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TESES

A Revista Brasileira: vulgarização científica e construção da identidade nacional na passagem da Monarquia para a República

Moema de Rezende Vergara

Tese de doutoramento, 2003. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura do Departamento de História Rua Gago Coutinho, 60/505 22221-070 Rio de Janeiro — RJ Brasil Moema@mast.br

Nosso principal objetivo foi destacar a ciência no processo de formação de uma identidade nacional na passagem da Monarquia para a República, a partir da leitura de duas fases distintas da Revista Brasileira, dos anos de 1879 a 1900. Para tal, utilizamos o conceito de vulgarização científica, que nos permitiu verificar as práticas de popularização da ciência junto ao público leigo.

Essa revista foi escolhida por ser um importante espaço de expressão dos intelectuais da época. cabe lembrar que foi nas reuniões em sua sede que surgiu a Academia Brasileira de Letras, em 1897. Além de sua importância para o estudo da história da literatura no Brasil, essa revista contou com a colaboração dos principais cientistas do final do século XIX no Brasil, como João Batista de Lacerda, Luís Cruls, Louis Couty, Emílio Goeldi, Orville Derby, entre outros. Isto nos possibilitou analisá-la também como um veículo de popularização científica, enriquecendo a nossa reflexão sobre a questão da comunicação pública da ciência no Brasil, que contou com a ativa participação, naquele momento, de cientistas e de literatos.

Idéias sem fronteiras: da generalidade à especialização no pensamento intelectual do Brasil republicano (1895-1935)

Dominichi Miranda de Sá

Tese de doutorado defendida em 15/12/2003 no Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro dominichi@uol.com.br

O objeto da tese é a análise das mudanças nos juízos por intermédio dos quais os letrados das três primeiras décadas do século XX firmavam os seus critérios de reconhecimento intelectual. Mais especificamente, procurei examinar o processo de especialização da atividade intelectual, privilegiando na investigação a emergência do 'cientista'. Meu interesse foi o de compreender o seu surgimento tanto como o profissional da pesquisa aplicada, quanto como uma das vozes mais ativas na defesa de um padrão mais especializado de formação e produção intelectuais.

Na tese, discuto como os cientistas da três primeiras décadas do século XX se mostravam impacientes com o suposto ecletismo intelectual da cultura brasileira. E, para enfrentá-lo, empreenderam vigoroso combate contra a retórica, sinônimo de espiritualismo, de teoricismo, de literatura romântica, de enciclo-pedismo e do excesso palavreador. Todo um debate indissociável das mudanças que pleiteavam na natureza do próprio trabalho científico no Brasil. Demandas que seguiram de par, nas décadas de 1910, 1920 e 1930, com a fundação da SBC em 1916 — onde se reuniram, aliás, como os 'profissionais da ciência' — e, mais posteriormente, com a fundação da ABE em 1924, com o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932 e com a consolidação das universidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, de modo a "ensinar ciência", formando novos especialistas, pesquisadores e professores. Registre-se que, além da defesa da criação de universidades, onde, 'profissional da ciência pura' que idealizavam, exatamente, pudesse ser formado, discutiram ainda as fronteiras entre as áreas do conhecimento; o incentivo ao exercício de uma atividade permanente como um modo de vida; a exortação à realização de pesquisas originais; e, prioritariamente, a definição de novas áreas de atuação pública, em que a educação e a vulgarização científica figuravam como os modos mais eficazes de pôr termo às indecisões em torno da inviabilidade do Brasil como nação civilizada.

No discurso científico do período, a adoção do modelo especializado era indissociável da refutação da ascendência retórica ibérica sobre a cultura nacional. E a ela contrapunham, exatamente, a defesa da 'ciência' — a imagem mais pungente da 'civilização' e da 'modernidade' — e seus demais elementos pares tais como a padronização conceitual; o emprego da evidência empírica e da prova; a importância da observação e do experimento; a adoção da técnica, do parcelamento das atividades profissionais e de uma pedagogia da disciplinarização do tempo de trabalho.

Em toda a tese procurei mostrar como, naquelas décadas, coexistiram tanto 'velhos' critérios de reconhecimento intelectual e 'novos' modelos de expressão das idéias, quanto ainda 'velhos' tipos sociais e 'novas' definições da atividade criadora. Ao argumentar que novidades teóricas, sugerindo novos parâmetros para o discurso e para a carreira científica, se infiltraram com heranças culturais, procurei não reificar a identidade profissional — sob o epíteto de 'os cientistas' — que os reunia como grupo social. A idéia foi a de discutir a validade e o sentido dessa categorização aos seus próprios olhos, sem com isso eliminar a complexidade das suas interações sociais, a variedade dos repertórios de teorias que mobilizavam e tampouco as suas hesitações e incoerências de comportamento ou a multiplicidade dos seus vínculos institucionais.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2004
  • Data do Fascículo
    Abr 2004
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