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Editorial

Editorial

Neste número a Revista de Sociologia e Política apresenta somente artigos variados. Alguns textos sobre questões teóricas iniciam o número: Luiz Eduardo Mota apresenta como Nicos Poulantzas contrapôs-se a Hans Kelsen a respeito do Estado, do Direito e da lei; Ricardo Borges Gama Neto trata da teoria schumpeteriana da democracia, dita "minimalista" e que influenciou a teoria da escolha racional. Manoel Santos e Enivaldo Rocha tratam de um aspecto central da teoria do capital social: qual a importância social da "confiança"? Em seguida, Daniela Archanjo estabelece um diálogo entre a teoria e a prática da "representação política".

Na seqüência, Gilson Ciarallo examina os temas da secularização e da liberdade religiosa no Brasil; Daniel Mocelin trata da redução da jornada de trabalho e da qualidade dos empregos; Attila Barbosa discute o empreendedorismo pessoal e Andréa Steinar reflete sobre as possibilidades de uso dos estudos de caso para questões de política ambiental.

Em seguida, temos uma série de pesquisas empíricas: Gustavo Costa investiga o papel do Estado no controle das reservas biológicas; Carlos Vasconcelos Rocha retoma a questão da gestão municipal e da participação democrática; Amparo Novo, Mercedes Cobo e Luis Gayoso tratam da participação política das mulheres na Espanha e, por fim, Marcelo Costa Ferreira discute a composição das forças políticas na Câmara dos Deputados face às migrações partidárias.

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Uma dissertação de mestrado recentemente defendida - a de Fernando Baptista Leite, intitulada Divisões temáticas e teórico-metodológicas na Ciência Política brasileira: explicando sua produção acadêmica (2004-2008) - indicou que, entre as principais publicações científicas de Ciência Política do Brasil (Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS), Dados, Lua Nova, Opinião Pública, Revista Brasileira de Ciência Política e Revista de Sociologia e Política), são a RBCS e a Revista de Sociologia e Política as que apresentam o maior índice de dispersão temática: são as que mais se abrem às diversas possibilidades teóricas e metodológicas. Ora, a RBCS é uma das publicações da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais e, por questões institucionais, tem necessariamente que ser receptiva às várias possibilidades temáticas e analíticas da área. Considerando que a Rev. Sociol. Polít. recebe em média 150 artigos por ano para avaliação - somente para a seção de artigos diversos - não é arriscado sugerir que o pluralismo temático e metodológico é um dos motivos por que a Revista é tão procurada.

Dito isso, a Revista de Sociologia e Política apresenta como missão publicar artigos inéditos relativos a pesquisas recém-concluídas ou em andamento; nesse sentido, nosso periódico refletiria a produção intelectual brasileira a respeito da Ciência Política e da Sociologia Política.

Todavia, esse papel por assim dizer passivo, embora evidentemente necessário - em última análise, somente podemos publicar o que está à disposição no mercado acadêmico nacional -, não nos impede de orientarmos a Revista de acordo com parâmetros teóricos e metodológicos que julgamos importantes.

Desse modo, sem abrir mão do pluralismo teórico-metodológico que caracteriza a Revista de Sociologia e Política desde o seu início, em 1993, procuraremos na medida do possível favorecer abordagens empíricas e teóricas historicamente informadas; ou, para usar uma expressão mais sintética, pesquisas de Sociologia Histórica do Político. Evidentemente, as abordagens mais abstratas continuam tendo espaço para publicação, em particular na seção de artigos variados, mas procuraremos privilegiar na seção de dossiês as perspectivas que considerem a temporalidade, as conjunturas, o peso que o passado histórico tem sobre os agentes sociais e sobre os acontecimentos políticos.

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Em 2009 inauguramos uma nova seção, os "Ensaios bibliográficos", em substituição ao antigo departamento de "Resenhas bibliográficas". De lá para cá, o que a experiência indica é que tais artigos de modo geral têm que ser encomendados aos diversos especialistas das subáreas, revelando que simplesmente não há no Brasil uma cultura de redação de tais "Ensaios" - o que não deixa de ser espantoso.

A ausência dessa cultura não é devida ao eventual ineditismo dessa seção: novo, na verdade, é apenas o nome, pois seu objetivo é promover reflexões críticas sobre o estado da arte de aspectos específicos da produção nacional e estrangeira de Ciência Política e Sociologia Política. O que é admirável é que no Brasil não se considera a "revisão bibliográfica" - base do "Ensaio bibliográfico", conforme propomos - uma etapa preliminar efetiva para qualquer pesquisa, necessária para a delimitação das questões tratadas, das abordagens empregadas, dos resultados até então obtidos; bem ao contrário, a revisão bibliográfica é vista, e realizada, como um momento burocrático cuja utilidade o mais das vezes é demonstrar que o pesquisador leu determinados autores - e só.

Evidentemente, a Revista de Sociologia e Política não tem a pretensão de mudar, sozinha, essa prática intelectual; pelo menos, não pretende fazê-lo por meio de um golpe único e no curto prazo. Ainda assim, não podemos deixar de indicar esse problema e, na medida de nossas possibilidades, tentar solucioná-lo.

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A Revista de Sociologia e Política integra o Programa de Apoio a Periódicos da Universidade Federal do Paraná e conta com seu patrocínio, bem como do curso de Especialização em Sociologia Política do Departamento de Ciências Sociais da mesma instituição, além do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), aos quais expressamos nossos sinceros agradecimentos.

Gustavo Biscaia de Lacerda

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Mar 2011
  • Data do Fascículo
    Fev 2011
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