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II Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia e Genética dos Distúrbios da Comunicação, 2008, Fortaleza - CE

EDITORIAL CONVIDADO

II Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia e Genética dos Distúrbios da Comunicação, 2008, Fortaleza - CE

Antonio Richieri-Costa

Universidade de São Paulo - Bauru

Em diversas ocasiões comparei o estudo dos distúrbios genéticos da comunicação humana com a fábula dos homens cegos e o elefante, muito usada como alerta em ciências da saúde por ser um grande exemplo, de como a realidade pode ser vista sobre diferentes perspectivas e, que quase tudo que a primeira vista parece ser uma verdade absoluta, de fato se trata apenas de uma verdade relativa, devido às diferentes interpretações. Digo isso porque temos observado divergências conceituais importantes quando lidamos com os aspectos genéticos da comunicação humana, uma condição sabidamente heterogênea seja qual seja o ângulo de abordagem. Nos distúrbios da comunicação humana nem sempre os mecanismos etiológicos são claros e nem os limites entre situações clínicas que se sobrepõem. Não é incomum a necessidade de um período de seguimento para que o diagnóstico definitivo possa ser confirmado, assim, nem sempre a primeira impressão diagnóstica é válida. Os distúrbios da comunicação podem ser vistos dentro de um espectro "quasi continuum" que se estende desde limites muito próximos da normalidade até graves distúrbios do comportamento e da linguagem, que e em situações incomuns recebem o mesmo rótulo diagnóstico, portanto abrem-se as possibilidades de que possamos estar tateando diferentes partes de um mesmo elefante ou mais importante ainda que estejamos tateando diferentes animais. Este é o grande desafio que se apresenta, hoje, aos estudiosos dos distúrbios da comunicação humana, sejam eles da área clínica ou laboratorial. Faz-se urgente a necessidade de um linguajar comum que seja compreendido onde quer que seja e por quem quer que seja, sem importar onde estejam, em salas de aula ou nos grandes centros de estudos da linguagem. Tal meta só pode ser alcançada através da constituição de grupos-tarefa multidisciplinares que representem as diferentes escolas de pensamento albergadas dentro das universidades. Como o próprio termo designa a idéia de UNIVERSO, é imperativo que o ranço de velhos conceitos seja deixado de lado, e que as idéias estejam abertas aos novos conceitos e avanços da ciência. A constituição destas equipes multidisciplinares deve ter como objetivos principais a capacidade de organizar um sistema ágil e eficaz de diálogo diagnóstico (que vá além do CID), desenvolver definições clínicas consensuais, normas e diretivas para o manejo adequado dos DCH, gerar tópicos de pesquisa realísticos direcionados ao esclarecimento das bases etiopatogênicas dos DCH e que possam facilitar a geração de respostas apropriadas e adequadas aos serviços comunitários de saúde.

Esta foi a abordagem mostrada durante o "II Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia e Genética dos Distúrbios da Comunicação" realizado em Fortaleza - CE., quando profissionais de diferentes áreas abrilhantaram um encontro multidisciplinar dos mais relevantes na área de DCH enfatizando a necessidade do estabelecimento de programas de intercâmbio entre diferentes centros - nacionais e internacionais. As interfaces entre os distúrbios da comunicação e a genética clínica e molecular estão abertas e apontam um caminho fértil para o desenvolvimento de pesquisas conjuntas, no entanto, a resistência de alguns editores para a análise deste tipo de trabalho ainda permanece imutável, principalmente no impenetrável círculo dos PERIÓDICOS internacionais. Urge que os profissionais das mais diversas áreas abrigadas sob o epônimo de DCH realizem novos encontros com esta visão multidisciplinar tão bem mostrada pelos organizadores Cearenses no sentido de sensibilizar as agências governamentais de fomento, possibilitando que todos envolvidos nesta árdua tarefa tenham sua hora e vez. Devem ser enfatizadas as populações de escolares que enfrentam problemas de aprendizagem, onde aspectos ambientais se mesclam com aqueles de etiologia genética, determinando problemas quanto ao diagnóstico diferencial às vezes insolúveis, e assim quem sabe consigamos ver além das pequenas partes, o elefante como ele é ao todo.

Antonio Richieri-Costa

Agradecimentos especiais: Renata Haguete (Fonoaudióloga do Hospital Infantil Albert Sabin e Professora da Unifor); Doutora Erlane Ribeiro (Geneticista do Hospital Infantil Albert Sabin - HIAS/CE); Associação Cearense de Doenças Genéticas (ACDG); e a todos organizadores.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Dez 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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