Acessibilidade / Reportar erro

Como abordar sangramentos recorrentes na pós-menopausa com espessura de endométrio normal?

À BEIRA DO LEITO

GINECOLOGIA

Como abordar sangramentos recorrentes na pós-menopausa com espessura de endométrio normal?

Andréa Larissa Ribeiro Pires; Antônio Henriques de França Neto; Tsutomu Aoki; José Mendes Aldrighi

Grandes estudos multicêntricos efetuados em mulheres com sangramento na pós-menopausa mostraram alto valor preditivo (VP) para hiperplasia ou câncer quando a espessura endometrial (EE) é menor ou igual a 4 mm. Assim, no estudo nórdico1 o VP foi de 100%, ou seja, nenhuma das 1.168 mulheres com EE = 4 exibiu qualquer malignidade, enquanto no estudo iItaliano2 o VP foi de 99,79% (só duas de 930 mulheres com EE = 4 mm mostraram malignidade).

Entretanto, uma questão comum na prática clínica é como abordar mulheres que já tiveram um episódio de sangramento após a menopausa com EE = 4 mm e que apresentam um segundo episódio de sangramento.

Estudo prospectivo recente,3 mostrou práticas informações: 1) 41% das mulheres com um episódio inicial de sangramento após a menopausa apresentaram EE = 4 mm; 2) 10% dessas mulheres com um episódio inicial exibiram um segundo episódio de sangramento; 3) em 8% das mulheres que sangraram pela segunda vez, a anatomia patológica revelou carcinoma endometrial; 4) comorbidades como obesidade, hipertensão e diabetes não foram fatores preditores do segundo episódio de sangramento.

Assim, apesar de ser baixa a taxa de sangramento recorrente em mulheres após a menopausa com espessura endometrial menor que 4 mm, o estudo acima desvelou que o risco de câncer endometrial é considerável.

Se a ultra-sonografia transvaginal pode representar um fator limitante, uma vez que foram constatados 8% de casos de carcinoma endometrial com EE menor que 4 mm, outra questão se descortina: a biópsia a vácuo, por meio da cânula de Pipelle, pode ser indicada nos casos de sangramento recorrente em mulheres após a menopausa com espessura endometrial menor que 4 mm?

Apesar de método simples, ambulatorial e de baixo custo, estudos realizados em portadoras de câncer endometrial já confirmado mostraram resultados controversos, ou seja, a cânula de Pipelle não permitiu o diagnóstico desde 2,5%4 até 33% dos casos5.

Frente a estas discordâncias, depreende-se que a avaliação diagnóstica nos casos de sangramento recorrente deva ser cautelosa. Assim, não é recomendável se limitar a uma simples e isolada solicitação de uma ultra-sonografia transvaginal, mas a uma combinação com outros procedimentos como a histeroscopia com biópsia endometrial ou a curetagem ou até mesmo o uso da cânula de Pipelle com as considerações assinaladas.

  • 1. Karlsson B, Granberg S, Wikland M, Ylöstalo P, Torvid K, Marsal K, et al. Transvaginal ultrasonography of the endometrium in women with postmenopausal bleeding: a Nordic multicenter study. Am J Obstet Gynecol. 1995;172(5):1488-94.
  • 2. Ferrazzi E, Torri V, Trio D, Zannoni F, Feliberto S, Dordoni D, et al. Sonographic endometrial thickness: a useful test to predict atrophy in patients with postmenopausal bleeding. An Italian multicenter study. Ultrasound Obstet Gynecol. 1996;7(5):315-21.
  • 3. Van Doorn HC, Timmermans A, Opmeer BC, Kruitwage RF, Dijkhuizen FP, Kooi GS, et al. What is the recurrence rate of postmenopausal bleeding in women who have a thin endometrium during a first episode of postmenopausal bleeding? The Dutch Study in Postmenopausal Bleeding. Acta Obstet Gynecol Scand. 2008;87(1):89-93.
  • 4. Stovall TG, Photopulos GJ, Poston WM, Ling FW, Sandles LG. Pipelle endometrial sampling in patients with known endometrial carcinoma. Obstet Gynecol. 1991;77(6):954-6.
  • 5. Ferry J, Farnsworth A, Webster M, Wren B. The efficacy of the Pipelle endometrial biopsy in detecting endometrial carcinoma. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 1993;33(1):76-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
Associação Médica Brasileira R. São Carlos do Pinhal, 324, 01333-903 São Paulo SP - Brazil, Tel: +55 11 3178-6800, Fax: +55 11 3178-6816 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: ramb@amb.org.br