EDITORIAL
REDAÇÃO E LITERATURA CIENTÍFICA
Resumo : o trailer da comunicação científica
Bruno Caramelli
Professor Livre-docente; Diretor da Unidade de Medicina Interdisciplinar do InCor, São Paulo, SP
Apesar de aparecer em primeiro lugar na versão final do trabalho submetido para publicação, na maioria das vezes o resumo é o último item a ser escrito pelo autor. A elaboração do manuscrito já consumiu boa parte de sua imaginação, criatividade e redação, de maneira que suas energias estão quase esgotadas. O resultado é, muitas vezes, ruim e, pior ainda, tem consequências nefastas para a divulgação e o debate, em última análise os objetivos principais da comunicação científica. O resumo ou o abstract, em inglês, representa uma pequena amostra do conteúdo integral do artigo, um verdadeiro trailer. O resumo é a única parte do artigo que pode ser universalmente obtida diretamente pela internet, sem custo, a partir de bases de dados bibliográficas como o PubMed/MEDLINE. Depois do título, é ele que despertará o interesse do leitor por aquela obra de pesquisa, comparando, questionando, esclarecendo e criando novas dúvidas. Se o trailer for mal feito, será mais difícil estimular alguém a ver o filme completo.
Resumos estruturados, contendo subitens como introdução, métodos, resultados e conclusão, devem ser preferidos, pois facilitam o trabalho e a compreensão do leitor. Geralmente as revistas limitam o número de palavras do resumo. Por essa razão, o texto deve ser conciso, mas sem comprometer a compreensão do leitor. Abreviaturas devem ser evitadas, a menos que sejam publicamente conhecidas. O emprego de expressões e termos que permitam identificar a linha de pesquisa do trabalho pode ser útil, uma vez que ferramentas de biossemântica como eTBLAST (http://etest.vbi.vt.edu/etblast3/) ou Jane (http://www.biosemantics.org/jane/) utilizam o resumo para en contrar artigos, autores e revistas com trabalhos semelhantes. Revisores potenciais e revistas para as quais o artigo pode ser enviado podem ser identificados dessa maneira.
Não menos importante é a escolha das palavras-chave ou keywords. Assim como na busca de informação pelo site Google, são as palavras-chave que indicam o caminho que o leitor procura. A diferença é que as palavraschave não podem ser escolhidas livremente. Em 1960, a NLM (National Library of Medicine) dos Estados Unidos publicou, pela primeira vez, o MeSH (Medical Subject Headings), com o objetivo de catalogar, indexar, categorizar e facilitar a busca de publicações médicas. Atualmente são mais de 25 mil termos que podem ser escolhidos no site do MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html). Praticamente todas as revistas utilizam essa ferramenta para indexar seus artigos. Cabe ao autor escolher e indicar as palavras-chave adequadas para divulgar, de maneira mais eficiente, seu trabalho, ser encontrado e, provavelmente, ser citado por outros autores.
Resumindo:
Prefira um resumo estruturado, que contenha subitens.
Elabore um texto conciso e claro, obedecendo ao limite de palavras.
Não use abreviaturas, a menos que sejam publicamente conhecidas.
Procure inserir, com destaque no resumo, a sua mensagem principal, a "cereja do bolo".
Escolha palavras-chave e termos que permitam classificar ou identificar seu trabalho com o de outros autores.
Não tenha pressa, pense alguns dias sobre a ideia e peça aos colegas para que opinem.
Boa sorte!
©2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Jan 2012 -
Data do Fascículo
Dez 2011