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O paradigma da epistemologia histórica: a contribuição de Thomas Kuhn

The paradigm of historical epistemology: Thomas Kuhn’s contribution

Resumos

Este artigo apresenta uma breve análise histórica da epistemologia, do modelo normativo tradicional às vertentes contemporâneas, aqui designadas de ‘histórico-interpretativas’. Estas últimas fazem vigorosa crítica ao paradigma tradicional, demonstrando não só os limites da ‘falsificação lógica’ e da ‘verificação empírica’, mas também a rigidez prescritiva da metaciência normativa, incompatível com os avanços científicos deste século. Analisa-se a contribuição kuhniana, dando-se destaque aos seus conceitos originais e às redefinições de conceitos e modelos anteriores. À guisa de ilustração, alguns são utilizadas na análise da descoberta da estrutura do DNA. A apresentação do modelo kuhniano inclui posições de interlocutores, tanto os normativos quanto os pós-kuhnianos, sobretudo em relação às ciências sociais e ao uso ampliado para outras áreas do conhecimento.

epistemologia histórico-interpretativa; história da ciência; paradigma; ciência normal; revolução científica


This brief historical analysis of the field of epistemology begins with its initial, speculative phase, moving on to the traditional normative model and continuing through contemporary lines, which are referred to here as ‘historical-interpretative’. Common to the latter is harsh criticism of the traditional paradigm, whose shortcomings include not only the limitations of ‘logical falsification’ and ‘empirical verification’ but also the prescriptive rigidity of normative meta-science, deemed incompatible with this century’s scientific advances. The article analyzes Kuhn’s contribution in greater detail, highlighting his original concepts and his redefinitions of earlier concepts and models. To illustrate, some of his categories are used in an analysis of the discovery of the DNA structure. This exploration of the Kuhnian model also makes reference to certain stances taken by normative and post-Kuhnian epistemologists, especially in relation to the social sciences and application of the model to other areas of knowledge.

historical-interpretative epistemology; history of science; paradigm; normal science; revolution


O paradigma da epistemologia histórica: a contribuição de Thomas Kuhn

The paradigm of historical epistemology: Thomas Kuhn’s contribution

Ronaldo Ribeiro Jacobina

Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia

Rua Cláudio Manoeld a Costa, 74/302 Canela

40110-180 Salvador — Bahia Brasil

rrj@magiclink.com.br

JACOBINA, Ronaldo R.: ‘O paradigma da epistemologia histórica: a contribuição de Thomas Kuhn’. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, VI(3): 609-630, nov. 1999-fev. 2000.

Este artigo apresenta uma breve análise histórica da epistemologia, do modelo normativo tradicional às vertentes contemporâneas, aqui designadas de ‘histórico-interpretativas’. Estas últimas fazem vigorosa crítica ao paradigma tradicional, demonstrando não só os limites da ‘falsificação lógica’ e da ‘verificação empírica’, mas também a rigidez prescritiva da metaciência normativa, incompatível com os avanços científicos deste século. Analisa-se a contribuição kuhniana, dando-se destaque aos seus conceitos originais e às redefinições de conceitos e modelos anteriores. À guisa de ilustração, alguns são utilizadas na análise da descoberta da estrutura do DNA. A apresentação do modelo kuhniano inclui posições de interlocutores, tanto os normativos quanto os pós-kuhnianos, sobretudo em relação às ciências sociais e ao uso ampliado para outras áreas do conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: epistemologia histórico-interpretativa, história da ciência, paradigma, ciência normal, revolução científica.

JACOBINA, R. R.: ‘The paradigm of historical epistemology: Thomas Kuhn’s contribution’. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, VI(3): 609-630, Nov. 1999-Feb. 2000.

This brief historical analysis of the field of epistemology begins with its initial, speculative phase, moving on to the traditional normative model and continuing through contemporary lines, which are referred to here as ‘historical-interpretative’. Common to the latter is harsh criticism of the traditional paradigm, whose shortcomings include not only the limitations of ‘logical falsification’ and ‘empirical verification’ but also the prescriptive rigidity of normative meta-science, deemed incompatible with this century’s scientific advances. The article analyzes Kuhn’s contribution in greater detail, highlighting his original concepts and his redefinitions of earlier concepts and models. To illustrate, some of his categories are used in an analysis of the discovery of the DNA structure. This exploration of the Kuhnian model also makes reference to certain stances taken by normative and post-Kuhnian epistemologists, especially in relation to the social sciences and application of the model to other areas of knowledge.

KEYWORDS: historical-interpretative epistemology, history of science, paradigm, normal science, scientific revolution.

Este artigo tem como objetivo analisar o modelo epistemológico elaborado por Thomas Kuhn no início da década de 1960 — uma das mais importantes contribuições para a nova epistemologia. A fase especulativa inicial e a fase da epistemologia normativa tradicional serão brevemente descritas, com vistas a contextualizar o modelo kuhniano, cuja análise será complementada com a exposição de algumas das críticas e das modificações sugeridas por autores de outras vertentes epistemológicas.

A divisão da filosofia da ciência, neste século, em pré e pós-kuhniana fundamenta-se na proposta de Rorty (1997) — autoproclamado um dos "pós-kuhnianos esclarecidos" ou "iluminados" —, que reconhece, na obra de Kuhn, o estabelecimento de uma ruptura com a epistemologia anterior.

Para situar a contribuição kuhniana no campo da filosofia das ciências, segundo Epstein (1990), utilizaremos, de modo um tanto ou quanto esquemático, porém didático, a identificação de três vertentes do discurso ‘metacientífico’, quais sejam, o especulativo, o normativo e o descritivo, este último aqui designado de ‘histórico-interpretativo’.

A epistemologia especulativa

O discurso especulativo remonta aos gregos e já se faz presente desde as primeiras inquietações dos pré-socráticos, como Heráclito, Parmênides e Demócrito, permanecendo entre os sofistas em sua precursora preocupação com a linguagem e a verdade e encontrando eco nos pensamentos de Sócrates, Platão e, principalmente, Aristóteles, nas discussões sobre o alcance do conhecimento e sobre as formas de combater os erros e equívocos (Chauí, 1994).

Do Renascimento até a época moderna, essa vertente inicial constitui-se numa ‘teoria do conhecimento’ e postula a verdadeira natureza do conhecimento que temos da realidade externa. Dessa vertente destacam-se, de um lado, a ‘dúvida metódica’ de Descartes e, de outro, as contribuições de Bacon e Locke, que inauguram uma forte tradição anglo-saxônica sobre a teoria do conhecimento.

Utilizando o recurso analítico de decompor o todo em suas partes, Descartes identifica muitos dos erros oriundos do conhecimento sensível, mas mostra que podiam ser afastados de maneira a possibilitar ao investigador chegar ao verdadeiro conhecimento, o conhecimento intelectual, partindo das idéias inatas e controlando as investigações.

A contribuição de Bacon sobre o método indutivo, de grande importância para a vertente normativa, será examinada adiante. Quanto a Locke, "o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita" (Chauí, idem, p. 116), destaca-se o fato de ter ele formulado com clareza questão tão contemporânea como a do sujeito como objeto de si mesmo: "O entendimento, como o olho, ... não se observa a si mesmo, requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto" (Locke, 1983, p. 139).

Segundo Morin (s. d., p. 22), foi Kant quem realizou uma "revolução copernicana", ao fazer do conhecimento o objeto central do conhecimento. Kant (1997, p. 23) considera que a física de sua época não teria avançado tanto "se Copérnico não tivesse ousado, de uma maneira contrária ao testemunho dos sentidos e contudo verdadeira, procurar a explicação dos movimentos observados, não nos objectos celestes, mas no seu espectador". Tal posicionamento constituía uma ruptura que se dava em paralelo àquela que a obra filosófica de Kant efetuava em seu próprio campo.

A crítica kantiana afirmava a impossibilidade de o entendimento alcançar as ‘coisas em si’ (númemo), o que se distingue da possibilidade de apreensão dos ‘fenômenos’ — aquilo que obedece ao poder organizador do nosso entendimento. Essa distinção kantiana abre caminho para um grande esforço de demarcação dos critérios de cientificidade.

A epistemologia normativa

A epistemologia normativa evita qualquer discurso especulativo por ter o objetivo principal de determinar as prescrições sobre como os cientistas ‘devem’ praticar a ciência. Dessa segunda vertente epistemológica, destacam-se duas correntes: o verificacionismo e o falsificacionismo popperiano (Epstein, 1990).

Na primeira corrente, tem-se inicialmente o trabalho do chamado Círculo de Viena (1925-36), que pretendeu transformar a filosofia em ciência, reduzindo suas proposições a enunciados verificáveis (Morin, s. d., p.18). Essa era também a ambição dos empiristas lógicos anglo-saxônicos, que buscaram fundar a certeza do pensamento no ‘positivismo lógico’. Coube a Popper (1975; s. d.), no entanto, demonstrar que a verificação não bastava para assegurar a verdade de uma teoria científica, uma vez que, além de outras razões, as teorias verificadas sucediam-se sem que nenhuma pudesse jamais adquirir infalibilidade. Popper rechaça a indução como prova lógica, mas sustenta a idéia da lógica dedutiva como valor de prova. Essas duas tradições epistemológicas — indutivismo e empirismo e falsificabilidade das teorias — têm em comum o problema da demarcação, isto é, têm o objetivo de elaborar critérios para distinguir enunciados científicos dos não-científicos. A discussão contemporânea sobre o desenvolvimento científico pressupõe necessariamente o confronto entre essas duas vertentes epistemológicas.

A visão tradicional indutivista, apesar de ter sofrido críticas como, por exemplo, as de Kant (1997), dominou o pensamento científico e epistemológico até, pelo menos, as primeiras décadas deste século, fazendo eco à tese sustentada por Francis Bacon, no século XVII, através de suas "histórias naturais" (Kuhn, 1996a, p. 36), de que as leis e teorias derivavam da observação. Newton reafirmou-a posteriormente, ao declarar que chegara a sua teoria da mecânica celeste partindo de observações. De modo esquemático, o método conhecido como indução supõe os seguintes passos: a) o cientista, através da observação de casos particulares e de experiências, obtém informações confiáveis; b) tais dados são registrados de modo sistemático e, em seguida, divulgados; c) outros cientistas acumulam mais dados na mesma área, possibilitando as generalizações (leis, teorias), que se ajustam aos fatos conhecidos e explicam o modo como se relacionam; d) por fim, as generalizações passam a ser aplicadas a casos semelhantes.

A crítica ao método indutivo e ao empirismo já aparecia nos trabalhos de Hume (Zanetic, s. d.), quando afirmava, por exemplo, que nenhum número de enunciados a respeito de observações singulares, por mais amplo que seja, pode acarretar logicamente um enunciado geral irrestrito. Tal crítica também está contida no conhecido argumento popperiano de "refutação ao método indutivo pela simples enumeração": acumula-se um número elevado de observações de cisnes que só apresentam a cor branca, afirmando-se, então, que todos os cisnes são brancos. Ao se encontrar um único cisne que não é branco, demonstra-se como a indução por enumeração, no verificacionismo inicial, é fonte de erros (Popper, 1975). Embora o verificacionismo probabilístico tenha tornado a discussão mais complexa, não resolveu o problema (Kuhn, 1996a, pp. 185-6).

Ao contestar a ilusão de Newton, Popper (s. d., pp. 216-7) retoma os argumentos de Kant em três níveis: a) intuitivamente, a mecânica newtoniana não se baseia na observação — as observações são sempre inexatas, enquanto a teoria formula assertivas exatas; b) historicamente, o argumento é falso — a teoria heliocêntrica de Copérnico não resultou de novas observações, mas de nova interpretação; c) e, logicamente, era impossível que a teoria tivesse derivado de observações: "a dinâmica de Newton ultrapassa essencialmente todas as observações; é universal, exata e abstrata; surgiu historicamente de certos mitos; e é possível demonstrar, por processo puramente lógico, que não poderia ser derivada de afirmativas relacionadas com a observação".

Segundo Popper (op. cit., p. 218), a solução de Kant para esta questão sustenta-se na tese de que o mundo, como o conhecemos, é nossa interpretação dos fatos observáveis à luz de teorias que inventamos: "nosso intelecto não deriva suas leis da natureza..., mas impõe leis à natureza". Popper, com mais cautela, diz ainda que: "nosso intelecto ‘tenta’ impor à natureza leis que inventa livremente, nem sempre exitosas e nem sempre verdadeiras". Então, para Popper, a questão não é a verificação das teorias, e sim o esforço dirigido a sua refutação. O nosso conhecimento não teria evoluído se, ao lado de casos verificadores, não tivessem surgido, por acaso ou não, contra-exemplos refutadores. Para ele, uma lei científica não pode ser cabalmente verificada — no exemplo dos cisnes, é impossível verificar todos os cisnes — mas pode ser conclusivamente falseada, bastando um cisne não branco para refutar o enunciado:

Ora, a meu ver, não existe a chamada indução. Nestes termos, inferências que levam a teorias, partindo-se de enunciados singulares "verificados por experiências" (não importa o que isto possa significar) são logicamente inadmissíveis. Conseqüentemente, as teorias "nunca" são empiricamente verificáveis. ... Contudo, só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência. Essas considerações sugerem que deve ser tomado como critério de demarcação, não a "verificabilidade" mas a "falseabilidade" de um "sistema". Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas, em sentido negativo: "deve ser possível refutar", pela experiência, um sistema científico empírico (Popper, 1975, pp. 41-2).

A tese da refutabilidade de Popper pode ainda ser ilustrada com o exemplo a seguir, trivial e não surpreendente, já que vem de um intelectual que soube valorizar, ao longo de sua obra, o racional presente no senso comum: "Assim o enunciado ‘Choverá ou não choverá aqui, amanhã’, não seria considerado empírico, simplesmente porque não admite refutação, ao passo que será considerado empírico o enunciado ‘Choverá aqui, amanhã’."

A ‘paixão’ racionalista levou-o a buscar obstinadamente critérios de demarcação entre o científico e o não-científico e a afirmar o procedimento de investigação racional, afastando fatores subjetivos, psicológicos ou estéticos, que não desempenhariam papel algum na formação e avaliação das teorias científicas, as quais seriam guiadas exclusivamente por critérios lógicos bem definidos. Como veremos, Kuhn (1996a) vai oferecer exemplos para refutar essa racionalidade absoluta, presente muito mais no ‘desejo’ popperiano de racionalismo puro do que na história das ciências.

O entendimento de uma importante questão epistemológica contemporânea, de onde vai emergir uma nova concepção na filosofia da ciência, deve pressupor o conhecimento de dois contextos do empreendimento científico — o da descoberta e o da justificação —, sendo necessário, no entanto, que façamos todas as ressalvas para que essa dualidade não se torne um dualismo. A fonte inicial da distinção, em Reichenbach (apud Epstein), é muito restritiva: o contexto da descoberta seria "o modo como o pensador descobre o seu problema"; e o da justificação, "a maneira de apresentá-la em público". Porém, utilizando a redefinição proposta por Radnitzki para esses dois contextos, também citada por Epstein (op. cit.), podemos qualificar o discurso epistemológico normativo aquele voltado exclusivamente para o contexto da justificação, que, agora, significa o lugar de avaliação das teorias e descobertas, bem como das normas instituídas com essa finalidade. Enfim, lugar de avaliação quase exclusiva do produto da atividade dos cientistas.

Essa vertente, sobretudo a popperiana, deu importantes contribuições à epistemologia contemporânea, tanto com relação à crítica ao empirismo exacerbado, quanto no que respeita à elaboração de procedimentos normativos, que, sob certas condições e contextos, não mais infalíveis e universais, atuam como ferramentas úteis, aceitas pelo ‘consenso’ das comunidades científicas e de filósofos das ciências.

Entretanto, além de o avanço nas ciências ditas ‘duras’ demonstrar o relativismo da verificação empírica e da falsificação lógica, em que até o princípio da não contradição teve seu valor de norma relativizado (Morin, s. d.), o próprio predomínio prescritivo levou a um enrijecimento metacientífico, cujos efeitos teriam sido danosos para a emergência de uma nova ciência, caso não tivesse sido posta de lado essa vertente gnosiológica, criticada com fina ironia por Radnitzki: "jardineiros que, por receio de ervas daninhas, não permitem o crescimento de flores em seu jardim..." (apud Epstein, idem, p. 125).

A epistemologia histórico-interpretativa

Essa terceira vertente tem buscado superar a dicotomia entre o contexto da justificação e o da descoberta, incorporando contribuições oriundas da sociologia do conhecimento, da psicologia da descoberta e, sobretudo, da história das ciências. Examina numa perspectiva crítica, genético-interpretativa não apenas os processos de produção do conhecimento científico, como os produtos da atividade científica e as próprias normas de validação.

Popper realizou um trabalho de fôlego para manter a epistemologia normativa, e sua busca de critérios de cientificidade levou-o a superar os limites do verificacionismo empiricista. Entretanto, a crise paradigmática não ocorria apenas nas ciências. Na segunda metade deste século, eclodia uma crise também na epistemologia, já prenunciada, desde as décadas de 1930 e 1940, com os estudos de Fleck, Koyré, Bachelard, Piaget, entre outros.

Do ponto de vista da filosofia da ciência, o período 1960-70 foi marcado por uma forte crítica tanto ao verificacionismo quanto ao falsificacionismo, incluindo a engenhosa tentativa de atualização popperiana representada pelos "programas de investigação científica" de Imre Lakatos (1989). Nesse período, aparecem os trabalhos de Feyerabend, Foucault e Kuhn, possibilitando este último a redescoberta da obra do médico e epistemologista Ludwik Fleck e, mais recentemente, de outros integrantes da "escola polonesa de filosofia da medicina" (Löwy, 1994).

Kuhn (1996a, p. 11) refere-se à descoberta da "monografia quase desconhecida" de Fleck intitulada Entstehung und Entwicklung einer wissenschaftlichen Tatsache (Gênese e desenvolvimento de um fato científico), de 1935, e admite que essa obra antecipava muitas de suas idéias, em especial as de "comunidade científica" e de "incomensurabilidade entre paradigmas", correspondentes, em Fleck (1986), a "coletivos de pensamento" e "estilos de pensamento", respectivamente.

Além das contribuições de Thomas Kuhn e Ludwik Fleck, a vertente histórico-interpretativa abrange os estudos pioneiros de Alexander Koyré e Gaston Bachelard, este último precursor na questão da complexidade, e ainda a polêmica epistemologia anarquista de Paul Feyerabend, com sua lúcida e militante crítica à epistemologia normativa.

Para Feyerabend (1977, p. 18), cuja obra mais famosa é provocativa desde o título, Contra o método, a ausência de normas universais e a proliferação de procedimentos facilitam o progresso do conhecimento científico: "A ciência é um empreendimento essencialmente anárquico: o anarquismo teorético é mais humanitário e mais suscetível de estimular o progresso do que suas alternativas representadas por ordem e lei."

Embora não sejam objeto de análise neste artigo, os estudos de epistemologia genética de Jean Piaget podem ser incluídos nesta vertente ou, pelo menos, seriam mais próximos dela. Tal associação baseia-se na comparação que Piaget (1987) faz de seu conceito de quadro epistêmico com o de paradigma de Kuhn (1996a); conclui que seu modelo é mais completo e adequado, por ser mais abrangente e dar conta tanto dos fatores externos quanto dos internos ao desenvolvimento das ciências.

O mesmo pode ser dito de Michel Foucault, que também desenvolveu um modelo próprio, o "arqueológico" (1969). Um dos maiores exegetas de sua obra no país (Machado, 1986) considera que ela é orientada por uma visão mais intrepretativa que normativa, abordando diferentes objetos, tais como sexualidade, loucura, prisão, medicina etc. O legado foucaultiano de caráter histórico "pelos campos de que trata e pelas referências que assume" (Foucault, 1997, p. 13), indubitavelmente contribuiu para aquela ‘revolução’ epistemológica que irrompeu nas décadas de 1960 e 1970, anos de muita turbulência social e cultural e também de agudização da crise das ciências (Santos, 1989, 1987). A física, em especial, desde a formulação das teorias da relatividade e quântica, requeria uma nova filosofia da ciência para que esta e a própria epistemologia, renovadas, enfrentassem uma nova etapa de incertezas e perplexidades (Prigogine, 1996), tomando os objetos em sua complexidade, da qual "nem a dúvida nem a relatividade são doravante elimináveis" (Morin, s. d., p. 19).

Talvez o que haja em comum entre esses autores, que trilharam caminhos tão próprios, seja a importância atribuída à perspectiva histórica. Embora a adotassem de diferentes maneiras é de supor que não discordariam das palavras com que Kuhn (1996a, p. 22) caracteriza Koyré e outros agentes dessa revolução historiográfica na filosofia das ciências:

Em vez de procurar as contribuições permanentes de uma ciência mais antiga para nossa perspectiva privilegiada, eles procuram "apresentar a integridade histórica daquela ciência, a partir de sua própria época". Por exemplo, perguntam não pela relação entre as concepções de Galileu e as da ciência moderna, mas antes pela relação entre as concepções de Galileu e aquelas partilhadas por seu grupo, isto é, seus professores, contemporâneos e sucessores imediatos nas ciências.

A escolha da citação deve-se à importância dessa obra de Kuhn, onde buscaremos identificar as principais teses aplicáveis a outros campos que não as ciências naturais, objeto primordial do mais famoso ensaio publicado por ele. No posfácio de 1969, o próprio Kuhn (1996b, p. 255) concordou com a ampliação de seu alcance: "Na medida em que o livro retrata o desenvolvimento científico como ‘uma sucessão de períodos ligados à tradição e pontuados por rupturas não-cumulativas’, suas teses possuem uma larga aplicação."

Procurarei examinar a seguir, com mais detalhes, os conceitos originais dessa obra que é considerada um divisor de águas na epistemologia, apresentando também o diálogo/debate com alguns de seus principais interlocutores, desde os normativos até os autores pós-kuhnianos.

A contribuição de Kuhn reveste-se de maior importância por realizar uma síntese entre o pensamento objetivo e sistemático da tradição anglo-americana e a inovadora epistemologia européia continental. Por isso, a busca de precursores ou fontes anteriores a Kuhn pode se tornar ociosa, já que sua principal contribuição é essa síntese exemplar, organizada e escrita de modo claro e instigante.

Estrutura da comunidade científica

Antes de me debruçar sobre sua contribuição mais famosa — o conceito de paradigma —, acatarei a sugestão do próprio autor de se discutir, em primeiro lugar, a comunidade formada pelos cientistas.

Kuhn (1996b, pp. 219, 222), que chega a afirmar que as comunidades científicas podem ser isoladas investigando-se o comportamento dos cientistas, sem o recurso prévio aos paradigmas inicialmente, define comunidade científica por meio de um truísmo: a estrutura comunitária da ciência é "aquela formada pelos praticantes de uma especialidade científica". Em um segundo momento, define-a em linguagem mais conceitual, como unidade produtora e legitimadora do conhecimento científico com as seguintes características: seus integrantes estão submetidos a educação e a iniciação profissional similares; absorvem praticamente a mesma literatura técnica, aprendendo lições semelhantes; a comunidade possui objeto de estudo próprio, embora um mesmo objeto possa ser abordado sob pontos de vista incompatíveis por diferentes ‘escolas’; a comunicação entre os membros de uma comunidade científica é ampla e os julgamentos profissionais, relativamente unânimes, uma vez que constituem a única audiência e os únicos juízes do trabalho dessa comunidade; já a comunicação entre diferentes comunidades é árdua, quando não impossível, devido à ‘incomensurabilidade’, conceito kuhniano derivado da análise pioneira de Fleck (1986) que comentarei mais adiante.

Santos (1989, pp. 132-47), em sua análise sobre a ‘ciência pós-moderna’, considera essa caracterização da estrutura da comunidade científica uma das mais importantes contribuições da reflexão kuhniana. E, recentemente, numa perspectiva pós-kuhniana, Funtowicz e Ravetz (1997, pp. 225, 228) sustentaram que, diante dos problemas de grande complexidade da atual prática científica, onde não há mais lugar "para a pretensão de se banir ou subjugar a incerteza e a ignorância", é desejável a formação de uma "comunidade ampliada de pares", com a participação não só de cientistas, mas também de não especialistas, que colaborariam na definição de temas e prioridades e na discussão dos aspectos éticos, entre outros assuntos.

Por outro lado, o próprio Kuhn faz referência, em seu posfácio, a críticas que recebeu por ter exagerado a tese da unanimidade dos cientistas em sua relação de fidelidade ao paradigma. Como exemplo, os críticos citavam a teoria da matéria. Kuhn respondeu-lhes usando seu arsenal histórico, importante recurso da epistemologia contemporânea: até 1920, afirmou, período da possível infidelidade paradigmática, o campo não era território específico de uma comunidade; havia diferentes comunidades que, como já foi referido, eram incomensuráveis. Com a hegemonia de um paradigma, criaram-se compromissos compartilhados que unificaram aquele campo de conhecimento e sua comunidade específica. Se os compromissos compartilhados dependem da dominância de um paradigma, o que, então, vem a ser paradigma?

Paradigma — um conceito polissêmico

A noção de paradigma é anterior à obra de Kuhn e já está presente na lingüística desde 1916 (Saussure, Cours de linguistique générale). Porém, é a partir de seu uso como conceito central no ensaio de 1960 que o termo se consagra na epistemologia (Assis, 1997) e depois se amplia para as mais diversas áreas de conhecimento: na economia, Coats (1969) e Magalhães, (1996); na sociologia do trabalho, Halal apud Harvey (1992), e Carleial (1997); na bioética, Hottois (s. d.) e Schramm (1996); na saúde pública e administração de saúde, Mendes (1984), e Kisil (1994); e no saber biomédico, Camargo Jr. (1992), e Schramm (1996), entre outros.

Observa-se, contudo, que freqüentemente o uso ampliado do conceito de paradigma tem sido pouco preciso, quando não empregado de modo abusivo. Para sua precisão e clareza conceitual, retornemos ao autor que, em autocrítica feita no posfácio de 1969 (Kuhn, 1996b), reconhece a responsabilidade por alguns dos mal-entendidos. Margaret Masterman (1975), citada pelo próprio Kuhn (idem, p. 226) como "leitora atenta", observou o uso do termo em, pelo menos, 21 maneiras diferentes, em seu trabalho.

Kuhn argumenta que a maioria dos sentidos atribuídos ao conceito deve-se apenas a "incongruências estilísticas". Ora é entendido como leis, ora é utilizado em sentido figurado, como paradigma metafísico. Kuhn reconhece, entretanto, dois usos distintos do termo: um mais global e outro mais específico e preciso.

Embora considere o sentido mais global como o menos apropriado — paradigma como constelação dos compromissos de grupos —, foi este o sentido que mais se difundiu. Recusando o termo ‘teoria’, "por conotar uma estrutura bem mais limitada em natureza e alcance", ele utiliza para esse sentido mais amplo a expressão "matriz disciplinar", uma estrutura partilhada pelos praticantes de uma mesma disciplina e composto dos seguintes elementos, ordenados como um todo:

— generalizações simbólicas: são axiomas, definições e leis, empregados sem discussões. O grau de compromisso com essas generalizações é diferente: leis podem ser gradualmente corrigidas; já as definições têm de ser redefinidas. Nas ciências sociais e em saberes como o psiquiátrico, que não trabalham com leis imutáveis e universais, numa crise paradigmática, será, sobretudo, em relação aos conceitos e sua adequação aos fatos que vão competir e se confrontar os paradigmas;

— crença em modelos (o "paradigma metafísico"): são convenções coletivas e básicas estabelecidas através de analogias ou metáforas, como, por exemplo, as moléculas de gás que se comportam como pequeninas bolas de bilhar elásticas movendo-se ao acaso;

— valores amplamente compartilhados, como, por exemplo, a preferência dos pesquisadores das ciências naturais pelo conhecimento quantitativo e seu uso em predições; valores compartilhados, mas com divergências na aplicação, tais como os de simplicidade, coerência interna e plausibilidade;

— "exemplos compartilhados": são os de aplicação bem-sucedida na investigação, que outros pesquisadores podem empregar, por analogia; é o sentido preciso do conceito de paradigma, concebido como "realização concreta, como um exemplar" (idem, ibidem, p. 255). Tais soluções estão nos manuais, nas publicações e nos laboratórios, no caso das pesquisas experimentais.

Esse "conhecimento tácito" (Polanyi, apud Kuhn, 1996b, p. 237) se aprende fazendo ciência e não simplesmente adquirindo regras para fazê-la. O paradigma como exemplo compartilhado — algo que se aprende a fazer fazendo —, é o sentido do conceito privilegiado em áreas do conhecimento aplicado, como o saber médico-sanitário, em particular o psiquiátrico.

Curiosamente, para um estudioso como Camargo Jr. (1992, p. 5), que utilizou os conceitos de Kuhn para discutir a clínica médica, este último sentido representa uma "conceituação inicial vaga (que) foi posteriormente aperfeiçoada, sendo um paradigma definido, então, como matriz disciplinar". Cita como referência desse aperfeiçoamento o posfácio de 1969, em que Kuhn (1996b, p. 232) explicita justamente a tese contrária: "o paradigma enquanto exemplo compartilhado é o elemento central daquilo que atualmente me parece ser o aspecto mais novo e menos compreendido deste livro".

Fases do desenvolvimento científico: acumulação e rupturas

A análise kuhniana do desenvolvimento científico, fundamentada em minuciosa pesquisa histórica, identifica diversas fases, tanto de acumulação, com investigação cada vez mais esotérica, quanto de ruptura parcial e às vezes radical com o empreendimento científico anterior.

Fase paradigmática e ciência normal

O paradigma inicial suplanta a fase pré-paradigmática, momento menos desenvolvido das ciências em que diversas escolas competem sem que nenhuma obtenha o domínio. "A aquisição de um paradigma e do tipo de pesquisa mais esotérico que ele permite é um sinal de maturidade no desenvolvimento de qualquer campo científico que se queira considerar" (1996a, p. 31).

Para analisarmos o conceito de ciência normal, caracterizada pela ‘aquisição de um paradigma’, faz-se necessário, inicialmente, discutir a identificação entre fase pré-paradigmática e o conceito de ciência menos desenvolvida, uma das teses mais polêmicas da epistemologia kuhniana quando aplicada às ciências humanas.

Para autores como Santos (1989, pp. 135-6; 1987, p. 43), Kuhn atribui o caráter pré-paradigmático às ciências sociais, logo atraso em relação às ciências naturais, pelo fato de não se caracterizarem pelo domínio de um único paradigma. O sociólogo português refuta essa tese referindo-se às novas possibilidades das relações entre natureza e sociedade, como na obra de Prigogine e Stengers (1997), e afirma, com veemência, que "a concepção de Thomas Kuhn sobre o caráter pré-paradigmático (isto é, menos desenvolvido) das ciências sociais, que eu, aliás, subscrevi e reformulei noutros escritos, tenha de ser abandonada ou profundamente revista".

Kuhn (1996a, p. 35; 1996b, pp. 222-32), no entanto, direcionou sua análise para o desenvolvimento das ciências naturais — química, biologia e, principalmente, física —, deixando em aberto a questão dos possíveis paradigmas das ciências sociais, geradores de estudos mais esotéricos, característicos de ciências amadurecidas. Prudentemente, reconhece, ainda, que a transição do período pré para o pós-paradigmático "merece discussão mais ampla do que a recebida neste livro, especialmente por parte daqueles interessados no desenvolvimento das ciências sociais contemporâneas".

Ora, se estas ressalvas não são suficientes, podemos lembrar que estudo do próprio Kuhn serve de marco para um novo paradigma epistemológico, que vem questionando competentemente, por um lado, a tradição normativa na filosofia da ciência, com suas regras de justificação, e, por outro, as certezas das ‘amadurecidas’ ciências naturais. Para tanto, utiliza em sua ‘caixa de ferramentas’ os estudos da psicologia da percepção e da descoberta, da sociologia da comunidade científica, da ciência política e, em especial, da história dialética não-positivista, ou seja, das ‘menos desenvolvidas’ ciências humanas.

Num artigo sintético para divulgação dos conceitos mais hodiernos da filosofia da ciência, Assis (1997) observa que, embora a expressão ciência ‘poliparadigmática’ não faça sentido para Kuhn, atualmente é sob esse enfoque que seu modelo de análise tem sido utilizado nas ciências sociais.

Feitas estas considerações sobre as ciências pré e pós-paradigmáticas, podemos passar à fase de vigência de um paradigma. Kuhn (1996b, pp. 29-31) elaborou um conceito original para essa fase, o de ‘ciência normal’, em que as práticas teóricas e experimentais — referidas quase exclusivamente às ciências naturais — são regidas por regras ou princípios e, em especial, são orientadas por exemplos bem-sucedidos.

A ciência normal apresenta duas características básicas: tenacidade e acriticismo (Epstein, 1990). Ao concentrar dos cientistas a atenção numa faixa de problemas muito estrita ("esotéricos"), o paradigma os força a "investigar uma parcela da natureza com uma profundidade e de uma maneira tão detalhada, que de outro modo seriam inimagináveis" (Kuhn, 1996a, p. 45).

O uso desses ‘antolhos’ ou ‘óculos’ — a escolha da metáfora fica por conta do leitor — facilita um trabalho concentrado e persistente, permitindo a obtenção de soluções ‘em profundidade’. Lakatos (1989) e Feyerabend (1977) reconhecem as vantagens e a racionalidade dessa limitação de campo, ainda que este último autor não a considere sob o aspecto psicológico, como faz Kuhn (1996a).

Pepe (1993, p. 2) e outros autores vêem na valorização da tenacidade e eficácia uma tomada de posição deste pela ciência normal: "Na verdade Kuhn se contrapõe à ciência ‘revolucionária’ de Popper quando prioriza a ciência ‘normal’, baseada na solução de enigmas." Deixando de lado a qualificação de ‘revolucionária’ atribuída pela autora à ciência daquele liberal convicto, constatamos que dois terços do ensaio de Kuhn estão voltados para as anomalias e crises que acompanham as descobertas e invenções de teorias, e ainda para as revoluções científicas e seus paradigmas inovadores. Apenas um terço da análise tem a ver com a ciência normal e o paradigma tradicional. Não é por acaso que o autor denominou o ensaio de ‘A estrutura das revoluções científicas’.

Outra característica da ciência normal é o acriticismo, isto é, ausência de questionamento dos princípios do paradigma. No desenvolvimento desse tipo de ciência prevalecem a não percepção de novos fenômenos e o desinteresse pela invenção de novas teorias: "A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma freqüentemente nem são vistos. ... Os cientistas também não estão constantemente procurando inventar novas teorias, freqüentemente mostram-se intolerantes com aquelas inventadas por outros" (Kuhn, 1996a, p. 45).

A pesquisa normal, tenaz e detalhada, apesar de não ser um empreendimento dirigido para a descoberta de novidades, mesmo tendendo a suprimi-las, por contraditório que possa parecer, é eficaz na geração de novidades, seja pela descoberta de fatos, seja pela invenção de teorias inovadoras.

Anomalias, crise paradigmática e revolução científica

Como o paradigma dominante entra em crise? E o que acontece se a crise não é superada? Quais os processos implicados numa mudança de paradigma? Para se responder a estas questões é preciso entender o processo aparentemente paradoxal que é uma fase essencialmente cumulativa, como a ciência normal, acabar propiciando o aparecimento de novidades factuais e teóricas.

Embora reconheça um certo artificialismo na dualidade entre fato e teoria, Kuhn (1996a, p. 78) analisa separadamente o papel que as descobertas de fatos novos e a invenção de novas teorias cumprem nas mudanças de paradigmas científicos.

Para compreender as descobertas, o autor utiliza o conceito de ‘anomalia’, que define como o resultado experimental não assimilado pela teoria vigente, produzido inadvertidamente por um jogo que se joga segundo regras estabelecidas pela matriz disciplinar: "A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal."

A novidade emerge para aquele que, sabendo com precisão o que deveria esperar, não só sabe reconhecer o que procura, mas também é capaz de reconhecer que ‘algo saiu errado’, algo novo, diferente do esperado. A percepção de uma anomalia é a capacidade invulgar de reconhecer um fenômeno não previsto pelo paradigma, e para o qual o investigador não fora preparado.

Anatomia de uma descoberta

A narrativa de uma descoberta famosa, apresentada pelo geneticista inglês Steve Jones (1996) num manual para iniciantes, ilustra características do paradigma, seus conceitos, leis e teorias e também valores e crenças, que podem impedir a percepção do novo por parte daqueles que, diferentemente dos jovens ou dos recém-chegados à disciplina, estão completamente aderidos à matriz disciplinar. O texto de Jones nos dá também a oportunidade de ver como as categorias kuhnianas se aplicam à análise de uma descoberta revolucionária na área biomédica, com grandes implicações para a nova aliança entre filosofia e ciência, a bioética (Schramm, 1996, pp. 114-5).

Trata-se da descoberta da estrutura do DNA e do código genético. Depois dos estudos revolucionários de Mendel sobre a hereditariedade, o norte-americano Thomas Morgan, no início do século, relacionou e localizou os genes nos cromossomos, e seu aluno Surtevant iniciou a cartografia dos encadeamentos genéticos (Jones, 1996). Tais avanços e os que a eles se seguiram são fruto da tenacidade da ciência normal decorrente da descoberta de Mendel.

A questão consistia em saber onde estavam as partículas hereditárias. Um bioquímico alemão, Miescher, já havia descoberto um ácido no núcleo das células, o ácido nucléico. Posteriormente, constatou-se que eram dois ácidos: o ribonucléico (RNA) e o desoxiribonucléico (DNA). Muller, em 1930, usando raio X, concluiu que o ‘princípio da hereditariedade’ deveria ser uma substância química. Presumia-se que ela estava no núcleo das células, o qual, além de conter muitas proteínas, continha os ácidos nucléicos. As proteínas possuíam estrutura química mais complexa, com número de blocos químicos muito maior do que os ácidos nucléicos. Estes continham apenas quatro blocos de aminoácidos muito semelhantes e, portanto, menos promissores para quem valorizava a quantidade e a dessemelhança. Os estudos voltaram-se para as proteínas e, durante muitos anos, "os ácidos nucléicos foram postos de parte como sendo a ‘substância incômoda’" (Jones, 1996, p. 48). Eis um exemplo de como os valores interferem na ciência.

Em 1944, Avery e colaboradores, trabalhando com bactérias, descobriram que o ‘princípio transformista’ era um ácido nucléico. Estudos posteriores mostraram que o RNA existia no núcleo e no citoplasma, mas o DNA só no núcleo. Em seguida, verificou-se que os vírus também tinham DNA. Esse ácido era a única substância que os vírus bacteriófagos introduziam nas bactérias hospedeiras, onde se reproduziam milhares de vírus idênticos ao invasor. Deu-se um nó na cabeça dos pesquisadores: como poderia uma substância tão simples copiar-se e transmitir a informação de uma geração para a seguinte?

Na época, a cristalógrafa Rosalind Franklin utilizava raios X para fazer a análise das moléculas biológicas, sem conseguir ‘perceber’ a estrutura do DNA: sua ‘visão’ estava por demais comprometida com o paradigma que a tornou tão renomada em cristalografia. Outros cientistas — entre os quais o químico Linus Pauling — já haviam observado o padrão de difração que se apresentava quando o raio X incidia sobre o DNA, mas, como Rosalind, nenhum teve o insight.

Tal compreensão intuitiva ocorreu a dois cientistas: o jovem biólogo norte-americano James Watson (1928), que, aos 22 anos, foi trabalhar na Inglaterra e logo se tornou parceiro do físico Francis Crick (1916). Eles também empregaram métodos desenvolvidos pelos físicos para o estudo de cristais na análise de moléculas biológicas e observaram o padrão de difração provocado pela incidência dos raios X sobre o DNA (idem, p. 56). Confessaram mais tarde que faziam esses estudos de modo quase diletante (Jones, 1996, pp. 54, 56, 58). Utilizando cálculos matemáticos avançados, deduziram a forma do DNA, da mesma maneira como era deduzida a estrutura dos cristais, porém com um olhar não condicionado pelo paradigma da cristalografia. De repente, tudo começou a se ajustar e, em 1953, "viram que a melhor explicação para os padrões que emergiam dos raios X era uma ‘dupla hélice’ — uma estrutura um pouco como uma escada em espiral". Ao anunciarem a descoberta num artigo publicado em Nature, em 1953, admitiram com alguma presunção: "Não nos passou despercebido que o emparelhamento específico que postulávamos sugeria um possível mecanismo de cópia do material genético’."

A descoberta da estrutura do DNA deu início a uma revolução científica cujos subprodutos mais famosos são a ovelha Dolly e todas as polêmicas e implicações bioéticas que as clonagens e os transgênicos têm suscitado.

As respostas à anomalia

Apresentando-se as anomalias, quais seriam as possíveis respostas? A primeira seria, já de início, ignorá-las simplesmente. Uma das finalidades de um paradigma é oferecer critérios para a escolha de problemas. "Um paradigma pode até mesmo afastar uma comunidade daqueles problemas sociais relevantes que não são redutíveis à forma de ‘quebra-cabeça’" (Kuhn, 1996a, p. 60). Um problema tipo quebra-cabeça é aquele cuja solução dependa tão-somente da habilidade do pesquisador. Estudos como os de Prigogine (1996), Morin (s. d.) e do próprio Kuhn demonstram que a confiança dos cientistas no desenvolvimento científico-tecnológico e, em alguns casos, a presunção de terem obtido a verdade definitiva e universal devem-se a esse procedimento de elidir as anomalias, afastar tudo que escapa às regras derivadas das matrizes disciplinares que orientam seus campos. A tarefa de paradigmas emergentes nas ciências naturais contemporâneas tem sido enfrentar muitos dos problemas colocados entre parênteses, como a questão do tempo (ilusório ou real), da complexidade dos fenômenos, da interferência do sujeito nos fenômenos investigados e outras incertezas que puseram em crise o paradigma tradicional.

A segunda resposta possível à anomalia é a tentativa de equacioná-la como um quebra-cabeça. Entretanto, quando o problema não é resolvido pelos melhores quadros da disciplina, através dos procedimentos paradigmáticos, os pesquisadores reconhecem que é chegado o momento de renovar seus instrumentos e teorias. Se o problema persiste depois desse esforço, em geral, passam a ignorá-lo, como na primeira resposta.

Funtowicz e Ravetz (1997, p. 122) propuseram o conceito de "ciência pós-normal" para "caracterizar a ultrapassagem de uma era em que a norma para a prática científica eficaz podia ser rotineira resolução de quebra-cabeça". Isso já não seria possível agora que lida com problemas de grande incerteza e com elevadas decisões em jogo. Entretanto, os autores não utilizaram os conceitos de ‘paradigma’ emergente e inovador numa situação de crise, e de ‘pesquisa extraordinária’, que julgamos mais eficazes para dar conta da nova realidade. É possível que o caráter poliparadigmático não seja específico às ciências humanas, adequando-se também às ciências aplicadas que necessitam de abordagens transdisciplinares para enfrentar objetos complexos, como meio ambiente e saúde.

Há, portanto, uma terceira possibilidade de resposta: se, com o paradigma rearticulado teoricamente e renovado tecnologicamente, persiste o fracasso nas tentativas de solução do problema como quebra-cabeça, alguns cientistas — em geral jovens ou, pelo menos, novos na área, ainda não comprometidos por longa convivência com o paradigma vigente — encaram o problema como contra-exemplo, conscientes de que sua "resistência" não se deve à inabilidade de quem investiga. Não é "o mau carpinteiro culpando sua ferramenta".

Em síntese, quando cresce o número de anomalias não absorvidas pela pesquisa normal, quando elas colocam em xeque as generalizações fundamentais do paradigma ou quando inibem as aplicações práticas, a ciência encontra-se numa fase de ‘crise paradigmática’. Com a persistência da crise, o empreendimento científico vive um processo de transição, pois a pesquisa não mais se ajusta a uma situação de ciência normal e sim de pesquisa extraordinária (Kuhn, 1996a, pp. 117-8).

Nessa fase, ocorrem geralmente diferentes situações: proliferação de teorias e pesquisas aleatórias muitas vezes conflitantes, recurso à análise filosófica com debates sobre os fundamentos teórico-metodológicos, verdadeira explosão de descobertas e até a revalorização de fatos anteriores, vistos, então, de modo novo.

Outra característica da crise é a expressão de descontentamento de cientistas, sua disposição para criar ou abraçar propostas inovadoras visando a solução das ‘charadas’ de sua área de estudo. À época da crise da astronomia ptolomaica, é famosa a analogia que Copérnico estabeleceu entre a herança recebida dos astrônomos anteriores e um artista que, pintando isoladamente partes perfeitas do corpo humano, acabou, no todo, produzindo um ‘monstro’. Pois foi enfrentando esse ‘monstro’ que Copérnico elaborou a inovadora teoria heliocêntrica.

A análise histórica mostra ainda que a crise de paradigmas não é necessariamente gerada pelo trabalho da comunidade que a experimenta: novas teorias e novos instrumentos podem ser desenvolvidos numa especialidade, mas sua assimilação pode provocar crise em outra especialidade (idem, ibidem, p. 225). Exemplos disso são tanto a teoria atômica de Dalton, que originalmente estava preocupado com questões meteorológicas, a descoberta do raio X, a construção do microscópio eletrônico etc. Fenômenos desse tipo enfraquecem as regras que presidem a resolução dos quebra-cabeças, o que acaba permitindo a emergência de novo paradigma, resultante de um processo que Kuhn chamou de revolução científica.

E viva a revolução... científica!

O conceito de revolução científica, tomado da ciência política por Kuhn (idem, p. 126), serve para "aqueles episódios de desenvolvimento não cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior". Ou seja, é uma reconstrução da área que altera conceitos, leis, teorias, métodos e aplicações.

Com a mesma liberdade, podemos utilizar conceitos políticos gramscianos para pensar a revolução científica como superação do paradigma ‘tradicional’ por um paradigma emergente que se torna ‘hegemônico’. Essa hegemonia implica um deslocamento da rede conceitual, "uma nova forma de ver o mundo" (op. cit., p. 137). A idéia de deslocamento conceitual tem sua origem, provavelmente, em Fleck (1986) e na escola polonesa de filosofia da medicina. Um de seus membros mais importantes, Zygmunt Kramsztyk, demonstrou que as observações dos patologistas eram guiadas pelas idéias que tinham acerca da doença que estudavam, e que, mudando os conceitos, mudava também o que era visto numa dissecação ou no microscópio. "Por isso, os desenhos das ‘imagens patológicas típicas’ num determinado período não são percebidos como úteis algum tempo depois" (apud Löwy, 1994, p. 14).

Kuhn (1996a, p. 152) explorou as conseqüências dessa idéia de uma nova forma de ver determinada por novos pressupostos do observador. Tomando como exemplo a revolução copernicana, que estudara detalhadamente em 1957, diz: "A própria facilidade e rapidez com que os astrônomos viam novas coisas ao olhar para objetos antigos com velhos instrumentos pode fazer com que nos sintamos tentados a afirmar que, após Copérnico, os astrônomos passaram a viver em um mundo diferente."

Além de ‘ver’ coisas novas como o raio X, o oxigênio ou o DNA, os cientistas vêem também coisas familiares de outro modo: a Terra não é mais fixa, move-se agora; o espaço não é mais plano, é curvo; e assim por diante. Uma das mais interessantes teses kuhnianas, aliás uma de suas dívidas com Fleck e a filosofia médica polonesa, é a da incomensurabilidade dos paradigmas, isto é, a dificuldade e, muitas vezes, a impossibilidade de comunicação entre diferentes paradigmas. Termos do paradigma tradicional podem ser conservados, mas eles são necessariamente redefinidos. O autor ilustra isso com vários exemplos, o mais instigante dos quais é a transição da mecânica newtoniana para a einsteiniana.

A idéia de descontinuidade na história das ciências é, portanto, muito anterior ao pensamento de Kuhn. Seja com a denominação de mudança de estilo de pensamento, ruptura epistemológica, viragem ou revolução científica, historiadores e filósofos da ciência recusaram a visão idealista do avanço progressivo, linear e cumulativo da ciência. É o caso, por exemplo, do filósofo Gaston Bachelard (1978, pp. 177-8) que, em 1934, escreveu:

Para Meyerson, a doutrina dos ‘quanta’ é de essência aberrrante e esta aritmetização do possível não está longe de ser tida por irracional. Ao contrário, cremos que esta doutrina estende positivamente nossa concepção do real e que é uma conquista da nova razão sobre o irracionalismo. "Essa crise é portanto uma crise de crença normal." ... os resultados pedagógicos na demonstração dedutiva de certas conseqüências relativistas não tiram nada do "caráter genial e inesperado da revolução einsteiniana".

Outro exemplo é o historiador da ciência e epistemólogo Alexandre Koyré (s. d., p. 11), que diz o seguinte a respeito da obra de Galileu:

O nome de Galileo Galilei encontra-se indissoluvelmente ligado à "revolução científica" do século XVI; uma das mais profundas, se não "a mais profunda revolução" do pensamento humano depois da descoberta do cosmo pelo pensamento grego: "uma revolução que implica uma ‘mutação’ intelectual radical", de que a ciência física moderna é, ao mesmo tempo, expressão e fruto.

Há ainda, é claro, Immanuel Kant (1997, p. 23), já mencionado como precursor da idéia de revolução como descontinuidade não só na ciência, mas na própria filosofia: "A tarefa desta crítica da razão especulativa consiste neste ensaio de ‘alterar o método que a metafísica até agora seguiu’, operando assim nela uma ‘revolução’ completa, segundo o exemplo dos geômetras e dos físicos."

A revolução científica não é aceita pacificamente, embora suas transformações costumem ser apresentadas nos tratados, manuais e obras de divulgação, de modo linear, como se o ‘progresso’ histórico fosse construído "tijolo por tijolo num desenho lógico". Os depoimentos dos próprios cientistas fornecem as melhores evidências a respeito das descontinuidades. Darwin (1987, p. 369), que enfrentou resistências por causa das implicações religiosas de suas idéias, que só encontram paralelo nas revoluções copernicana e galileana, assim se manifestou:

Embora esteja profundamente convencido da verdade das opiniões que em breves palavras expus no presente volume, não espero convencer alguns naturalistas, muito experimentados sem dúvida, mas que, desde longo tempo, estão habituados a ver um conjunto de fatos sob ponto de vista diretamente oposto ao meu ... porém tenho mais confiança no futuro dos novos naturalistas, que poderão estudar imparcialmente as duas facetas da questão.

Não é menos sincera e amarga a seguinte observação de Max Planck na Autobiografia científica de 1949: "uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem e uma nova geração cresce familiarizada com ela" (apud Kuhn, p. 191).

Depoimentos como esses deixam claro que a substituição do paradigma tradicional pelo inovador não é um processo sem enfrentamentos e oposições. A capacidade de resolução de problemas, de reflexão mais precisa e de predição de fenômenos antes insuspeitados são fatores muito importantes, mas insuficientes para determinar a aceitação do novo paradigma. Este, quando é proposto inicialmente, em geral não resolve mais que alguns problemas, e a maioria das soluções está longe de ser perfeita. Os defensores do paradigma tradicional podem sempre apontar problemas que o novo paradigma não resolveu. Se ele tivesse de ser julgado desde o início pelos resultados que oferece, "as ciências experimentariam muito poucas revoluções de importância" (idem, ibidem, p. 198).

Para não concluir

A ‘crise paradigmática’ mereceu destaque nesta análise, em primeiro lugar, por ser um processo que atravessa não só as ciências sociais, mas as próprias ciências naturais, cujos alicerces vêm sendo abalados pelas descobertas e invenções contemporâneas, pelo reconhecimento de que vivemos uma ‘era de incertezas’, uma ‘nova aliança’, o reencantamento do mundo em toda sua complexidade.

A situação de crise e possível transição paradigmática apresenta-se de modo mais agudo, e com contornos próprios, nas áreas de conhecimento aplicado, cujas práticas baseiam-se tanto nas ciências naturais quanto nas sociais, como é o caso da saúde pública, saúde mental, medicina e psiquiatria.

Não obstante o historiador da medicina Karl Rothschuh, citado e avalizado por Canguilhem (1994, p. 155), considerar "o quadro teórico de Kuhn, embora útil para compreender a incorporação dos avanços das ciências básicas, ... inadequado para dar conta das dificuldades encontradas pela medicina clínica, devido à complexidade e variedade do seu próprio objeto", julgamos que nos proporciona importantes ferramentas para fazer avançar o estado atual da arte.

Recebido para publicação em junho de 1998.

Aprovado para publicação em março de 1999.

Agradeço aos professores e filósofos Fermin Roland Schramm (Fiocruz) e José Romélio Aquino (UFBA) pelas críticas e sugestões, como também à profa. Vera Lúcia Formigli do Departamento de Medicina Preventiva (Famed-UFBA) pela revisão cuidadosa do texto.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 2000

Histórico

  • Aceito
    Mar 1999
  • Recebido
    Jun 1998
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