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Sensibilidade cutânea plantar como risco de queda em idosos

À BEIRA DO LEITO

OTORRINOLARINGOLOGIA

Sensibilidade cutânea plantar como risco de queda em idosos

Onivaldo Bretan

Professor Livre-docente, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil

Correspondência Correspondência para: Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) - Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço Distrito de Rubião Júnior s/n CEP: 18618-970 -Botucatu - SP, Brasil cinthias@fmb.unesp.br

Os fatores de risco de queda no idoso são muitos, podendo ser devidos à síncope e à pré-síncope causadas por doenças cardiovasculares, neurológicas, tais como epilepsia e doença de Parkinson, por demência e por dependência em atividades da vida diária1. Provocam, também, síncope e queda do efeito adverso ou uso inadequado de várias medicações simultâneas, medicamentos com ação depressora do Sistema Nervoso Central ou que agem no aparelho cardiocirculatório1. Doenças sistêmicas somadas à degeneração neurossensorial e às alterações neuromusculares devidas ao envelhecimento acentuam o risco de queda, principalmente no idoso frágil. Vertigem e desequilíbrio também são causas frequentes de queda, muitas vezes associadas a distúrbios metabólicos, particularmente o diabetes não controlado sem as manifestações clínicas bem conhecidas da doença2,3. Tal doença leva a flutuações da glicose nas estruturas metabolicamente ativas do ouvido interno, interferindo no funcionamento da bomba de sódio e potássio. Essa bomba cria os potenciais elétricos das células neuroepiteliais cocleares e vestibulares, que, se alterados, geram sintomas e sinais auditivos e vestibulares.

Ainda entre as causas de alteração do equilíbrio corporal estão a redução do número de mecanorreceptores localizados nos pés e o aumento do limiar de excitabilidade vibratória e cutânea plantar dos mesmos, decorrentes do envelhecimento. A sensibilidade plantar é uma fonte importante de informação para o controle do equilíbrio, pois codifica as mudanças de pressão sob o pé principalmente durante a marcha. Essas informações chegam ao cérebro, que toma conhecimento sobre a posição do corpo e, se necessário, gera reflexos posturais para manutenção da posição vertical4. Essa perda sensorial tem como causa várias doenças, mas, principalmente, o diabetes5. Cerca de 50% dos diabéticos com mais de 60 anos têm o distúrbio, havendo ou não queixa. Aliás, mesmo idosos saudáveis podem ter neuropatia subclínica. Tem sido largamente demonstrado que essa perda tem papel importante nos distúrbios do equilíbrio do idoso4-6.

Alteração sensitiva cutânea plantar é preditor independente de queda, e sabe-se que 30% dos idosos com 65 anos e 40% daqueles com 75 anos ou mais caem ao menos uma vez7. Duas ou mais quedas em seis meses aumentam significativamente o risco de queda, no idoso frágil. A qualidade de vida é comprometida pela sensação de instabilidade, que provoca temor de cair, principalmente se o idoso já caiu alguma vez recentemente7. O medo de queda leva à redução da mobilidade, acentuando o sedentarismo e gerando um círculo vicioso que aumenta ainda mais aquele risco7,8. A queda frequente resulta muitas vezes na colocação do idoso em instituições de longa permanência.

Profissionais clínicos que atendem diabéticos e/ou idosos costumam realizar testes de sensibilidade cutânea e proprioceptiva5,6. Profissionais que trabalham com alteração do equilíbrio usam testes de equilíbrio específicos para idosos3,7,8. É importante que os clínicos que realizam rotineiramente testes de sensibilidade estejam alertas e interroguem seus pacientes sobre desequilíbrio e quedas. Se for o caso, devem encaminhá-los para avaliação do equilíbrio e para reabilitação postural ou orientação para prevenção, se for o caso.

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil

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  • Correspondência para:

    Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) - Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço
    Distrito de Rubião Júnior s/n
    CEP: 18618-970 -Botucatu - SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Maio 2012
    • Data do Fascículo
      Abr 2012
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