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O uso de DuraSeal nas cirurgias cranioencefálicas e espinais reduz o risco de fístula do líquido cefalorraquidiano e complicações em comparação aos métodos convencionais de fechamento da dura-máter?

À BEIRA DO LEITO

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

O uso de DuraSeal nas cirurgias cranioencefálicas e espinais reduz o risco de fístula do líquido cefalorraquidiano e complicações em comparação aos métodos convencionais de fechamento da dura-máter?

Luca BernardoI; Wanderley Marques BernardoI,II; Edson Bor Seng ShuIII; Leila Maria da RozIII; Cesar Cimonari de AlmeidaIII; Bernardo Assumpção de MonacoIII; Eberval Gadelha FigueiredoIII; Felipe Hada SandersIII; Hugo Sterman NetoIII; Manoel Jacobsen TeixeiraIII

IFaculdade de Medicina da Universidade Lusíada de Santos, Santos, SP, Brasil

IIFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo, SP, Brasil

IIIServiço de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da FMUSP, São Paulo, SP, Brasil

Correspondência para Correspondência para: Wanderley Marques Bernardo Rua Oswaldo Cruz, 179, Boqueirão 11045-101, Santos, SP, Brasil wmbernardo@usp.com.br

INTRODUÇÃO

A fístula do líquido cefalorraquidiano (LCR) é uma complicação neurocirúrgica frequente, ocorrendo de 1% a 27% dos casos. As principais manifestações clínicas são a cefaleia postural, náusea, tontura, fotofobia e zumbido. Essa condição pode estar associada à cicatrização inadequada e infecção de ferida operatória, meningite e pseudomeningocele, fatores que aumentam a morbidade e a mortalidade dos doentes.

Apesar das limitações, a sutura hermética da duramáter tem sido preconizada para prevenção e tratamento da fístula do LCR. Nos últimos anos, foram desenvolvidas técnicas para reforçar o local da sutura da duramáter, como sutura suplementar, utilização de enxertos de tecidos autólogos, colas de fibrina e esponjas de colágeno. O DuraSeal é um selante de dura-máter composto por hidrogel polietileno glicol (PEG hidrogel), a ser aplicado no local da sutura; tem sido indicado para cirurgias cranioencefálicas e espinais com abertura da dura-máter.

MÉTODOS

Realizou-se uma revisão sistemática nas bases de dados MEDLINE, EMBASE e Scielo/Lilacs, recuperando um total de 365 artigos através das seguintes estratégias de busca: (duraseal OR dura seal OR polyethylene glycol hydrogel OR dura seal dural sealant system OR dura-seal OR polyethylene glycols OR dura seal xact adhesion barrier and sealant system OR hydrogel) AND (neurosurgical procedures OR neurosurgery OR cranial surgery)) AND random*. A análise dos 365 artigos baseou-se nos seus títulos e resumos. Seis artigos preenchiam os critérios de inclusão (desenho de estudo do tipo ensaio clínico randomizado, comparando o uso de DuraSeal à sutura associada ou não a métodos complementares de fechamento da dura-máter e tendo como desfecho o desenvolvimento de fístula do LCR e demais complicações). Esses artigos foram avaliados criticamente com o escore JADAD1.

RESULTADOS

Dois estudos foram selecionados. Desses, um refere-se à utilização de DuraSeal em cirurgias cranioencefálicas (JADAD: 1)2 e outro estudo à utilização de DuraSeal em cirurgias de coluna vertebral (JADAD: 3)3.

O estudo de Kim et al.2 avaliou a utilização de DuraSeal em cirurgias de coluna vertebral. A amostra compreendeu 158 pacientes que foram randomizados (102 pacientes para o grupo intervenção e 56 para o grupo-controle). O desfecho primário consistiu em fístula do LCR e o desfecho secundário, das demais complicações. O seguimento dos pacientes foi realizado na fase pós-operatória imediata, após 30 dias e 90 dias. Esse estudo demonstrou que a utilização de DuraSeal em cirurgias de coluna vertebral está associada à redução do risco absoluto (RRA) em 35,6% (IC 95%: 23,0%-48,2%) e NNT de 3 para fístula do LCR; não houve diferença entre o grupo-controle e o grupo-intervenção quanto ao surgimento de outras complicações.

O estudo de Osbun et al.3 analisou a utilização de DuraSeal em cirurgias cranioencefálicas e consistiu na randomização de 237 pacientes (120 para o grupo-intervenção e 117 para o grupo-controle), avaliando como desfecho primário a fístula do LCR e desfecho secundário outras complicações. Os pacientes foram acompanhados por 30 dias. Não houve redução na incidência de complicações neurocirúrgicas, incluindo a fístula do LCR, e também de complicações incisionais.

SÍNTESE DA EVIDÊNCIA DISPONÍVEL

• Em pacientes submetidos à cirurgia de coluna vertebral, o uso de DuraSeal em comparação à sutura com ou sem cola de fibrina apresenta redução do risco absoluto de fístula do LCR (RRA: 35,6% e NNT : 3); não houve aumento do risco de complicações.

• Em pacientes submetidos à cirurgia cranioencefálica, o uso de DuraSeal em comparação à sutura com ou sem cola de fibrina não reduz o risco absoluto de complicações neurocirúrgicas, incluindo a fístula do LCR, e não reduz o risco de complicações incisionais.

  • 1. Jadad AR, Moore RA, Carroll D, Jenkinson C, Reynolds DJ, Gavaghan DJ et al. Assessing the quality of reports of randomized clinical trials: is blinding necessary? Controlled Clin Trials. 1996;17:1-12.
  • 2. Kim KD, Wright NM. Polyethylene glycol hydrogel spinal sealant (DuraSeal Spinal Sealant) as an adjunct to sutured dural repair in the spine: results of a prospective, multicenter, randomized controlled study. Spine (Phila Pa 1976). 2011;36:1906-12.
  • 3. Osbun JW, Ellenbogen RG, Chesnut RM, Chin LS, Connolly PJ, Cosgrove GR et al. A Multicenter, Single-Blind, Prospective Randomized Trial to Evaluate the Safety of a Polyethylene Glycol Hydrogel (Duraseal Dural Sealant System) as a Dural Sealant in Cranial Surgery. World Neurosurg 2011.
  • Correspondência para:

    Wanderley Marques Bernardo
    Rua Oswaldo Cruz, 179, Boqueirão
    11045-101, Santos, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      Ago 2012
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