Acessibilidade / Reportar erro

Editorial: Revista de Sociologia e Política, 30 anos depois

I. Introdução

Em 2023 a Revista de Sociologia e Política completa 30 anos de publicação ininterrupta. Neste editorial, apresentamos a reformulação pela qual a Revista de Sociologia e Política passou entre os anos de 2021 e 2023 depois da pior crise de financiamento público da ciência durante o governo Bolsonaro (2019-2022). Essas mudanças são resultado da ausência completa de recursos para a manutenção do periódico, mas também de uma reorganização nos processos de gestão interna da Revista. Em 2021, apesar de termos recebido recursos irrisórios do CNPq (1/20 do orçamento total do periódico), eles nunca foram executados. Em 2023 o CNPq aportou 20% dos recursos necessários para cobrir o mínimo de despesas com os trabalhos usuais de revisão, diagramação, tradução etc. Apesar da alta classificação da Revista de Sociologia e Política no ranking Qualis CAPES (A1), nunca pudemos contar, exceto em alguns momentos muito raros nesses três decênios, com financiamento e apoio da Universidade Federal do Paraná. Sua filiação à UFPR é assim muito mais afetiva do que efetiva.

Em função da crise no sistema nacional de apoio aos periódicos e da consequente perda de pontualidade da Revista de Sociologia e Política em 2021, foram feitas algumas mudanças seja na estratégia e no formato de captação de recursos, seja na administração do periódico. A reformulação da comunicação através das redes sociais da Revista ainda está em curso e deverá estar completa em 2024. A renovação do Comitê Editorial e a profissionalização da gestão, com a contratação de uma Secretária Executiva em tempo integral, representou uma grande (r)evolução no processo de arbitragem e produção editorial dos artigos submetidos como os dados adiante demonstrarão. Em 2023 criamos uma nova seção chamada “Poder Legislativo”. Mas a inovação mais ambiciosa foi a criação do Instituto pela Comunicação Científica (IpeCC), a figura jurídica à frente da Revista de Sociologia e Política.

II. A criação do Instituto pela Comunicação Científica (IpeCC)

A Revista de Sociologia e Política permite acesso aberto a todo o seu conteúdo através do Portal de Periódicos SciELO (Scientific Electronic Library Online) de acordo com o princípio de que tornar públicos resultados das pesquisas científicas gera maior intercâmbio global de conhecimento. Isso é especialmente importante para pesquisadores(as) de instituições com menos recursos para manter subscrições e para países em desenvolvimento. Igualmente, não só promove o alcance dos trabalhos, aumentando, portanto, sua circulação e seu impacto na comunidade, mas permite avançar o conhecimento científico mais rapidamente. Cada vez mais agências de financiamento exigem que os resultados das pesquisas que financiam sejam disponibilizados em acesso aberto, garantindo que o investimento público em pesquisa beneficie a sociedade como um todo. O acesso aberto vai além de facilitar a leitura de artigos. é fundamental para uma ciência mais colaborativa, transparente e acessível.

Assim como o acesso aberto ao conteúdo publicado pelo periódico, a publicação de artigos na Revista de Sociologia e Política também é gratuita e pretendemos que continue assim até quando for possível. Embora importante para divulgação ampla das pesquisas, há um alto custo para a manutenção do periódico, visto que profissionais responsáveis pela gestão das quase 100 (cem) submissões ao ano, pela revisão ortográfica e gramatical, padronização de títulos, resumos e palavras-chave, pelas traduções e diagramação dos manuscritos, pela normalização de referências e preparação dos textos para marcação em XML, dentre outros serviços, precisam ser remunerados.

Para garantir a sustentabilidade financeira da Revista de Sociologia e Política, criamos em dezembro de 2021 uma associação civil sem fins lucrativos - o Instituto pela Comunicação Científica (IpeCC) -, sediada em Curitiba. O Instituto, além de gerir a Revista e captar recursos de múltiplas fontes, assumiu em 2022 iniciativas de formação técnica para o aperfeiçoamento da redação científica na área de Ciência Política, a área foco do periódico.

O IpeCC (https://www.sociologiaepolitica.com.br/instituto) conta com um conselho fiscal e um conselho consultivo eleito por assembleia para um período de dois anos, renováveis por mais dois. A gestão é feita por cinco diretorias: administrativa; relacionamento e captação de recursos; comunicação; social; cursos e treinamentos. Elas são responsáveis pelos projetos e iniciativas do Instituto.

As estratégias de captação de recursos em 2022 assumiram diversos formatos. Entre eles estão a realização de alguns cursos pagos e de interesse da comunidade científica, campanhas de doação espontânea através de plataformas de financiamento coletivo e busca por patrocínios privados. Cogitamos o pagamento voluntário de taxa de processamento de artigos (APC - article processing charge), vislumbrada pela Revista de Sociologia e Política como uma forma de arrecadar o valor médio necessário para a publicação de um artigo no periódico, que atualmente gira em torno de R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais). A medida ainda não foi posta em prática e divulgada, visto que essa taxa, ainda que voluntária e solicitada apenas a pesquisadores(as) seniores com bolsa PQ do CNPq e taxa de bancada, pode vir a inibir a submissão de artigos.

No primeiro semestre de 2022 realizamos um curso de redação de artigos de pesquisa com editores(as) dos principais periódicos da área no Brasil: Dados (Luiz Augusto Campos), Política Hoje (Dalson Figueiredo), Revista Brasileira de Ciências Sociais (Vanessa Elias de Oliveira), Brazilian Political Science Review (Adrián Lavalle), além de uma aula complementar sobre técnicas de redação de títulos, resumos e palavras-chave com o editor da própria Revista de Sociologia e Política (Adriano Codato). No segundo semestre, oferecemos um workshop sobre como fazer revisão de literatura, como fazer levantamento bibliográfico a partir de fontes de informação eletrônicas (com Cristiane Sinimbu Sanchez) e uma mentoria para atendimento de dúvidas e direcionamento prático para a construção de revisões de literatura (com Evelise Zampier da Silva e Rodrigo Silva, da própria Revista de Sociologia e Política). Os cursos alcançaram mais de 150 inscritos.

III. A renovação do Comitê Editorial

O comitê editorial também passou por mudanças significativas nos últimos dois anos. Além de novos editores e editoras passarem a integrar o periódico, houve uma reformulação em sua estrutura com a implementação da função de editor(a) assistente para cada seção da Revista. Eles e elas são responsáveis por auxiliar os editores(as) executivos(as) no processo de arbitragem dos manuscritos. Essa função tem também uma dimensão formativa, já que pode proporcionar experiência em revistas científicas a pesquisadore(as) em início de carreira, ao vinculá-los(as) a editores(as) mais experientes.

O comitê passou a ser formado pelas seguintes pessoas: editores fundadores: Adriano Codato, Paulo Roberto Neves Costa e Renato Perissinotto; editor-chefe: Adriano Codato; editor-adjunto: Rodrigo Silva; editores-executivos e assistentes: da seção Artigos Originais: Paulo Roberto Neves Costa e Bruno Fernando da Silva; da seção Balanços Bibliográficos: Augusto Clemente e Nilton Sainz; da seção Governança e Políticas Públicas: Natália Sátyro, Vanessa Elias de Oliveira e Rodrigo da Silva; e da nova seção Poder Legislativo: Adriano Codato e Roberta Picussa. Na avaliação preliminar dos manuscritos (desk review): Bruno Bolognesi e Renato Perissinotto. E por fim na Secretaria-Executiva: Gabryela Gabriel.

IV. A nova seção de Poder Legislativo

Outra novidade da Revista de Sociologia e Política é a nova seção Poder Legislativo. A seção foi criada no final do ano de 2022. Pretendemos contemplar com maior atenção o papel do Legislativo no sistema político brasileiro. Embora ainda não possua artigos publicados até o momento (início de novembro de 2023), temos quatro artigos sendo arbitrados.

O objetivo da seção é publicar artigos científicos sobre o Legislativo, privilegiando pesquisas que enfoquem em especial as esferas municipal e estadual. Pretendemos ampliar a gama de estudos sobre o Parlamento brasileiro além do Congresso Nacional, incentivando a exploração das dinâmicas políticas das câmaras municipais e assembleias estaduais brasileiras.

Estamos interessados em pesquisas empíricas sobre a composição e o funcionamento das Casas Legislativas, bem como nas relações desse Poder com os Poderes Executivo e Judiciário, as conexões entre os legisladores e os eleitores, as disputas eleitorais e a influência dos partidos na dinâmica das candidaturas, os processos políticos (e não os estritamente legais) envolvidos nas proposições legislativas e na fiscalização parlamentar dos orçamentos públicos.

Assim como já existe na seção Governança e Políticas Públicas, decidimos adotar, além do abstract tradicional (no formato introdução, materiais e métodos, resultados e discussão), um “Sumário Executivo” de uma página para divulgação dos principais achados da pesquisa contendo uma versão sintética dos resultados do artigo. Este sumário, para tornar mais direta a comunicação científica, adota a seguinte estrutura: 1) Contexto da pesquisa (o problema teórico e empírico); 2) Evidências anteriores ao estudo (o que já se sabia); 3) Valor agregado deste estudo (o que passamos a saber); e 4) Implicações analíticas e, em especial, práticas das evidências encontradas. Espera-se aqui um texto sucinto visando tanto o público acadêmico, como os próprios agentes políticos.

V. Adoção dos Preprints e do CRediT

A partir de 2024 anunciaremos a adoção da possiblidade de publicação dos manuscritos submetidos à Revista de Sociologia e Política em preprint, de preferência na plataforma SciELO Preprints (https://preprints.scielo.org/index.php/scielo) e do CRediT.

V.1 Preprints e ciência aberta

Um preprint é uma versão de um artigo científico antes da sua revisão por pares e publicação em um periódico científico. Ele pode ser disponibilizado antes ou durante o processo de submissão do manuscrito a um periódico.

Preprints são conhecidos no mundo científico há duas décadas. Uma das plataformas de preprint mais reconhecidas é o arXiv, um repositório de textos não arbitrados em Física, Ciência da Computação e Matemática lançado em 1991. Basicamente, o preprint de um texto permite acelerar o compartilhamento do conhecimento com a comunidade e obter críticas antes mesmo da submissão formal a um periódico ou da sua aprovação, que pode ser muito lenta. A rapidez é uma exigência em campos em que as descobertas e aplicações avançam rapidamente ou onde a urgência de respostas é crucial, como em certas áreas da Saúde. Ele também funciona como um registro de prioridade científica em determinado tópico. Como são em geral acessíveis sem taxas, promovem um acesso mais equânime à literatura científica.

O desenvolvimento das práticas de ciência aberta e do acesso aberto tem feito com que os preprints sejam hoje uma parte fundamental do ecossistema de comunicação científica. Há pontos importantes em contrário, tais como a falta da qualidade assegurada pela revisão por pares, a divulgação precoce de resultados errados ou com baixa validade, ou a revelação da autoria, comprometendo assim o caráter anônimo da arbitragem. Ainda que os “autores permaneçam sem conhecer a identidade de seus avaliadores, estes poderão […] acessar a autoria do trabalho avaliado. Não sabemos, portanto, se essa avaliação atenderá parâmetros mínimos de ética científica ou se ela afetará a imparcialidade da avaliação” (Campos, 2021Campos, L.A. (2021) O que são preprints. Blog DADOS. Disponível em: <http://dados.iesp.uerj.br/o-que-sao-preprints/>. Acesso em: 6 de nov. 2023.
http://dados.iesp.uerj.br/o-que-sao-prep...
).

A Revista de Sociologia e Política contudo reconhece mais vantagens do que desvantagens nesta inovação.

V.2 Atribuição de autoria e papeis na pesquisa

O CRediT (Contributor Roles Taxonomy) author statement é uma taxonomia padronizada para discriminar as contribuições individuais de cada autor em um trabalho acadêmico com vários participantes. Desenvolvido inicialmente pelo grupo de trabalho CASRAI (Consortia Advancing Standards in Research Administration Information), em colaboração com o NISO (National Information Standards Organization), o CRediT foi adotado pela primeira vez pela revista Nature em 2014.

O CRediT oferece um método para atribuir claramente o crédito ao trabalho individual, detalhando a contribuição exata de cada autor ou autora em um artigo científico. Seu uso pode reduzir conflitos autorais, pois os papéis são definidos e acordados no início do processo de publicação. Editores podem avaliar o trabalho mais eficazmente, entendendo quem contribuiu com quais aspectos da pesquisa. Isso tende a resguardar a integridade acadêmica e prevenir a autoria honorária ou fantasma. Além disso, a padronização das declarações de contribuição nas publicações facilita a compreensão de como disciplinas ou áreas de pesquisa diferentes lidam com coautoria.

No processo de submissão de um artigo, autores(as) serão solicitados a fornecer uma declaração onde cada tarefa listada na taxonomia CRediT é atribuída conforme a realização de determinada tarefa que pode ser a concepção da ideia ou desenho original da pesquisa, desenvolvimento da metodologia ou criação de modelos analíticos, programação ou desenvolvimento de software, verificação da produtibilidade global dos resultados ou dos experimentos, análises estatísticas, matemáticas ou computacionais, curadoria de dados, redação do manuscrito em suas diversas fases, orientação, supervisão e liderança da equipe, levantamento de fundos etc. Essa declaração normalmente é publicada junto com o artigo final, fornecendo um registro transparente e detalhado das contribuições de cada autor.

VI. Estatísticas do periódico nos últimos três anos

Nesta seção listamos as estatísticas da Revista de Sociologia e Política entre 2021 e 2023 a fim de estimar o impacto das mudanças organizacionais no periódico.

VI.1 O gênero dos autores e o predomínio masculino

A Figura 1 mostra uma leve melhoria na representação de autoras mulheres na Revista de Sociologia e Política de 2021 para 2022, aumentando de 20% para 24,5%. No entanto, a representação se manteve estável em 24,5% em 2023. Embora haja um aumento pequeno, as mulheres ainda estão muito sub-representadas na Sociologia e Política, com os homens representando três quartos dos autores em 2022 e 2023.

Figura 1
Distribuição de autores e autoras por gênero nos últimos três anos (%)

é amplamente reconhecido que existem desigualdades de gênero em muitas áreas científicas. As Ciências Sociais não são exceção, ainda que haja maior equilíbrio na Antropologia e Sociologia do que na Ciência Política. Dados de Candido, Feres Júnior e Campos sobre o gênero dos docentes dos Programas de Pós-Graduação em 2017 mostraram que a divisão na Ciência Política era de 33% a 67% em prejuízo das mulheres (Candido et al., 2019Candido, M.R., Feres, J. & Campos, L.A. (2019) Desigualdades na elite da Ciência Política brasileira. Civitas: Revista de Ciências Sociais, 19(3), pp. 564-582. DOI
DOI...
). A mesma situação pode também ser encontrada na América Latina (Rocha Carpiuc, 2016Rocha Carpiuc, C. (2016) Women and diversity in Latin American political science. European Political Science, 15(4), pp. 457-475. DOI
DOI...
). Um achado importante neste tópico é que um levantamento sistemático da produção em periódicos no Brasil compreendendo mais de 2 mil artigos revelou que não apenas homens eram a maioria dos primeiros autores em quaisquer temáticas de Ciência Política, mas eram maioria também em estudos sobre feminismo (Candido et al., 2021Candido, M.R., Campos, L.A. & Feres, J. (2021) The gendered division of labor in Brazilian political science journals. Brazilian Political Science Review, 15(3), e0002, pp. 1-30. DOI
DOI...
).

Há diversas barreiras estruturais que podem afetar a representação de mulheres, incluindo preconceitos conscientes ou inconscientes, falta de modelos femininos e desequilíbrios na divisão de responsabilidades domésticas e de cuidado. Pode haver uma cultura dentro da área de Ciência Política que favorece a publicação de homens sobre mulheres que precisa ser verificada. Mulheres podem tanto enfrentar mais desafios para terem seus trabalhos aceitos quanto podem ser menos incentivadas a submeter. Dependendo dos tópicos que a Sociologia e Política prioriza, pode haver uma tendência para que mais homens ou mulheres publiquem. Se os tópicos favorecerem áreas dominadas por homens, isso pode resultar em mais publicações de autores masculinos. Este é um tópico que nos dedicaremos a saber futuramente a partir de dados.

O pequeno aumento de 2021 para 2022 não necessariamente sugere algum esforço real para abordar a desigualdade de gênero, seja pela Revista em si ou pela comunidade acadêmica mais ampla. Embora a representação de mulheres tenha aumentado ligeiramente, ainda há muito espaço para melhorias. Para aumentar a igualdade de gênero nas publicações, seria essencial adotar práticas como revisão por pares cega por gênero e iniciativas específicas para apoiar pesquisadoras mulheres.

VI.2 Origem geográfica dos autores

Os dados destacam uma forte representação de autores vinculados a instituições brasileiras na Revista de Sociologia e Política.

A Tabela 1 mostra a predominância significativa de contribuições do Brasil, com um crescimento contínuo no número de autores ao longo desse período de três anos. Em 2021, foram 72% de autores de instituições brasileiras ou 18 autores de 25. Em 2022 foram publicados 24 artigos sendo 40 vinculados a instituições no Brasil contra 49 do total (82%). Em 2023 a taxa subiu em relação ao ano anterior, 44 autores em 50 ou 88%. Este dado indica a presença robusta e crescente da pesquisa brasileira na Revista. Por outro lado, indica que é preciso fazer esforço para internacionalizar a produção publicada.

Tabela 1
Distribuição de autores por país da instituição nos últimos três anos (2021 a 2023)

Outros países têm uma participação mais esporádica e menos expressiva. Os Estados Unidos apresentaram um aumento de publicações em 2023 em relação a 2022 (três artigos), indicando um possível interesse da comunidade acadêmica norte-americana na Revista. Países europeus como Espanha e Portugal também aparecem na tabela, embora com contribuições modestas. Interessante notar a presença isolada de países como Indonésia e Polônia, sugerindo que o periódico pode alcançar um público internacional diversificado.

Quanto à distribuição regional no Brasil, a Tabela 2 reflete a alta concentração de publicações nas regiões Sudeste e Sul. Em 2021, o Sudeste liderou com 12 autores (67%), seguido pelo Sul com 6 (33%). Este padrão se mantém em 2022 e 2023, com um crescimento progressivo de publicações nessas regiões, alcançando 24 no Sudeste e 7 no Sul em 2023.

As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste não publicaram em 2021, o ano mais atípico da nossa série histórica. Destaque-se o crescimento do Centro-Oeste de 5 para 10 autores entre 2022 e 2023 (respectivamente, 13% e 23% do total). No entanto, essas regiões ainda têm uma participação reduzida em comparação com o Sudeste, apesar da região ter encolhido de 67% para 55%. O Sul diminuiu à metade sua presença neste intervalo de tempo.

A concentração de publicações nas regiões Sudeste reflete a distribuição desigual de recursos e de infraestrutura de pesquisa no país, além do maior número de cursos de pós-graduação de Ciência Política na região (Fernandes et al., 2019Fernandes, L.M.R., Codato, A.N. & Moreira, W. de S. (2019) Documento de área: Ciência Política e relações internacionais. Brasília: CAPES. Disponível em: <https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/ciencia-politica-rel-internacionais-pdf/view>. Acesso em: 13 de jan. 2020.
https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-...
).Veja a Figura 2.

Figura 2
Distribuição de autores de instituições brasileiras por região nos últimos três anos (2021 a 2023)

Estes dados podem servir de estímulo para políticas editoriais que visem uma maior inclusão de pesquisadores de diversas geografias, aumentando o caráter internacional e inter-regional da Revista.

VI.3 O trabalho editorial da Revista de Sociologia e Política

A Tabela 2 refere-se ao tempo, em dias, desde a submissão até a decisão favorável à aprovação do artigo tomada pelos editores (seja para uma revisão menor ou mais profunda do manuscrito).

Tabela 2
Tempo em dias desde a submissão até decisões favoráveis tomadas pelos editores (minor ou major revision)

Observa-se uma diminuição notável no tempo mínimo de publicação ao longo dos anos: de 240 dias em 2021 para 94 dias em 2022, e ainda mais para 58 dias, isto é, menos de dois meses em 2023 contra 8 em 2021. Esta tendência indica que a Revista tem sido capaz de tomar decisões mais rápidas em alguns manuscritos ao longo do tempo.

Em 2021, o tempo máximo era de 424 dias. Este valor aumentou drasticamente para 738 dias (ou dois anos) em 2022, mas depois diminuiu para 309 dias em 2023. O pico em 2022 sugere que houve manuscritos que levaram um tempo excepcionalmente longo para receber uma decisão naquele ano fruto da crise financeira e de gestão herdada de 2021. 10 meses ainda é um tempo excessivo e nosso projeto é diminuir esse tempo a 6 meses.

O tempo médio mostrou uma tendência geral de diminuição. Passou de 311,3 dias em 2021 para 298,7 dias em 2022 e caiu consideravelmente para 177,8 dias em 2023. A mediana seguiu uma tendência similar ao tempo médio, caindo de 289,5 dias em 2021 para 247 dias em 2022 e 166,5 dias em 2023. Em outras palavras, em 2023 a Sociologia e Política levou, conforme mostram sua média e mediana, entre 5 e 6 meses para emitir uma decisão favorável à publicação de artigos. As duas últimas colunas calculam a redução do tempo de tramitação de um ano para o outro imediatamente anterior mostrando o esforço feito na reordenação dos procedimentos do periódico. Os dados mostram que, apesar de um aumento no tempo máximo de decisão em 2022, houve uma melhoria geral na eficiência das decisões editoriais favoráveis ao longo dos três anos.

A redução no tempo em 2023 sugere a implementação de processos mais eficientes de revisão e tomada de decisão. Ele está ligado à melhor coordenação entre editores e revisores, mas principalmente às editorias compartilhadas das seções da Revista e à secretaria-executiva em tempo integral. Ele é um fator decisivo para aumentar o fator de impacto do periódico. A redução no prazo de avaliação dos manuscritos foi fundamental para a Diabetology & Metabolic Syndrome, um periódico brasileiro com FI 2,35 (dados de 2017), subir nesse ranking reduzindo de 100 para 45 dias a primeira resposta aos autores (Marques, 2018).

A Tabela 3 mede o tempo decorrido em dias desde a submissão até a aceitação do manuscrito, isto é, o período que envolve a submissão e a ressubmissão por parte dos autores com os ajustes solicitados pelos pareceristas até sua aprovação final. Em seguida, a Tabela 4 apresenta o tempo em dias desde a primeira submissão até a publicação do artigo na plataforma SciELO.

Tabela 3
Tempo em dias desde a submissão até a aprovação final do manuscrito

Observa-se uma tendência clara de diminuição do tempo mínimo na Tabela 3. Em 2021, o tempo mínimo foi de 255 dias, reduzindo para 135 dias em 2022 e ainda mais para 93 dias em 2023 (ou seja, três meses). Isto indica uma eficiência crescente no processo de revisão e aprovação dos manuscritos.

Em 2021, o tempo máximo era de 539 dias. Este valor aumentou para 868 dias (mais de dois anos) em 2022, mas depois reduziu para 452 dias em 2023, além do 1 ano, o que é indesejável.

O tempo médio subiu ligeiramente de 377,5 dias em 2021 para 405,5 dias em 2022, mas viu uma grande queda para 239,9 dias em 2023. Nossa meta é ficar sempre abaixo de 1 ano na média entre a submissão e a publicação do manuscrito.

A mediana também mostra uma tendência decrescente, passando de 363,5 em 2021 para 379,5 em 2022, e finalmente para 223 dias em 2023. A coluna das diferenças nessas medidas entre 2023 em relação a 2022 atesta o esforço feito neste ano.

O tempo desde a submissão até a publicação na SciELO também caiu de 2021 para 2023 (Tabela 4).

Houve uma redução contínua do tempo mínimo de 381 dias em 2021 para 258 dias em 2022, e para 195 dias em 2023. Enquanto o tempo máximo aumentou de 914 dias em 2021 para 1106 dias em 2022 (mais de três anos), reduziu-se significativamente para 657 dias em 2023, embora ainda muito alto, quase dois anos. Similarmente, o tempo médio passou de 647,5 dias em 2021 para 633,8 dias em 2022, e depois reduziu substancialmente para 392,9 dias em 2023. A mediana também seguiu um padrão semelhante, reduzindo-se gradualmente de 674,5 dias em 2021 para 591 dias em 2022, e 364 dias em 2023.

Tabela 4
Tempo em dias desde a submissão até a publicação no SciELO

Como se verifica com base nos dados, o processo de revisão, aprovação e publicação de manuscritos na Revista de Sociologia e Política tornou-se mais eficiente ao longo desses três anos, com tempos de revisão e publicação diminuindo significativamente. O aumento no tempo máximo em 2022 em ambas as tabelas indica que, embora a Revista tenha começado a já fazer mudanças para melhorar a eficiência em 2022, os desafios acumulados e abordados nesse ano só foram superados em 2023.

A Tabela 5 conta a história resumida das decisões tomadas pelos editores.

Tabela 5
Decisões tomadas pelos editores nos últimos três anos (2021 a 2023)

Os artigos recusados preliminarmente consistem em submissões que não passaram pela primeira avaliação de adequação ao perfil editorial de Sociologia e Política. Observa-se uma leve queda no percentual de recusas preliminares de 2021 para 2022 e um ligeiro aumento em 2023, mas a taxa geral permanece alta em comparação com outras decisões. Os valores dos três últimos anos estão mais baixos que a média entre 2013 e 2015 (54%) e de 2016 e 2017 (66%) (Massimo & Codato, 2016Massimo, L. & Codato, A. (2016) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 24(58), pp. 3-11. DOI
DOI...
; Massimo et al., 2018Massimo, L., Roeder, K.M. & Franz, P. (2018) Editorial: desempenho do comitê editorial em 2017, ORCID e IMRAD. Revista de Sociologia e Política, 26(66), pp. 1-6. DOI
DOI...
).

Reprovado com pareceres refere-se aos artigos que foram avaliados por pares e não atenderam aos padrões exigidos pelos revisores. Houve uma queda considerável neste percentual de 2021 para 2023, o que poderia indicar um aumento na qualidade das submissões (ou uma avaliação menos rigorosa). De toda forma, vários manuscritos de 2023 ainda estão em processo de arbitragem e essa tendência poderá mudar.

Em “Aprovação condicionada à revisão”, há uma tendência estável nesta categoria, com uma ligeira alta em 2022. Isso pode refletir um equilíbrio na qualidade dos artigos submetidos que precisam de pequenas revisões antes de serem aceitos. Em todos os três anos, nenhum artigo foi aprovado diretamente sem necessidade de revisão, o que indica um alto padrão de qualidade e rigor na avaliação.

Em conclusão, a Revista de Sociologia e Política tem mantido um padrão relativamente rigoroso de avaliação das submissões ao longo dos anos.

A Tabela 6 detalha o tempo dispensado para a tomada de decisão editorial sobre os manuscritos. Podem ser observadas várias tendências e padrões significativos.

Tabela 6
Tempo em dias dispensado na tomada de decisão sobre os manuscritos submetidos (2021-2023)

Primeiramente, é notável uma redução geral no tempo médio e na mediana para todas as categorias de decisão ao longo dos três anos. Este é um indicativo de um processo editorial mais eficiente.

Em 2021, a decisão de “Aprovação condicionada à revisão” apresentou o tempo mais prolongado, tanto mínimo quanto máximo, sugerindo uma maior variabilidade no processo de revisão. A mediana, que é menos sensível a valores extremos, e a média estavam próximas (208 e 255 dias, respectivamente), indicando uma distribuição relativamente simétrica dos tempos de decisão em torno de um ponto central.

No ano de 2022, observa-se uma melhora significativa, com a redução acentuada nos tempos mínimos e máximos para a recusa preliminar e para a reprovação com pareceres. Apesar disso, a categoria “Reprovado com pareceres” mostrou uma mediana (178 dias) maior que a média (175 dias), o que pode sugerir uma distribuição assimétrica com uma cauda mais longa para tempos de decisão mais altos.

Para 2023, os dados devem ser interpretados com cautela, pois incluem apenas os artigos que já tiveram alguma decisão e excluem aqueles ainda em análise. Mesmo com essa ressalva, a tendência de redução nos tempos de decisão continua evidente. Os tempos médios e medianos são menores em todas as categorias quando comparados aos anos anteriores, destacando-se a decisão de recusa preliminar, com uma média de apenas 6 dias e uma mediana de 5 dias.

A Figura 3 sintetiza o tempo decorrido médio dos três tipos de decisão.

Figura 3
Diminuição das médias em dias das principais decisões da editoria da Revista de Sociologia e Política para os três anos considerados (2021, 2022 e 2023)

Os resultados são promissores e refletem uma série de melhorias operacionais adotadas pelo periódico mencionadas neste editorial. No que se refere à média em dias das recusas preliminares, em 2021 a Revista de Sociologia e Política levava aproximadamente 2 meses para rejeitar um manuscrito em desk review. Durante o ano de 2022 a média de tempo caiu para 1 mês; enquanto no ano seguinte, em 2023, os editores da Sociologia e Política passaram a levar, em média, menos de uma semana para tomar esta decisão.

Ao observarmos o tempo decorrido para que os manuscritos tenham sido rejeitados após pareceres nos últimos três anos, também é possível notar uma evolução. Enquanto em 2021 e em 2022 a Revista demorava 7 meses e 6 meses, respectivamente, apenas para rejeitar um manuscrito, em 2023 o prazo médio para recusar um artigo com pareceres caiu para pouco mais de 3 meses.

Ainda, a Figura 3 também nos mostra uma queda no tempo que os editores da Sociologia e Política levam para aprovar um artigo com pareceres. Em 2021 o tempo médio era de pouco mais de 8 meses. Durante o ano de 2022 já foi possível observar um avanço, visto que houve uma redução de 60 dias comparada ao ano anterior. Em outra palavras, o tempo médio em 2022 caiu para pouco mais de 6 meses. Já em 2023 a Revista levou aproximadamente 4 meses para aprovar um artigo após pareceres.

Por fim, esses dados são cruciais não apenas para os editores e revisores, mas também para autores que buscam entender o tempo de processo editorial. A transparência nesses números pode ajudar autores a definir expectativas realistas e planejar suas submissões de acordo com os cronogramas da revista.

Referências

  • Campos, L.A. (2021) O que são preprints. Blog DADOS Disponível em: <http://dados.iesp.uerj.br/o-que-sao-preprints/>. Acesso em: 6 de nov. 2023.
    » http://dados.iesp.uerj.br/o-que-sao-preprints/
  • Candido, M.R., Campos, L.A. & Feres, J. (2021) The gendered division of labor in Brazilian political science journals. Brazilian Political Science Review, 15(3), e0002, pp. 1-30. DOI
    » DOI
  • Candido, M.R., Feres, J. & Campos, L.A. (2019) Desigualdades na elite da Ciência Política brasileira. Civitas: Revista de Ciências Sociais, 19(3), pp. 564-582. DOI
    » DOI
  • Fernandes, L.M.R., Codato, A.N. & Moreira, W. de S. (2019) Documento de área: Ciência Política e relações internacionais Brasília: CAPES. Disponível em: <https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/ciencia-politica-rel-internacionais-pdf/view>. Acesso em: 13 de jan. 2020.
    » https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/ciencia-politica-rel-internacionais-pdf/view
  • Massimo, L. & Codato, A. (2016) Editorial. Revista de Sociologia e Política, 24(58), pp. 3-11. DOI
    » DOI
  • Massimo, L., Roeder, K.M. & Franz, P. (2018) Editorial: desempenho do comitê editorial em 2017, ORCID e IMRAD. Revista de Sociologia e Política, 26(66), pp. 1-6. DOI
    » DOI
  • Rocha Carpiuc, C. (2016) Women and diversity in Latin American political science. European Political Science, 15(4), pp. 457-475. DOI
    » DOI

Outras fontes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    21 Out 2023
  • Aceito
    07 Nov 2023
Universidade Federal do Paraná Rua General Carneiro, 460 - sala 904, 80060-150 Curitiba PR - Brasil, Tel./Fax: (55 41) 3360-5320 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: editoriarsp@gmail.com