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"Ismos", "ícones" e intérpretes: as lógicas das "etiquetagens" na política de dois estados brasileiros (MA e RS)

"Isms", "icons" and "interpreters": logics of "labelling" within the politics of two Brazilian states (Maranhão and Rio Grande do Sul)

Les "ismes", "icônes" et interprètes: les logiques des « étiquetages » faits dans la politique de deux régions brésiliennes (MA et RS)

Resumos

O trabalho de fabricação de "etiquetas" e "ícones" da política brasileira é examinado neste artigo. O foco recai sobre "vultos" e intérpretes da história política de dois estados brasileiros, Rio Grande do Sul (RS) e Maranhão (MA), assim como sobre as versões produzidas acerca do "Getulismo", "Pasqualinismo", "Brizolismo", "Vitorinismo" e "Sarneysismo". O exercício de análise executado consistiu em perceber as ligações entre os intérpretes desses "ismos", os líderes políticos e os tecidos relacionais que dão sentido às identificações, distinções e tomadas de posição. Ou seja, foram analisados os recursos sociais sobre os quais assentam (i) sua reputação política e intelectual (origem social, reconhecimento profissional, cargos políticos, títulos e pertencimento a instâncias de consagração intelectual); (ii) seus alinhamentos políticos e (iii) seus movimentos nos jogos faccionais nas duas configurações regionais. Mediante a análise dos seus itinerários e das modalidades de textos (biografias, livros e artigos de jornais) produzidos, a reflexão explora os usos e a relevância, como instrumentos políticos e como meios de identificação: da ativação da memória política; das genealogias simbólicas; da personificação do capital simbólico; das relações de reciprocidade; do papel de mediação; das bases sociais e do domínio de uma forma de expressão que é a "escrita" ou da associação ao universo da intelectualidade.

elite política; liderança; carisma; memória; redes


This article examines the work of fabricating "labels" and "icons" that goes on within Brazilian politics. I focus on "the big names" and interpreters of the political history of two Brazilian states, Rio Grande do Sul (RS) and Maranhão (MA), as well as interpretations that have made of "Getulism", "Pasqualinism", "Brizolism", "Vitorinism" and "Sarneyism". My analytical exercise has consisted of looking at the connections between those who have interpreted these "isms", political leaders and the relational fabric that gives meaning to the identifications, distinctions and the positions that are taken. That is, I analyze their underlying social resources: (i) their political and intellectual reputation (social origin, professional recognition, political offices, degrees and belonging to spheres of intellectual recognition; (ii) their political alignment and (iii) their transit through factional interplay within in two distinct regional configurations. Through analysis of their itineraries and through texts (biographies, books and newspaper articles), my reflections explore the uses and relevance- as political instruments and means of identification - of the following: symbolic genealogies, forms of personification of symbolic capital, relations of reciprocity, the role of mediation, the activation of political memory and the social bases and dominion of "writing" as a form of expression and association with the intellectual universe.

Political Elites; Leadership; Charisma; Memory; Networks


Le travail de production « d'étiquettes » et « icônes » de la politique brésilienne est vérifié dans cet article. L'accent est mis sur des « figures » et interprètes de l'histoire politique de deux régions brésiliennes, Rio Grande do Sul (RS) e Maranhão (MA), ainsi comme sur les versions produites autour du « getulisme », « pasqualinisme », « brizolisme », « vitorinisme » et « sarneysisme ». L'exercice de l'analyse faite a consisté à apercevoir les liaisons entre les interprètes de ces « ismes », les leaders politiques et les tissus relationnels qui donnent du sens aux identifications, distinctions et prises de décision. C'est à dire, on a analysé les ressources sociales sur lesquelles reposent (i) leur réputation politique et intelectuelle (origine sociale, reconnaissance professionnelle, fonctions politiques, titres et appartenance à des instances de consécration intelectuelle) ; (ii) leurs alignements politiques et (iii) leurs mouvements dans les jeux de factions existants dans les deux configurations régionales. Par l'analyse de ses itinéraires et modalités de textes (biographies, livres et articles journalistiques) produits, la réflexion explore les usages et l'importance, autant qu'instruments politiques et moyens d'identifications : de l'activation de la mémoire politique ; des généalogies symboliques ; de la personification du capital symbolique ; des relations de réciprocité ; du rôle de la médiation; des bases sociales et de l'influence d'une forme d'expression - celle de l'écriture - ou de l'association à l'univers de l'intellectualité.

élite politique; direction; charisme; mémoire; réseaux


ARTIGOS

"Ismos", "ícones" e intérpretes: as lógicas das "etiquetagens" na política de dois estados brasileiros (MA e RS)

"Isms", "icons" and "interpreters": logics of "labelling" within the politics of two Brazilian states (Maranhão and Rio Grande do Sul)

Les "ismes", "icônes" et interprètes: les logiques des « étiquetages » faits dans la politique de deux régions brésiliennes (MA et RS)

Igor Gastal Grill

(Igorgrill@terra.com.br) é Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

RESUMO

O trabalho de fabricação de "etiquetas" e "ícones" da política brasileira é examinado neste artigo. O foco recai sobre "vultos" e intérpretes da história política de dois estados brasileiros, Rio Grande do Sul (RS) e Maranhão (MA), assim como sobre as versões produzidas acerca do "Getulismo", "Pasqualinismo", "Brizolismo", "Vitorinismo" e "Sarneysismo". O exercício de análise executado consistiu em perceber as ligações entre os intérpretes desses "ismos", os líderes políticos e os tecidos relacionais que dão sentido às identificações, distinções e tomadas de posição. Ou seja, foram analisados os recursos sociais sobre os quais assentam (i) sua reputação política e intelectual (origem social, reconhecimento profissional, cargos políticos, títulos e pertencimento a instâncias de consagração intelectual); (ii) seus alinhamentos políticos e (iii) seus movimentos nos jogos faccionais nas duas configurações regionais. Mediante a análise dos seus itinerários e das modalidades de textos (biografias, livros e artigos de jornais) produzidos, a reflexão explora os usos e a relevância, como instrumentos políticos e como meios de identificação: da ativação da memória política; das genealogias simbólicas; da personificação do capital simbólico; das relações de reciprocidade; do papel de mediação; das bases sociais e do domínio de uma forma de expressão que é a "escrita" ou da associação ao universo da intelectualidade.

Palavras-chave: elite política; liderança; carisma; memória; redes.

ABSTRACT

This article examines the work of fabricating "labels" and "icons" that goes on within Brazilian politics. I focus on "the big names" and interpreters of the political history of two Brazilian states, Rio Grande do Sul (RS) and Maranhão (MA), as well as interpretations that have made of "Getulism", "Pasqualinism", "Brizolism", "Vitorinism" and "Sarneyism". My analytical exercise has consisted of looking at the connections between those who have interpreted these "isms", political leaders and the relational fabric that gives meaning to the identifications, distinctions and the positions that are taken. That is, I analyze their underlying social resources: (i) their political and intellectual reputation (social origin, professional recognition, political offices, degrees and belonging to spheres of intellectual recognition; (ii) their political alignment and (iii) their transit through factional interplay within in two distinct regional configurations. Through analysis of their itineraries and through texts (biographies, books and newspaper articles), my reflections explore the uses and relevance- as political instruments and means of identification - of the following: symbolic genealogies, forms of personification of symbolic capital, relations of reciprocity, the role of mediation, the activation of political memory and the social bases and dominion of "writing" as a form of expression and association with the intellectual universe.

Keywords: Political Elites; Leadership; Charisma; Memory; Networks.

RESUMÉ

Le travail de production « d'étiquettes » et « icônes » de la politique brésilienne est vérifié dans cet article. L'accent est mis sur des « figures » et interprètes de l'histoire politique de deux régions brésiliennes, Rio Grande do Sul (RS) e Maranhão (MA), ainsi comme sur les versions produites autour du « getulisme », « pasqualinisme », « brizolisme », « vitorinisme » et « sarneysisme ». L'exercice de l'analyse faite a consisté à apercevoir les liaisons entre les interprètes de ces « ismes », les leaders politiques et les tissus relationnels qui donnent du sens aux identifications, distinctions et prises de décision. C'est à dire, on a analysé les ressources sociales sur lesquelles reposent (i) leur réputation politique et intelectuelle (origine sociale, reconnaissance professionnelle, fonctions politiques, titres et appartenance à des instances de consécration intelectuelle) ; (ii) leurs alignements politiques et (iii) leurs mouvements dans les jeux de factions existants dans les deux configurations régionales. Par l'analyse de ses itinéraires et modalités de textes (biographies, livres et articles journalistiques) produits, la réflexion explore les usages et l'importance, autant qu'instruments politiques et moyens d'identifications : de l'activation de la mémoire politique ; des généalogies symboliques ; de la personification du capital symbolique ; des relations de réciprocité ; du rôle de la médiation; des bases sociales et de l'influence d'une forme d'expression - celle de l'écriture - ou de l'association à l'univers de l'intellectualité.

Mots-clés: élite politique; direction; charisme; mémoire; réseaux.

I. INTRODUÇÃO1 1 Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no 34º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), Seminário Temático "Grupos Dirigentes e Estruturas de Poder". Agradeço as críticas, comentários e sugestões do debatedor da sessão, Mario Grynszpan. Sou igualmente grato aos pareceristas da Revista de Sociologia e Política.

O cenário político brasileiro é perpassado por expressões como "lulismo", "carlismo", "malufismo", "sarneyismo", "brizolismo", "getulismo", "janismo" etc. Esses "ismos" possuem uma função muito mais avaliativa do que denotativa (COLLOVALD, 1991), isto é, julgamentos pejorativos e leituras consagradoras mesclam-se em um universo de personificação do capital político como forma de capital simbólico (BOURDIEU, 1989). Tais termos fixam igualmente uma idéia de unidade e de continuidade, a partir da associação reivindicada ou denunciada entre agentes atuantes no espaço político.

Propõe-se, neste artigo, um exercício de reflexão sobre esses mecanismos de exaltação-identificação e desqualificação-distinção em dois estados brasileiros: Maranhão e Rio Grande do Sul. O material empírico foi definido a partir do exame de um conjunto de fontes (repertórios biográficos, memórias, biografias, entrevistas em profundidade, produção escrita de "políticos profissionais" etc.) acumulado na realização de pesquisas anteriores de maior fôlego sobre as dinâmicas de seleção de "elites políticas" nas duas "configurações regionais" (GRILL, 2003; 2005; 2008; 2009), cujo tratamento permitiu o armazenamento de informações biográficas de ocupantes de cargos eletivos (1945-2010).

A análise desse universo mais amplo trouxe à tona aspectos referentes à centralidade de expressões que informam "etiquetas políticas". Com maior ou menor ênfase, "vitorinismo" e "sarneyismo", para o caso maranhense, e "getulismo", "pasqualinismo" e "brizolismo" no interior do "trabalhismo", para o gaúcho, são categorias ativadas como critérios de aproximação e de estabelecimento de clivagens, mediante as quais as lutas faccionais2 2 Utiliza-se noção de facção no sentido de Landé (1977), quer dizer, coalizões políticas rivais, instáveis e temporárias, centradas em lideranças personalistas, cujos seguidores são recrutados de acordo com os recursos disponíveis para seus egos, que são capazes de gerar retribuições àqueles que aderem à sua liderança. que atravessam o espaço de luta política no plano estadual definem-se e redefinem-se.

A produção e a transformação dessas expressões em instrumento de estigmatização ou de filiação (no duplo sentido de constituição de herdeiros e de vinculação a "ideologias") compõem o trabalho coletivo de diversos agentes e instituições que as mobilizam com vistas à associação pessoal com "ícones" da política ou à desqualificação de adversários, por meio de ligação com "figuras emblemáticas" e práticas rechaçadas. Desde a ativação feita pelos profanos até aquelas operadas pelos especialistas da representação política, passando por uma série de intérpretes estabelecidos tanto nos domínios políticos como intelectuais, proliferam-se exemplos de usos possíveis.

Assim, o presente texto foca os condicionantes que interferem na emergência dessas taxonomias. Elas dão sentido às lutas políticas e abrangem, por um lado, a afirmação de características sociais, as trajetórias seguidas e os posicionamentos assumidos por determinadas lideranças políticas que, por sua vez, afirmam-se como "ícones" das "histórias políticas" regionais e, por outro lado, são tributárias das apropriações e versões oferecidas por agentes imersos tanto nas disputas político-partidárias como nas "letradas" (vinculadas de alguma forma ao universo "intelectual") que permeiam tais dinâmicas.

Em especial, procura-se relacionar os intérpretes de "ismos" e as suas tomadas de posição, que se efetivam, a um só golpe, na edificação dessas classificações e em sua definição, ou seja, na tradução dos seus "significados", "legados", "heranças", "ensinamentos" etc., sejam estes avaliados tanto de modo positivo, sejam de modo negativo. Neste caso, foram observados os recursos sociais sobre os quais se assentam a reputação política e intelectual dos "ícones" e dos intérpretes (origem social, reconhecimento profissional, cargos políticos, títulos e pertencimentos a instâncias de consagração intelectual), seus alinhamentos políticos, seus movimentos nos jogos faccionais, as instituições a partir das quais se pronunciam e a utilização de um passado mais ou menos remoto com vistas à afirmação política.

II. MAPEANDO A QUESTÃO

Por um lado, os "ismos" sintetizam posicionamentos que somente adquirem sentido em relação a outras classificações, distinções, descontinuidades e desvios estabelecidos; por outro, são erguidos em referência a aproximações e continuidades que eles informam com deslocamentos constantes. Quando concernidos ao universo político, eles adquirem a singularidade de estarem diretamente ligados a condições de elegibilidade, quer dizer, impõem-se como instrumentos de localização de agentes em "linhagens" e agentes de associação com "patrimônios coletivos". O reconhecimento desses pertencimentos por parte dos demais políticos (ou pares) e dos eleitores associa-se ao fato de que a possibilidade de ocupar posições de poder político está condicionada à posse de recursos ("nomes", posições nas tramas políticas, cargos, vínculos pessoais e familiares) e de disposições que os permitam utilizar e frutificar esses recursos na competição política. Sendo assim, não é possível apreender as versões sobre o "vitorismo", o "sarneyismo", o "trabalhismo", o "getulismo" e o "brizolismo" sem abordar as condições e estratégias de inscrição dos personagens em tecidos relacionais, dotados de plasticidades, impulsionadores do acesso a postos políticos e, acima de tudo, que funcionam como referência da memória política regional, instituindo-se como uma fonte de perpetuação de sentidos que animam a política e que atualizam a configuração de lutas e identidades, firmando-se como trunfo político não negligenciável (ABÉLÈS, 1989).

A análise de processos de seleção de "elites políticas" no Maranhão - conhecido como o principal "domínio do sarneyismo" - e no Rio Grande do Sul - considerado o "berço do trabalhismo" e do "brizolismo" - apontam, então, para a formação de espaços regionais "encerrados em redes de linhagens, elas mesmas interconectadas", mediante as quais estar "filiado a uma rede política de parentes e aliados" é condição para se tornar elegível (ABÉLÈS, 1992, p. 65). Desse modo, é a partir dessas relações e vínculos que se encontra a base para a gestação-gestão de rótulos que homogeneízam componentes, rotinizam práticas e sedimentam representações, compondo, por esse intermédio e precariamente, as condições propícias para as tentativas de sua superação e/ou reinvenção.

As referidas dinâmicas de estruturação do espaço político estão relacionadas também aos princípios de hierarquização social em pauta e sua reconversão em critérios de legitimação de "elites políticas" nos dois estados. Os padrões de reprodução das "famílias" na política e das carreiras dos agentes analisados no empreendimento mais amplo permitiram perceber - via origens sociais, percursos profissionais, escolares e políticos, assim como estratégias de legitimação e notabilização de personagens do mundo da política e dos seus antepassados - algumas regularidades e discrepâncias. No Maranhão há um peso maior de "famílias" estabelecidas social e politicamente ainda no século XIX ou nas primeiras décadas do século XX, bem como de políticos com títulos de médico e engenheiro, além de advogado, conquistados em instituições públicas da capital e de centros maiores; políticos que começam suas carreiras por cargos públicos conquistados por indicação ou a partir carreiras eletivas "por cima" (diretamente como deputados federais). Destaca-se, igualmente, a constante localização dos protagonistas e dos "grupos familiares" na história regional, tendo como base a referência mítica da "tradição intelectual" que existiria no estado. No caso do Rio Grande do Sul constata-se maior diversificação dos segmentos dos quais são originários os políticos, com destaque para a importância numérica dos descendentes de imigrantes alemães e italianos, de professores de Ensino Médio, Secundário e Universitário (ao lado das profissões tradicionais), bem como da passagem por instituições públicas e privadas (chamadas de "comunitárias") de Ensino Superior situadas no interior do estado. Os políticos ingressam na carreira política mais freqüentemente por cargos eletivos e principalmente periféricos (como vereança) e há um esforço recorrente entre eles de situarem-se nas lutas militares, políticas e entre siglas que marcariam e singularizariam a "história do estado"3 3 No empreendimento mais amplo foram cotejados dados relativos: i) aos perfis (profissão, grau de escolarização, instituição de obtenção de títulos universitários etc.); ( ii) aos trajetos políticos (cargo e idade de ingresso na carreira de postos eletivos e políticos, tempo de carreira e número de candidaturas); ( iii) ao background social (posição social de origem ou atividades desempenhadas pelos ascendentes no período que precede o ingresso das "famílias" nas disputas eleitorais) e ( iv) às concepções em disputa acerca das formas legítimas de atuação política entre deputados federais dos dois estados no período 1945-2010. Para uma apresentação detalhada dos resultados, ver Grill (2008; 2009). .

A análise efetuada neste artigo procura, assim, dar prosseguimento à perspectiva comparada, diacrônica e processual adotada em estudos anteriores. Visa-se a lançar novas luzes sobre "achados" acerca de atributos valorizados e estratégias de celebração em pauta nesses universos empíricos, assim como explorar uma dimensão de funcionamento da vida política que não é exclusividade dos referidos cenários: a constituição e o uso de filiações políticas. Desse modo, à combinação de um lastro de pesquisas sobre as duas configurações regionais que permitem situar "ícones", intérpretes e "ismos" em um espaço de relações, objetivas e subjetivas, se soma a peculiaridade dos contextos no que se refere à persistência no tempo das referências a "etiquetas" derivadas do nome de lideranças tidas como "populares" ou "populistas" (ao sabor dos investimentos consagradores ou detratores), seus usos no meio político e sua relevância no meio intelectual. A junção desses dois aspectos torna possível um olhar mais refinado da ativação de rótulos, princípios de aferição de excelência humana e critérios de afirmação política relativos aos domínios empíricos em questão, oferecendo ainda casos excepcionalmente ricos no que tange às lógicas e aos códigos para "prolongar a reflexão e interrogar, através das estratégias de filiação, a gestão da durabilidade na política. E compreender como a imobilidade do tempo que invocam estas reconfortantes continuidades pode ser [...] um dos meios de fazer aceitar a mudança aí compreendida pelo recurso às diversas formas de parentesco simbólico" (OFFERLÉ, 1993, p. 855-856). Logo, constituem elementos férteis para interlocução com a bibliografia referente aos temas das "heranças", das "transmissões", dos "legados", das "tradições" e os componentes como bases sociais, simbolismos e carismas que lhe conferem sentido.

Para tanto, foi selecionado para exame um corpus composto de biografias sobre as personalidades políticas que protagonizam "tradições políticas", rituais de homenagens, textos de jornais de seguidores ou competidores e trabalhos acadêmicos sobre a "história política" nos dois estados. A existência de materiais semelhantes tornou factível a comparação entre as diversas modalidades de discursos laudatórios ou contestatórios aos "ícones" em tela, oriundos de espaços políticos e intelectuais; discursos que emergem em cada universo de lutas. Para a compreensão das dinâmicas de embates, a investigação recorre a tipos de fontes que auxiliam o trabalho de cotejamento dos protagonistas, dos trunfos mobilizáveis e das "memórias" em disputa.

Os personagens que simbolizam os "ismos" contam com propriedades sociais relevantes para a inscrição na "história política regional" e com trabalhos coletivos de legitimação dos seus recursos, das suas biografias, dos seus pertencimentos, das suas identidades, enfim, dos seus "lugares". Políticos e intérpretes (críticos ou laudatórios) que compartilham das mesmas referências objetivas, subjetivas e formalizadas (HAEGEL, 1990), quer dizer, de um passado substancializado (monumentos, eventos, datas etc.), integrado (memória política de "grupos") e codificado (adesão a signos de continuidade entre passado, presente e futuro), contribuem para tanto.

A inscrição de José Sarney e de Leonel Brizola (em relação a seus aliados, sucessores, antecessores e adversários) na história política dos seus respectivos estados (sem falar na história nacional) depende de um conjunto de investimentos que auxiliam para consagrar notabilidades ou reputações (BOURDIEU, 1989), carismas (WEBER, 1987; SHILLS, 1992; CORADINI, 1998a; GEERTZ, 1998) e sucessões (ABÉLÈS, 1992; GARRAUD, 1992; HASTINGS, 1992). Em outros termos, a eternização dos "vultos" e a "etiquetagem" em termos de "ismos" estão vinculadas a um conjunto de homenagens, construções biográficas e interpretações responsáveis pela personificação em "ícones" de atributos valorizados social e culturalmente, pela vinculação dos mesmos a qualidades extraordinárias ou transcendentais, assim como a demonstrações de lealdades, fidelidades, continuidades, proximidades etc.

A posição dos agentes na hierarquia política é o produto de uma soma de investimentos oriundos de múltiplos segmentos da vida social e da multiposicionalidade daqueles que se dedicam a exaltar os homenageados. A produção dos "vultos" da vida política resulta do trabalho de "reunir, homogeneizar e tornar coerente, sob uma marca identitária unificada e suficientemente identificável, as múltiplas definições que deles são feitas" (COLLOVALD, 1988, p. 35). A legitimidade advém, assim, de um "trabalho coletivo de produção de créditos [...] e de reconhecimento das suas qualidades pessoais" para a qual contribui a participação do próprio personagem da política e de outros agentes ou instituições que "fornecem sua força social, seus interesses e suas crenças práticas" (COLLOVALD, 1999, p. 16).

Personagens, instituições, idéias, valores e imagens que compõem os elogios ou homenagens são fontes de atribuição de transcendência e sacralização daqueles que são louvados, criando e reforçando símbolos que ligam agentes e arenas privilegiadas da vida social, justificando e administrando as "elites políticas" (GEERTZ, 1997; CORADINI, 1998a). No caso da operação biográfica, essa modalidade baseia-se na crença do biógrafo "de se interessar em uma pessoa, mas se ligar a uma identidade coletiva. Ele crê retraçar uma história de vida, porém participa de uma luta política que a ultrapassa [...]" (COLLOVALD, 1999, p. 18). À posição de narrador externo confronta-se o fato dele estar "misturado na vida política que lhe faz dividir as mesmas categorias cognitivas que produzem e alimentam as diferenças. Mesmo os materiais que ele se propõe a recolher se impõem e estavam investidos de significações contrastadas a serviço de conclusões políticas divergentes" (ibidem). No caso dos empreendimentos críticos, os intérpretes concorrem para demonstrar as condições de superação dos "ismos", ao mesmo tempo em que criam as versões que os situam em um continuum histórico de rupturas de ciclos ou releituras de polaridades, compartilhando o mesmo sistema de crenças acerca das especificidades regionais para inscreverem-se no "passado" e para reivindicarem o "compromisso com o futuro".

III. "VITORINISMO" E "SARNEYISMO"4 4 No material aparecem variações na forma da grafia do rótulo como "sarneysismo", "sarneyzismo", "sarneisismo" e "sarneismo. Adotamos a mais corrente delas: "sarneyismo".

Dois indivíduos tiveram seus "nomes" e suas "lideranças" como bases da constituição de "etiquetas políticas" que dominaram a cena eleitoral maranhense ao longo do período 1945-2010, sucedendo-se nas posições de poder político no estado: Victorino Freire e José Sarney. Em torno de ambos constituíram-se redes de seguidores e, em oposição aos mesmos e às facções que dirigiram, consolidaram-se facções rivais ("frentes oposicionistas" articuladas em nome do objetivo comum de derrotar o "grupo" dominante).

Victorino Freire assentou sua posição central no jogo de disputas políticas como um "preposto do poder central" (MICELI, 1981; COSTA, 2006). Filho de um fazendeiro que atuava na política local em Pernambuco, ele inaugurou sua atuação no Maranhão em 1934, como Secretário de Governo e responsável pela organização do Partido Social Democrata (PSD) para as eleições de 1935. Com o fracasso do partido naquele pleito, Victorino Freire somente retornou para o estado em 1945, como um dos principais "articuladores" da candidatura do General Eurico Dutra à Presidência da República, depois de ter ocupado vários cargos na esfera federal. Foi Deputado Federal e Senador entre 1946 e 1971. Comandou a dinâmica política estadual durante vinte anos (1945-1965), fazendo uso das principais funções que caracterizam aquilo que pesquisadores da história política maranhense chamam de "oligarquia": i) conduzindo o jogo partidário e uso das siglas; (ii) estabelecendo a mediação com o centro ou exercendo o que seriam estratégias periféricas de articulação com o poder central (COSTA, 2006; REIS, 2007). Além disso, contou com o fortalecimento de uma configuração de apoios e de seguidores que, apesar de instável devido às freqüentes crises "intra-oligárquicas" ou realinhamentos nas lutas entre facções, revelou grande potencial de renovação de elos e sedimentação de cadeias de lealdades.

Analisando o conjunto de agentes (ocupantes de cargos políticos eletivos) atuantes na órbita da liderança de Victorino Freire, as alianças e clivagens em pauta (detectadas a partir de uma coletânea de 50 biografias publicada por Benedito Buzar5 5 Ver caracterização mais adiante. em 2001), chama à atenção as estratégias de afirmação, de reprodução e de sucessão políticas das principais lideranças identificadas, assim como os mecanismos de cooptação operados pelo líder6 6 Não se deve deixar de mencionar que seu filho, Luis Fernando Freire, foi Deputado Federal, Suplente de Senador e Senador; seus sobrinhos, Djalma Brito e Pedro Brito, deputados estaduais; outro sobrinho, José de Brito Freire Sobrinho, foi Deputado Federal. . Essas lideranças são originárias predominantemente de dois segmentos de origem: i) "famílias tradicionais" estabelecidas social e politicamente no período que antecedeu ao estado novo (muitas delas ainda no século XIX); ii) "descendentes de imigrantes libaneses" cujas "famílias" passaram por uma ascensão social significativa (segmentos que também se encontravam na coalizão rival, as chamadas "oposições coligadas").

Observa-se que os perfis dos agentes aliados à Victorino são marcados por ocupações ligadas ao domínio jurídico, ao "mundo empresarial" e ao exercício da Medicina, destacando-se a posse de títulos superiores e a passagem por instituições situadas na capital, São Luís, ou em centros maiores. As carreiras políticas dos mesmos foram inauguradas em cargos obtidos mediante nomeações ou diretamente por mandatos de Deputado Estadual ou Federal e contavam com importantes trunfos na competição política, sobressaindo-se a vinculação aos "ascendentes" com participação política, os laços de parentesco na mesma geração e a constituição de "sucessores". Sem deixar de mencionar que as adesões desses agentes à figura de Victorino Freire obedeciam a fidelidades e alinhamentos anteriores à redemocratização iniciada em 19457 7 Três facções e seus líderes se enfrentavam na década de 1930: os "genesistas" (liderados por Genésio Rêgo), os "marcelinistas" (liderados por Marcelino Machado)e os "magalhãesistas" (liderados por Magalhães de Almeida). Para mais detalhes, ver Reis (2007). e guardaram relação com lealdades e rivalidades intergeracionais, bem como resultaram da atualização de vínculos ou rompimento de laços interpessoais. Contudo, a força da expressão "vitorinismo" adveio das estratégias bem sucedidas dos seus opositores, visando estabelecer uma descontinuidade entre o "período" da política maranhense dominado por Victorino Freire e aquele iniciado com a chegada das "oposições coligadas" ao governo do estado, quando, em 1965, José Sarney elegeu-se Governador.

A afirmação da liderança de José Sarney nesse processo apóia-se em um conjunto de propriedades sociais, no pertencimento a determinadas redes de relações e nos posicionamentos nas lutas faccionais ocorridas entre 1945 e 1965. Filho de um desembargador e com "ascendentes" "estadistas", "ministros", "homens de letras", "magistrados" etc., a "imagem" de Sarney foi construída a partir de uma condição de "sucessor" e amparada na inscrição reivindicada em diferentes ramos de atividades. Seus trunfos mais contundentes foram buscados no pertencimento a uma "geração" notabilizada pela atuação política e literária, pela "preocupação com os problemas econômicos e sociais", pela ênfase no "planejamento", pelo "rótulo modernista" etc. (GONÇALVES, 2000; COSTA, 2006). Seu ingresso na carreira política deu-se graças à nomeação como Assessor do Governador, em 1950, por intermédio da orientação de Victorino Freire que atendia um pedido do pai de José Sarney. Apesar disso, transitou entre "governo" e "oposição" durante a década de 1950 e início da década de 1960, até que, com o apoio do governo militar, conseguiu consolidar-se como o "herdeiro" do "legado das oposições coligadas" (COSTA, 2006, p. 84). A partir de então, José Sarney passou a assumir uma posição central em uma configuração de seguidores ligados a ele por laços de parentesco por consangüinidade8 8 A autora inspira-se em Alfredo Wagner Berno Almeida, que afirma: "A nostalgia e a idealização do passado passam a representar figuras essenciais na representação acerca do Maranhão. O presente passa a ser vivido como um resíduo do período denominado áureo. E esse período, por sua vez, dependendo do presente de quem fala pode estar sujeito a ligeiras alterações, porque no fundo o que está em jogo é uma permanente idealização do passado [...]" (ALMEIDA, 2008, p.152). , por alianças e por relações instituídas no espaço social (GONÇALVES, 2008, p. 80).

Para exemplificar alguns investimentos de (auto)consagração da "personalidade" política e literária de José Sarney, são retomadas as análises de Gonçalves (2000, p. 63-90) dos discursos proferidos por ele e seus pares nas seções de posse na Academia Maranhense de Letras (AML) e na Academia Brasileira de Letras (ABL) (GONÇALVES, 2000, p. 63-90), assim como homenagens aos seus 80 anos, completados em 2010, na forma textos de escritores maranhenses publicados no Jornal O Estado do Maranhão e de uma biografia ou "livro-homenagem". Na seqüência, é analisada a luta travada entre intérpretes e atores da história política regional em torno do significado do personagem Sarney e do "sarneyismo" como "ciclo político".

Como sugere Coradini, os processos de consagração implicam reconhecimento, ou seja, a busca de sentido e o compartilhar de esquemas de classificação (CORADINI, 1998a, p. 212). Sendo assim, duas dimensões estão presentes em rituais como os aqui analisados: i) aquela da institucionalização e da definição de uma categoria social e (ii) aquela da "elaboração, consagração e canonização de imagens sociais de seus vultos" (idem, p. 217). A descrição que segue mostra como prevalece em condições periféricas o que esse autor denominou de uma "concepção de cultura particularista e personificante". Nas suas palavras: "por cultura geral é entendida a celebração pretensamente erudita dos pares [...] e seus estilos de vida [...] ou mesmo dos próprios 'clãs' ou de outras unidades sociais mais próximas" (idem, p. 221).

Outro aspecto convergente com a análise de Coradini (idem) reside em uma espécie de "aristocratismo ilustrado", dominante entre essas instâncias de celebração de "vultos", mediante o qual se valoriza a posse pessoal de uma "cultura geral" ou "humanista", a passagem por postos políticos, assim como a sua apresentação como "títulos" (com sua dimensão honorífica). Tais "qualidades superiores" são transpostas para o universo da política eleitoral por intermédio da personificação de recursos, da apropriação do portador (que passa a ser o seu criador) e reproduzindo o caráter hierarquizante da sociedade, bem como uma concepção da atividade política vista como "doação" ou "destino".

Em trabalho anterior (REIS & GRILL, 2008) foi possível mostrar como a condição de "votados" (ocupantes de cargos eletivos) e de "letrados" (agentes reconhecidos como intelectuais em uma situação em que esfera intelectual não se descolou das demais) complementam-se. Com efeito, observou-se como a ascensão política de determinados agentes age como via de acesso a espaços intelectuais mais qualificados e valorizados, assim como o reconhecimento adquirido como intelectual fortalece a posição de porta-voz. O material descrito a seguir, acerca da exaltação de José Sarney como escritor e político em instâncias do espaço cultural, explicita os reconhecimentos amalgamados em pauta e a atividade da escrita dominada pelo projeto transitivo de escrever para "dizer alguma coisa, informar, convencer" e no qual "a palavra suporta um fazer", por isso plenamente "compatível com a atuação política" (LE BART, 1998, p. 78).

Nas apresentações que José Sarney fez de si mesmo, cuidadosamente analisadas por Gonçalves (2000), os componentes de religiosidade juntam-se à idéia de "vocação" herdada do grupo familiar para as atividades literárias e políticas, do mesmo modo que menções a atributos familiares impõem-se às referências partidárias e esses elementos são agilizados para construir sua biografia em antítese ao "signo da decadência do Maranhão" (idem, p. 67-69). Seu itinerário é narrado em direção invertida àquela consagrada nas "acepções da literatura regionalista e dos discursos oficiais" que proclamam o "Maranhão próspero no passado" e "decadente no presente"8: ele viria "de infância pobre e se mostra em posições de legitimação e consagração". Contudo, de maneira ambivalente, concebe-se, ao mesmo tempo, como "um menino pobre e se diz descendente de uma nobreza decaída e decrépita" e, a partir dessa oscilação, constitui o terreno para a produção de um "discurso regionalista" que lhe possibilitaria dialogar com "instâncias e agentes de consagração" (idem, p. 70).

É pela conformação de aspectos regionalistas e religiosos valorizados que José Sarney (i) inscreve-se no panteão de escritores "legitimados ou patronos"9 9 Almeida chama a atenção na relação entre patronos, fundadores de cadeiras, ocupantes e sucessores para essa regra de "descendência peculiar" e a formação de "genealogias" e "sistema de parentesco intrínseco a um campo intelectual determinado" (ALMEIDA, 2008, p. 29-30). e reivindica o "gosto" e a "herança" literária - localiza-se no gênero do "romance nordestino", como seu antecessor na ABL; (ii) assevera um "destino para a política" - ele destaca a inserção simultânea nos planos políticos e literários e as "atividades políticas" (leia-se: cargos) ao lado das "atividades literárias" (idem).

Trata-se de critérios de identificação e de atribuição de extraordinariedade (carisma) reconhecidos e certificados pelos pares (como Afonso Arinos e Josué Montello) que salientam a "aliança" ou "ligação" do "governador-escritor" ou do "escritor" que é um "líder político" (Arinos apud GONÇALVES, 2000, p. 86) e do "intérprete 'tanto no plano político quanto literário' do 'povo' que teria 'por interesse natural a gosto pelas letras'" (Montello apud GONÇALVES, 2000, p. 88).

Atenta-se para a centralidade da referência mítica inspirada na idéia do Maranhão como "Atenas brasileira" (alusão à "tradição literária") e ao discurso decadentista que enfatiza o "passado de prosperidade [...], alimentando esperanças de presente, e torna o futuro como possibilidade real": a "exaltação do passado" e a imagem de "decadência na contemporaneidade" pelas quais o "presente é ao mesmo tempo [...] o princípio do futuro e a última etapa de um passado que persiste enquanto tradição e mito" (ALMEIDA, 2008, p. 153).

No dia 24 de abril de 2010, o jornal O Estado do Maranhão publicou um Caderno Especial em comemoração aos 80 anos de José Sarney. O periódico - que é dirigido pelo seu filho e empresário, Fernando Sarney - apresentou um conjunto de reportagens e textos assinados por intelectuais do estado reforçando os elementos associados à sua imagem.

Na matéria da capa, o Diretor de Redação, Ribamar Correa, define o seu "protagonismo" e sua "predestinação" com a seguinte indagação: "[...] que outro gigante da política foi eleito membro de uma exigente academia de letras [AML] aos 22 anos? E quantos homens de letras lideraram uma transformação política e administrativa tão radical num estado aos 36 anos, após uma luta política renhida?" (CORREA, 2010).

A referência recorrente à simbiose política-literatura reaparece nesse material por intermédio de seis textos de escritores de relevo no cenário maranhense. O conjunto de produções escritas cobre diferentes dimensões de celebração do homenageado e, conseqüentemente, daqueles que o homenageiam, pois, nas suas narrativas, essas produções vinculam-se igualmente aos códigos exaltados de realização política e intelectual. Observa-se, ainda, uma espécie de divisão e hierarquização do trabalho social de consagração, de retribuição e de apropriação coletiva dos feitos do homenageado. Os itens elencados a seguir e as características dos escritores que assinam os textos são reveladores disso: i) laços atávicos: lembrados por Graça Leite, membro da Academia Pinheirense de Letras, ao fazer referência à ligação com a "terra natal" (Pinheiro) e atestar a "dívida" do município com seu "filho ilustre"; (ii) faccionalismo: ativado pelo poeta Nauro Machado (o único entre eles que não é membro de nenhuma das Academias de Letras às quais José Sarney é vinculado) ao condenar a "perseguição covarde" e as "traições" que teria sofrido o homenageado; (iii) biografia: reconstituída pelo jornalista, historiador e cientista político, Benedito Buzar, que é membro da AML; (iv) geração: situada pelo cronista Ubiratan Teixeira (membro da AML) ao localizar José Sarney na "Geração Movelaria" (movimento cultural que reuniu intelectuais maranhenses no período posterior à II Guerra Mundial e que tinha como "quartel-general" uma loja de móveis e que produziu importantes "vultos" nas áreas da literatura, da poesia, das artes plásticas etc.); (v) códigos morais: apresentados pelo poeta e cronista, José Chagas (membro da AML e cinco anos mais velho que José Sarney), ao associá-lo aos valores da "imortalidade", da amizade, da democracia, da justiça etc.; (vi) simbiose política-literatura: atestada pelo depoimento de Josué Montello, já falecido, considerado um dos maiores romancistas do século XX e que fora membro da ABL.

Paradoxalmente, a "terra dos poetas e escritores", que se aclama como "vocacionada para as letras", produziu apenas uma obra biográfica sobre o seu principal personagem no mundo da política dos últimos 60 anos.

Joaquim Itapary - escritor, membro da AML, ex-assessor de José Sarney e portador de um extenso currículo de cargos públicos ocupados10 10 Joaquim Itapary foi Secretário Executivo de Planejamento Econômico do Maranhão (1961-1962); Procurador Autárquico da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) (desde 1963); Membro da Assessoria Técnica do Governador; Diretor e Superintendente da Superintendência da Administração do Meio Ambiente (Sudema) (1966-1970); Secretário de Urbanismo de São Luís (na década de 1970); Coordenador do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Secretário da Cultura do Maranhão (na década de 1980) e Secretário-Geral do Ministério da Cultura (1985). - afirma que a única "biografia maranhense" sobre José Sarney foi escrita por Milson Coutinho. Essa constatação está registrada na orelha do livro intitulado "José Sarney - memorial dos 80 anos" do próprio Milson Coutinho (2010)11 11 A produção encontra eco em outros veículos como a biografia construída por Benedito Buzar em Vitorinistas e oposicionistas (coletânea de 50 biografias de políticos maranhenses), sem deixar de mencionar o documentário intitulado "Um brasileiro chamado José", transmitido em 2010 pela TV Bandeirantes local, também como homenagem ao seu aniversário. . Trata-se, na verdade, da terceira edição da obra lançada em 1986, que, à época, trouxe na capa a imagem de Sarney, então Presidente da República, com a faixa presidencial e o título: "Apontamentos para a vida e obra de um chefe liberal" (situando-o como um artífice da redemocratização). A biografia foi reeditada em 1988 e, em vista das atividades de comemoração dos 80 anos do mesmo, a versão atualizada adquiriu um novo título e uma segunda parte com entrevista e depoimentos. Seria um "livro-homenagem", como o autor define no item "Ao leitor" (idem, p. 11). Itapary, igualmente, faz referência às qualidades do biógrafo, sublinhando as "facetas múltiplas de seu currículo", listando os títulos de "jornalista", "assessor parlamentar", "advogado militante", "historiador" e "desembargador". E festeja "o documento comemorativo [...] de celebração do octogésimo natalício do filho mais ilustre do Maranhão" (ibidem).

Dois aspectos são ressaltados por Coutinho: i) o elemento de "predestinação": "o homem certo, no lugar e tempo certos" e (ii) a junção do "estadista" com o "homem de letras, universalmente aclamado pelo rigor e originalidade da sua invenção literária" (idem, p. 11). A genealogia de Sarney é retraçada para demonstrar o encontro de "duas vertentes - literatura e política" (o "gosto pela literatura do avô paterno" e a "vocação política do materno"), que seriam sintetizadas no pai (Desembargador Sarney de Araújo Costa)12 12 Milson Coutinho já escrevera uma biografia sobre o pai de José Sarney a pedido deste último (COUTINHO, 2001). Para uma análise da mesma, ver Gonçalves (2008). . Suas passagens pelo Liceu Maranhense e pela Faculdade de Direito são relatadas com detalhamentos das atividades políticas e culturais (jornalísticas e literárias) consideradas marcantes. Do mesmo modo, proliferam-se as passagens de exaltação como: "vocação para o jornalismo", "são inegáveis as qualidades literárias no nosso biografado" (idem, p. 37), "pendor para as lutas partidárias" (idem, p. 39), "vocação política e competência eleitoral" (idem, p. 42), entre outras. O percurso de cargos políticos (Oficial de Gabinete do governador, Secretário do Tribunal de Justiça, Deputado Federal e Governador) é narrado tendo as consagrações e produções literárias como paralelos (em especial a posse na AML e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão). Movimentos de aproximações e distanciamentos, contingências históricas (como a cassação do principal líder dos oposicionistas, Neiva Moreira, em 1964) e conquistas pessoais são contados, tendo como pano de fundo o desfecho conhecido: a sua chegada ao governo do estado e a destituição do chamado "vitorinismo". Momento de inflexão e de transição para o que passou a ser denominado de "sarneyismo", cujo ponto culminante seria a chegada à Presidência da República.

O Sarneysismo nascente (1965) romperia muitas barreiras, atravessar períodos de florescência e desânimos, de adesões e defecções, somas e divisões, mas vararia sobranceiro, seus para mais de quarenta anos, num ciclo que, como os demais, atingiu seu apogeu no final de 1984, quando o menino da baixada, filho de promotor e estudante pobre de colégios públicos, alçou-se à segunda posição da nova república, como substituto imediato do presidente Tancredo" (COUTINHO, 2010, p. 68-69).

Um "ciclo" é apresentado por meio de um conjunto de posicionamentos e pronunciamentos que atestaria o compromisso com a "democracia" e o reconhecimento desfrutado entre os intelectuais do centro do país (como a sessão de posse na ABL descrita em detalhes).

Quanto ao lugar de José Sarney na história política maranhense, estabeleceu-se uma versão que insiste na descontinuidade, na clivagem e na ruptura com o "vitorinismo". As expressões utilizadas como "ciclos", "períodos" e "épocas" servem para construir uma periodização e identificar por meio delas as "práticas oligárquicas", seus responsáveis, e os projetos de "libertação" em curso, o que acabou sendo incorporado nos movimentos de oposição ao "sarneyismo". Os "ismos" em oposição acabam conferindo unidade a longos períodos de lutas, cisões, rearranjos, alianças e movimentos nos embates faccionais, além de englobar sob as "etiquetas" o sistema de relações que lhe conferem sentido e força política.

O jornalista Benedito Buzar escreveu dois livros (de 1998 e 2001) intitulados O vitorinismo: lutas políticas no Maranhão (1945-1965) e Vitorinistas e oposicionistas (biografias) que representam uma das versões mais difundidas dessa matriz de leitura do "sarneyismo". O autor é membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e geralmente é classificado como historiador e cientista político. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Professor da Universidade Estadual do Maranhão, foi Deputado Estadual (cassado em 1964). As coletâneas de biografias publicadas sobre os "escritores maranhenses" trazem uma lista de cargos públicos ocupados por Benedito Buzar, como: Chefe de Divisão de Assuntos Internos da Sudema; Secretário Municipal de Educação e Cultura de São Luís; Advogado do Escritório Técnico da Administração Municipal de São Luís; Secretário de Estado da Cultura e Gerente Regional de Itapecuru (sua cidade de origem), no governo de Roseana Sarney etc. É autor de vários livros, sobretudo sobre a política maranhense.

A apresentação de Joaquim Itapary ao livro de Buzar, O vitorinismo: lutas políticas no Maranhão (1945-1965); classifica a obra como "ampla e profunda reportagem histórica" (ITAPARY, 1998, p. XIII) e exalta o fato de o autor "não enunciar juízo crítico" (idem, p. XIV). Na mesma linha de tentativa de demonstração de "imparcialidade", o trabalho é dedicado a Abdala Buzar Netto, pai, "um vitorinista assumido", e a Marcelo Pereira da Silva, sogro, "um anti-vitorinista de carteirinha" (idem, p. XVII). No prefácio propõe-se ainda a fazer uma "revisão" dessa "fase histórica", desse "tempo", dessa "época", sem "passionalismo" ou "radicalismo" (ibidem). Apesar da conhecida vinculação de Benedito Buzar com a "família Sarney", chegando inclusive a gravar participações em programas de TV de propaganda política, insiste em apresentar o texto como fruto do "jornalismo investigativo"13 13 Os trabalhos de Neveu (1993) e Marchetti (2001), para o caso francês, apontam o gênero do "jornalismo investigativo" como resultante da autonomização do campo jornalístico (menor dependência das fontes) e pautado por uma retórica altamente valorizada e legitimada no espaço de concorrência entre os profissionais (permitindo o acesso à "elite" dos jornalistas). No caso em pauta, percebe-se o uso com vistas à busca de um atestado de "neutralidade" e "objetividade" por parte de um jornalista profundamente vinculado ao espaço de lutas políticas (sobretudo faccionais), que escreve sobre uma temática recorrente nos embates eleitorais e que não se dedica prioritariamente ao ofício. , sem "interpretação pessoal" (ibidem).

Sua interpretação pode ser sintetizada da seguinte forma: a vitória eleitoral de José Sarney em 1965 representaria o aniquilamento do "vitorinismo" como "sistema de prática política e administrativa" e "depois da posse do mesmo "o Maranhão retomava o caminho de desenvolvimento econômico e social e abria novas perspectivas para ultrapassar o atraso cultural e político'" (BUZAR, 1998, p. 499).

A apresentação de Vitorinistas e oposicionistas (biografias) ficou a cargo do próprio José Sarney, por intermédio de um texto intitulado "O ciclo vitorinista". Nele, o "período", "tempo" ou "página" é caracterizado como momento em que "eram "os homens escravos da paixão e do ódio" (SARNEY, 2001, p. 7), marcado pelo "subdesenvolvimento político, administrativo e baixos padrões partidários" (idem, p. 8), um "prolongamento da velha república" (ibidem) em que "a política era prestígio e vinha do poder, que por sua vez [...] nascia da violência" (ibidem), cabendo a ele "por destino suceder esse tempo" (ibidem).

Assim, o fechamento do "ciclo vitorinista" e a consubstancialização do reconhecimento intelectual e político de José Sarney - traduzidos na posição central ocupada na configuração de seguidores ligados a ele por laços de parentesco (consanguíneo), por alianças e por relações instituídas no espaço social - redefine a polaridade amigo-inimigo em torno de uma nova expressão: "sarneyismo". Assim como ocorreu com o termo "vitorinismo", sua utilização e fixação no espaço político dependeram simultaneamente e diretamente do significado atribuído por seus oponentes e seu uso como instrumento de estigmatização de protagonistas vinculados a José Sarney pessoal e politicamente. É preciso reforçar a importância da convergência de mecanismos relacionados ao "trabalho de memória" (POLLAK, 1989) e às estratégias de consagração-desmistificação de personagens ou "heróis" para criar e potencializar a força da categoria de identificação no universo da política.

A convergência na forma de olhar o processo de sucessão levou o historiador Wagner Cabral da Costa a nomear essa visão como "interna do grupo sarneysista" (COSTA, 2004, p. 291), própria de "círculos palacianos" (ibidem) e constituindo uma "historiografia oficial", alicerçada numa "concepção linear e evolucionista" (idem, p. 292), além de "teleológica" da história. Na sua óptica, a concepção alternativa deveria relativizar e negar a ruptura, afirmar continuidades e semelhanças entre oposicionistas e vitorinistas e chamar a atenção para a reestruturação do sistema oligárquico e patrimonial.

Nessa mesma linha, surgiu uma seqüência de trabalhos de pesquisadores, oriundos do movimento estudantil e de partidos de esquerda e debruçados sobre a chamada "oligarquia Sarney". Tais reflexões dedicadas a distintos momentos e eventos da história política maranhense, fazem eco à tese da "continuidade do poder oligárquico no Maranhão" (RIBEIRO, 2001), à "reprodução dos grupos políticos" (ALMEIDA, 2010), aos "mecanismos políticos e ideológicos que sustentam o poder político do grupo Sarney" (GOMES, 2009) etc.

Ocorre que, se por um lado, o acesso e o deslocamento entre os círculos de conhecimentos e de reconhecimentos disponíveis para os agentes proporcionam importantes recursos para a luta política, passíveis inclusive de transmissão no "meio familiar"14 14 Tais elos de identificação podem ser exemplificados com a presença destacada de "descendentes de José Sarney" no cenário político regional: os sobrinhos Albérico Ferreira Filho (Deputado Estadual e Federal) e Sarney de Araújo Costa Neto (Deputado Estadual); os filhos Roseana Sarney Murad (Deputada Federal, Governadora e Senadora) e José Sarney Filho (Deputado Estadual e Federal); entre outros. , por outro lado e em contrapartida, alimentam a lógica da desqualificação das posições e posicionamentos dominantes acionada pelos oponentes, possibilitando a reconstituição de trajetos e alianças como comprovação de uma persistência a ser refutada e combatida (sinônimo de "continuísmo", dominação "oligárquica" e "familiar" etc.). Assim, tem-se também a mesma categoria ("sarneyismo") como um elemento relevante de localização dos agentes no espaço de clivagens em constante acomodação.

Na primeira direção, têm-se casos como os dos deputados Manoel Ribeiro e Ricardo Murad, exemplares de um conjunto de critérios de hierarquização política que atuam de modo interdependente no estado e no qual pesam os laços de parentesco, a formação de redes de "famílias de políticos" interligadas e com tentáculos em diferentes níveis de disputa política, além de pertencimentos faccionais em constante negociação. Nesse caso, as relações políticas, pessoais e afetivas com a "família Sarney" são rentabilizadas e determinantes no credenciamento ao jogo político. Conferimos suas trajetórias profissionais no Quadro 1, a seguir.


Na segunda direção, têm-se casos que seguem os mesmos códigos de realização política; no entanto, são lideranças que protagonizaram o movimento "anti-sarneyista" nas últimas décadas: Roberto Rocha e Haroldo Sabóia. Originários de "famílias estabelecidas" social e politicamente, construíram carreiras eletivas demarcando a condição de "oposicionistas". Para tanto, investem em uma interpretação da história política regional marcada por "ciclos" (domínios pessoais) e "rupturas" (movimentos de libertação). Nessa versão, o "sarneyismo" aparece como continuidade do "vitorinismo", ambos sendo tomados como sinônimos de "dominação oligárquica", "patrimonialismo", "coronelismo", "mandonismo" etc. Caberia, na óptica desses políticos, a superação dessa "etapa" e a afirmação de "novas forças políticas", nas quais possuem "lugar" de relevo.


No plano das lutas políticas, o "sarneyismo" passa, em determinados meios, a ser sinônimo de "oligarquia" e ambas as idéias apontam para a "elasticidade da injúria", como definiu Collovald o poujadismo na França (COLLOVALD, 1991). A possibilidade de "etiquetagem" e os limites das fronteiras daqueles que podem ser considerados "sarneyistas" ou daquilo que é designado como "oligarquia" delineiam um espaço político dotado de plasticidade. Uma e outra aparecem como "condensadores de estigmas", produzindo "estereótipos e signos políticos de indignidade" (idem, p. 99), utilizados estrategicamente de acordo com a conjuntura e com os alinhamentos faccionais. Além disso, o uso desses termos aponta uma tendência de transferir a explicação dos fenômenos políticos às decisões, vontades, interesses e desígnios de uma coletividade substancializada ("a oligarquia" ou "o sarneyismo"), adotando o modelo reificante de perceber a "vida social", em detrimento do relacional ou processual. Instituições, rótulos, coletividades e relações de poder são antropomorfizadas, substancializadas e personificadas, em vez de serem concebidas como produtos das cadeias de interdependências, do caráter simbólico da dominação e dos processos coletivos (GEERTZ, 1997; CORADINI, 1998a; ELIAS, 1999). Essa tendência de personificar ou reificar as relações de poder leva a identificar "alguém" (Sarney e aqueles ligados a ele) ou um "tipo de entidade sobre-humana" (a "oligarquia") como "detentores" do poder.

IV. OS "TRABALHISTAS GAÚCHOS"

Os "ismos" analisados para o caso gaúcho ("trabalhismo", "getulismo", "brizolismo" etc.) só podem ser compreendidos uns em relação aos outros, cada qual com diferente grau de fixação e, principalmente, devem ser correlacionados às relações entre protagonistas políticos, famílias e cadeias de líderes-seguidores (LANDÉ, 1977) que teceram alianças, rivalidades e enfrentamentos pelo "espólio" no interior do que se convencionou chamar de "tradição trabalhista" no Rio Grande do Sul. É preciso, pois, considerar as lutas travadas entre aqueles que compartilham da crença na existência de uma mesma "herança" e o carisma daqueles que os precederam. Tais herança e carisma são engendrados no próprio trabalho de identificação operado por aqueles que necessitam "construir seu lugar, encontrar sua posição e criar expectativas de futuro" (COLLOVALD, 1999, p. 12). Essas lutas são simultaneamente faccionais (LANDÉ, 1977), rivalizadas por adversários pretendentes à posição de herdeiros que controlam uma rede de leais seguidores, e "fratricidas", uma vez que os agentes em confronto situam-se em uma mesma genealogia simbólica (idem; ABÉLÈS, 1992) e filiam-se a uma mesma linhagem mitológica (HASTINGS, 1992).

Dois personagens ocupam a condição de referências míticas (considerados os "fundadores") na "tradição trabalhista": Getúlio Vargas (conhecido como o "pai do trabalhismo") e Alberto Pasqualini (considerado o "ideólogo do trabalhismo"). Essa posição dever-se-ia à combinação de três fatores: i) a aproximação que eles teriam promovido entre "vertentes" distintas da política gaúcha no Partido Trabalhista Brasileiro (os chamados pragmático-getulistas, doutrinário-pasqualinistas e sindicalistas); (ii) a sua associação com os documentos "fundadores" do "trabalhismo", a saber, a "Carta-Testamento" de Vargas15 15 Nos termos de Foucault: "discursos que estão na origem de certo número de atos novos de fala que os retomam, os transformam ou falam deles, ou seja, os discursos que, indefinidamente, para além de sua formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer" (FOUCAULT, 2008, p. 22). e a "obra" de Alberto Pasqualini16 16 O que é designado como "obra" nesse caso são textos produzidos em conjunturas políticas particulares e em jornais locais, posteriormente reunidos na forma de livro por seus seguidores. Estamos diante de duas unidades que se impõem de maneira imediata: i) o(s) livro(s) (coletâneas), unidade material resultante da reunião de artigos para jornais que formam sistemas de remissões ("nós em redes") que são deslocados das suas condições e lógicas de produção pelos guardiões da memória do "autor" (pretensa fonte de coerência); ( ii) a obra, soma de textos "denotados pelo signo de um nome próprio", considerados como "unidade imediata", "certa" e "homogênea" sem considerar a "operação interpretativa" e "diferenciada" dos usuários (FOUCAULT, 2000, p. 25-27). ; (iii) o estatuto de "ícones" compartilhados e disputados por diferentes agentes e por porta-vozes situados em distintas posições políticas. Os contínuos esforços dos candidatos a sucessores em estabelecer vínculos pessoais e familiares, proximidade ideológica e a posse mesmo de qualidades semelhante aos "ícones" acabam produzindo aquilo que Bourdieu (1989, p. 179) indicou como uma "posição central, intermediária, o lugar neutro", em torno da qual se define um "sistema de desvios", composto por agentes e instituições em um jogo de oposições e distinções.

Esses fatores de identificação estão, por sua vez, calcados em princípios de consagração de vários homens públicos que se sucederam na política gaúcha e na própria "genealogia trabalhista". A partir deles é possível apreender dois critérios de atribuição de qualidades extraordinárias e de personalização do carisma, como apontado por Coradini (1998a, p. 229). Getúlio Vargas, "descendente" de uma "família de estancieiros" com liderança política local (dois dos seus irmãos foram intendentes), é vinculado à "imagem" do "líder militar" e político transformado em "herói" (inclusive pelo suicídio), que conquistou o centro da vida política nacional por meio da união de facções locais rivais e eternizou-se no culto à memória regional e nacional. Foi Deputado Estadual, Federal, Ministro da Economia, Governador do estado (RS) e Presidente da República em duas oportunidades. Alberto Pasqualini, advogado formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), é "descendente de imigrantes italianos" ligados ao comércio e à pequena agricultura. Simbolizando a ascensão social valorizada pelos imigrantes, a sua afirmação política e intelectual, reforça a "ideologia do trabalho" e dos investimentos em escolarização. Foi Secretário de Estado, Senador e duas vezes candidato ao governo do estado (RS).

A saída de cena simultânea dos dois protagonistas em 1954 - suicídio de Vargas e o afastamento dos pleitos eleitorais de Alberto Pasqualini em razão de problemas de saúde - deflagrou "a sucessão"17 17 É possível estabelecer uma aproximação entre o processo em pauta e aquele descrito por Collovald (1999, p. 12) sobre os efeitos da morte de De Gaulle para o Gaullismo, isto é, uma "efervescência fratricida" e a revelação das desuniões, desacordos, oposições antagonismos e competições no interior da "família". . Alguns políticos destacaram-se nessa contenda pela condição de "herdeiros". De um lado, os cunhados João Goulart e Leonel Brizola; de outro lado, o fundador do Movimento Trabalhista Renovador, Fernando Ferrari e os também cunhados Sigfried Heuser e Pedro Simon; em um terceiro pólo, José Diogo Brochado da Rocha.

O percurso de Leonel Brizola e a apresentação dos seus trunfos permitiram que, no momento do golpe militar (1964), sua liderança como um dos protagonistas do trabalhismo no Brasil já estivesse relativamente consolidada. No interior do PTB, contou com os elos pessoais e afetivos mantidos com Getúlio Vargas e João Goulart, sedimentados mediante posicionamentos e alinhamentos que demonstravam fidelidades e reforçavam as alianças. Contudo, sua afirmação e ascensão política apoiaram-se igualmente na construção do seu carisma. Essa concordância de trunfos provenientes de origens diversas mostrou-se decisiva nos embates externos e principalmente nas lutas internas ao PTB e à "família política", notadamente aquelas travadas com José Diogo Brochado da Rocha e Fernando Ferrari, no período que se encerra em 1964, e com Pedro Simon e Ivete Vargas, no período que se inicia em 1979.

Dos citados, Pedro Simon obteve relativo sucesso como dissidente de Leonel Brizola no "trabalhismo gaúcho". Para tanto, contou com a relação de parentesco por aliança com Siegfried Heuser, a dissolução do PTB, a formação do MDB durante o regime militar e o potencial de mobilização e de continuidade com o "trabalhismo" que tornariam o único partido de oposição do Rio Grande do Sul um "caso ímpar" no país.

Na década de 1980 - com a chamada redemocratização, o retorno à cena política dos "exilados" e "cassados" e a reorganização partidária - os itinerários de Leonel Brizola e Pedro Simon bifurcaram-se em duas siglas: PDT e PMDB. As opções partidárias de ambos provocaram a mais significativa cisão entre os "quadros" que se auto-intitulam "seguidores do trabalhismo".

A polarização em relação à "tradição política" decorre de rivalidades e lealdades herdadas no período de atuação ainda no antigo PTB. Esses alinhamentos guardam relação também com os perfis sociais das "famílias" de origem dos agentes, demonstrando uma tendência à vinculação de "famílias" com "raízes" em segmentos mais "tradicionais" ou em inserções mais "populares" e de extração mais baixa ao PDT, e à aproximação de "famílias" mais ligadas ao catolicismo e ao "empreendedorismo", bem como de descendentes de imigrantes alemães, italianos, entre outros, ao PMDB. Logo, há, por um lado, uma maior associação dos seguidores de Leonel Brizola com Getúlio Vargas e João Goulart e, por outro lado, dos aderentes à liderança de Pedro Simon com Alberto Pasqualini. Essa configuração delineia-se devido à identificação das características sociais das "famílias de políticos" com o perfil dos "ícones" (inclusive, mediante a autoatribuição de "qualidades" e "capacidades" consagradas àqueles) e à fidelidade aos egos das redes que já se posicionavam com base nessa divisão19 19 Pode-se recorrer a um conjunto de itinerários coletivos de "famílias de políticos" que ilustra tais constatações em Grill (2003). . Embora a referência aos dois fundadores seja compartilhada e valorizada pelo conjunto dos casos.

Pode-se afirmar a exemplaridade e singularidade do "brizolismo" no âmbito de arcabouço de "ismos", que se identifica de um modo geral pelo "trabalhismo" e tem como ramo ancestral mais notório e notável o "getulismo".

Se a construção biográfica de José Sarney enfatiza a simbiose do "escritor" e do "estadista" (ver seção anterior), aquelas relativas a Leonel Brizola ativam a combinação do "guerreiro" e do "estadista", na qual o personagem inscreve-se na história regional pela continuidade com a "tradição" de enfrentamentos políticos e militares (que marcaria a "sociedade gaúcha"), aos critérios de heroicização das suas "elites políticas" (que combinariam o recurso às armas e aos partidos) e à fabricação de simbologias ou referências míticas na construção de imagens e "vultos" (CORADINI, 1998a).

Mais precisamente, as biografias produzidas sobre Brizola (BANDEIRA, 1979; SOUZA & SOARES, 1985; CARRION JUNIOR, 1989; dentre outros) apontam que, ao encarnar o projeto de "emancipação nacional" e a "herança trabalhista" (ou a "retomada do fio da história"), haveria as condições para a tradução, por um lado, da "tenacidade para enfrentar o inimigo externo" (o "guerreiro"), e, por outro lado, da posse do "saber necessário para enfrentar o inimigo interno" (o "estadista"), como bem demonstrou Sento-Sé (1999, p. 36).

Quando situado na memória política regional essa combinação faz-se pela ativação dos seguintes elementos: i) origem familiar; ii) a escalada política a partir das condições sociais desfavoráveis; iii) a inscrição na genealogia simbólica; iv) as realizações, como governante, e os enfrentamentos assumidos.

Para fins de exposição, será considerada a produção de Francisco Machado Carrion Jr. que data de 1989, ano da primeira candidatura de Leonel Brizola à Presidência da República. O autor é descendente de uma "família de políticos": o pai foi Deputado Estadual, o tio Deputado Federal, um dos primos, Prefeito de Passo Fundo e Deputado Federal e o irmão Vereador e Deputado Estadual. Carrion Jr. foi Deputado Estadual entre 1982 e 1990 e Deputado Federal entre 1991 e 1998 pelo PMDB e pelo PDT. Morreu em 2001. Em matéria publicada pelo Jornal Correio do Povo na ocasião do seu falecimento, é destacado que "foi no PDT que Carrion Júnior fez a maioria dos laços de amizade conquistados durante a sua trajetória política" e, na seqüência, sublinhada a ligação com Leonel Brizola e as raízes familiares: "a entrada no PDT foi marcada por uma reunião no Rio, na casa de Leonel Brizola [...]. A opção política tinha raízes familiares" (CARRION DEIXA A MARCA, 2001, p. 2).

Além dos elementos biográficos recorrentes, outros dois fatores são encontrados em grande parte das produções: i) a ligação dos autores com o "brizolismo" por adesão pessoal e/ou "herança familiar"; ii) o fato de serem publicadas entre 1979 e 1989, período que abarca desde o momento da "volta do exílio" até a primeira candidatura à Presidência da República - lido como de retomada do "projeto" ou reencontro com o "fio da história".

Em síntese, Leonel Brizola é apresentado como "filho de agricultores pobres" (CARRION JUNIOR, 1989, p. 29), tendo sido o pai membro "do exército de Leonel Rocha, partidário da Aliança Libertadora" na Revolução de 1923, vítima de "vingança" e "morto" pelo exército rival (liderado por Borges de Medeiros). Tais fatos são relacionados à escolha do nome: "O guri ia ter o nome de Itagiba de Moura Brizola, mas depois que sua irmã Francisca o encontrou brandindo uma espada de madeira e dizendo 'eu sou Leonel Rocha', seu nome terminou sendo Leonel de Moura Brizola" (idem, p. 30).

Todo o trajeto escolar é narrado com ênfase em dois elementos contraditórios: as dificuldades advindas da "infância modesta" e os "auxílios recebidos" de autoridades como o "reverendo Isidoro Pereira", o Prefeito de Carazinho e o Governador do estado. O momento de inflexão é marcado pela adesão ao PTB e pelo comício no qual representou a juventude do partido no palanque. Nessa ocasião, Getúlio Vargas teria pronunciado a seguinte frase: "Bota este guri na chapa que ele vai muito longe" (CARRION JUNIOR, 1989, p. 33). Retrospectivamente, Brizola teria passado, a partir desse momento, a participar das lutas entre o séquito de seguidores de Getúlio, por meio do que Max Weber denominara de designação do líder (WEBER, 1987, p. 858).

Seu itinerário de cargos é então descrito: Deputado Estadual, Secretário de Obras do Estado, Prefeito, Deputado Federal, Governador etc. Tal trajeto vem acompanhado de demonstrações de pertencimento aos círculos centrais do trabalhismo, como o casamento com a irmã de João Goulart que teve Getúlio Vargas como um dos padrinhos, e a constituição da liderança estadual em aliança com o cunhado, já destacado dirigente nacional do PTB e em oposição aos demais "herdeiros de Vargas e do trabalhismo". As competências assinaladas são as capacidades como "comunicador", e "administrador", associadas a valores como "coragem" e "ousadia" (CARRION JÚNIOR, 1989, p. 49). Essas últimas características simbolizadas pelo "movimento da legalidade" e pela "encampação" das multinacionais ligadas ao setor energético e de telefonia, entre outros feitos heroicizados.

Cabe sublinhar que a biografia propriamente dita é precedida por dois capítulos intitulados "O fio da meada" e "Em defesa da legalidade" e neles a vida do biografado é interpretada em função dos seus "antecedentes" ("Governo Vargas", "Carta-Testamento", "ascensão do PTB", "chegada de Jango à presidência da República" e "resistência armada" com o "movimento da legalidade"). As biografias do indivíduo e da "tradição" fundem-se, assim, em uma só.

Como foi mencionado em relação ao exame das versões sobre José Sarney e o "sarneyismo", essa forma de apresentar o personagem Leonel Brizola por meio de produções de gênero biográfico pode ser observada, igualmente, em trabalhos considerados como pertencentes aos domínios das Ciências Sociais e da História. Com efeito, o "sarneysismo" e o "brizolismo" são interpretados de um ponto de vista teleológico por produções que encontram interlocutores no meio acadêmico e que alimentam algumas controvérsias simultaneamente políticas e intelectuais.

A seguir são demonstrados alguns elementos importantes presentes no trabalho de "resgate" e de localização de Leonel Brizola, do PDT e dos seus adeptos nesse continuum histórico desempenhado por um dos seus seguidores, Miguel Bodea.

Miguel Bodea nasceu em Minas Gerais. Oriundo de um "grupo familiar" com significativos investimentos escolares, é filho de diplomata, e sua irmã, Bárbara Freitag, é Doutora em Sociologia (identificada com o marxismo) e Professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB). Bodea estudou no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), formou-se em Economia na Universidade de Cambridge (Inglaterra) e obteve o título de Mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Sua circulação internacional possibilitou, além da formação em Economia, a participação em institutos de estudos ligados a partidos políticos, como o Partido Social-Democrata alemão, e a conclusão de um curso de graduação em Ciências Sociais na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Aliou sua formação escolar a funções políticas, como as de assessor do MDB na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, na década de 1970, e do Governador do Rio de Janeiro pelo PDT, Leonel Brizola, na década de 1980. Tais inserções contribuíram para sua "liderança política e intelectual" no Brasil, em que foi um dos idealizadores do Instituto de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (Iepes) do MDB e consultor do Instituto Latino-Americano do Desenvolvimento (Ildes), órgão vinculado à Friedrich Ebert-Stiftung (instituição alemã ligada à socialdemocracia).

O acesso e o contato com líderes da socialdemocracia européia e sua militância dentro do trabalhismo são registros que se mesclam na legitimação das suas tomadas de posição. A opção pelo PDT, com a reorganização partidária posterior ao regime militar, alicerça-se nos vínculos anteriores cultivados (como assessor da bancada do MDB) e na aproximação da sigla e de seu líder com dirigentes (Mário Soares, Willy Brandt, François Miterrand, entre outros) e organismos classificados como socialdemocratas ou socialistas. Sua contribuição e sua relevância política amparam-se nos títulos, laços e competências para reinterpretar a "história do trabalhismo" sob o duplo registro de continuidade com a "tradição política gaúcha" (leia-se positivismo) e de formulação de um "projeto político" (o PDT de Leonel Brizola).

Os prefácios aos seus dois livros que tratam do tema são elucidativos. Filho e sobrinho de lideranças do PTB (entre os seus ascendentes encontra-se José Diogo Brochado da Rocha) e neto de um líder do Partido Republicano Riogradense (PRR) -, considerado um dos principais dirigentes e "teóricos" do trabalhismo, Brochado de Rocha (1979) saudou a publicação do ensaio de Miguel Bodea intitulado A greve geral de 1917 e as origens do trabalhismo gaúcho. No prefácio, enfatiza os títulos escolares do autor e sua dedicação à "práxis política [...] na qualidade de assessor das oposições gaúchas" (BROCHADO DA ROCHA, 1979, p. 7). Identifica a origem da "motivação" do autor no "pulsar das bases oposicionistas gaúchas" e na sua necessidade de entender por que "ressoava em todos [...] a carta-testamento de Getúlio? Ou perpassava nas concentrações partidárias o pensamento de Pasqualini e a tragédia de Jango? Ou estrugiam nos comícios as ovações permanentes a Brizola?" (ibidem). Além disso, justifica a relevância da pesquisa pela centralidade que nela assume a figura de Getúlio Vargas, como "ponte" entre períodos históricos e partidos (PRR e PTB), acrescentando: "Não se trata contudo de arqueologia política, mas de pesquisa a viver para o futuro, pois Getúlio ainda vive, pela carta-testamento, tanto no afeto das massas quanto na consciência do povo exilado" (idem, p. 9).

José Álvaro Moisés, por sua vez, em prefácio ao livro de Bodea (1979) publicado com o título de Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul, definiu tal esforço como resultante da crença na "continuação de uma experiência correta de mudanças sociais, no caso, o PDT de Leonel Brizola" e de seu esforço, realizado "com grande eficiência e sentido profissional", para "fazer a ligação entre movimentos sociais e políticos locais com seus congêneres europeus, no caso, com tendências da social-democracia européia, mesmo quando os grupos nacionais não tinham nenhuma ligação com o PDT" (MOISÉS, 1992, p. 13).

Os dois textos escritos por Miguel Bodea sistematizam sua leitura sobre a "história do trabalhismo". Baseados na mesma idéia central, aquela que afirma a continuidade entre o "republicanismo castilhista" e o "trabalhismo", os ensaios oferecem elementos de fixação da persistência de linguagens e valores na passagem do positivismo de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros para o trabalhismo de Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini, sem deixar de apontar seus desdobramentos e invariâncias nas gerações subseqüentes (como em João Goulart, Leonel Brizola e seus seguidores).

Na sua leitura, teria ocorrido, no seio do PTB do Rio Grande do Sul, uma "divisão de tarefas" entre Vargas e Pasqualini, os quais se diferenciariam e complementar-se-iam, segundo ele, em relação à estratégia política (projeto nacional e projeto partidário), à esfera geográfica de atuação (nacional e regional) e à divisão de funções político-partidárias (estrategista político e doutrinador e teórico). O projeto político de Vargas é percebido com base em "tendências modernizantes", identificadas como o prosseguimento do "ideário positivista e castilhista". Bodea situa Pasqualini nessa "tradição", afirmando que valores como "cooperação" e "equilíbrio social" seriam condizentes com a "mesma matriz que orienta o ideário de Vargas e seus principais companheiros da Revolução de 1930: o republicanismo castilhista do PRR, fortemente influenciado pelo pensamento positivista" (BODEA, 1992, p. 153). A triagem de elementos recai sobre a intervenção estatal, a crítica ao imperialismo e ao liberalismo e a mobilização popular. O caráter complementar da liderança nacional de Vargas e da liderança regional de Pasqualini é explicado com base no pressuposto da especificidade da política gaúcha: "maior organicidade e consistência dos partidos" e ocorrência de um "padrão de evolução histórica" (idem, p. 173), pelos quais as lideranças são projetadas nacionalmente, estabilizando, em decorrência da experiência política ímpar que acumulam no plano regional, o sistema partidário. Em seguida, o autor projeta nas gerações futuras a possibilidade de ascensão a posições centrais e resguarda para as lideranças locais o papel de intérpretes e guardiões da "coerência ideológica". Miguel Bodea caracteriza a formação do partido político como resultado das tarefas doutrinárias e de produção de consenso "no momento da sociedade civil" (obra de Alberto Pasqualini) e de estratégia política "no nível do aparelho de Estado" (tarefa visualizada em Getúlio Vargas) (idem, p. 181). A partir deles, Bodea procura afirmar o conteúdo "reformador" e "modernizante" do trabalhismo com "raízes" no "positivismo", o qual teria como padrão de "evolução" um "populismo operário e socialista", concepção que se contrapõe às interpretações negativas sobre o populismo.

Coradini já demonstrara que, na sustentação, por Bodea, da tese de que o trabalhismo seria o "herdeiro" do positivismo, "se trata, simultaneamente, da legitimação de um processo, visto teleologicamente, a formação do trabalhismo, e da posição do 'intelectual' que o apresenta" (CORADINI, 1998b, p. 118). Nessa estratégia, é acionada a "analogia entre 'positivismo' e 'modernização', em oposição ao tradicional" e a vinculação entre "esquerda" e "positivismo" como algo moderno (idem, p. 121). Da mesma forma, posições relativas ao regionalismo reaparecem sob a "idéia de 'peculiaridade' positiva na história política regional" e os embates entre "positivistas" e "católicos" são lidos pelos alinhamentos partidários "imersos numa lógica evolutiva teleologicamente pressuposta" (idem, p. 122).

É importante ressaltar que a perspectiva adotada por Bodea (1979; 1992) é resultante de crenças que se espraiaram pelos domínios da política e do meio universitário. A começar pela valorização da "especificidade da política gaúcha", do caráter disciplinado dos seus partidos, da maior definição ideológica das suas legendas e da "politização" do seu eleitorado. O que se traduziu em uma busca constante pela identificação de uma bipolarização que atravessaria o tempo (conservadores liberais versus conservadores autoritários; chimangos versus maragatos; PTB versus anti-PTB; PT versus anti-PT etc.). Porém, sob essas classificações mais gerais, muitas vezes escondem-se as relações de força e as relações de sentido que animam a política no estado.

Assim, a versão mais difundida e dominante acerca do "espólio" trabalhista sustenta a centralidade de Leonel Brizola como "herdeiro" de Getúlio Vargas e João Goulart. Contribuem, para tanto, o itinerário construído pelo personagem e as leituras retrospectivas feitas sobre ele, assim como o proselitismo dos seguidores do seu projeto partidário, o PDT.

Um fator que indica como a condição de "herdeiro" do "getulismo" e principal porta-voz do "trabalhismo" é administrada por Brizola foi a promoção das homenagens a Getúlio Vargas na data que marca o aniversário do seu suicídio (24 de agosto), ocorridos em frente ao monumento com a "Carta Testamento", localizado na Praça da Alfândega, em Porto Alegre.

Tomando como fonte de análise as matérias publicadas entre 1980 e 2002 nos jornais Zero Hora e Correio do Povo sobre a cobertura de diferentes momentos em que ocorreram esses rituais de celebração, ressalta-se a oportunidade que constituíram para a reafirmação da lealdade aos "ícones" da "tradição trabalhista", para a sinalização da incorporação ou a aceitação de novos quadros ou para sedimentação de posicionamentos e alinhamentos.

Reunião de políticos de diferentes partidos, compartilhando ou revezando-se nas homenagens, ressalta-se a idéia de continuidade estabelecida pela imagem de uma genealogia simbólica (ABÉLÈS, 1992) e de uma comunidade afetiva (HALBWACHS, 1994). São demonstrações disso, os usos de metáforas pelos quais são acionadas expressões retiradas do universo doméstico para apresentar relações políticas. Alinhamentos no passado, alianças no presente e compromissos futuros são caracterizados a partir de termos como "família trabalhista", "fraternidade", "herdeiros" do trabalhismo ou de Getúlio Vargas, "testamento", "legado", "pai do trabalhismo", "filhos e netos políticos de Getúlio Vargas", "afilhado político de Leonel Brizola" etc.

Foi possível perceber ainda a plasticidade do espaço social, as fronteiras móveis que delimitam os limites da "tradição" e os critérios de inclusão e exclusão que se modificam de acordo com as conjunturas eleitorais. Destaca-se que, ao longo do tempo (1980-2002), as homenagens foram feitas em horários diferentes (na maior parte dos casos) ou de maneira conjunta (excepcionalmente) pelos membros dos partidos (PDT, PMDB e PTB) liderados pelos seus líderes (Leonel Brizola, Pedro Simon e Sérgio Zambiasi20 20 Uma das mais significativas "novidades" da política gaúcha nas últimas décadas (a reorganização do PTB) foi liderada por Sérgio Zambiasi, particularmente no tocante aos reflexos incididos na composição de forças na política gaúcha e de disputa pelo "espólio trabalhista". Filho de militantes trabalhistas, seu prestígio eleitoral baseou-se fundamentalmente na sua atuação como radialista, mormente por meio da veiculação de programas de rádio centrados na filantropia. Dessa forma, comandando um programa diário na rádio Farroupilha, Zambiasi elegeu-se Deputado Estadual em 1986 pelo PMDB, com expressiva votação. Durante seu primeiro mandato, respaldado pelo resultado eleitoral alcançado, investiu na formação do Partido Trabalhista Brasileiro no estado. Ao vincular-se ao PTB, promoveu uma série de adesões de lideranças ligadas por "origem familiar" à sigla (oriundas predominantemente do PMDB e do PDT). Para mais detalhes, ver Grill (2003). ). Atualizações de rivalidades passadas ou aproximações eleitorais (coligações) são, pois, explicitadas nesses momentos. Personagens considerados externos (ideologicamente ou territorialmente) à "tradição trabalhista gaúcha" também estiveram presentes nas cerimônias. Tal situação possibilita a apropriação, por parte de "elementos externos" ao trabalhismo, do patrimônio simbólico, mas faz que os mesmos, mediante a própria presença e os depoimentos de exaltação feitos, contribuam para o reconhecimento quanto à importância do homenageado.

Por fim, verifica-se um circuito de trocas e reciprocidades constituído entre mortos e vivos (HÉLIAS, 1979) e entre os vivos (LANDÉ, 1977). Por um lado, a homenagem ao morto (Getúlio Vargas) é caracterizada invariavelmente como uma demonstração de "gratidão" e de "reconhecimento" por parte dos seguidores. Contudo, como mostra Hélias (1979), ela não salda a dívida estabelecida e, assim, não encerra a reciprocidade. Isso ocorre devido ao fato de que a fonte da dívida reside na "vida dada" pelo morto (credor), e na necessidade dos vivos cumprirem a sua missão (logo a dívida só deixa de existir com a morte destes últimos). O monumento da "carta testamento" de Getúlio Vargas, que serve de pano de fundo para as homenagens feitas, simboliza a dupla face da "herança": um patrimônio a ser capitalizado e um "legado" a ser cumprido. Dessa forma, a eficácia ideológica da homenagem reflete-se na "valorização da morte guerreira", o que incide na valorização do personagem e nos seus modelos de condutas a serem seguidos pelos vivos. Sendo assim, as homenagens aqui analisadas adquirem o conteúdo de reafirmação da lealdade por meio do reconhecimento da dívida e pelo compromisso de dar continuidade à "luta". Por outro lado, os protagonistas das lutas políticas exteriorizam publicamente alianças verticais (entre políticos situados em diferentes níveis da hierarquia de posições políticas) e horizontais (entre lideranças com posições próximas em termos de reconhecimento e capital político), justificam perante os eleitores novos alinhamentos nas disputas entre facções, reforçam os compromissos assumidos e buscam demonstrar a coerência dos posicionamentos. Além disso, de certa forma, empregam esforços para aparecerem como que respaldados em todos esses movimentos pela liderança homenageada.

A morte de Leonel Brizola, em 21 de junho de 2004, multiplicou os discursos de elogios sobre o dirigente político e sobre a posição instituída do chefe do partido (PDT) e "herdeiro do trabalhismo". Embora as clivagens não sejam abolidas, o tom de consenso em torno do personagem é a marca dos pronunciamentos.

Quatro aspectos destacam-se no material analisado (as reportagens divulgadas na semana que sucedeu à morte de Leonel Brizola nos jornais O Sul, Diário Gaúcho, Zero Hora e Correio do Povo) e permitem estabelecer um paralelo com o estudo de Dulong (1994) sobre os elogios fúnebres a personalidades da vida política francesa: i) a contribuição da morte de um político destacado no cenário nacional e na história do país para a legitimação do métier em tempos de "descrédito da classe política". É um momento propício para a denegação da profissionalização política (OFFERLÉ, 1999) e dos seus elementos correlatos (carreiras, interesses pessoais, busca de cargos, incoerências etc.), por meio de marcas como: "preocupação com as crianças e com a educação" (PREOCUPAÇÃO COM A EDUCAÇÃO, 2004, p. 6); "o patriota nacionalista" (PDT CHORA A PERDA DO SEU LÍDER, 2004, p. 7); "homem coerente com a utopia de um Brasil soberano" (O LEGADO DE UM LÍDER, 2004, p. 18) etc.; ii) o contraste entre o lugar da morte nas sociedades contemporâneas que, como demonstrado por Elias (2001), foi relegada ao universo privado, e a dimensão pública que assume em razão da importância social e política do morto, bem como as leituras políticas do evento. No caso de Leonel Brizola, grande parte das reportagens especulava sobre a "herança", sobre o "legado" e sobre o "futuro do trabalhismo" sem o líder: "Quem será o substituto de Leonel Brizola no PDT?" (KUHN, 2004, p. 10); "Para os que sustentam que a perda do líder representará o fim do trabalhismo, líderes pedetistas insistem que o 'legado' deixado por ele permanecerá" (PDT CHORA A PERDA DO SEU LÍDER, 2004, p. 7); iii) a combinação que permite o desaparecimento de um líder político entre singularidade, excepcionalidade, extraordinariedade como sinônimo de perfeição (base do carisma) e normas que valem (ou devem valer) para todos. São combinados, no caso do presidente de honra do PDT, valores como "coragem", "valentia", "lealdade", "coerência", "superação", "sinceridade", "tenacidade", "perseverança", exemplificados em etapas da sua vida como a infância modesta, a campanha da legalidade, o exílio, a construção do PDT etc.; iv) a morte do protagonista da política como uma ocasião privilegiada de retorno às origens, de empreender a pedagogia da memória, de estabelecer o imaginário da continuidade e de ligar os predecessores aos sucessores por meio da biografia do homenageado (DULONG, 1994). Isso pode ser ilustrado pela escolha do cemitério escolhido para o enterro, o Cemitério Jardim da Paz em São Borja (cidade conhecida como o "berço dos trabalhistas"), onde já estavam sepultados, entre outros "vultos do trabalhismo", Getúlio Vargas e João Goulart (OLIVIER, 2004, p. 12). Pode também ser demonstrado pelas alusões a Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini e João Goulart na maior parte dos depoimentos e comentários reproduzidos nas reportagens.

Os sentidos compartilhados em torno do "trabalhismo" também podem ser apreendidos a partir de posicionamentos de agentes situados à esquerda do espectro ideológico e que, muitas vezes, são ligados por laços familiares à dita "tradição política". Para esses intérpretes, "trabalhismo" passa a ser sinônimo de "populismo" e como tal deve ser superado21 21 Em uma versão mais radicalizada, o "trabalhismo" é associado ao domínio pessoal dos líderes (Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola), bem como às grandes propriedades rurais situadas na fronteira com Argentina e Uruguai ou nos países em que os mesmos possuíam propriedades. Nesse caso, o "trabalhismo" é caracterizado como "caudilhismo". , mas cujas contribuições devem ser "resgatadas". Esse é o caso de Tarso Genro que, na década de 1970, escreveu três artigos no Jornal Informação, visando a interpretar os significados históricos de Getúlio Vargas, João Goulart e Alberto Pasqualini e seus "legados"22 22 A "crítica ao populismo" é uma "marca geracional" de um conjunto de agentes que inauguraram sua atuação política durante o regime militar. Reis (2002) desenvolveu uma minuciosa análise dessa modalidade de afirmação política associada à afirmação de uma "novidade política" por militantes de esquerda que vieram o ocupar cargos políticos de destaque no estado. Para tanto, analisou posicionamentos dos "irmãos Genro" (Tarso e Adelmo Genro), de Raul Pont (em livro intitulado Da crítica ao populismo à construção do PT, publicado em 1977) e de candidatos a vereador em 1976, revelando a combinação de esforços de positivação da "tradição trabalhista" e de "superação dos seus limites". .

O percurso dos políticos da família Genro tem como origem, assumida e reivindicada, o "passado trabalhista". As ligações políticas e partidárias de Adelmo Genro (pai de Tarso), descendente de grandes proprietários rurais da fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, começaram no período do declínio econômico do "grupo familiar", por intermédio de contatos e de relações herdadas com as "famílias" Vargas e Goulart (formada por grandes proprietários de terra) em São Borja. Adelmo Genro foi um dos coordenadores da primeira campanha eleitoral de João Goulart, que o levou à Assembléia Legislativa em 1947. A forte ligação de Adelmo Genro com João Goulart contrastava com suas divergências em relação à liderança de Leonel Brizola. Afora isso, as relações cultivadas com outro líder do PTB, originário da "Metade Sul" e seu contemporâneo de ginásio em Santa Maria, permitiram a sua nomeação como Diretor da principal escola estadual de Santa Maria.

A atuação como Professor e Diretor do Colégio Manoel Ribas, o Maneco, constituiu a base da reputação eleitoral e o trampolim para a carreira política de Adelmo Genro, que despontou para política eleitoral, elegendo-se Vereador e vice-Prefeito de Santa Maria pelo PTB. No entanto, foi cassado pelo regime militar quando ocupava a prefeitura interinamente, acontecimento que o transformou em um dos símbolos da "luta contra o regime militar" na cidade. Durante o regime militar, ele atuou como advogado e conquistou posições de liderança na Ordem dos Advogados do Brasil local. Em 1980, filiou-se ao PMDB (assim como os seus filhos), partido do qual foi Presidente, chegando a concorrer a vice-Prefeito em 1982. Posteriormente filiou-se ao PSB, sendo seu Presidente de Honra no Rio Grande do Sul.

Nas décadas de 1960 e 1970 seus filhos Tarso Genro (ex-Presidente da "Mocidade Trabalhista" local) e Adelmo Genro Filho militaram e foram vereadores pelo MDB. Adelmo Genro era nessa época uma das "referências" da oposição no município e a "casa dos Genro" era "território" de aglutinação de militantes e tinha como um dos freqüentadores mais ilustres Pedro Simon. Além disso, seus filhos (Tarso e Adelmo Filho) foram dirigentes da Juventude (órgão criado e apoiado por Pedro Simon) e de organizações de esquerda que atuavam no interior do MDB. Integraram no final da década da chamada "Oposições Populares", tendência liderada pelo Presidente do Iepes, André Forster, e que era formada por jovens lideranças e intelectuais com posições ligadas ao marxismo e que faziam uma "leitura crítica do trabalhismo", qualificando-o como "populista"23 23 Resultados de uma pesquisa sobre a liderança de André Forster e sobre o Iepes no Rio Grande do Sul podem ser encontrados em Reis (2003; 2004). .

Assim, a notoriedade do "grupo familiar" e o ambiente político levaram dois dos seus filhos à militância partidária e eleitoral. Tarso Genro foi eleito Vereador em 1968 e Adelmo Genro Filho em 1976, ambos pelo MDB. O primeiro iniciou sua militância política partidária na Ala Moça do PTB, após ter acompanhado as campanhas do pai na infância. Elegeu-se Vereador pelo MDB em 1968 (com 20 anos) e passou a fazer parte da Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil. Exilou-se no Uruguai no início da década de 1970 e, no retorno ao Brasil, passou a residir em Porto Alegre, atuando como advogado trabalhista, escritor, poeta e crítico literário. Os artigos de Tarso Genro analisados foram escritos no período de sua militância no MDB, que teve como desdobramentos sua participação, inclusive como dirigente, no Partido Revolucionário Comunista. Com o pluripartidarismo, seu engajamento inicial foi no PMDB e, ainda na década de 1980, migrou para o PT, partido pelo qual foi Deputado Federal, vice-Prefeito, Prefeito de Porto Alegre (duas vezes) e candidato a Governador do Rio Grande do Sul (em duas ocasiões), além de Ministro da Educação e da Justiça. O atual Governador do estado do Rio Grande do Sul (eleito em 2010) é considerado um dos principais "intelectuais" da "esquerda gaúcha" e a principal liderança das "correntes moderadas" do PT. Os artigos examinados abaixo explicitam alguns usos da "tradição trabalhista" no processo de afirmação do protagonista no plano estadual.

Os três textos tomados aqui foram publicados em 1976 e expressam as interpretações sobre a "herança trabalhista" para o MDB e mais especificamente para a "esquerda gaúcha", por meio da contextualização do papel de três lideranças desta "tradição política": Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini e João Goulart. No ensaio intitulado "Reflexões sobre o populismo", sustenta que a especificidade do "líder populista brasileiro", Getúlio Vargas, residiria na "herança positiva" legada em termos de formação de um partido e seu ideário nacionalista (GENRO, 1976a). Já no artigo denominado "Alberto Pasqualini: um socialista no PTB?" procura estabelecer a "grandeza" e as "limitações" que formam a contribuição da "pregação pasqualinista" e da sua "luta ideológica" (GENRO, 1976b). Finalmente, no depoimento "Sobre um Presidente" descreve sua convivência com João Goulart no Uruguai e expõe o "papel histórico" que, na sua acepção, o ex-Presidente teria desempenhado (GENRO, 1976c).

A maneira como os relatos são organizados informa a relação do autor com os "ícones". Getúlio Vargas é caracterizado pelo "espólio" partidário e nacionalista a ser superado e aprofundado pelos "setores progressistas" do MDB. A "herança positiva" da "trajetória de Vargas" é acionada com vistas às disputas internas ao MDB, às quais Tarso Genro passava a dedicar-se como um dos líderes da corrente partidária Oposições Populares (situada à esquerda do espectro de posições existentes no interior do MDB e que aglutinava estudantes, professores e profissionais liberais). Na definição de Alberto Pasqualini proposta por Genro, o "teórico do trabalhismo" é objeto de interpretação e crítica no plano do "método científico" e dos "conceitos", em busca da "modernização" do "programa" e da "análise concreta da [...] realidade histórica".

Por fim, na apresentação sobre João Goulart transparece a proximidade entre as "famílias" e a intimidade desfrutada pela jovem liderança com uma das estrelas da política gaúcha, bem como a associação do líder com os anseios de reforma social.

V. CONCLUSÕES

Os rituais e estratégias de consagração analisados permitiram captar processos e mecanismos de "heroicização", princípios de aferição de excelência humana e de hierarquização social, bem como sua reconversão em recursos políticos, em bases de liderança e em instrumentos de consolidação de teias de seguidores.

Isso posto, a partir da adoção dos procedimentos de pesquisa privilegiados, alguns elementos mostraram-se recorrentes nas narrativas produzidas: i) o trabalho sobre a memória política está condicionado pela imposição de um conjunto de datas, eventos, personagens, símbolos, linguagens etc. compartilhado e reativado pelos diferentes protagonistas da gestão do passado; ii) as idéias de continuidade e de identidade mesclam-se com a centralidade desfrutada pelas relações de parentesco nesse domínio social e com as metáforas alusivas ao universo doméstico-familiar que nele emergem; iii) as estratégias de acionar o passado para associar-se a um "ícone" ou para afirmar-se estabelecendo a oposição com ele alicerçam-se em uma concepção de política fundada sobre a personificação do capital simbólico e sobre a legitimação carismática; iv) os investimentos estão pautados pelo código da reciprocidade entre membros de diferentes gerações, entre vivos e mortos e entre agentes situados em distintos níveis da hierarquia política, sendo a matriz para enunciar ou anunciar as relações políticas; v) o "resgate" e a interpretação da "história política" coadunam-se com o papel de mediador, pelo qual estabelecem uma ligação entre passado e presente, de um lado, e modelos de sociedade, de outro, e pelo qual se inscrevem na dita "tradição política" dos seus estados; vi) as sínteses, seleções, triagens e fusões operadas obedecem aos próprios recursos sociais dos intérpretes que fixam, por meio das narrativas, critérios concorrentes de atribuição de excelência social e concepções divergentes sobre as formas legítimas de atuação política; vii) o domínio e a proximidade com o universo da "escrita" constituem importantes trunfos para a distinção em relação aos concorrentes e uma competência significativa para a afirmação política, servindo como atestado de pertencimento a "elite de letrados" e como instrumento de inscrição na história das "elites políticas" em cada estado; viii) os "ismos" servem, então, a um só golpe, para enunciar, pela celebração ou pela estigmatização, a continuidade, a unidade, a fixidez, a coesão, a perenidade, a persistência etc. e para promover a sucessão, a mobilidade, a aliança, o trânsito, a combinação, os movimentos, as identificações precárias, móveis, efêmeras, transitórias etc. Isso exige que sejam tomados ex-ante e não ex-post, isto é, realizando uma pesquisa regressiva e uma reconstituição progressiva das propriedades sociais dos agentes envolvidos na sua fabricação, das estratégias de afirmação dos protagonistas, das categorias e dos discursos que os definem e da maneira como impõem um estatuto de realidade (LACROIX, 1985)

Há, no entanto, disparidades quanto aos veículos de comunicação utilizados, o público que alcançam e o reconhecimento de que desfrutam. Evidenciam-se alguns relatos mais reconhecidos no âmbito universitário e/ou nas instâncias de consagração literária e outros que circulam em segmentos mais diversificados. Contudo, os registros mostram-se muito semelhantes e marcados pelo imperativo das lutas políticas ou faccionais.

Existem, igualmente, discrepâncias entre as formas como são construídos o "vitorinismo" e o "sarneyismo", no Maranhão, e o "getulismo", o "pasqualinismo" e, principalmente, o "brizolismo" no Rio Grande do Sul.

No primeiro caso, o "vitorinismo" e o "sarneyismo" são construções fundamentalmente fabricadas para demarcar uma idéia de descontinuidade e de ruptura política, apresentadas como "necessárias" em vistas do "atraso", do "arcaísmo" etc., recortando a história política regional em "ciclos", "etapas" e "tempos". Dois "períodos" que se sucedem, para uns, e que perpetuam a "dominação oligárquica", para outros; convergindo, todos, sobre o imperativo da derrubada do "passado". Passado tido como sinônimo de "atraso" e de "obstáculo" para o encontro com o "futuro", o "desenvolvimento", a "justiça", o "progresso", bem como de reencontro com a vocação para a "prosperidade" (ALMEIDA, 2008). Esse passado é esse simbolizado por Victorino Freire e por José Sarney (ou por ambos), estendendo-se aos seus "grupos" (categoria nativa que, paradoxalmente, informa a rede de seguidores das lideranças em situações de conflitos, de realinhamentos contínuos, de deslocamentos constantes, mas que remete a uma idéia de permanência e de perenidade). As fronteiras entre as coalizões rivais que se enfrentam com base nessas classificações são movediças, as bases de interconexão são fundadas em cadeias interpessoais e o recrutamento é socialmente endógeno e/ou por cooptação. Os movimentos mútuos e interdependentes entre elas, nas últimas décadas, têm como centro de gravitação a exaltação ou a crítica a José Sarney, como líder de um "grupo político", conseqüentemente reforçando o "sarneyismo" como elemento de localização das demais posições.

No segundo caso, um conjunto de posicionamentos estabelece-se em torno da disputa pelo "espólio" da chamada "tradição trabalhista". A partir do "trabalhismo" resgata-se o que é considerado a "peculiaridade da história política gaúcha", como a disciplina partidária, os alinhamentos ideológicos, a politização, enfim, os fatores responsáveis pela constituição de oposições e clivagens que se atualizariam indefinidamente. Com efeito, busca-se a continuidade em polaridades do passado e projeta-se desdobramentos no futuro, sem suspender a imagem do "fio da história" e a associação com o "legado". Isto é, a vinculação com as referências míticas (Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini), com os "documentos fundadores" (a "Carta-Testamento" e a "obra de Pasqualini"), com as realizações dos ascendentes, com os candidatos a sucessores (João Goulart, Leonel Brizola, Fernando Ferrari, Pedro Simon etc.) e com qualidades tidas como extraordinárias (critérios de "heroicização" ligados a distintos segmentos da "elite" como estancieiros, militares, descendentes de imigrantes e militantes). Esses investimentos apóiam-se nas mais variadas coalizões, nas bases sociais mais diferenciadas e em repertórios discursivos discrepantes. Na concorrência, Leonel Brizola adquiriu um lugar de destaque, conseguindo capitalizar, via associação pessoal (biográfica, familiar, partidária etc.), o "patrimônio coletivo"; conseguindo reunir um séquito de seguidores ("os brizolistas") e, enfim, simbolizar uma "etiqueta política", o "brizolismo".

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Recebido em 13 de janeiro de 2011.

Aprovado em 13 de abril de 2011.

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  • PDT chora a perda do seu líder. 2004. O Sul, Porto Alegre, p. 7, 22.jun.
  • Preocupação com a educação. 2004. Diário Gaúcho, Porto Alegre, p. 6, 22.jun.
  • 1
    Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada no 34º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), Seminário Temático "Grupos Dirigentes e Estruturas de Poder". Agradeço as críticas, comentários e sugestões do debatedor da sessão, Mario Grynszpan. Sou igualmente grato aos pareceristas
    da Revista de Sociologia e Política.
  • 2
    Utiliza-se noção de facção no sentido de Landé (1977), quer dizer, coalizões políticas rivais, instáveis e temporárias, centradas em lideranças personalistas, cujos seguidores são recrutados de acordo com os recursos disponíveis para seus
    egos, que são capazes de gerar retribuições àqueles que aderem à sua liderança.
  • 3
    No empreendimento mais amplo foram cotejados dados relativos:
    i) aos perfis (profissão, grau de escolarização, instituição de obtenção de títulos universitários etc.); (
    ii) aos trajetos políticos (cargo e idade de ingresso na carreira de postos eletivos e políticos, tempo de carreira e número de candidaturas); (
    iii) ao
    background social (posição social de origem ou atividades desempenhadas pelos ascendentes no período que precede o ingresso das "famílias" nas disputas eleitorais) e (
    iv) às concepções em disputa acerca das formas legítimas de atuação política entre deputados federais dos dois estados no período 1945-2010. Para uma apresentação detalhada dos resultados, ver Grill (2008; 2009).
  • 4
    No material aparecem variações na forma da grafia do rótulo como "sarneysismo", "sarneyzismo", "sarneisismo" e "sarneismo. Adotamos a mais corrente delas: "sarneyismo".
  • 5
    Ver caracterização mais adiante.
  • 6
    Não se deve deixar de mencionar que seu filho, Luis Fernando Freire, foi Deputado Federal, Suplente de Senador e Senador; seus sobrinhos, Djalma Brito e Pedro Brito, deputados estaduais; outro sobrinho, José de Brito Freire Sobrinho, foi Deputado Federal.
  • 7
    Três facções e seus líderes se enfrentavam na década de 1930: os "genesistas" (liderados por Genésio Rêgo), os "marcelinistas" (liderados por Marcelino Machado)e os "magalhãesistas" (liderados por Magalhães de Almeida). Para mais detalhes, ver Reis (2007).
  • 8
    A autora inspira-se em Alfredo Wagner Berno Almeida, que afirma: "A nostalgia e a idealização do passado passam a representar figuras essenciais na representação acerca do Maranhão. O presente passa a ser vivido como um resíduo do período denominado áureo. E esse período, por sua vez, dependendo do presente de quem fala pode estar sujeito a ligeiras alterações, porque no fundo o que está em jogo é uma permanente idealização do passado [...]" (ALMEIDA, 2008, p.152).
  • 9
    Almeida chama a atenção na relação entre patronos, fundadores de cadeiras, ocupantes e sucessores para essa regra de "descendência peculiar" e a formação de "genealogias" e "sistema de parentesco intrínseco a um campo intelectual determinado" (ALMEIDA, 2008, p. 29-30).
  • 10
    Joaquim Itapary foi Secretário Executivo de Planejamento Econômico do Maranhão (1961-1962); Procurador Autárquico da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) (desde 1963); Membro da Assessoria Técnica do Governador; Diretor e Superintendente da Superintendência da Administração do Meio Ambiente (Sudema) (1966-1970); Secretário de Urbanismo de São Luís (na década de 1970); Coordenador do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Secretário da Cultura do Maranhão (na década de 1980) e Secretário-Geral do Ministério da Cultura (1985).
  • 11
    A produção encontra eco em outros veículos como a biografia construída por Benedito Buzar em
    Vitorinistas e oposicionistas (coletânea de 50 biografias de políticos maranhenses), sem deixar de mencionar o documentário intitulado "Um brasileiro chamado José", transmitido em 2010 pela TV Bandeirantes local, também como homenagem ao seu aniversário.
  • 12
    Milson Coutinho já escrevera uma biografia sobre o pai de José Sarney a pedido deste último (COUTINHO, 2001). Para uma análise da mesma, ver Gonçalves (2008).
  • 13
    Os trabalhos de Neveu (1993) e Marchetti (2001), para o caso francês, apontam o gênero do "jornalismo investigativo" como resultante da autonomização do campo jornalístico (menor dependência das fontes) e pautado por uma retórica altamente valorizada e legitimada no espaço de concorrência entre os profissionais (permitindo o acesso à "elite" dos jornalistas). No caso em pauta, percebe-se o uso com vistas à busca de um atestado de "neutralidade" e "objetividade" por parte de um jornalista profundamente vinculado ao espaço de lutas políticas (sobretudo faccionais), que escreve sobre uma temática recorrente nos embates eleitorais e que não se dedica prioritariamente ao ofício.
  • 14
    Tais elos de identificação podem ser exemplificados com a presença destacada de "descendentes de José Sarney" no cenário político regional: os sobrinhos Albérico Ferreira Filho (Deputado Estadual e Federal) e Sarney de Araújo Costa Neto (Deputado Estadual); os filhos Roseana Sarney Murad (Deputada Federal, Governadora e Senadora) e José Sarney Filho (Deputado Estadual e Federal); entre outros.
  • 15
    Nos termos de Foucault: "discursos que estão na origem de certo número de atos novos de fala que os retomam, os transformam ou falam deles, ou seja, os discursos que, indefinidamente, para além de sua formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer" (FOUCAULT, 2008, p. 22).
  • 16
    O que é designado como "obra" nesse caso são textos produzidos em conjunturas políticas particulares e em jornais locais, posteriormente reunidos na forma de livro por seus seguidores. Estamos diante de duas unidades que se impõem de maneira imediata:
    i) o(s) livro(s) (coletâneas), unidade material resultante da reunião de artigos para jornais que formam sistemas de remissões ("nós em redes") que são deslocados das suas condições e lógicas de produção pelos guardiões da memória do "autor" (pretensa fonte de coerência); (
    ii) a obra, soma de textos "denotados pelo signo de um nome próprio", considerados como "unidade imediata", "certa" e "homogênea" sem considerar a "operação interpretativa" e "diferenciada" dos usuários (FOUCAULT, 2000, p. 25-27).
  • 17
    É possível estabelecer uma aproximação entre o processo em pauta e aquele descrito por Collovald (1999, p. 12) sobre os efeitos da morte de De Gaulle para o Gaullismo, isto é, uma "efervescência fratricida" e a revelação das desuniões, desacordos, oposições antagonismos e competições no interior da "família".
  • 18
    Uma análise dessas estratégias de vinculação de Pedro Simon e do PMDB ao trabalhismo encontra-se em Grill (2005).
  • 19
    Pode-se recorrer a um conjunto de itinerários coletivos de "famílias de políticos" que ilustra tais constatações em Grill (2003).
  • 20
    Uma das mais significativas "novidades" da política gaúcha nas últimas décadas (a reorganização do PTB) foi liderada por Sérgio Zambiasi, particularmente no tocante aos reflexos incididos na composição de forças na política gaúcha e de disputa pelo "espólio trabalhista". Filho de militantes trabalhistas, seu prestígio eleitoral baseou-se fundamentalmente na sua atuação como radialista, mormente por meio da veiculação de programas de rádio centrados na filantropia. Dessa forma, comandando um programa diário na rádio Farroupilha, Zambiasi elegeu-se Deputado Estadual em 1986 pelo PMDB, com expressiva votação. Durante seu primeiro mandato, respaldado pelo resultado eleitoral alcançado, investiu na formação do Partido Trabalhista Brasileiro no estado. Ao vincular-se ao PTB, promoveu uma série de adesões de lideranças ligadas por "origem familiar" à sigla (oriundas predominantemente do PMDB e do PDT). Para mais detalhes, ver Grill (2003).
  • 21
    Em uma versão mais radicalizada, o "trabalhismo" é associado ao domínio pessoal dos líderes (Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola), bem como às grandes propriedades rurais situadas na fronteira com Argentina e Uruguai ou nos países em que os mesmos possuíam propriedades. Nesse caso, o "trabalhismo" é caracterizado como "caudilhismo".
  • 22
    A "crítica ao populismo" é uma "marca geracional" de um conjunto de agentes que inauguraram sua atuação política durante o regime militar. Reis (2002) desenvolveu uma minuciosa análise dessa modalidade de afirmação política associada à afirmação de uma "novidade política" por militantes de esquerda que vieram o ocupar cargos políticos de destaque no estado. Para tanto, analisou posicionamentos dos "irmãos Genro" (Tarso e Adelmo Genro), de Raul Pont (em livro intitulado
    Da crítica ao populismo à construção do PT, publicado em 1977) e de candidatos a vereador em 1976, revelando a combinação de esforços de positivação da "tradição trabalhista" e de "superação dos seus limites".
  • 23
    Resultados de uma pesquisa sobre a liderança de André Forster e sobre o Iepes no Rio Grande do Sul podem ser encontrados em Reis (2003; 2004).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Out 2012

    Histórico

    • Recebido
      13 Jan 2011
    • Aceito
      13 Abr 2011
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