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Enfrentar a realidade metodologicamente: o Zopp e a organização do trabalho fonoaudiológico por estagiários em UBS

RELATO DE SEÇÃO ESPECIAL

Enfrentar a realidade metodologicamente: o Zopp e a organização do trabalho fonoaudiológico por estagiários em UBS* * Trabalho Realizado na Unidade Básica de Saúde Wilson Paulo Noal Santa Maria - RS.

Irani Rodrigues Maldonade

Fonoaudióloga e Lingüista. Doutora em Linguística pelo Instituto de Estudos Lingüísticos da Universidade Estadual de Campinas. Bolsista de Pós-Doutorado (Prodoc / Capes)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Alameda Buenos Aires, 332 - Apto. 404 Santa Maria - RS - CEP 97050-545 ( iranirm@uol.com.br)

A demanda pela formação em Saúde Coletiva criou a necessidade de oportunizar aos alunos de Fonoaudiologia uma prática efetiva de saúde, considerando os níveis de sua inserção no trabalho: desde a Unidade Básica de Saúde (UBS) à gestão. A Universidade, que tem a oportunidade e dever de integrar seu processo formativo de ensino, pesquisa e extensão à saúde e educação públicas do país enfrenta o desafio. A Educação exerce(u) papel fundamental nos avanços da Saúde Coletiva1. Como docente do estágio em Fonoaudiologia Institucional e Comunitária, percebi a dificuldade dos alunos(estagiários em Fonoaudiologia Comunitária da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM - RS) em lidar com os problemas detectados na UBS. Problemas parecidos aos vivenciados por profissionais e, provavelmente, semelhantes aos que os alunos enfrentarão quando formados. Diante disso, a saída foi propor soluções metodologicamente organizadas. Todas UBSs se parecem, mas nunca são iguais. Como ensinar o aluno e/ou profissional ingressante na área a lidar com isso?

Levar o aluno-estagiário à vivência da prática em UBS constitui um passo fundamental. Entretanto, isso pode ser insuficiente para planejar suas ações. Por isso, trabalhamos em sala de aula com o método Ziel Orientierte Projekt Planung (Zoop)1-3, cujos resultados são dignos de notar.

O método foi criado há mais de 25 anos. Pretendia ser uma metodologia que privilegiasse a participação social nos processos de planejamento e gestão de projetos de desenvolvimento. Sua aplicação é ampla e inclui a reformulação de políticas e estratégias, inclusive na saúde.

O Zopp é constituído de duas etapas interdependentes. Na primeira delas, etapa de análises, os diagnósticos da situação existente são realizados, prognósticos da situação futura, análise dos envolvidos e a seleção da estratégia mais adequada a ser adotada na fase seguinte. Esta está direcionada à concepção do plano do projeto, que se caracteriza por resumir, numa matriz lógica, toda a estratégia do projeto1,3.

A etapa de análises compreende: análise de envolvimento, análise de problemas, análise de objetivos e análise de alternativas. A análise de envolvimento esclarece os pontos fundamentais para que o processo de planejamento possa caminhar sem percalços. O instrumento usado foi o de análise organizacional da UBS e a matriz de forças e poder. Para elaborar a análise do problema foi usado a Árvore de Problemas representada pela Figura 1.


No desenho arbóreo, o problema central (levantado pelo grupo) foi colocado no centro do diagrama. Suas causas ficaram distribuídas, hierarquicamente, na parte inferior e os efeitos, na parte superior.

Na análise de objetivos desenhou-se a árvore de objetivos (Figura 2), em que as soluções desejadas foram dispostas num diagrama semelhante ao da árvore de problemas, contrapondo-se aos mesmos. À cada situação problemática, propôsse uma estratégia alternativa (Figura 3). Porém, na elaboração do projeto, a primeira foi a escolhida para dar início ao processo de trabalho.



Na etapa da concepção do plano (segunda etapa), criou-se o documento conhecido como Matriz do Plano de Projeto (MPP), que resume a estratégia do projeto identificada na sua estrutura matricial: o objetivo superior (ou estratégico), o objetivo do projeto, os resultados esperados (correspondentes aos objetivos específicos) e as ações (que são os meios para atingir os resultados). Foram incluídos os indicadores de impacto, que servem para medir os benefícios do projeto, as fontes de verificação e os pressupostos, que são fatores fora da governabilidade do projeto, mas essenciais para seu êxito. Depois, há a implementação das ações, com o planejamento de sua operacionalidade. São definidas as atividades, tarefas e rotinas, juntamente com seu cronograma.

Os resultados obtidos com o ZOPP, neste grupo de alunos, mostraram que a aplicação do método pode orientar o planejamento de ações na UBS, assim como dá uma idéia ao profissional de como favorecer a participação no planejamento em saúde. O trabalho é realizado em equipe, aspecto fundamental no trabalho em saúde coletiva; contrapondo-se ao individual/autônomo, pouco desejável. O método é rapidamente aplicado e proporciona resultados efetivos. Mostrou para os alunos por onde começar na solução dos problemas levantados, assim como permitiu a eles concluir que o fonoaudiólogo (profissional da saúde) é altamente capaz de integrar equipes de gestão e planejamento em saúde.

Recebido em 23.02.2008.

Revisado em 08.05.2008; 20.07.2008; 15.02.2009.

Aceito para Publicação em 27.02.2009.

  • 1. Bursztyn I; Ribeiro JM. Participatory evaluation in health programs: a proposal for the adolescent Health Care Program. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2005 Mar-Apr;21(2).
  • 2. Casapia M, Joseph SA, Gyorkos T. Multidisciplinary and participatory workshops with stakeholders in a community of extreme poverty in the Peruvian Amazon: development of priority concerns and potential health, nutrition and education interventions. International Journal for Equity in Health. 2007;6(6).
  • 3. Zeuri M. Análise Crítica do ZOPP. Planejamento de Projeto Orientado por objetivo - como método de planejamento e gestão compartilhada. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
  • 4. Brites LS, Souza APR, Lessa AH. Fonoaudiólogo e agente comunitário de saúde: uma experiência educativa. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2008;13(3):258-66.
  • 5. Penteado RZ, Servilha EAM. Fonoaudiologia em saúde pública/coletiva: compreendendo prevenção e o paradigma da promoção da saúde. Distúrbio Comunicação, São Paulo. 2004;16(1):7-16.
  • 6. Marin CR, Chun RYS, Silva RC, Fedosse E, Leonelli BS. Promoção da Saúde em fonoaudiologia: ações coletivas em equipamentos de saúde e de educação. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiologia, São Paulo. 2003;8(1):35-41.
  • Endereço para correspondência:
    Alameda Buenos Aires, 332 - Apto. 404
    Santa Maria - RS - CEP 97050-545
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    Trabalho Realizado na Unidade Básica de Saúde Wilson Paulo Noal Santa Maria - RS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jul 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2009
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