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Tromboembolismo e câncer de mama: quando indicar a profilaxia medicamentosa?

À BEIRA DO LEITO

GINECOLOGIA

Tromboembolismo e câncer de mama: quando indicar a profilaxia medicamentosa?

Vilmar M. de Oliveira; Tsutomu Aoki; José M. Aldrighi

O câncer de mama, excluindo-se os cânceres de pele, é em nosso meio a neoplasia maligna que mais acomete a mulher, estimando-se 48.930 novos casos para 20061.

O tratamento do câncer de mama se fundamenta na cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia, sendo que todas essas modalidades aumentam o risco de tromboemboembolismo.

O tromboembolismo venoso (TEV) - tanto a trombose venosa profunda (TVP) como o tromboembolismo pulmonar - representa uma importante causa de morbi-mortalidade em pacientes com câncer.

De fato, a estimativa anual de um primeiro episódio de TEV na população geral é de 0,117%2, enquanto que naquela com câncer o risco é quatro vezes maior, a depender do tipo de câncer2.

No tocante ao câncer de mama, o risco de TEV é 9 a 12 vezes maior do que o da população geral3, decorrente não só da doença, mas também da cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia, radioterapia e do uso de cateteres centrais. A associação quimioterapia/hormonioterapia revelou 9% na taxa de TEV, enquanto a hormonioterapia isolada desvelou risco duas a cinco vezes maior. A cirurgia por si mostrou risco duas vezes maior de TVP e três vezes de TEP2.

Estudo envolvendo mais de 100.000 mulheres com câncer de mama apontou incidência cumulativa de TEV de 1,2%, com aumento da mortalidade4. Com o intuito de reduzir o risco de TEV, a American Society of Clinical Oncology5 propôs o seguinte guideline:

1. Em pacientes submetidas ao tratamento cirúrgico de doença primária: prescrever precocemente heparina não fracionada (HNF) ou HBPM (heparina de baixo peso molecular) ou fondaparinux e mantê-la por 7 a 10 dias;

2. Nas pacientes hospitalizadas com doença ativa, sem sangramento ou com contra-indicação ao uso de anticoagulantes, empregar a HNF ou HBPM ou fondaparinux durante a internação;

3. Nos casos de TEV estabelecido, a melhor escolha é HBPM por período não inferior a seis meses;

4. Em pacientes sob tratamento quimioterápico ambulatorial, não indicar a profilaxia de rotina;

5. Não há evidências suficientes para se prescrever anticoagulantes na ausência de TEV visando o aumento da sobrevida.

A publicação deste guideline da ASCO reforça a necessidade de se estabelecer protocolos de conduta bem estruturados, visando a prevenção de doenças que, quando negligenciadas, podem determinar sérios comprometimentos à saúde dos pacientes.

  • 1
    Brasil. Ministério da Saúde. INCA/Comprev. Estimativa 2006: Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro; 2005.
  • 2. Andtbacka RH, Babiera G, Singletary SE, Hunt KK, Meric-Bernstam F, Feig BW, et al. Incidence and prevention of venous thromboembolism in patients undergoing breast cancer surgery and treated according to clinical pathways. Ann Surg. 2006;243(1):96-101.
  • 3. Heit JA Cancer and venous thromboembolism: scope of the problem. Cancer Control. 2005;12(Suppl 1):5-10.
  • 4. Incidence of venous thromboembolism and the impact on survival in breast cancer patients. J Clin Oncol. 2007;25(1):70-6.
  • 5. Lyman GH, Khorana AA, Falanga A, Clarke-Pearson D, Flowers C, Jahanzeb M, et al. American Society of Clinical Oncology Guideline: recommendations for venous thromboembolism prophylaxis and treatment in patients with cancer. J Clin Oncol. 2007;25(34):1-16.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008
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