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Há benefício no uso da ranitidina em pacientes hospitalizados, sob menor regime de estresse, na profilaxia da úlcera péptica ou da hemorragia digestiva?

Á BEIRA DO LEITO

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Há benefício no uso da ranitidina em pacientes hospitalizados, sob menor regime de estresse, na profilaxia da úlcera péptica ou da hemorragia digestiva?

João Vítor Silva Holtz; Luiz Mauricio Grandi; Paulo Rafael Ecclissato; Wanderley Marques Bernardo

P - Pacientes hospitalizados, sob menor regime de stress.

I - Ranitidina

C - Placebo e/ou protetor gástrico

O - Úlcera péptica ou Hemorragia digestiva

A ranitidina pode ser eficaz na profilaxia de úlcera péptica ou hemorragia digestiva em pacientes hospitalizados. Porém, a falta de critérios bem estabelecidos para seu uso tornou-o indiscriminado em todos os setores hospitalares. Sabendo que há relatos de efeitos colaterais como disfunções hepáticas, alterações reversíveis na contagem de células sangüíneas (anemia, leucopenia e trombocitopenia), agranulocitose, hipoplasia ou aplasia de medula óssea, reações de hipersensibilidade (urticária, edema angioneurótico, broncoespasmo, hipotensão), bradicardia e bloqueio atrioventricular, seu uso pode expor os pacientes hospitalizados, sob menor regime de estresse, a riscos sem evidência de benefício. Podemos procurar algumas das populações de pacientes hospitalizados que se beneficiam do uso da ranitidina na profilaxia da úlcera péptica ou de estresse, a partir da informação científica disponível que testou de forma apropriada essa questão clínica.

A base Medline, então, foi consultada através da estratégia: "Ranitidine/therapeutic use"[MeSH] AND ("Peptic Ulcer Hemorrhage/prevention and control"[MeSH] OR "Peptic Ulcer/prevention and control"[MeSH Terms] OR "Stress/complications"[MeSH]) AND Randomized Controlled Trial[ptyp], permitindo recuperar 95 estudos.

Não foram incluídos os estudos em língua estrangeira diferente do português, inglês ou espanhol, os estudos cujos pacientes tinham história prévia de úlcera péptica, ou estavam sob tratamento de úlcera péptica, ou tinham uso prévio recente de protetor gástrico, e aqueles estudos em que os pacientes não estavam hospitalizados. Dos estudos selecionados, após avaliação dos resumos, verificou-se que a população estudada é restrita aos pacientes hospitalizados em unidades de terapia intensiva (UTI). A fim de ilustrar a quantidade de benefício estimada a esses pacientes, foi considerada amostra de três ensaios clínicos randomizados (ECR)1-3 com escore JADAD maior do que três.

As populações incluídas foram de adultos internados em UTI por sepse e/ou politrauma, ou que necessitaram ventilação mecânica, e de neonatos (RN) internados em UTI que necessitaram de ventilação mecânica nas duas horas iniciais de vida. As intervenções testadas foram de ranitidina endovenosa na dose de 25 a 50 mg, de 8 em 8 horas, nos adultos, e de 5mg/kg/dia, de 8 em 8 horas, nos recém-nascidos. A comparação variou entre a administração de placebo ou Sucralfato 1g de 6 em 6 horas por SNG. Os desfechos analisados foram de presença de úlcera péptica ou de hemorragia digestiva alta.

Em adultos, o uso de ranitidina reduziu o risco absoluto (RRA) de úlcera péptica em 5,9% (IC95% -2% a +13,8%), e de hemorragia digestiva em 2,1% (IC95% +0,3% a +39%). Nos recém-nascidos, seu uso reduziu o risco de úlcera em 32% (IC95% +13,7% a +50,3%), sendo então necessário tratar três recém-nascidos para se evitar uma úlcera péptica.

Os pacientes hospitalizados, para os quais o uso de ranitidina foi testado de maneira consistente (através de ECR), se limitam àqueles admitidos em UTI, sobretudo sob ventilação mecânica, com benefício variável, o qual não foi foco de nossa análise. Entretanto, é nosso objetivo alertar que não há informação relevante quanto ao benefício do uso da ranitidina profilática em pacientes hospitalizados, por exemplo, na enfermaria, que estão sob menor regime de estresse. Temos a tendência de procurar responder a questões sobre tecnologias novas ou de alto custo, esquecendo, no entanto, de que o motivo central de nossas dúvidas clínicas deve estar centrado no paciente, o que inclui a avaliação de prescrições tradicionais, desprovidas de benefício real e com potenciais danos.

A pesquisa clínica, por ensaio clínico randomizado, comparando o uso profilático de ranitidina ao do placebo em pacientes hospitalizados, sob menor regime de estresse definirá se há benefício, e quais são os danos estimados.

  • 1. Kuusela AL, Ruuska T, Karikoski R, Laippala P, Ikonen RS, Janas M, et al. A randomized, controlled study of prophylactic ranitidine in preventing stress-induced gastric mucosal lesions in neonatal intensive care unit patients. Crit Care Med 1997; 25: 346-51.
  • 2. Cook D, Guyatt G, Marshall J, Leasa D, Fuller H, Hall R, et al. A comparison of sucralfate and ranitidine for the prevention of upper gastrointestinal bleeding in patients requiring mechanical ventilation. Canadian Critical Care Trials Group. N Engl J Med 1998; 338: 791-7.
  • 3. Koelz HR, Aeberhard P, Hassler H, Kunz H, Wagner HE, Roth F, et al. Prophylactic treatment of acute gastroduodenal stress ulceration. Low-dose antacid treatment without and with additional ranitidine. Scand J Gastroenterol 1987; 22: 1147-52.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    2007
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