes submetidos a mesma técnica, isto é, banda gástrica, porém com IMC médio maior (43,7). Com seis anos de seguimento, o IMC chegou a uma média de 32, isto é, os pacientes ficaram na faixa de obesos (IMC entre 30 e 35). Analisando esses achados em dois trabalhos distintos e com o tempo de acompanhamento semelhante, porém com IMC diferentes, constatamos que a banda gástrica teve resultados piores quando o IMC era acima de 40.

Com relação às complicações, observamos que os trabalhos com banda gástrica em que houve acompanhamento mais prolongado, mostraram índices de complicação maiores. A dilatação do segmento gástrico proximal à banda foi a complicação mais freqüente em todos os estudos analisados, variando de 2,6% até 23%. Dargent, em 2004, avaliou 1.180 pacientes operados por banda gástrica e demonstrou ao longo de oito anos a progressão do aparecimento das complicações, sendo que o deslocamento da banda foi verificado em 0,3% no primeiro ano, e 12,1% no oitavo ano após a cirurgia. Desta forma, evidenciou que os problemas com a banda gástrica surgem com o passar dos anos.

Na DGYR, a maior complicação foi a falha da sutura mecânica, complicação essa que não existe na cirurgia da banda gástrica, uma vez que não é usado esse tipo de sutura. Observamos um alto índice de remoção das bandas gástricas, porém com grande discrepância em relação aos diferentes autores, variando de 0% a 60%. E mais uma vez o tempo de acompanhamento destes pacientes variou muito, 2 e 13 anos, respectivamente. Podemos perceber que os trabalhos que apresentam um tempo de acompanhamento menor podem não estar constatando os reais problemas que a banda gástrica pode acarretar.

Cordera et al., em 2004, avaliaram 54 pacientes operados por falha da banda gástrica e conversão para DGYR e verificaram que após dois anos de acompanhamento, a maioria dos pacientes parou ou reduziu as medicações que usavam para as comorbidades relacionadas ao excesso de peso e 90% estavam satisfeitos com os resultados da conversão para a DGYR.

A revisão feita por Chapaman et al., em 2002, observou mortalidade a longo prazo de 0,49% para DGYR e 0,45% para BG. Desta forma, podemos dizer que o risco de mortalidade das duas técnicas é pequeno e semelhante.

Sobre estudos comparativos entre super-obesos e obesos com o uso da banda gástrica, observamos complicações e mortalidade ainda maiores em super-obesos, sendo que a necessidade de reoperação nesse grupo chega a 29,5%, principalmente por perda inadequada de peso ou complicações relacionadas a técnica. Mognol et al. (2005) estudaram 290 pacientes super-obesos, sendo 179 com BG e 111 com DGYR. Verificaram que o índice de complicações tardias foi maior com o uso da banda (26% versus 15,3%). Observaram ainda uma perda do excesso de peso maior com a DGYR, 63% versus 41% em um ano e 73% versus 46% em dois anos. Esses achados nos levam a dizer que a cirurgia bariátrica de escolha para super-obesos não deve ser a colocação da banda gástrica, entretanto a DGYR é uma boa indicação para esses pacientes. Conclusão: a longo prazo, a DGYR leva a maior perda de peso e a menores complicações que a banda gástrica.

Milena Parreira Liorci

Elias Jirjoss Ilias

Paulo Kassab

Osvaldo Antonio Prado Castro

Referências

1. Alper D, Ramadan E, Vishne T, Belavsky R, Avraham Z, Seror D, et al. Silastic ring vertical gastroplasty ? Long-term result and complications. Obes Surg 2000;10(2):250-4.

2. American Society for Bariatric Surgery SAGES/ASBS. Guidelines for laparoscopic and conventional surgical treatment of morbid obesity [cited 2005]. Avaliable form: http://www.asbs.org/html/lab_guidelines.html.

3. Angrisani L, Faveretti F, Furbetta F, Luppa A, Doldi SB, Paganelli M, et al. Italian Group for Lap-bando System: result of multicenter study on patients with BMI <35kg/m2. Obes Surg 2004;14:415-8.

4.Mognol P, Chosidow D, Marmuse JP. Laparoscopic gastric bypass versus laparoscopic adjustable gastric banding in the super obese: a comparative study of 290 patients. Obes Surg 2005;15(1):76-81.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Ago 2006
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