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Estudo comparativo entre nível de desconforto e reflexo acústico em trabalhadores

Resumos

TEMA: estudo comparativo do nível do desconforto e do limiar do reflexo acústico em trabalhadores. OBJETIVO: observar o comportamento auditivo por meio da avaliação da atividade da contração do músculo estapédio e do nível de desconforto em pessoas expostas e não expostas a ruído ocupacional, com intuito de identificar alguma influencia do ruído no comportamento da contração do músculo estapédio e na sensibilidade auditiva. MÉTODO: o estudo foi desenvolvido no Serviço Social da Indústria - SESI Ceará. Foram selecionados 103 adultos com audição normal, de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 45 anos distribuídos em três grupos: G1 com 41 adultos expostos a ruído que utilizavam EPIA, G2 com 32 adultos expostos a ruído que não utilizavam EPIA e G3 composto por 30 adultos não expostos. Os indivíduos foram submetidos à avaliação audiológica, tendo sido analisado o LRA e ND nas freqüências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz e WN. A análise estatística foi realizada por meio dos testes de Mann Whitney, Wilcoxon e Kruskal com nível de significância em 5%. RESULTADOS: não houve diferença estatística significante entre os LRA obtidos nos três grupos, com valores médios de 93 a 103dBNA; o LRA foi significantemente menor que o ND, tendo valores médios para ND variando de 111 a 119dBNA no G1, de 113 a 120dBNA no G2 e 106 a 114dBNA no G3; o ND é maior nos indivíduos do grupo G1 seguidos pelos grupos G2 e G3. CONCLUSÕES: o ruído não determina alterações no comportamento do LRA; o ND é aumentado pela exposição ao ruído ocupacional; o ND é maior que o LRA de 10 a 25dB.

Reflexo Acústico; Audição; Limiar Auditivo


BACKGROUND: comparative study between the level of discomfort and the acoustic reflex in workers. AIM: to observe the hearing behavior, through the assessment of the contraction activity of thestapedius muscle and the level of discomfort, of individuals who are and are not exposed to occupationalnoise, with the aim of identifying the influence of noise in the behavior of the contraction of thestapedius muscle and in the sensibility of hearing. METHOD: this study was developed at the ServiçoSocial da Indústria - SESI - Ce. A hundred and three adults with normal hearing, male and female, withages varying from 18 to 45 years were divided in three groups: G1 with 41 adults exposed to noise andwho used AIPE; G2 with 32 adults exposed to noise and who did not use AIPE; G3 with 30 adults whowere not exposed to noise. Participants were submitted to audiologic evaluation, including the analysisof the acoustic reflex level (ARL) and discomfort level (DL) at the frequencies of 500 HZ, 1000Hz,2000Hz, 3000Hz, 4000Hz and WN. For the statistical analysis the tests of Mann Whitney, Wilcoxonand Kruskal, with significance levels of 5%, were used. RESULTS: no statistically significant differencewas identified for the ARL between the three groups, with mean values ranging from 93 to 103dBHL;the ARL was significantly smaller than the DL, with the mean values of DL varying from 111 to 119dBHL for G1, from 113 to 120dBHL for G2 and from 106 to 114dBHL for G3; the DL is higher inindividuals of G1 followed by individuals of G2 and G3. CONCLUSION: the exposure to noise does notdetermine changes in the behavior of the ARL; the DL rises with the exposure to occupational noise;the DL is higher than the ARL in 10 to 25dB.

Acoustic Reflex; Hearing; Hearing Threshold


ARTIGOS DE PESQUISA

Estudo comparativo entre nível de desconforto e reflexo acústico em trabalhadores* * Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.

Francisca Magnólia Diógenes Holanda BezerraI; Maria Cecília Martinelli IórioII

IFonoaudióloga. Mestre em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana: Campo Fonoudiológico. Docente do Curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza

IIFonoaudióloga. Doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana. Professor Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Francisca Magnólia Diógenes Holanda Bezerra Av. da Universidade, 3264 - Apto. 104 - Bloco 3 Fortaleza - Ceará - CEP: 60.0201-81 ( magnoliadiogenes@unifor.br).

RESUMO

TEMA: estudo comparativo do nível do desconforto e do limiar do reflexo acústico em trabalhadores.

OBJETIVO: observar o comportamento auditivo por meio da avaliação da atividade da contração do músculo estapédio e do nível de desconforto em pessoas expostas e não expostas a ruído ocupacional, com intuito de identificar alguma influencia do ruído no comportamento da contração do músculo estapédio e na sensibilidade auditiva.

MÉTODO: o estudo foi desenvolvido no Serviço Social da Indústria - SESI Ceará. Foram selecionados 103 adultos com audição normal, de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 45 anos distribuídos em três grupos: G1 com 41 adultos expostos a ruído que utilizavam EPIA, G2 com 32 adultos expostos a ruído que não utilizavam EPIA e G3 composto por 30 adultos não expostos. Os indivíduos foram submetidos à avaliação audiológica, tendo sido analisado o LRA e ND nas freqüências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz e WN. A análise estatística foi realizada por meio dos testes de Mann Whitney, Wilcoxon e Kruskal com nível de significância em 5%.

RESULTADOS: não houve diferença estatística significante entre os LRA obtidos nos três grupos, com valores médios de 93 a 103dBNA; o LRA foi significantemente menor que o ND, tendo valores médios para ND variando de 111 a 119dBNA no G1, de 113 a 120dBNA no G2 e 106 a 114dBNA no G3; o ND é maior nos indivíduos do grupo G1 seguidos pelos grupos G2 e G3.

CONCLUSÕES: o ruído não determina alterações no comportamento do LRA; o ND é aumentado pela exposição ao ruído ocupacional; o ND é maior que o LRA de 10 a 25dB.

Palavras-Chave: Reflexo Acústico; Audição; Limiar Auditivo

Introdução

A sensibilidade e a vulnerabilidade da cóclea a danos causados por ruído ocupacional tem levado vários pesquisadores, a estudar sobre a possibilidade em avaliar e/ou prever a susceptibilidade individual ou a resistência auditiva como forma de prevenção da perda auditiva sensorioneural por nível de pressão sonora elevada.

Musiek e Rintelmann (2001) relataram que o músculo do estapédio se contrai bilateralmente na presença de um som suficientemente forte. Esta contração causa um movimento da platina do estribo para dentro e para fora da janela oval. Esta ação limita a movimentação dos ossiculos e atenua a vibração da platina do estribo, reduzindo, assim, a movimentação dos líquidos da orelha interna. O reflexo acústico tem, portanto, a função de proteger a orelha interna de níveis de pressão sonora elevados .

O limiar do reflexo acústico (LRA) é a menor intensidade do estímulo sonoro, que causa uma mudança da compliância da orelha média. Segundo Katz (1999) os níveis de intensidade necessários para desencadear o reflexo acústico em indivíduos com audição normal são de 70 a 100dB acima do limiar auditivo, com valor médio para LRA com estímulo contralateral para tom puro de, aproximadamente, 85dBNA e 65dBNA para ruído de banda larga. O fato do LRA ser menor para o ruído de banda larga do que para tons puros, sugere que existe uma relação específica entre a largura da faixa de freqüências do estímulo e a proteção auditiva. Isso leva a supor que o ruído provoca um comportamento auditivo diferenciado dependendo do espectro de freqüências.

Outra medida importante quando estuda-se a audição dos indivíduos expostos a níveis de pressão sonora elevada é o nível de desconforto (ND),onde encontra-se em torno de 120dBNA em pessoas normais para um tom de 1000Hz. Segundo Katz (1999), a mensuração do ND é uma medida psicoacústica, que diz respeito ao maior nível de pressão sonora (NPS) que o sujeito percebe sem se incomodar. A literatura contém dados controversos e inconclusivos quanto à relação entre os ND e o LRA.

Uhles et al. (2000) relataram que o LRA tem pouca correlação com as medidas do nível desconfortável de sensação de intensidade para permitir uma previsão precisa do ND a partir do LRA. A variabilidade de concordância destas medidas depende da instrução usada para a medida do ND, do tipo de estimulo acústico usado e do grau de perda auditiva do paciente.

Kumar e Barman (2002) relataram que mesmo pacientes com audição normal ou com perda auditiva de grau leve poderão sofrer de hipersensibilidade a sons, contudo pesquisas recentes mostraram que o uso de geradores de som com ruído branco pode ajudar a abolir a hipersensibilidade a sons.

Esses treinamentos com geradores de som resultam em um reajuste permanente da sensação de intensidade, ocorrendo em poucos meses, uma dessensibilização auditiva elevando a área dinâmica da audição. Esta mudança pode ser comprovada por meio de medidas ND.

Indivíduos expostos a ruído ocupacional, estão sujeitos a mudanças nos níveis de desconforto por exposição contínua a níveis de pressão sonora elevado mesmo com limiares auditivos normais (Petrone, 1999). Por isso, faz-se necessário conhecer o agente físico ruído, a história do paciente exposto ao nível de pressão sonora elevada e seus efeitos no organismo.

O objetivo do presente estudo é observar o comportamento auditivo por meio da avaliação da atividade da contração do músculo estapédio e do ND em pessoas expostas e não expostas a ruído ocupacional, com intuito de identificar alguma influência do ruído no comportamento da contração do músculo estapédio e na sensibilidade auditiva.

Método

O estudo foi realizado no Serviço Social da Indústria SESI-CE e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo, sob o código CEP nº 0485/02, datado em 30 de maio de 2003. Os participantes foram esclarecidos antecipadamente sobre os procedimentos a serem realizados e, estando cientes e com o seu devido consentimento, a pesquisa foi iniciada.

Para a composição da amostra, foram estabelecidos os seguintes critérios de elegibilidade: limiares auditivos bilaterais de até 25dBNA nas freqüências de 500 a 8000 Hz; curva timpanométrica do tipo An e reflexos acústicos presentes nas freqüências de 500 a 2000 Hz; exposição a ruído ocupacional do tipo contínuo, acima de 85dBNA, com jornada diária de trabalho de oito horas, por mais de três anos, usuários ou não de equipamento de proteção individual auricular (EPIA) do tipo plug ou concha e repouso acústico de no mínimo 14 horas.

Foram avaliados 73 indivíduos expostos a ruído ocupacional, que se enquadravam nos critérios de elegibilidade acima descritos, e outros 30 indivíduos com as mesmas características, exceto pela exposição a ruído ocupacional e que constituíram o grupo controle para permitir as comparações pretendidas no presente estudo.

Esta amostra de 103 indivíduos de ambos os sexos na faixa etária de 18 a 45 anos foi distribuída em três grupos: G1 composto por 41 adultos exposto a ruído que utilizavam o EPIA; G2 32 adultos expostos a ruído que não utilizavam EPIA e o G3 composto por 30 adultos não expostos a ruído acima de 85dB.

A avaliação foi iniciada com a inspeção do meato acústico externo (MAE) a fim de descartar presença de corpos estranhos ou a existência de excesso de cerume, os quais pudessem comprometer a realização dos testes propostos.

Em seguida foi realizada uma anamnese clínico ocupacional para investigar possíveis ocorrências passadas e/ou presentes de: otalgia, prurido, plenitude auricular, dificuldade em ouvir e/ou entender as pessoas falando, sensibilidade a sons de forte intensidade, presença de zumbido ou tontura. Verificou-se também se o indivíduo referia alguma alteração física ou emocional durante ou após a jornada de trabalho, antecedente hereditário, diabetes, hipertensão arterial, se havia exposições fora do ambiente de trabalho e/ou de outro tipo de agente responsável por alterações auditivas como: produtos químicos e uso de medicamentos ototóxicos.

A seguir foi realizada a pesquisa dos limiares de audibilidade por via aérea. O indivíduo foi posicionado em uma cabina acusticamente tratada de acordo com a norma ISO 8253.1, e após a colocação dos fones foram pesquisados os limiares de audibilidade, utilizando tons puros modulados em freqüência (warble), apresentados na seguinte ordem: 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz, 6000Hz, 8000Hz e 500Hz, com uso da técnica descendente descrita por Katz (1999).

Pesquisou-se o ND utilizando tons puros modulados, que foram apresentados de modo ascendente nas freqüências de 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz, 500Hz e ruído branco (WN) em intervalos de 5dB. Foi considerado como ND o primeiro nível de audição no qual o indivíduo referiu desconforto

Foi realizada a timpanometria utilizando o tom sonda de 226Hz e foram pesquisados os LRA no modo contralateral nas freqüências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz, 3000Hz, 4000Hz e WN.

Para a avaliação audiológica e a pesquisa do ND foi utilizado o audiômetro da marca Interacoustics modelo AC 40, com uso de fone TDH 39 (ANSI S3 1987) e para a realização da imitanciometria: timpanometria e a pesquisa do LRA, o imitanciômetro de marca Interacoustics modelo AZ 26 e fone TDH 39. Ambos os equipamentos (audiômetro e imitanciômetro), calibrados conforme a norma ANSI 1969.

No estudo comparativo entre duas populações os dados foram analisados por meio dos testes não paramétricos de Mann Whitney e Wilcoxon, e para o estudo de três populações por meio do teste de Kruskal Wallis. Estabeleceu-se o nível de significância em 5%.

Resultados

Estudo do reflexo acústico

O estudo do reflexo acústico é apresentado na Tabela 1.

Estudo do ND

O estudo do ND segundo a presença ou a ausência é apresentado na Tabela 2.

Na Tabela 3 são apresentadas as médias aritméticas do ND e respectivos desvios padrão por freqüência, para os lados direito e esquerdo, para os grupos G1, G2 e G3.

Estudo comparativo entre o reflexo acústico e o ND

Os limiares do reflexo e NDs médios foram comparados para cada um dos grupos e em seguida foram analisadas as diferenças entre os LRA e os ND. Os resultados são apresentados na Tabela 4.

Discussão

Discussão sobre o reflexo acústico

O estudo do limiar do reflexo acústico obtido nos três grupos revela valores médios variando de, aproximadamente, 93dBNA a 103dBNA não havendo diferença estatisticamente significante entre os grupos G1, G2 e G3 (Tabela 1).

De acordo com Meneguello et al. (2001) a média do reflexo acústico em indivíduos normais varia de 62 a 114dBNA; para Komasec et al. (2001) de 80 a 90dBNA; Olsen (1999) preconiza 85dBNA; Musiek e Rintelmann (2001) relatam que a média do reflexo acústico varia de 80 a 90dBNA para tom puro e para WN de 70 a 75dBNA diferindo em grande parte dos achados nos grupos estudados.

Desta forma, pode-se constatar que há uma pequena variação entre os achados dos estudos realizados em indivíduos com audição normal, revelando que as médias do LRA em valores absolutos podem variar (Musiek; Rintelmann, 2001). Para alguns autores, entretanto, é possível prever o limiar auditivo (LA) pelo LRA (Olsen, 1999).

Observa-se que independentemente do grupo estudado G1, G2 e G3 os maiores valores dos LRA ocorreram, sempre na freqüência de 4000Hz, o que pode ser comprovado pelos estudos de Pizarro e Pizarro (2000). Estes autores relataram que pessoas expostas a ruído podem alterar o reflexo acústico em 4000Hz, podendo esta freqüência estar alterada ou ausente, mesmo com a audiometria normal. Alguns autores descreveram que existe uma proteção auditiva como resultado da relação entre o LRA e a função do sistema coclear eferente (Dominguez et al., 2001).

Também verificou-se que os limiares médios obtidos com o sinal ativador WN não foram significativamente menores que os obtidos nas freqüências de 500, 1000, 2000 e 3000 Hz. Tais resultados discordam dos achados de alguns autores como Katz (1999) e Musiek e Rintelmann (2001), os quais descreveram que para desencadear o reflexo acústico com ruído de banda larga é necessário um estímulo de 20dBNA menos intenso do que seria utilizado com sinais ativadores de tons puros.

Os achados da presente pesquisa concordaram com os achados de Petrone (1999), que encontrou reflexos variando entre 90 a 93dBNA para o grupo de não expostos a ruído e de 100 a 118dBNA para os expostos. Conforme Carvallo e Soares (2004) estímulos de alta freqüência gera redução do limiar de reflexo acústico em pessoas com audição dentro dos limite da normalidade.

Discussão sobre o ND

Observou-se que na orelha direita houve diferença significante na incidência de pessoas que apresentaram desconforto em 1000, 2000 e 3000Hz considerando os grupos não expostos e expostos com e sem EPIA auricular. Pode-se constatar que a menor incidência de pessoas que apresentaram desconforto ocorreu nas três freqüências no grupo exposto sem EPIA. O mesmo ainda ocorreu na freqüência de 4000 Hz e WN, embora não sendo a diferença estatisticamente significante. Na orelha esquerda, observou-se comportamento semelhante sendo constatada diferença estatisticamente significante na incidência do desconforto nas freqüências de 1000, 2000, 3000Hz e WN. Somente na freqüência de 500Hz, o comportamento foi diferente nas duas orelhas testadas.

A partir das diferenças estatisticamente significantes constatadas entre os três grupos, investigou-se, por meio da aplicação do teste Qui-quadrado de Pearson, onde ocorreram estas diferenças. Pode-se observar que estas aconteceram entre a incidência de desconforto no grupo não exposto e exposto sem EPIA nas sete condições analisadas. Já na comparação entre a incidência de desconforto nos grupos não exposto e exposto com EPIA e entre o grupo exposto sem EPIA e exposto com EPIA, foram observadas apenas diferenças significantes em duas das sete condições estudadas. Em todos os casos estudados, houve sempre maior incidência de desconforto nos indivíduos menos expostos a ruído, quer seja, o não exposto ou exposto com proteção. Resultados similares encontraram Domínguez et al. (2001), quando realizaram treinamentos auditivos com WN.

Estes achados comprovam a hipótese levantada na realização deste trabalho de que indivíduos expostos apresentariam NDs maiores que indivíduos não expostos ou protegidos da exposição. Esta hipótese também foi comprovada por Meneguello et al. (2001) que relataram que a exposição a ruído por períodos longos ajudará ao cérebro a controlar a sensibilidade de resposta ao som. Dominguez et al. (2001) descreveu que a exposição ao ruído modifica o ND aumentando a área dinâmica da audição.

Assim sendo é possível concordar com os autores Knobel et al. (2003) que acreditam que o uso de treinamento auditivo com ruído mascarante favorece a dessensibilização das vias auditivas.

No estudo do desconforto médio calculado para os três grupos, por freqüência, verificou-se que os valores médios variaram de 106dBNA a 120dBNA, sendo que, para o grupo não exposto, variou de 106 a 114dBNA; para o exposto sem EPIA entre 114 e 120dBNA e para o exposto com EPIA de 111 a 119dBNA (Tabela 2). Resultado semelhante encontrou Petrone (1999), quando constatou que indivíduos expostos a ruído apresentavam nível de desconforto maior que pessoas não expostas.

No estudo comparativo dos níveis de desconforto médios obtidos nos três grupos estudados, pode-se depreender que não houve diferença significante nas freqüências de 500 e 4000Hz, tanto na orelha direita como na orelha esquerda, e para WN na orelha direita. Nas demais freqüências, as diferenças foram estatisticamente significantes em ambas as orelhas, tendo sido sempre os maiores valores encontrados no grupo exposto sem EPIA e os menores no grupo não exposto. Observou-se que o grupo que usa o EPIA auricular se coloca na posição intermediária (Tabela 3). Tal achado leva a crer que a atenuação oferecida pelo fabricante, os critérios de avaliação ambiental e a forma de como esses equipamentos são utilizados pelo trabalhador poderão influenciar o comportamento auditivo (Olsen, 1999).

Estudo comparativo entre o reflexo acústico e o ND

Neste estudo constatou-se que o limiar do reflexo acústico médio foi significantemente menor que o nível de desconforto médio em ambas as orelhas, para todas as freqüências e grupos estudados.

No estudo da diferença entre o LRA e o ND, pode-se observar que as diferenças no grupo não exposto variaram de 9,33dBNA com WN a 18,66dBNA em 3000 Hz; no grupo "Exposto sem EPIA" de 17,34dBNA com WN a 25,78 em 2000Hz e no grupo "Exposto com EPIA" de 15,24dBNA em 4000Hz a 23,04dBNA em 3000Hz. Assim sendo, as maiores diferenças ocorreram no grupo "Exposto sem EPIA". Tal resultado seria esperado, uma vez que o desconforto foi maior no grupo "exposto sem EPIA". Sabe-se que o nível de desconforto modifica-se com a experiência, ou seja, o indivíduo passa a tolerar níveis mais altos de ruído, conforme acreditam Knobel e Sanchez (2002).

O estudo comparativo da diferença entre o ND e LRA entre os grupos revelou diferenças significantes apenas nas freqüências de 1000,2000 e 4000Hz na orelha esquerda (Tabela 4). Na investigação para identificar entre quais grupos ocorreram as diferenças, observou-se que estas aconteceram com maior freqüência entre o grupo não exposto e o exposto sem EPIA. Em apenas uma das situações (4000Hz), estas foram verificadas entre os grupos expostos sem EPIA e exposto com EPIA. Os grupos expostos com EPIA e não expostos apresentaram comportamento similar, sendo a diferença observada na freqüência de 1000Hz. No que diz respeito ao LRA ser menor que o ND, os achados deste estudo concordam com os dados compulsados na literatura conforme referido por Katz (1999), Musiek e Rintelmann (2001) em seus estudos.

Al-azazi e Othmann (2000) relataram que existe uma relação entre o limiar do reflexo acústico e a sensação de intensidade, sugerindo que possa haver em trajeto neural comum de informações entre a sensação de intensidade e reflexo acústico. Contraditoriamente, Olsen (1999) descreveram que existe uma correlação estatisticamente significante entre reflexo acústico e o ND somente em pacientes com perdas auditivas. Com isso pode-se concluir que; o ruído não determina alterações no comportamento do reflexo acústico do músculo estapédio; o ND é modificado pela exposição ao ruído ocupacional sendo maior em indivíduos expostos a ruído; o ND é maior que o limiar do reflexo acústico; a diferença entre o nível de desconforto e o limiar do reflexo acústico varia de 10 a 25dBNA sendo maior em indivíduos expostos a níveis de pressão sonora elevados.

Conclusão

O ruído não determina alterações no comportamento do reflexo acústico do músculo estapédio; o ND é modificado pela exposição ao ruído ocupacional sendo maior em indivíduos expostos a ruído; o ND é maior que o LRA acústico; a diferença entre o ND e o LRA varia de 10 a 25dBNA sendo maior em indivíduos expostos a níveis de pressão sonora elevados.

Recebido em 15.02.2005.

Revisado em 26.04.2005; 16.01.2006; 14.03.2006.

Aceito para Publicação em 14.03.2006.

Artigo de Pesquisa

Artigo Submetido a Avaliação por Pares

Conflito de Interesse: não

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  • Endereço para correspondência:
    Francisca Magnólia Diógenes Holanda Bezerra
    Av. da Universidade, 3264 - Apto. 104 - Bloco 3
    Fortaleza - Ceará - CEP: 60.0201-81
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    Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Jan 2006

    Histórico

    • Recebido
      15 Fev 2005
    • Revisado
      26 Abr 2005
    • Aceito
      14 Mar 2006
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