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Campo de Públicas: uma cientometria a partir de Projetos Pedagógicos de Curso

Public Field: a scientometry from Course Pedagogical Projects

RESUMEN

Introdução:

O campo de estudos de políticas públicas (“Campo de Públicas”) é uma área de ensino em franca expansão no Brasil. O artigo analisa a identidade intelectual e disciplinar dessa área através das referências bibliográficas dos planos de ensino presentes nos Projetos Pedagógicos de 14 cursos de bacharelado.

Materiais e Métodos:

Utilizando técnicas cientométricas e de análise de redes, construímos uma rede bimodal formada pelas conexões entre os Projetos Pedagógicos dos cursos (PPCs) do Campo de Públicas e os autores citados nas referências bibliográficas das disciplinas (obrigatórias e optativas) desses cursos. Dois tipos de análises foram feitas: acoplamento bibliográfico de documentos e cocitação de autores.

Resultados:

Verificamos que não há formação convergente para gestores públicos no Brasil. A análise de redes mostrou a existência de dois clusters principais. O primeiro aproxima os cursos com leituras mais afins às Ciências Sociais, em especial Ciência Política e Sociologia. O segundo agrupa cursos que têm maior aderência às Ciências Sociais Aplicadas, especialmente às disciplinas administrativas, jurídicas e econômicas. Descrevemos esses dois perfis como “gestor de políticas públicas” e “administrador público e organizacional”, respectivamente. É mais correto, portanto, se falar em “campos” de públicas, no plural, dada a diversidade dos currículos.

Discussão:

O artigo gerou informações para o aperfeiçoamento de instrumentos de avaliação da área. Os resultados podem orientar a reforma de PPCs, a abertura de novos cursos e fomentar o debate sobre a identidade intelectual e disciplinar do Campo de Públicas em função das distintas formações oferecidas àqueles que pretendem atuar no setor público brasileiro.

Palavras-chave
campo de públicas; cientometria; projeto pedagógico de curso; planos de ensino; análise de redes

ABSTRACT

Introduction:

The field of public policies (“Field of Publics”) is a rapidly expanding teaching area in Brazil. The article analyzes the intellectual and disciplinary identity of this area through the bibliographic references of the teaching plans present on the Pedagogical Projects of 14 bachelor courses.

Materials and Methods:

Through scientometric techniques and network analysis, we built a bimodal network formed by connections of the Courses’ Pedagogical Projects (CPP) of the Field of Publics and the cited authors in the bibliographic references of its disciplines (mandatory and optional) of these courses. Two types of analysis were made: bibliographic coupling of documents, and authors co-citation.

Results:

We found that there is no convergent training for public managers in Brazil. The network analysis revealed the existence of two main clusters. The first one approaches the courses with more similar readings to the Social Sciences, especially Political Science and Sociology. The second groups courses that have greater adherence to Applied Social Sciences, especially to administrative, legal, and economic disciplines. We describe these two profiles as “public policy manager” and “public and organizational administrator”, respectively. It is more correct, therefore, to speak of “Fields” of Publics, in the plural, given the diversity of curricula.

Discussion:

The article provided information for the improvement of assessment instruments in the area. The results can guide the reform of CPPs, the opening of new courses and foster the debate about the intellectual and disciplinary identity of the Field of Publics due to different trainings offered to those who intend to work in the Brazilian public sector.

Keywords
field of publics; scientometrics; course pedagogical project; teaching plans; network analysis

I. Introducción

Certa vez, professores de um curso de Administração Pública conversavam com um colega recém-chegado, sem formação na área, que perguntou sobre a estrutura epistemológica do campo, mormente quais as leituras obrigatórias para compreender o terreno que pisara. Os demais responderam que ali ninguém tinha formação “pura” em Administração Pública. Contaram a recente história do Campo de Públicas, pautado pela multidisciplinaridade. Aconselharam-no a não se preocupar, pois “o que mais há no Campo de Públicas é cientista político, administrador, economista, sociólogo etc.”. Esta anedota ilustra a motivação desta pesquisa.

Segundo suas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), o Campo de Públicas (Brasil, 2014Brasil (2014) Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES nº 1, de 13 de janeiro de 2014. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Administração Pública, bacharelado, e dá outras providências. Recuperado em 14 maio, 2014, de http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20138&Itemid=866.
http://portal.mec.gov.br/index.php?optio...
) em sua “configuração une cursos com diferentes enfoques” (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S., Fonseca, S., Vendramini, P. & Coelho, F. (2014) Dossiê - Campo de públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), pp. 110-126. p. 111), refletindo diversos perfis de formação dos colegiados docentes. As nomenclaturas dos cursos variam: Ciências do Estado, Gestão Social, Políticas Públicas, Administração Pública, Gestão Pública, etc. São cursos reunidos em torno do ethos republicano, tendo como baliza distintiva a administração daquilo que coloquialmente denomina-se “coisa pública”.

Todavia, torna-se importante compreender a identidade epistemológica do Campo de Públicas, sobretudo no nível elementar de formação, a graduação. Um caminho para isso é conhecer as leituras realizadas pelos discentes no percurso formativo, compostas pelas listas de referências bibliográficas dos planos de ensino, presentes nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs). Tais listas são indicadores da identidade de cada curso e dos conteúdos ensinados (Melo, 1999Melo, M.P.C. (1999) Quem explica o Brasil. Juiz de Fora: Editora UFJF.). Aqui, investigamos as listas contidas em disciplinas (obrigatórias e optativas) de 14 bacharelados do Campo de Públicas de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas do Brasil1 1 Mediante consulta, no primeiro semestre de 2019, ao website do Campo de Públicas (https://campodepublicas.wordpress.com/) identificamos 22 bacharelados em IES públicas. Destes não obtivemos PPCs de 7, porque não estavam disponibilizados nos websites dos cursos e não houve retorno aos contatos de solicitação. . São eles:

  • Administração Pública - Fundação João Pinheiro (FJP)

  • Administração Pública - Universidade do Estado de Santa Catarina - Florianópolis (UDESC-Flp)

  • Administração Pública - Universidade do Estado de Santa Catarina - Balneário Camboriú (UDESC-BC)

  • Administração Pública - Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL)

  • Administração Pública - Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (UNILAB)

  • Administração Pública - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL)

  • Administração Pública - Universidade Federal de Lavras (UFLA)

  • Administração Pública - Universidade Federal do Paraná (UFPR)

  • Administração Pública e Gestão Social - Universidade Federal do Cariri (UFCA)

  • Administração Pública e Social - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

  • Gestão de Políticas Públicas - Universidade de São Paulo (USP)

  • Gestão de Políticas Públicas - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

  • Gestão Pública - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

  • Políticas Públicas - Universidade Federal do ABC (UFABC)

PPCs estruturam as graduações, estabelecendo suas normativas e o perfil profissional de egressos desejado. No PPC encontram-se os objetivos do curso, conteúdos e habilidades almejadas, além da grade curricular (Seixas et al., 2016Seixas, P.S., Lima, F.C., Fernandes, S.R., Andrade, L.R. & Yamamoto, O. (2016) As políticas sociais nos fundamentos dos projetos pedagógicos dos cursos de psicologia. Psicologia Escolar e Educacional, 20(3), pp. 437-446. doi
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; Heleno & Borges, 2016Heleno, C.T. & Borges, L.O. (2016) Cursos de gestão de recursos humanos: uma análise documental. Psicologia & Sociedade, 28(2), pp. 396-406. doi
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). Constitui documento construído coletivamente pelo corpo docente - frequentemente com representação discente - expressando a vontade comum de uma comunidade acadêmica. Elaborados a partir de uma diversidade de ideias e contextos, os PPCs são plurais, mesmo havendo uma estrutura preestabelecida para sua construção (Mesquita & Soares, 2012Mesquita, N.A.S. & Soares, M.H.F.B. (2012) Tendências para o ensino de química: o cado da interdisciplinaridade nos projetos pedagógicos das licenciaturas em química em Goiás. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 14(1), pp. 241-255. doi
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). Eles direcionam conteúdos e práticas do ensino na formação superior, norteando cada curso (Mesquita & Soares, 2012Mesquita, N.A.S. & Soares, M.H.F.B. (2012) Tendências para o ensino de química: o cado da interdisciplinaridade nos projetos pedagógicos das licenciaturas em química em Goiás. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 14(1), pp. 241-255. doi
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; Seixas et al., 2016Seixas, P.S., Lima, F.C., Fernandes, S.R., Andrade, L.R. & Yamamoto, O. (2016) As políticas sociais nos fundamentos dos projetos pedagógicos dos cursos de psicologia. Psicologia Escolar e Educacional, 20(3), pp. 437-446. doi
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): “as competências profissionais a serem desenvolvidas devem expressar-se nos PPCs, no perfil profissional de conclusão e em outros itens” (Heleno & Borges, 2016Heleno, C.T. & Borges, L.O. (2016) Cursos de gestão de recursos humanos: uma análise documental. Psicologia & Sociedade, 28(2), pp. 396-406. doi
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, p. 401). Ter esse objeto de estudo permite “traçar um perfil do profissional a ser formado naquela instituição” (Mesquita & Soares, 2012Mesquita, N.A.S. & Soares, M.H.F.B. (2012) Tendências para o ensino de química: o cado da interdisciplinaridade nos projetos pedagógicos das licenciaturas em química em Goiás. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 14(1), pp. 241-255. doi
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, p. 245). Ademais, sua análise possibilita investigar “como alguns conteúdos foram incluídos em detrimento de outros” (Carvalho et al., 2020Carvalho, A., Souza, C. & Macedo, J.P. (2020) Relações de gênero e étnico-raciais nos currículos de psicologia: aproximações e desafios. Psicologia: Ciência e Profissão, 40, e201972. doi
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, p. 4).

Analisar citações de listas de referências bibliográficas de planos de ensino não é novidade no Brasil. Adotamos metodologia similar à de Melo (1997Melo, M.P.C. (1997) As ciências sociais no Brasil contemporâneo, sociologia. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: IUPERJ., 1999) e Vianna et al. (1998)Vianna, L.W., Carvalho, M.A.R.D., Melo, M.P.C. & Burgos, M.B. (1998). Doutores e teses em ciências sociais. Dados, 41(3). doi
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, configurando método consolidado na cientometria2 2 Sumariamente, cientometria é a ciência da análise do progresso científico (Silva & Bianchi, 2001), enquanto a bibliometria pode ser compreendida como estatística de unidades bibliográficas (Broadus, 1987). Adiante, detalharemos estes conceitos. (Yang et al., 2020Yang, S., Yuan, Q. & Dong, J. (2020) Are scientometrics, informetrics, and bibliometrics different? Data Science and Informteris, 1(1), 103597. doi
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; Kim et al., 2016Kim, M.C., Zhu, Y. & Chen, C. (2016) How are they different? A quantitative domain comparison of information visualization and data visualization (2000-2014). Scientometrics, 107(1), pp. 123-165. doi
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) para produção de mapas do conhecimento científico (science mapping) (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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). Assim, questionamos: quais os domínios intelectuais dos bacharelados do Campo de Públicas das IES públicas no Brasil? Existe formação convergente para gestores públicos no país?

Diante das peculiaridades do movimento intelectual do Campo de Públicas, buscamos subsidiar debates sobre a formulação de políticas de ensino, como, por exemplo, reformar e revisar PPCs, orientar a abertura de novos cursos e a avaliação de cursos do campo, como no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE). Almejamos contribuir para conhecer melhor a identidade epistemológica da área, debatendo implicações da multidisciplinaridade.

Para responder ao problema de pesquisa, fornecemos um science mapping que possibilita: (i) identificar autores centrais e periféricos no Campo de Públicas; (ii) examinar aproximações entre cursos e autores via similaridades de cocitações (clusters); (iii) debater a diversidade de abordagens disciplinares ensinadas nos bacharelados e como isso pode impactar em distintas concepções de gestão e gestores públicos.

Ancoramo-nos no fluxo metodológico que enfatiza o uso da análise de redes (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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). Esta fornece medidas úteis para interpretar os resultados, tais como: centralidades de grau, grau ponderado, intermediação e proximidade; peso de aresta; e modularidade (Degenne & Forsé, 1999Degenne, A. & Forsé, M. (1999) Introducing social networks. London: Sage. doi
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; Newman, 2010Newman, M.E.J. (2010) Networks: an introduction. New York: Oxford University Press. doi
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; Higgins & Ribeiro, 2018Higgins, S.S. & Ribeiro, A.C.A. (2018) Análise de redes em Ciências Sociais. Brasília: Enap.). Tais métricas possibilitam ler dados relacionais topológica (análise hierárquica) e modularmente (análise de clusters).

A rede de citações escrutinada é bimodal, formada por dois tipos de nós (PPCs e autores), possibilitando operacionalizar dois conceitos cientométricos: (i) acoplamento bibliográfico de documentos: a rede de PPCs conectados pelos autores neles citados e (ii) cocitação: frequência com que dois ou mais autores são citados juntos nos planos de ensino (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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; Walsh & Renaud, 2017Walsh, I. & Renaud, A. (2017) Reviewing the literature in the IS field: two bibliometric techniques to guide readings and help the interpretation of the literature. Systèmes d’Information & Management, 22(3). doi
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; Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
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; Todeschini & Baccini, 2016Todeschini, R. & Baccini, A. (2016) Handbook of bibliometric indicators: quantitative tools for studying and evaluating research. Weinheim: Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA.).

Adicionalmente, observamos a organização das grades curriculares dos PPCs e cotejamos a interpretação dos clusters de acoplamento bibliográfico de PPCs com excertos sobre os perfis de egressos desejados pelos cursos. Finalmente, incrementamos os dados de citação com informações obtidas na base Google Scholar.

A seguir, apresentamos o Campo de Públicas e o quadro teórico-metodológico adotado. Na sequência, discutimos os resultados alcançados. Por fim, demonstramos os achados e limites da pesquisa, buscando provocar uma agenda sobre avaliações de cursos do Campo de Públicas.

II. Campo de Públicas: definição e origem

O desenvolvimento de uma área acadêmica e de formação voltada à Administração Pública, distinta da Administração de Negócios, remonta aos anos 1960, nos EUA. Na década seguinte, naquele país, é criada a NASPAA (National Association of Schools of Public Affairs and Administration), reunindo cursos como public administration, public management, public policy, public policy and management, public affairs e nonprofit management (Farah, 2013Farah, M. (2013) A contribuição da administração pública para a constituição do campo de estudos de políticas públicas. In: E. Marques & C. Faria (orgs) A política pública como campo multidisciplinar. São Paulo: Editora Unesp.; FP3CP, 2013FP3CP - Fórum de Professores e Coordenadores do Campo de Públicas (2013) Carta de Brasília. Acesso em: 15 março, 2016. Disponível em: http://campodepublicas.files.wordpress.com/2013/04/carta-de-brasc3adliaabril-de-2013-1.pdf. Acesso em 15 de março. 2016.
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).

Processo semelhante acontece tardiamente no Brasil, na década de 2000. Após início promissor com a fundação, em 1952, da EBAP-FGV (Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas), no Rio de Janeiro e a proliferação de cursos a partir dos anos 1960, a área entra numa letargia de três décadas (Coelho & Nicolini, 2013Coelho, F.S. & Nicolini, A.M. (2013) Do auge à retração: análise de um dos estágios de construção do ensino de administração pública no Brasil (1966-1982). Organizações & Sociedade, 20(66), pp. 403-422. doi
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). Ao fim do século XX, apenas quatro instituições ofertavam graduação em Administração Pública: FGV, em São Paulo; UNESP (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), em Araraquara (SP); Escola de Governo da FJP, em Belo Horizonte (MG) e, UDESC, em Florianópolis (SC).

Impulso importante ao campo foi a expansão das IES públicas, especialmente federais, com o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), a partir de 2007, acompanhada por iniciativas semelhantes de governos estaduais. Desde então, e principalmente com a aprovação das DCNs próprias do campo, alastraram-se, por todo o Brasil, cursos de graduação inter e multidisciplinares voltados ao estudo e atuação relacionados às políticas públicas e ao Estado. No segundo semestre de 2019, o INEP registrava 332 cursos de graduação, presenciais ou à distância, bacharelados ou tecnológicos, ofertados por instituições públicas ou privadas (Coelho et al., 2020Coelho, F.S., Almeida, L.S.B., Midlej, S., Schommer, P.C. & Teixeira, M.A.C. (2020) O campo de públicas após a instituição das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) de administração pública: trajetória e desafios correntes (2015-2020). Administração: Ensino e Pesquisa, 21(3), pp. 488-529. doi
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), sob diversas denominações.

Pari passu à criação dos cursos, professores e coordenadores, de diferentes áreas de formação, começaram a participar de discussões e fóruns realizados concomitantemente aos, então chamados, Encontros Nacionais de Estudantes de Administração Pública (ENEAPs), principalmente a partir do de Balneário Camboriú (SC), em 2010, cuja carta pode ser considerada a certidão de nascimento do Campo de Públicas. Constitui-se, então, uma rede que cresce e ganha visibilidade, formando um campo específico a partir das bases e em contato direto com os atores do movimento estudantil e de egressos participantes desses encontros (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S., Fonseca, S., Vendramini, P. & Coelho, F. (2014) Dossiê - Campo de públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), pp. 110-126.). Tais docentes, estudantes e egressos constituíram o embrião das futuras expressões organizadas do campo, de que tratamos a seguir.

As DCNs de Administração Pública foram aprovadas após intensas negociações e disputas junto ao Conselho Federal de Administração (CFA) e Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (Angrad) que pressionaram o Conselho Nacional de Educação (CNE) pela não aprovação das DCNs do Campo de Públicas, na primeira interposição de recurso ao CNE por entidades alheias à área educacional (Brasil, 2013Brasil (2013) Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Recurso contra o Parecer CNE/CES nº 266/2010, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Administração Pública, bacharelado. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 dez. 2013, seção 1, p. 117.). Assim, após “quase quatro anos, de intensas rodadas de diálogos e audiências entre representantes do Campo, autoridades do CNE e, até mesmo, representantes do CFA, finalmente o recurso foi arquivado em outubro de 2013” (Pires et al., 2014Pires, V., Silva, S., Fonseca, S., Vendramini, P. & Coelho, F. (2014) Dossiê - Campo de públicas no Brasil: definição, movimento constitutivo e desafios atuais. Administração Pública e Gestão Social, 6(3), pp. 110-126., p. 115).

O Campo de Públicas institucionaliza-se, então, como área autônoma de ensino de graduação, tendo em 2014 suas DCNs homologadas pelo CNE (Brasil, 2014Brasil (2014) Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES nº 1, de 13 de janeiro de 2014. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Administração Pública, bacharelado, e dá outras providências. Recuperado em 14 maio, 2014, de http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20138&Itemid=866.
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). Trata-se de importante marco, pois além de fortalecê-lo, o reconhece como campo multidisciplinar de formação acadêmica, científica e profissional.

As DCNs espelham definições produzidas pela comunidade acadêmica e expressas na Carta de Brasília (FP3CP, 2013FP3CP - Fórum de Professores e Coordenadores do Campo de Públicas (2013) Carta de Brasília. Acesso em: 15 março, 2016. Disponível em: http://campodepublicas.files.wordpress.com/2013/04/carta-de-brasc3adliaabril-de-2013-1.pdf. Acesso em 15 de março. 2016.
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), redigida no XIX Fórum dos Professores e Coordenadores do Campo de Públicas. Nela, reafirmam-se o ethos republicano e democrático do campo e balizam-se seus referenciais epistêmicos e empíricos. Os referenciais epistêmicos pautam-se na governança democrática resultante do aumento da complexidade da esfera pública, com a ampliação da participação da sociedade civil no Brasil e de novos atores sociais, articulando-se com a tradicional centralidade do Estado. Os referenciais empíricos relacionam o Campo de Públicas à consolidação democrática brasileira, demandando a formação de quadros para atuar diante das transformações do país (Pimenta, 2013Pimenta, C. (2013) A multidisciplinaridade no estudo das políticas públicas. In: E. Marques & C. Faria (orgs) A política pública como campo multidisciplinar. São Paulo: Editora Unesp.; Keinert, 2014Keinert, T. (2014) O movimento “Campo de Públicas”: construindo uma comunidade científica dedicada ao interesse público e aos valores republicanos. Administração Pública e Gestão Social, 6(4), pp. 169-176. doi
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). Almeja-se um profissional gestado numa pluralidade epistêmica e preparado para os desafios do desenvolvimento nacional e da inclusão social (Lucio, 2017Lucio, M.L. (2017) A construção de uma pluralidade epistêmica no campo de públicas - observações sob o ponto de vista de trajetórias - do Fórum à ANEPCP. NAU Social, 8(15), 31402. doi
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).

A institucionalização do campo culmina na criação da ANEPCP (Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas), em 2015, que nasce como espaço de interlocução entre o Campo de Públicas e demais organizações, incluindo movimentos sociais, entidades de classe, governos nacional e subnacionais e autoridades educacionais do país. Ademais, a ANEPCP constitui lócus de debate acadêmico, tendo realizado quatro ENEPCPs (Encontros Nacionais de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas).

Num trabalho em rede, a ANEPCP junta-se às demais organizações do campo, todas relativamente novas, fundadas no último decênio: além da precursora Fenecap (Federação Nacional dos Estudantes dos Cursos do Campo de Públicas), destacam-se a SBAP (Sociedade Brasileira de Administração Pública), voltada ao debate acadêmico e à pós-graduação; a Pró-Publica Brasil (Associação Brasileira dos Profissionais do Campo de Públicas), reunindo egressos e o Fundo do Campo de Públicas.

Como sintetizam Pires & Horochovski (2021)Pires, V. & Horochovski, R. (2021) O novo campo de públicas e o Brasil de hoje. Gestus-Caderno de Administração e Gestão Pública, 1, pp. 73-76. doi
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:

a partir do Campo de Públicas [...] o Brasil caminha a passos largos para um histórico singular de constituição de uma força de trabalho para atuação nos governos, em seus diferentes níveis e esferas, com formação superior invulgar, dada sua multidisciplinaridade e seus valores democráticos e republicanos, concatenada na graduação e na pós-graduação (p. 74)

III. Fontes, materiais e métodos

III.1. Cientometria como quadro teórico-metodológico

As definições de bibliometria e cientometria confundem-se. Esta contempla acepção mais ampla, de ciência do campo científico, abarcando pesquisas de variados formatos objetivando a elaboração de políticas de ciência e tecnologia. A bibliometria define-se por técnicas e métodos estritamente estatísticos de pesquisa sobre unidades bibliográficas, enquanto a cientometria pode incluir outras estratégias de investigação.

Nalimov e Mulchenko (1971)Nalimov, V. & Mulchenko, Z. (1971) Measurement of science. study of the development of science as an information process. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 405(4), pp. 210. forneceram uma das primeiras definições de cientometria: o estudo de aspectos relacionados ao desenvolvimento e estrutura da ciência, focando inicialmente na análise de citações como medida de impacto e em avaliações de desempenho da produtividade científica. Como a bibliometria, a cientometria descreve tendências de panoramas intelectuais com amplas análises bibliográficas (Kim et al., 2016Kim, M.C., Zhu, Y. & Chen, C. (2016) How are they different? A quantitative domain comparison of information visualization and data visualization (2000-2014). Scientometrics, 107(1), pp. 123-165. doi
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), subsidiando decisões e diretrizes para políticas de administração da ciência (Qiu et al., 2017Qiu, J., Zhao, R., Yang, S. & Dong, K. (2017) Informetrics: theory, methods and applications. Singapore: Springer. doi
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; Egghe 2005Egghe, L. (2005) Expansion of the field of informetrics: origins and consequences. Information Processing & Management, 41(6), pp. 1311-1316. doi
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; Yang et al., 2020Yang, S., Yuan, Q. & Dong, J. (2020) Are scientometrics, informetrics, and bibliometrics different? Data Science and Informteris, 1(1), 103597. doi
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).

Muitos são os ganhos da pesquisa cientométrica, pois ela reflete sobre “o que conhecemos”, “como conhecemos” e “por que conhecemos desta ou daquela forma” uma área de conhecimento (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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). Com ela, a comunicação e a accountability universitária aumentam conforme se emulam informações relacionadas ao labor acadêmico (Targino & Torres, 2016Targino, M. & Torres, N. (2016) Comunicação científica além da ciência. In: M. Gaudêncio & M.E. Albulquerque (orgs) Criação intelectual na comunicação científica: reflexões e orientações. Mossoró: Edufersa.).

Destarte, o docente de universidades públicas no Brasil é, simultaneamente, professor e pesquisador. A relação íntima entre ensino e pesquisa leva docentes a incorporar resultados de pesquisa à sua prática de ensino, oferecendo, aos discentes, acesso privilegiado à literatura científica de ponta. Mais que discussão didática de textos, o ensino propicia difusão de resultados da pesquisa produzida no Brasil e alhures (Melo, 1999Melo, M.P.C. (1999) Quem explica o Brasil. Juiz de Fora: Editora UFJF.).

No Brasil, um science mapping das Ciências Sociais a partir de citações em planos de ensino foi feita por Melo (1999). Tal método descreve a estrutura de uma área disciplinar, que, como os mapas geográficos, localiza e guia pesquisadores e tomadores de decisão (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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; Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
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).

Duas técnicas podem ser usadas em science mapping: acoplamento bibliográfico de documentos e análise de cocitação de autores (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
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; Walsh & Renaud, 2017Walsh, I. & Renaud, A. (2017) Reviewing the literature in the IS field: two bibliometric techniques to guide readings and help the interpretation of the literature. Systèmes d’Information & Management, 22(3). doi
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). Domínios intelectuais são capturados por estas técnicas, cuja unidade de análise é o ato de citar, um indicador da comunicação acadêmica (Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
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).

O acoplamento bibliográfico considera a relação entre documentos (aqui os PPCs) a partir da quantidade de referências que eles compartilham. Quanto mais similares os padrões de citação entre documentos, mais fortemente eles se atraem (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
doi...
; Walsh & Renaud, 2017Walsh, I. & Renaud, A. (2017) Reviewing the literature in the IS field: two bibliometric techniques to guide readings and help the interpretation of the literature. Systèmes d’Information & Management, 22(3). doi
doi...
). Tal similaridade e coesão “pode ser temática, teórica, metodológica ou outra particularidade compartilhada” (Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
doi...
, p. 85).

A análise de cocitação mede a força de atração entre autores citados segundo a compreensão da comunidade de autores citantes. A proximidade entre cocitados é dada pela intensidade de publicações nas quais dois ou mais autores aparecem juntos nas referências bibliográficas.

No momento da publicação, os dois artigos podem parecer não estarem ligados. Suas ligações podem aparecer (e crescer com o tempo), quando estes artigos começam a ser citados conjuntamente na literatura científica. Assim, a força da cocitação é determinada pela reação dos pesquisadores em relação aos artigos publicados. (Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
doi...
, p. 88).

A cocitação evidencia a estrutura de conhecimento e os domínios científicos de uma área, sua literatura de base (Grácio, 2016Grácio, M.C.C. (2016) Acoplamento bibliográfico e análise de cocitação: revisão teórico-conceitual. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 21(47), pp. 82-99. doi
doi...
), mostrando um mapa das fundações intelectuais de um campo e apontando a rede de autores conectados pelos indivíduos que enxergam neles alguma relação (Zupic & Cater, 2015Zupic, I. & Cater, T. (2015) Bibliometric methods in management and organization. Organizational Research Methods, 18(3), pp. 429-472. doi
doi...
; Walsh & Renaud, 2017Walsh, I. & Renaud, A. (2017) Reviewing the literature in the IS field: two bibliometric techniques to guide readings and help the interpretation of the literature. Systèmes d’Information & Management, 22(3). doi
doi...
).

III.2. Procedimentos e fluxo metodológico

Analisando 465 artigos da área de estudos organizacionais, entre 2001 e 2014, presentes na Web of Science, Zupic & Cater (2015) modelaram um fluxo metodológico de science mapping, que guia esta pesquisa e abrange cinco passos: desenho da pesquisa, compilação de dados, análise, visualização e interpretação.

O desenho da pesquisa segue a problematização: quais os domínios intelectuais dos bacharelados do Campo de Públicas das IES públicas no Brasil? Existe formação convergente para gestores públicos no país? Tais perguntas de partida se desdobraram em seis questões de pesquisa (QP) específicas:

  • QP1 - Quais as características gerais, semelhanças e diferenças dos 14 PPCs analisados?

  • QP2 - Quais os autores centrais da rede, seus impactos e contribuições para o Campo de Públicas?

  • QP3 - Qual é o autor mais influente de cada curso, seu impacto e contribuição para o Campo de Públicas?

  • QP4 - Existem cursos que se aproximam pela partilha de um mesmo corpus bibliográfico?

  • QP5 - Quais autores são centrais em cada agrupamento de cursos?

  • QP6 - Quais as implicações dos resultados alcançados para o perfil de egressos desejado pelos cursos?

Para respondê-las, empregamos análise de cocitação (identificando os domínios intelectuais do campo) e acoplamento bibliográfico de documentos (mostrando similaridades e distinções entre os cursos). Extraímos informações complementares sobre citações recebidas da base Google Scholar (pesquisa realizada em 3 de setembro de 2021). Fizemos, também, incursões analíticas nos PPCs para mapear seus principais atributos e, especialmente, no campo “perfil de egressos”, para cotejar os sentidos de seus enunciados à análise cientométrica.

A etapa seguinte, de compilação de dados bibliométricos, foi a construção de um banco de dados relacionais próprio. Coletamos, no primeiro semestre de 2019, os PPCs e respectivos ementários nos websites dos bacharelados. Quando estes não estavam disponibilizados online, os solicitamos via e-mail às coordenações de cursos. De 22 cursos, alcançamos 14 PPCs (64%). Os filtros e critérios de seletividade para a inclusão de documentos foram: (i) cursos do Campo de Públicas, (ii) de bacharelado, (iii) de IES públicas. Como critério de exclusão, utilizamos a dificuldade de acesso às unidades de análise que buscávamos: referências bibliográficas nos planos de ensino de disciplinas obrigatórias e optativas3 3 Apenas um curso foi excluído nesta fase: Administração Pública-UNICAMP. .

No segundo semestre de 2019, empregamos o software RQDA (R Qualitative Data Analysis) para extrair os dados textuais buscados nos PPCs: os autores citados nas listas de referências bibliográficas das disciplinas. Exportamos o banco de dados resultante para o SQLite Manager, com o qual geramos planilhas .csv para posterior tratamento no OpenRefine, software que permite retirar “ruídos” do corpus textual com suas facilidades funcionais, como clusterização de palavras de mesmo radical. Com ela, ajustamos os nomes dos autores para um mesmo padrão de formatação, mediante desambiguação nominal.

Na fase de análise, empregamos o software Gephi. Nele, foram construídos grafos bimodais nos quais os autores das referências bibliográficas e os PPCs configuram vértices (nós) conectados entre si por arestas (laços)4 4 O banco de dados e os cálculos realizados estão disponíveis no repositório eletrônico KAGGLE no seguinte link de acesso: https://www.kaggle.com/datarepository/campo-de-publicas-rede-geral . Por exemplo: “Administração Pública-UFPR → WEBER”. A rede bimodal tem como vantagem mostrar concomitantemente a cocitação de autores e o acoplamento bibliográfico de documentos. Tal tipo de rede multiplexa apreende melhor a complexidade social, permitindo identificar mais de uma variável estrutural da rede. As principais estatísticas desta etapa foram5 5 Salvo quando apontado, todas as informações sobre as estatísticas de rede foram extraídas de Degenne & Forsé (1999), Newman (2010), Higgins & Ribeiro (2018). :

  1. Peso de aresta: força das conexões entre dois vértices dada pela quantidade de relações entre eles, sendo a medida frequencial qualitativa dessas relações. Nesta pesquisa, o peso de aresta entre um curso e um autor expressa a influência deste autor no curso, pois representa o número de planos de ensino que o citaram.

  2. Centralidade de grau: número de relações entre um vértice e os demais vértices da rede, constituindo indicador de caráter topológico (hierárquico) para a influência de um nó. Sendo que, na rede bimodal, com informações de 14 PPCs, um autor com grau 14 foi citado por todos os cursos pesquisados.

  3. Grau ponderado: soma do peso das arestas conectadas com um determinado vértice, indicando os vértices de alta conectividade ao esquadrinhar o peso das arestas. Não mostra necessariamente a influência global de um vértice no conjunto dos dados, pois um vértice com alta centralidade de grau ponderado pode ter influência somente local, num cluster restrito de vértices.

  4. Centralidade de intermediação: frequência com que um vértice se coloca nos caminhos mais curtos (geodésias) entre os demais vértices, mostrando quais são estratégicos perante os demais. Aqui, intermediação expressa autores situados nas fronteiras intergrupos (de clusters), sendo fundamentais para compreender a circulação de informação acadêmica-científica na rede.

  5. Centralidade de proximidade: distância média de um vértice de todos os demais vértices da rede. Tal como a intermediação, essa medida considera as distâncias entre os vértices, sendo um indicador da capacidade de liderança e alcance de um vértice perante outros. Enquanto medida de influência global, demonstra o quanto um vértice “viaja” pelos circuitos da rede, por isso, é a melhor métrica para captar autores altamente cocitados.

  6. Modularidade: detecta clusters de vértices, a partir das suas equivalências estruturais e coesões intragrupo. É, portanto, uma análise de corte modular (e não topológico), por captar subredes no interior da rede (aqui, os domínios intelectuais dos PPCs e o acoplamento bibliográfico de documentos). A partição da rede é feita pela identificação de vértices “vulneráveis” por serem cutpoints: o algoritmo reconhece sucessivamente os vértices com maior intermediação e segmenta o grafo (Blondel et al., 2008Blondel, V.D., Guillaume, J.L., Lambiotte, R. & Lefebvre, E. (2008) Fast unfolding of communities in large networks. Journal of Statistical Mechanics: Theory and Experiment, 2008(10), P10008. doi
    doi...
    ).

Na quarta etapa do fluxo de trabalho, visualização, escolhemos relatórios e layouts da análise de redes, obtendo mapas do campo pesquisado. O layout adotado para os grafos é o Force Atlas, que afasta os vértices de maior grau para as extremidades ao mesmo tempo que aproxima os do mesmo cluster.

Na última etapa, interpretação dos resultados, descrevemos e analisamos os padrões encontrados.

IV. Resultados e discussão

IV.1. Características dos PPCs

Nos cursos pesquisados, a estrutura dos PPCs segue o mesmo padrão: apresentam contextualização regional e institucional; justificativa de existência, concepção e organização do curso; planos de ensino e ementários; e objetivos do curso e perfil de egressos.

A Tabela 1 sintetiza as dimensões dos PPCs e responde à QP1 sobre suas características, semelhanças e diferenças. Os documentos têm 127,6 páginas em média. A quantidade recomendada de semestres dos cursos é de 8,2 em média e a carga horária (CH) média exigida para a integralização curricular é de 3.197,5 horas. Os dois cursos de Administração Pública da UDESC (Florianópolis e Balneário Camboriú) apresentam as maiores CHs, com 3.600 horas. A CH mais baixa, 2.410, é a de Gestão de Políticas Públicas-UFRN, porém o único com seis semestres letivos.

Tabela 1
Caracterização geral dos PPCs

Sobre as CHs das disciplinas obrigatórias em comparação com optativas e eletivas6 6 Disciplinas eletivas são as que o discente frequenta em outros cursos e que podem ser aproveitadas na integralização curricular. Disciplinas optativas pertencem à grade curricular do próprio curso. Nossa análise foca apenas nas optativas e obrigatórias, devido à inviabilidade de análise das eletivas, pertencentes a PPCs que não compõem o Campo de Públicas. , a média é de 2.168,5 para aquelas e 546,9 para estas. As maiores discrepâncias estão em três cursos: Administração Pública-UFPR, que permite 1.320 horas em disciplinas optativas e eletivas; Gestão de Políticas Públicas-UFRN com 1.260; e Gestão Pública-UFMG, com 1.080.

Nos demais, CHs em disciplinas obrigatórias predominam amplamente, contudo, de forma dispersa: coeficiente de variação (CV) de 31%. As disciplinas obrigatórias constituem, em tese, os fundamentos nucleares da formação profissional. Assim, o CV indica que os 14 cursos apresentam dispersão relativamente alta sobre o que compreendem ser o núcleo coeso de formação. Há elasticidade sobre a “quantidade” de conteúdos mandatórios à formação básica do gestor público.

O CV da CH das disciplinas optativas e eletivas é ainda maior (70%). Devido a isto, nossa análise recai sobre todos os planos de ensino dos PPCs, não apenas sobre os das disciplinas obrigatórias. Os conteúdos dessas disciplinas são escolhas da comunidade acadêmica que construiu o PPC em detrimento de outras possibilidades (Carvalho et al., 2020Carvalho, A., Souza, C. & Macedo, J.P. (2020) Relações de gênero e étnico-raciais nos currículos de psicologia: aproximações e desafios. Psicologia: Ciência e Profissão, 40, e201972. doi
doi...
, p. 4). Logo, a investigação da rede de referências bibliográficas de todos os planos de ensino, tanto de disciplinas obrigatórias como de optativas, mostra mais acuradamente os domínios intelectuais que baseiam a formação do gestor público no Brasil. Ademais, a identificação dos vértices de maior influência e posição hierárquica explicitará o rol de autores “obrigatórios” do percurso formativo estudantil, ponto explorado a seguir.

IV.2. Análise topológica e hierárquica

A rede de PPCs e autores citados nos planos de ensino possui 4.781 vértices (4.767 autores e 14 cursos), conectados por 7.434 arestas. Sendo rede relativamente densa, seu grau médio é 3,1 e diâmetro 4, ou seja, apresenta distâncias geodésicas curtas, com comprimento de caminho médio de 3,5.

A Figura 1 mostra um layout que enfatiza os autores situados ao centro da rede, dos quais apresentamos aqueles com grau acima de 8 na Tabela 2, no total 30. A tabela está hierarquizada pela centralidade de proximidade, que provê a influência global dos vértices. Quanto maior a centralidade de proximidade, mais o vértice é capaz de transitar pelos circuitos de informação da rede, mostrando justamente os autores mais cocitados.

Figura 1
Mapa de autores centrais
Tabela 2
Autores centrais

A coluna com a publicação mais citada de cada autor no repositório Google Scholar complementa as informações de atributos estatísticos. Ela mostra o impacto acadêmico dos autores, descortinando suas contribuições acadêmicas e as características disciplinares do Campo de Públicas de modo mais amplo. A Tabela 2 responde, assim, tanto à anedota introdutória do artigo, sobre a literatura básica a ser enfrentada por quem busca inserir-se na área, quanto à QP2 sobre os autores centrais da rede, seus impactos e contribuições para o Campo de Públicas. O conjunto de autores mais influentes possui próceres de várias áreas. Infere-se, entretanto, a seguinte predominância temática:

  • Teoria política e social: Arendt, Bobbio, Weber, Durkheim e Castells;

  • Direito administrativo e constitucional: Mello, Di Pietro e Bonavides;

  • Estado e gestão pública: Bresser-Pereira, Paes de Paula, Spink e Torres;

  • Políticas públicas: Saravia, Arretche e Souza;

  • Teoria econômica: Marx, Vasconcellos, Mankiw e Furtado;

  • Orçamento e finanças públicas: Giacomoni, Giambiagi e Kohama;

  • Metodologia e métodos de pesquisa: Santos, Lakatos, Morretin e Bussab.

Destaca-se James Giacomoni como único autor citado em todos os cursos (grau 14). Suas centralidades de intermediação e proximidade também são as mais elevadas (0,010 e 0,50 respectivamente). Trata-se do vértice mais próximo dos demais e que está nos caminhos mais curtos da rede, articulando outros grupos de vértices. Sendo a citação uma ação de comunicação científica, isso evidencia a ênfase do Campo de Públicas em finanças públicas. Enquanto autor mais bem posicionado, Giacomoni é o único cocitado com todos os demais autores da rede.

Destacam-se, também, Norberto Bobbio, Celso Bandeira de Mello, Luiz Carlos Bresser-Pereira (todos com grau 13 e proximidade 0,49) e Fábio Giambiagi (grau 12 e proximidade 0,48). Por suas centralidades, assim como Giacomoni, esses autores exercem grande influência intelectual no Campo de Públicas nos seguintes tópicos: direito administrativo, finanças públicas, teoria política, Estado e gestão pública.

Ao compararmos as medidas de centralidade e, nelas, autores destacados, sobressaem diferenças, como no caso de Marta Arretche (proeminente na Ciência Política brasileira) na coluna de grau ponderado, em que ela está na segunda posição (0,54), atrás apenas de Bresser-Pereira (0,58). O elevado grau ponderado, que considera a frequência e intensidade das conexões, mostra um vértice que não necessariamente exerce centralidade na rede como um todo, mas com influência localizada. Arretche contrasta, por exemplo, com Giacomoni. Enquanto aquela possui alta influência local e relativa influência global (proximidade de 0,43 e grau 9), este possui forte relevância global e relativa influência regional (grau ponderado de 0,34).

Conhecida a estrutura geral da rede e seus vértices centrais, analisaremos agora a rede a partir das partições entre cursos e suas respectivas diferenças contextuais.

IV.3. Análise modular e contextual

Iniciamos a apresentação das particularidades dos cursos e seus clusters pela identificação do autor mais influente de cada graduação (QP3), mediante o peso de aresta, aqui, a frequência de relações entre dois vértices. A Tabela 3 mostra a característica intelectual proeminente de cada PPC, ao contabilizar em quantos planos de ensino um autor é citado7 7 Para uma visão geral das características de cada curso, ver anexos e bancos de dados disponibilizados no repositório KAGLLE: https://www.kaggle.com/datarepository/campo-de-publicas-rede-geral. Nele, apresentamos a lista das principais relações entre PPC de cada curso e autores a partir do peso de aresta. . Como na tabela anterior, a coluna com a publicação mais citada de cada autor no Google Scholar oferece panorama qualitativo.

Tabela 3
Peso de aresta entre cursos e autores

O único autor repetido na Tabela 3 é Bresser-Pereira, o mais influente em três cursos, sobretudo, em Administração Pública-FJP (peso de aresta 16). Nos demais, há uma ecologia variada de autores, muitos dos quais não relacionados entre os 30 mais bem posicionados no grafo. São os casos das fortes relações entre Evelina Dagnino (que possui relevância no tema da cidadania participativa) e Administração Pública-UDESC-Flp (peso de aresta 5), Idalberto Chiavenato (autor destacado da Administração) e Administração Pública-UNEAL (peso de aresta 5) e o educador Paulo Freire e Administração Pública-UFPR (peso de aresta 12). Este caso, que representa uma dissonância em relação às demais vozes de autores do Campo de Públicas, se explica pelos constrangimentos do Projeto Político-Pedagógico do setor onde o curso se insere, que obriga alta CH numa disciplina denominada Interações Culturais e Humanísticas, na qual há referência à Freire (UFPR, 2008Universidade Federal do Paraná - UFPR (2008) Setor Litoral. Projeto Político-Pedagógico. Matinhos: UFPR.).

Verifica-se que existem diferentes domínios intelectuais e disciplinares entre os bacharelados analisados. Mas (QP4) há cursos que se aproximam por compartilharem um mesmo corpus bibliográfico referente a domínios intelectuais comuns? A resposta é sim. Mediante análise de clusterização, exploraremos tais aproximações com dois conceitos cientométricos: acoplamento bibliográfico e análise de cocitação. Para operacionalizá-los, aplicamos a medida de modularidade com resolução 1.2, que em nossos testes apresentou resultados mais consistentes, agrupando com grande frequência os mesmos vértices nos mesmos clusters.

As cores no grafo (Figura 2) representam os cinco clusters formados. O grafo possui filtro de grau 2, excluindo vértices com apenas uma citação. A rede subdivide-se em dois grupos majoritários: à esquerda, o cluster azul congrega quatro cursos; à direita, o vermelho reúne sete. Ao centro, três cursos formam cada qual seu próprio cluster, intermediando os dois grandes agrupamentos das extremidades. Em síntese, o grafo exibe dois perfis predominantes de formação, com alguns cursos ao centro sem aproximações nem entre si e nem com os dois clusters maiores.

Figura 2
Mapa de cursos

Resta saber se essas aglutinações de cursos via compartilhamento de citações de autores projeta sentidos específicos de formação de gestores públicos. Este é o próximo aspecto abordado, sobre as especificidades dos clusters, apontando seus autores centrais pela centralidade de grau ponderado, respondendo, assim, à QP5. Como vimos, essa medida revela a conectividade total dos vértices e seus laços mais fortes, exprimindo acuradamente os vértices proeminentes em cada cluster, que melhor representam seus conteúdos substantivos quanto à coesão e equivalência intragrupo.

Informação complementar será dada pelos perfis de egressos descritos nos PPCs, para responder à QP6, sobre implicações desse estado de coisas para o perfil de egressos desejado pelos cursos. Tal análise, aliada à bibliometria dos planos de ensino, constitui via de acesso aos conteúdos considerados relevantes pela comunidade acadêmica de cada curso (Seixas et al., 2016Seixas, P.S., Lima, F.C., Fernandes, S.R., Andrade, L.R. & Yamamoto, O. (2016) As políticas sociais nos fundamentos dos projetos pedagógicos dos cursos de psicologia. Psicologia Escolar e Educacional, 20(3), pp. 437-446. doi
doi...
; Heleno & Borges, 2016Heleno, C.T. & Borges, L.O. (2016) Cursos de gestão de recursos humanos: uma análise documental. Psicologia & Sociedade, 28(2), pp. 396-406. doi
doi...
).

IV.3.1. Cluster Gestão de Políticas Públicas

A Figura 3 apresenta o cluster denominado Gestão de Políticas Públicas, aglutinando quatro cursos do Sudeste: dois de São Paulo (Gestão de Políticas Públicas-USP e Políticas Públicas-UFABC) e dois de Minas Gerais (Gestão Pública-UFMG e Administração Pública-FJP). Os autores cocitados com maiores centralidades de grau ponderado aqui são: Bresser-Pereira (grau ponderado 58), Marta Arretche (54), Max Weber (38), Boaventura de Sousa Santos (36) e Fábio Giambiagi (35), (Tabela 4).

Figura 3
Cluster Gestão de Políticas Públicas
Tabela 4
Autores centrais do Cluster Gestão de Políticas Públicas

Esse agrupamento indica coesão temática que move os cursos para um perfil de formação influenciado, especialmente, pelas áreas da Ciência Política e Sociologia. Dos cinco autores mais centrais do cluster, apenas Giambiagi não se filia às Ciências Sociais.

Quanto aos perfis de egressos, o PPC de Gestão de Políticas Públicas-USP traz excerto ilustrativo do sentido de gestão pública aferido:

Formar pesquisadores para o debate sobre a gestão de políticas públicas, num contexto de rearranjos das relações entre Estado e sociedade civil principado pela governança, transparência e a intersetorialidade. [...O curso] aspira ser um dos bacharelados que referenciam o ensino de graduação em gestão/políticas públicas no Brasil (USP, 2016Universidade de São Paulo - USP (2016) Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas. São Paulo: USP., p. 8, grifos nossos).

Similarmente, o profissional formado em Políticas Públicas-UFABC deverá estar habilitado a:

atuar em processos de planejamento, implementação e avaliação das políticas públicas, em áreas variadas e em distintos contextos políticos, econômicos e sociais, através de mecanismos inovadores e que visem a produção dos melhores resultados em termos sociais. Por meio de uma formação interdisciplinar, o aluno irá desenvolver sua compreensão a respeito da importância do contexto econômico, político e social na formulação de estratégias, no desenho, na implementação e na avaliação de programas e de políticas públicas. (UFABC, 2015Universidade Federal do ABC - UFABC (2015) Projeto Pedagógico do Bacharelado em Políticas Públicas. São Bernardo do Campo: UFABC., p. 9, grifos nossos)

O enfoque num profissional gestor de políticas públicas também está no bacharelado em Gestão Pública-UFMG, que aspira egressos atuantes no “processo de elaboração, gestão e controle da execução de políticas públicas e de provisão de serviços, e que se constituem por diferentes instituições e organizações, sejam elas tanto estatais no âmbito dos três poderes e nos três níveis de governo, quanto organizações não-estatais.” (UFMG, 2018Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (2018) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Projeto Pedagógico: Curso de Gestão Pública. Belo Horizonte: UFMG., p. 19-20, grifos nossos).

A Administração Pública-FJP deseja egresso semelhante, capaz de atuar na:

Formulação, a supervisão e a avaliação de políticas públicas e o exercício de atividades relacionadas às áreas de planejamento e avaliação, administração financeira e orçamentária, contabilidade, modernização da gestão, racionalização de processos, gestão e tecnologia da informação, recursos logísticos, recursos materiais, recursos humanos e administração patrimonial. (FJP, 2019Fundação João Pinheiro (2019) Escola de governo Professor Paulo Neves de Carvalho. Projeto pedagógico: Curso de Administração Pública. Belo Horizonte: FJP., p. 12 grifos nossos)

Nesse cluster, o léxico usado para descrever o perfil de egressos foca principalmente termos adjacentes à concepção de “gestão de políticas públicas”. Os cursos abordam o Campo de Públicas na perspectiva pela qual Ciência Política e Sociologia, principalmente, analisam e dialogam com o tema de Políticas Públicas, explicitado no rol de autores mais cocitados nos PPCs do cluster.

IV.3.2. Cluster Administração Pública e Organizacional

O cluster Administração Pública e Organizacional (Figura 4) é o maior da rede e o mais heterogêneo em termos regionais, somando sete cursos: Administração Pública-UDESC-Flp, Administração Pública-UDESC-BC, Administração Pública e Social-UFRGS, Gestão de Políticas Públicas-UFRN, Administração Pública-UNILAB, Administração Pública-UNEAL e Administração Pública-UFLA.

Figura 4
Cluster Administração Pública e Organizacional

Juristas como Maria Di Pietro (grau ponderado 30) e Hely Lopes Meirelles (28) são as referências centrais desse cluster, tal qual Idalberto Chiavenato (26), importante autor da Administração. Pedro Morettin (grau ponderado 25) e Wilton Bussab (22), coautores em obras de estatística aplicada à Administração, completam os cinco autores mais influentes (Tabela 5). A matriz epistemológica desse agrupamento aponta para autores próximos ao Direito, Administração e, em certa medida, Economia - daí sua denominação Administração Pública e Organizacional.

Tabela 5
Autores centrais do Cluster Administração Pública e Organizacional

Nele, há um sentido diverso ao perfil de egressos desejado no cluster anterior. Administração Pública-UDESC-Flp, por exemplo, enfatiza o background da administração e dos estudos organizacionais: “o egresso do curso de Administração Pública poderá desenvolver atividades relacionadas aos campos privativos da Administração, principalmente, em organizações públicas” (UDESC, 2007Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (2007) Centro de Ciências da Administração. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Administração Pública. Florianópolis: UDESC., p. 22, grifos nossos). Seu coirmão, da UDESC-BC, vai na mesma direção ao afirmar que o egresso:

Tem como campo profissional a realização de atividades privativas da administração, especialmente aquelas que dizem respeito à governança de instituições municipais e regionais voltadas para o interesse público e o desenvolvimento regional com sustentabilidade, sejam elas organizações públicas ou comunitárias. (UDESC, 2020Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (2020) Centro de Educação Superior da Foz do Itajaí. Projeto Pedagógico de Curso de Administração Pública. Balneário Camboriú: UDESC., p. 28, grifos nossos)

Administração Pública-UNEAL apresenta igual perfil, objetivando formar profissionais que atuem para aumentar a “produtividade no serviço público” e na “melhoria na eficiência dos serviços e produtos e no desenvolvimento do Estado de Alagoas” (UNEAL, 2017Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL (2017) Campus VI. Projeto Pedagógico do Curso de Administração da Universidade Estadual de Alagoas. Maceió: UNEAL., p. 4). Assim, abre-se “um mercado totalmente novo. Para esta realidade é incontestável a necessidade de formar profissionais capazes de liderar estes negócios [públicos] com elevado espírito empreendedor” (UNEAL, 2017Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL (2017) Campus VI. Projeto Pedagógico do Curso de Administração da Universidade Estadual de Alagoas. Maceió: UNEAL., p. 4, grifos nossos).

Administração Pública e Social-UFRGS converge com os estudos organizacionais e de administração, pois deseja “formar o profissional [...] para contribuir decisivamente para o desenvolvimento das organizações públicas e sociais, pela construção de um contexto eficaz e pela sua transformação em oportunidades empreendedoras” (UFRGS 207Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2017) Escola de Administração. Projeto Pedagógico: Curso de Graduação em Administração Pública e Social. Porto Alegre: UFRGS., p. 12-13, grifos nossos).

O curso de Administração Pública-UFLA visa um perfil de egresso capaz de refletir sobre “a heterogeneidade das demandas regionais sociais, o contexto geral dos serviços públicos e a relação entre o público e o privado” (UFLA 2012Universidade Federal de Lavras - UFLA (2012) Projeto Pedagógico do Curso de Administração Pública. Lavras: UFLA., p. 43).

Este grupo de PPCs acoplados bibliograficamente enseja perfil de egressos compatível com seu contexto disciplinar, influenciado pela tradição intelectual das áreas de Administração, Economia e Direito, prioritariamente. A formação dos futuros gestores públicos centra-se numa concepção de gestão pública mais próxima das Ciências Sociais Aplicadas do que das Humanidades.

IV.3.3. Clusters singulares

O algoritmo de modularidade alocou três clusters na região central do grafo, que intermedeiam os agrupamentos maiores. A Figura 5 apresenta esse recorte. Nele, os cursos da UFCA, UFPR e UNIFAL formam os três clusters.

Figura 5
Clusters singulares

No cluster Administração Pública-UFPR, os principais autores são: Norberto Bobbio (grau ponderado 48), Milton Santos (41), Antônio Carlos Gil (31) e Maria da Glória Gohn (26) (Tabela 6). Trata-se de curso peculiar, que engloba referências amplamente citadas de Ciência Política, Geografia e metodologia científica, característica enfatizada no perfil de egressos, aproximando-o das humanidades:

Um profissional com formação plural, interdisciplinar, crítica e em sintonia com os desafios inerentes às sociedades democráticas [...]. Em um contexto de complexidade e incertezas, esse profissional desempenha um papel chave enquanto componente mediador, integrador e catalisador no uso de saberes aplicados aos princípios constitucionais da administração pública. (UFPR, 2015Universidade Federal do Paraná - UFPR (2015) Setor Litoral. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Administração Pública - Bacharelado. Matinhos: UFPR., p. 13-14)

Tabela 6
Autores Centrais dos Clusters Singulares

Perfil distinto tem o cluster de autores do curso de Administração Pública-UNIFAL, no qual predominam Sérgio de Iudícibus (grau ponderado 25), José Celso Pereira Cardoso Júnior (24), Antônio Joaquim Severino e José Carlos Marion (ambos com grau ponderado 23) (Tabela 6), relevantes nos campos da contabilidade, gestão pública, economia e metodologia científica. Tal curso visa capacitar o egresso em termos de “dinamismo e versatilidade em suas alternativas de atuação profissional” (UNIFAL, 2018Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL (2018) Campus Varginha. Projeto Pedagógico do Curso Bacharelado em Administração Pública. Varginha: UNIFAL., p. 32), para que possa trabalhar nos órgãos da administração pública, em instituições privadas em interface com o setor público ou seguir “na carreira acadêmica nas áreas de ensino, pesquisa e extensão por meio de estudos de pós-graduação e atuação ampla na área das Ciências Sociais Aplicadas” (UNIFAL, 2018Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL (2018) Campus Varginha. Projeto Pedagógico do Curso Bacharelado em Administração Pública. Varginha: UNIFAL., p. 32, grifos nossos).

O cluster Administração Pública e Gestão Social-UFCA tem autores com maiores centralidades: Celso Furtado (grau ponderado 34), Manuel Castells, Sylvia Constant Vergara e José Matias-Pereira (todos com 29). Agrupa, portanto, autores dos campos do pensamento econômico brasileiro, sociologia, finanças públicas e metodologia científica aplicada à administração. No perfil de egressos, preconiza que este deverá “compreender as questões humanas, relacionais, científicas, técnicas, sociais, econômicas e culturais que permeiam os campos da Gestão Pública e da Gestão social, bem como de ser capaz de realizar o seu gerenciamento sistêmico.” (UFCA, 2016Universidade Federal do Cariri - UFCA (2016) Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Bacharelado em Administração Pública e Gestão Social. Juazeiro do Norte: UFCA., p. 17). O que se busca é um profissional com capacidade de:

Pensar e selecionar tecnologias apropriadas para a gestão de instituições governamentais e sociais em nível local, regional e global, atuando como sujeito eticamente determinado e estrategicamente orientado à promoção de processos de empoderamento e desenvolvimento de pessoas, comunidades e coletividades, bem como elaborando e empreendendo programas, projetos e ações voltadas ao desenvolvimento socioterritorial. (UFCA, 2016Universidade Federal do Cariri - UFCA (2016) Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Projeto Político-Pedagógico do Curso de Bacharelado em Administração Pública e Gestão Social. Juazeiro do Norte: UFCA., p. 17-18)

Importante ressaltar que a presença de um autor num cluster não significa que ele não esteja citado nos planos de ensino dos cursos dos outros clusters. O que a análise modular faz é particionar a rede pela aproximação dos vértices por similaridade. O algoritmo de modularidade detecta, assim, as maiores forças de atração que ocorrem sempre numa dinâmica relacional que sopesa as centralidades de cada vértice e as intensidades de suas arestas.

V. Conclusão

PPCs são elaborados a partir de escolhas que, invariavelmente, incluem e excluem possibilidades. Nesta pesquisa, identificamos tais escolhas em 14 bacharelados do Campo de Públicas, os quais apresentaram, em primeiro lugar, desproporções em termos de CH destinadas às disciplinas obrigatórias, optativas e eletivas. Tal discrepância, dada pelo CV, indica a ausência de consenso dos cursos analisados a respeito das “quantidades” de conteúdos considerados básicos para a formação do gestor público no Brasil.

Essa inferência se reforçou na investigação da rede de autores citados nos planos de ensino, enquanto indicadores dos conteúdos que circulam no espaço educacional analisado. Embora o science mapping tenha encontrado o rol de leituras mais relevantes para qualquer pessoa que queira desbravar a área, este estudo permitiu ir além e verificar que não existe uma formação convergente do Campo de Públicas no Brasil. A depender da IES onde se gradua, um egresso pode estranhar o currículo de outro curso com, muitas vezes, a mesma nomenclatura.

As análises de cocitação e acoplamento bibliográfico mostraram dois clusters principais e baixa possibilidade de uma base curricular comum. O primeiro aproxima cursos mais próximos às Ciências Sociais, mormente Ciência Política e Sociologia, distinguindo-se do outro cluster, que tem aderência maior às Ciências Sociais Aplicadas, especialmente às disciplinas de ciências administrativas, jurídicas e econômicas. A análise do perfil de egressos dos PPCs convergiu para o padrão detectado na análise de redes, qual seja, da proeminência de dois perfis profissionais, os quais denominamos “gestor de políticas públicas e administrador público e organizacional”. No meio dessa rede identificamos, ainda, três cursos isolados e singulares.

Tais achados foram possíveis devido à análise de redes, que permite alcançar resultados difíceis de serem conseguidos com outras metodologias. Sua abordagem relacional e indutiva apresenta uma representação do fenômeno analisado - neste caso, o Campo de Públicas - mais próxima da realidade, algo que nem sempre coincide com a sua leitura intuitiva ou apriorística. Portanto, mostramos que, no estado em que se encontra, o Campo de Públicas é multidisciplinar na totalidade da rede de seus cursos, mas disciplinar dentro de seus clusters. Logo, o objetivo do campo de formar profissionais gestados na pluralidade epistêmica, se torna um desafio de difícil consecução.

Se esta fragmentação se manterá ou tenderá à homogeneidade, é uma questão que pesquisas futuras devem responder, considerando a trajetória do campo em perspectiva longitudinal. Hipótese a ser testada é se no médio ou longo prazo não haverá uma tendência ao isomorfismo institucional, em face das recentes DCNs do campo e demais mecanismos indutores como o ENADE e outros instrumentos de avaliação da educação em nível superior.

A cientometria busca fornecer subsídios que possam orientar a construção de instrumentos de avaliação de políticas de ciência, tecnologia e educação. Alcançamos esse objetivo na medida em que geramos informações que podem auxiliar no aperfeiçoamento de instrumentos de avaliação mais justos para a área, que levem em conta a pluralidade de conteúdos transacionados nas diversas salas de aula do Campo de Públicas. Da mesma forma, nossos resultados podem orientar a reforma de PPCs, abertura de novos cursos e fomentar um amplo debate sobre a identidade intelectual e disciplinar do campo e as implicações em termos de distintas formações oferecidas àqueles que visam atuar no setor público.

Por fim, assumimos as limitações deste estudo: não questionamos o que explica a configuração do science mapping apresentado, quiçá vínculos e influências pessoais entre professores ou mesmo trajetórias e formações acadêmicas dos corpos docentes. Da mesma forma, a pesquisa focou bacharelados de IES públicas, elidindo IES privadas e cursos tecnológicos, que podem apresentar redes distintas. Todavia, não sendo esta uma agenda de pesquisa que se esgota neste estudo, convidamos os demais pesquisadores para contribuir nessa empreitada.

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    Mediante consulta, no primeiro semestre de 2019, ao website do Campo de Públicas (https://campodepublicas.wordpress.com/) identificamos 22 bacharelados em IES públicas. Destes não obtivemos PPCs de 7, porque não estavam disponibilizados nos websites dos cursos e não houve retorno aos contatos de solicitação.
  • 2
    Sumariamente, cientometria é a ciência da análise do progresso científico (Silva & Bianchi, 2001Silva, J.A. & Bianchi, M.L.P. (2001) Cientometria: a métrica da ciência. Paidéia, 11(21), pp. 5-10. doi
    doi...
    ), enquanto a bibliometria pode ser compreendida como estatística de unidades bibliográficas (Broadus, 1987Broadus, R. (1987) Toward a definition of “bibliometrics”. Scientometrics, 12(5-6), pp. 373-379. doi
    doi...
    ). Adiante, detalharemos estes conceitos.
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    Apenas um curso foi excluído nesta fase: Administração Pública-UNICAMP.
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    O banco de dados e os cálculos realizados estão disponíveis no repositório eletrônico KAGGLE no seguinte link de acesso: https://www.kaggle.com/datarepository/campo-de-publicas-rede-geral
  • 5
    Salvo quando apontado, todas as informações sobre as estatísticas de rede foram extraídas de Degenne & Forsé (1999), Newman (2010), Higgins & Ribeiro (2018)Higgins, S.S. & Ribeiro, A.C.A. (2018) Análise de redes em Ciências Sociais. Brasília: Enap..
  • 6
    Disciplinas eletivas são as que o discente frequenta em outros cursos e que podem ser aproveitadas na integralização curricular. Disciplinas optativas pertencem à grade curricular do próprio curso. Nossa análise foca apenas nas optativas e obrigatórias, devido à inviabilidade de análise das eletivas, pertencentes a PPCs que não compõem o Campo de Públicas.
  • 7
    Para uma visão geral das características de cada curso, ver anexos e bancos de dados disponibilizados no repositório KAGLLE: https://www.kaggle.com/datarepository/campo-de-publicas-rede-geral. Nele, apresentamos a lista das principais relações entre PPC de cada curso e autores a partir do peso de aresta.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    05 Out 2020
  • Aceito
    15 Jun 2021
  • Revisado
    02 Out 2021
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