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T E S E S

Vírus dengue tipo 2 do Brasil: aspectos morfológicos e perfil das proteínas

No presente trabalho foram estudadas amostras de vírus dengue tipo 2 (DEN-2) isoladas de soros de pacientes, de alguns estados do Brasil, em cultura de células de mosquito Aedes albopictus (clone C6/36). Estudos em microscopia eletrônica de transmissão das culturas infectadas mostraram partículas de vírus típicas (37-50nm) e outras atípicas (65-75nm), dentro de cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Ambos os tipos de partículas persistiram até a quinta passagem em cultura. Esses dados morfológicos mostraram-se diferentes quando comparados com as partículas típicas presentes no protótipo do vírus DEN-2 Nova Guiné "C" (NG "C").

O perfil das proteínas do vírus DEN-2 foi avaliado por ensaios de eletroforese associados à reação de immunoblotting e marcação metabólica (35S-metionina) das proteínas com imunoprecipitação. Os ensaios de immunoblotting foram realizados com os extratos celulares infectados com os vírus isolados, em comparação com o protótipo NG "C", utilizando anticorpos policlonal e monoclonal específicos para o vírus DEN-2. Esses ensaios sugeriram um reconhecimento imunológico da proteína não-estrutural (NS) do tipo NS3 nas faixas de 93,7-70,7kDa e da proteína estrutural de envelope do tipo E nas faixas de 64,8-56,4kDa, usando os dois anticorpos. Os ensaios de marcação metabólica foram realizados para estudar as proteínas do vírus DEN-2 isolado no Rio de Janeiro (RJ). Foi observado uma marcação majoritária das proteínas dos tipos NS5 nas faixas de 93,0-86,4 kDa, NS3 nas faixas de 72,5-66,8kDa, E na faixa de 62,4kDa, NS1 na faixa de 41,2kDa e C-prM na faixa de 37,2kDa na amostra do vírus DEN-2 RJ, quando comparado com o protótipo vírus NG "C" que por sua vez apresentou proteínas do tipo NS5 nas faixas de 101,5-97,2kDa, NS3 nas faixas de 80,3-66,4kDa, E na faixa de 60,4kDa, NS1 nas faixas de 48,1-41,1kDa, C-prM na faixa de 37,6kDa e do tipo NS4b nas faixas de 27,4-25,1kDa em nossas condicões experimentais. Os ensaios de imunoprecipitação dessas preparações com anticorpos específicos indicaram um reconhecimento das proteínas dos tipos NS3 e E. Adicionalmente, análises de immunoblotting utilizando vírus purificados sugeriram a ocorrência de diferenças de reconhecimento imunológico desse perfil, usando soro de pacientes com anticorpos IgG. Neste caso, os soros revelaram proteínas do tipo NS3 somente do vírus DEN-2 RJ. O conjunto destas análises sugere que o perfil das proteínas do vírus DEN-2 RJ reserva diferenças quando comparado com o protótipo NG "C".

Luzia Monteiro de Castro Côrtes

Dissertação de mestrado Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

Laboratório de Ultra-Estrutura Viral do Departamento de Virologia

luzia@ioc.fiocruz.br

A tênue fronteira entre a saúde e a doença mental: um estudo de casos psiquiátricos à luz da nova história cultural (1937-50)

Esta dissertação propõe a analisar, através de um exercício de interdisciplinariedade e de um estudo de casos psiquiátricos, as representações simbólicas relativas à doença mental, pertinentes ao imaginário de um segmento da sociedade gaúcha, no período histórico que vai de 1937 a 1950. Através da relação de conceitos da nova história cultural e da psicologia médica de C. G. Jung, lançou-se luz sobre os dados encontrados nas fontes, quais sejam, as representações encontradas no imaginário dos doentes, cotejando-as sempre com aquelas que determinavam a terapêutica dentro de uma instituição psiquiátrica, mais especificamente no Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre. A partir de minha trajetória individual e profissional (médica psiquiatra), sempre me pareceu importante considerar a loucura não somente do ponto de vista do saber médico institucionalizado, competente cientificamente para diagnosticá-la e tratá-la, mas também daquele que a imagina, a sente e a vive. Nesta perspectiva, entrou-se em contato com outras variantes, como, por exemplo, as motivações que levaram familiares a enviar seus parentes à instituição (seu entendimento sobre o que seja a loucura nestes casos) e a própria visão que o paciente possui de sua 'doença' e de sua experiência de internação. No terceiro capítulo, que leva o título da dissertação, analisamos caso de um paciente internado em 1937, tanto sob o ponto de vista médico quanto sob o ponto de vista do imaginário de uma época e do próprio doente. Os instrumentos analíticos da psicologia médica de Jung e da nova história cultural fertilizaram-se neste trabalho, a fim de dar conta de um olhar mais humano sobre a "loucura".

Nádia Maria Weber Santos

Dissertação de mestrado, 2000

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH)

nmws@zaz.com.br

Influenza, a medicina enferma — ciência e práticas de cura na época da gripe espanhola em São Paulo

A partir do estudo da epidemia de gripe espanhola na cidade de São Paulo, o trabalho procura recuperar a desestruturação do cotidiano na capital, a mobilização popular e oficial diante da catástrofe epidêmica e, principalmente, como os doutores agiram (e reagiram) diante do estrondoso fracasso da ciência médica representado pela influenza epidêmica. O texto resgata aspectos de uma época em que "arautos" da medicina científica buscavam, pouco a pouco, se diferenciar e distanciar de maneira mais contundente daqueles que exerciam outras práticas de cura, "especializando" seus pronunciamentos e indicando o local onde eles deveriam ser feitos, tornando-os cada vez mais opacos aos leigos. Partindo da idéia de que os caminhos da ciência são feitos e refeitos por homens em seus relacionamentos sociais, acompanhar a trajetória de alguns desses indivíduos em uma época singular, a da influenza de 1918, é tentar resgatar percursos sinuosos de um conhecimento que é gerado na sociedade e se transforma e sustenta através da interação social das pessoas, inclusive dos chamados pacientes, com suas críticas e reivindicações, e dos portadores de outras formas de saber sobre a saúde e a doença, quer através de discussões e conflitos, quer por meio de aproximações e identificações.

Liane Maria Bertucci

Tese de doutoramento, 2002

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

Departamento de História

Caixa Postal 6110

13081-970 Campinas — SP Brasil

lianemb@obelix.unicamp.br

Videografias do coração: um estudo etnográfico do cateterismo cardíaco

Esse trabalho investiga como o conhecimento médico é produzido, e reproduzido, através do uso de imagens no contexto da prática médica, ou seja, como o processo de leitura e interpretação de imagens médicas é construído e como tais imagens são julgadas como diagnóstico. Para tanto, optamos por enfocar um procedimento específico de diagnóstico por imagem de uma patologia particular — o cateterismo cardíaco, realizado para diagnosticar obstruções coronarianas.

Com base em estudo etnográfico, centralizamos o estudo num ambiente onde fosse possível acompanhar não só a realização do cateterismo, mas também o treinamento dos médicos que realizam esse procedimento, por isso a escolha de um hospital-escola.

Combinando elementos da literatura sobre mundos sociais e da sociologia da medicina, argumentamos que a interpretação das imagens pode estar ligada à posição social, ao status do médico quanto ao gênero (do médico e do paciente), à sua idade e número de casos realizados (experiência), formação acadêmica, local na hierarquia profissional, posição na e da instituição em que atua. Desse modo, aquilo que os médicos vêem quando olham uma imagem gerada por artefatos técnicos é produto de certos procedimentos de fixação de evidência socialmente organizados. A interpretação dominante de uma imagem, portanto, não é a única possível e a decisão médica que se orienta a partir dela reflete, tanto do ponto de vista do diagnóstico como do prognóstico, preferências relativas à prática médica.

Concluímos que, embora os médicos aprendam como ler e interpretar imagens através de treinamento específico, aperfeiçoando suas habilidades durante a prática médica, esse treinamento e essa prática se dão dentro dos limites de determinados 'paradigmas' ou 'escolas'. Ou seja, o que eles 'vêem' é o que 'aprenderam a ver' com base em compromissos, vínculos com determinadas tradições de pesquisa, adquiridos durante a formação acadêmica, na prática profissional junto à instituição em que atuam, em suas áreas de especialização, e enquanto integrantes de determinados segmentos sociais.

Rosana Horio Monteiro

Tese de doutoramento, 2001

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Departamento de Política Científica

e Tecnológica (DPCT)

monter1@uol.com.br

Nos jardins de São José: uma história do Jardim Botânico do Grão-Pará (1796-1873)

O objeto do estudo é a institucionalização das ciências naturais na Amazônia entre o fim do período colonial e meados do século XIX, quando foi criado e mantido em atividade o Jardim Botânico do Grão-Pará. A criação desse jardim, em 1796, deve ser entendida no contexto da montagem das redes de jardins coloniais por alguns países europeus, no caso, da rede de intercâmbios vegetais que Portugal intentou montar nas suas colônias. Mas, também, no contexto das disputas territoriais da Coroa lusitana na segunda metade do Setecentos, que justificou os investimentos feitos para a melhoria das condições urbanas de Belém.

A instalação do Jardim Botânico do Grão-Pará, seguida da construção de um complexo agrícola para o cultivo de especiarias, madeiras e plantas medicinais — aqui denominado "jardins de São José" em alusão ao antigo convento vizinho ao complexo — foi analisada tendo-se como referência esses contextos de concorrência entre as potências coloniais e as tentativas de diversificação da agricultura postas em prática pela Coroa lusitana. Nesse período, o jardim paraense desempenhou um papel central no intercâmbio de vegetais entre as várias capitanias brasileiras.

Essa rede se consolidou após a invasão da Guiana Francesa, em 1809, quando foram criados ou ampliados jardins botânicos em outros pontos do território luso-brasileiro para aclimatar as plantas cultivadas em Caiena. Após a devolução da Guiana ao governo francês, em 1817, os administradores do jardim paraense mantiveram ativos os seus experimentos agrícolas. Nessa época, destaca-se a administração do médico Antônio Corrêa de Lacerda (1777-1852), que tentou organizar cientificamente o jardim e iniciou nesse estabelecimento seus estudos naturalistas.

Entretanto, os conflitos ocorridos durante o processo de independência do Brasil e durante a regência, particularmente violentos no Pará, inviabilizaram o funcionamento do jardim botânico. Em 1839, no contexto das reformas regenciais, o jardim paraense tornou-se uma instituição provincial, tendo sido recuperado, após essa data, de acordo com novos modelos institucionais. Transformado em jardim público, foi transferido de local, ampliado e embelezado. A função que desempenhava como espaço de sociabilidade intelectual foi assumida por novas instituições, como o Museu Paraense, criado em 1866. Nessa nova instituição provincial, naturalistas e intelectuais passariam a se articular entre si e com as autoridades locais visando a proteção e o apoio para suas atividades. Em 1873, o jardim botânico foi definitivamente abandonado após ter sido submerso nas enchentes anuais que ocorreram em Belém desde o início da década.

Nelson Rodrigues Sanjad

Dissertação de mestrado, 2001

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Instituto de Geociências Caixa Postal 6152

3083-970 Campinas — SP Brasil

nsanjad@uol.com.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2004
  • Data do Fascículo
    Ago 2002
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