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O uso da TH após a menopausa promove benefícios?

COMENTÁRIO

O uso da TH após a menopausa promove benefícios?

Otávio Celso Eluf GebaraI; Alessandro ScapinelliII; José Mendes AldrighiIII

ILivre-docente da Divisão Clínica de Cardiogeriatria do InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, SP

IIPós-graduando do Departamento de Obstetrícia Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP

IIIProfessor Titular da Clínica de Ginecologia Endócrina, Climatério e Anticoncepção (GECLAN) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP

Correspondência Correspondência: Rua Ernesto de Oliveira, nº 40 -apto. 73 Jardim Vila Mariana São Paulo - SP - CEP: 04116170 alescapinelli@uol.com.br

O uso da (TH) após menopausa ainda é motivo de muitas polêmicas, uma vez que as primeiras investigações observacionais tinham revelado significativa redução da mortalidade em suas usuárias quando comparadas com as não usuárias2.

Entretanto, após a publicação do WHO (Women's Health Initiative)3 constatou-se exatamente o contrário, ou seja, a TH se associava a uma maior morbimortalidade independente da faixa etária, o que culminou na orientação de que sua prescrição só deveria ser feita para curtos períodos e exclusivamente para sintomas menopausais4,5 .

A partir daí, muitas mulheres suspenderam abruptamente a TH, resultando numa significativa piora na qualidade de vida 6.

Por isso, tentando esclarecer a questão sobre o efeito da TH em diferentes idades foram publicadas duas metanálises envolvendo estudos randomizados, cujos resultados surpreendentemente constataram redução do número de eventos cardiovasculares e da mortalidade em mulheres mais jovens, mas não nas mais idosas 6.

Neste estudo de 2009, Salpeter et al. decidiram elucidar a questão do uso da TH após a menopausa, a partir de um modelo matemático, em que avaliaram a relação custo-efetividade em diferentes faixas etárias.

Os resultados mostraram expressivo avanço na hipótese da janela de oportunidade para o uso da TH, pois comparou dois grupos: mulheres mais jovens após a menopausa (até 59 anos) e mulheres mais idosas ( > 60 anos). O modelo matemático se baseou em metanálise de estudos clínicos randomizados e controlados realizados até março de 2008, sendo avaliado o QALY (quality-ajusted-life years) que representa a relação custo-benefício da TH sobre qualidade de vida de mulheres após a menopausa.

Assim, o estudo concluiu que havia bom custo-benefício no uso da TH no grupo mais jovem e que isso não ocorria no grupo mais idoso; de fato, o grupo jovem apresentou ganho de 1,49 QUALYs a um custo de US$ 2.438 (valores < US$ 10.000 são significantemente custo-efetivos). Por outro lado, no grupo mais idoso, o ganho de QUALY foi de apenas 0,11, a um custo de US$ 27.953. Além disso, nos primeiros nove anos de tratamento constatou-se piora na qualidade de vida das mulheres mais idosas e somente a partir daí observou-se melhora. No grupo jovem, a melhora de QALY foi evidenciada teoricamente com períodos de tratamento que se estendeu por até 30 anos.

Esses mesmos autores já haviam demonstrado em metanálise de estudos clínicos controlados a ocorrência de redução da mortalidade em mulheres mais jovens que fizeram uso de TH, sem qualquer benefício para o grupo que iniciou a TH tardiamente.

Do exposto se depreende que os resultados obtidos nesse estudo coincidem com os relatados anteriormente nos desenhos observacionais -que tinham incluído mulheres mais jovens e que iniciaram a TH logo após a menopausa -, ou seja, demonstraram melhora na qualidade de vida e redução de eventos cardíacos. Ademais, corrobora os resultados obtidos de estudos clínicos controlados que avaliaram mulheres mais idosas, como o Women's Health Initiative, que não demonstrou redução de mortalidade.

Baseados em todos esses estudos, as diretrizes brasileiras e internacionais têm recomendado o uso de TH em mulheres com sintomas menopausais, como ondas de calor, insônia, secura vaginal, a partir do estágio da transição menopausal e desaconselham seu início muitos anos após a idade da menopausa.

Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, S. Paulo, SP

  • 1. Salpenter SR, Buckley NS, Lui H, Salpeter EE. The Cost-effectiveness of Hormone therapy in younger and older postmenopausal Women. Am J Med. 2009;122(1):42-52.
  • 2. Grodstein F, Mason JE, Colditz GA, Willett WC, Speizer FE, Stampfer MJ, et al. A prospective, Observational study of postmenopausal hormone therapy and primary prevention of cardiovascular disease. Ann Intern Med. 2000;133(12):933-41.
  • 3. Rossouw JE, Anderson GL, Prentice RL, LaCroix AZ, Kooperberg C, Stefanick ML, Jackson RD, et al. Risks and benefits of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women: principal results from the Women's Health Initiative randomized controlled trial. JAMA. 2002;288(3):312-33.
  • 4. Majumdar SR, Almasi EA, Stafford RS. Promotion and prescribing of hormone therapy after report of harm by the Women's Health Initiative. JAMA. 2004;292(16):1983-8.
  • 5. Salpeter SR, Walsh JM, Greyber E, Ormiston TM, Salpeter EE. Mortality associated with hormone replacement therapy in younger and older women: a meta-analysis. J Gen Intern Med. 2004; 19(7):791-804.
  • 6. Salpeter SR, Walsh JM, Greyber E, Salpeter EE. Brief report: coronary heart disease events associated with hormone therapy in younger and older women. A meta-analysis. J Gen Intern Med. 2006;21(4):363-6.
  • Correspondência:

    Rua Ernesto de Oliveira, nº 40 -apto. 73 Jardim Vila Mariana
    São Paulo - SP - CEP: 04116170
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Set 2009
    • Data do Fascículo
      2009
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