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TESES

Observar o céu e medir a terra: instrumentos científicos e a participação do Império do Brasil na Exposição de Paris de 1889

Alda Heizer

Tese de doutoramento, 2005 Instituto de Geociências, Unicamp Campinas – SP Praia do Flamengo, 194/101 22210-030 – Rio de Janeiro aldaheizer@mast.br

A presente pesquisa tem por finalidade contribuir para a História das Grandes Exposições da segunda metade do século XIX, sublinhando a participação do Império do Brasil nesses grandes eventos, em particular na Exposição Universal de Paris de 1889. Consideramos possível, ao analisar catálogos de instrumentos científicos, relatórios, memórias e revistas científicas, entre outras fontes, identificar pistas que nos revelam que o Império do Brasil pretendia desfazer a imagem de flor exótica nos trópicos. Com base na constatação de que os trabalhos acadêmicos realizados no Brasil sobre esses grandes eventos, da década de 1980 para cá, não se ocuparam da participação dos países da América Latina, este trabalho pretende se desenvolver na confluência de linhas de pesquisa que, embora plenamente articuláveis, permanecem, até hoje, em grande parte dissociadas na produção historiográfica nacional. Trata-se de pesquisas em História das Exposições Universais e em História dos Instrumentos Científicos.

Alimentação, saúde e doenças em Goiás no século XIX

Sônia Maria de Magalhães

Tese de doutoramento, 2004 Faculdade de História, Direito e Serviço Social Universidade Estadual Paulista – Unesp, Franca Av. São Vicente, 3.371, bloco 2, ap.31, Bairro Vila Santa Rita – 14402-720 Franca – SP – Brasil soniademagalhães@yahoo.com.br

Este estudo analisa o impacto das carências alimentares na saúde dos goianos ao longo do século XIX. Em decorrência das limitações da atividade de subsistência, que não conseguia produzir o necessário para o consumo, havia um verdadeiro estado crônico de carestia e de crise alimentar que comumente se tornava fome declarada e generalizada. Desde os tempos mais remotos, os goianos habituaram-se a buscar suprimentos alimentícios nas matas para completar a sua dieta, diante da insuficiente produção. Praticava-se a agricultura em pequenas propriedades, sobretudo em sítios, empregando, na maioria das vezes, somente a força de trabalho familiar. Não havia recursos para investir na compra de equipamentos capazes de melhorar a colheita.

Embora surtissem alguns efeitos, as ações administrativas, apenas paliativas, mostraram-se ineficazes no combate às crises alimentícias. A ação dos atravessadores, a sazonalidade climática, a falta de estímulo à agricultura, a ausência de técnicas, a falta de braços, os altos impostos e as dificuldades de comércio e transporte são fatores que se cruzam e entrecruzam para justificar aquela realidade. Tais condições determinaram a constituição de uma dieta banal que, na transição do século XVIII para o XIX, não passou por transformações importantes. Os goianos continuaram a ingerir um repasto baseado em milho, mandioca, arroz, feijão e carne-seca, temperado com pouquíssimo sal. Apesar de essa comida ter saciado a fome de muitos, a longo prazo contribuiu para a disseminação de doenças, especialmente as nutricionais.

Os subsídios produzidos por viajantes estrangeiros, administradores da província, militares, médicos e expedições mostraram que – apesar de apresentarem algumas divergências quanto à origem das doenças – os goianos padeciam de inúmeros males. Os registros de óbito emitidos pelo Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara, da mesma forma, descortinaram a realidade, pouco conhecida, sobre o cenário nosológico daquela região.

Em relação às doenças nutricionais, numa época em que não se conhecia o conceito de vitamina, os registros de óbito revelaram algumas informações sobre a relação da alimentação com as doenças. Entre as crianças, seus efeitos puderam ser averiguados por meio dos sintomas de marasmo, fraqueza, molificação, atrepsia (marasmo dos recém-nascidos), raquitismo, dentição, caquexia, anemia, mielite (concebida pelos médicos locais como beribéri) e inúmeras doenças gastrintestinais. Entre os adultos, o bócio, o beribéri e o escorbuto constituíam-se nos males mais corriqueiros. Outros indícios, caracterizados por edemas, emagrecimento, bócio, dermatites, cegueira, moleza, deformidades, diarréias e nervosismo balizaram o impacto das dietas inadequadas.

O processo de institucionalização da medicina em Goiás, intensificado ao final do século XIX, também foi analisado neste estudo. Naquela época verificou-se um movimento buscando definir os espaços ocupados pelos que atuavam a serviço da saúde, e a formação acadêmica passou a ser requisito obrigatório para a prática médica.

Representações sobre saúde e doença entre os Guarani Nhandeva

Maria Rosa M.Coutinho

Dissertação de mestrado em ciências sociais, 2004 Centro de Educação e Ciências Sociais Universidade Federal de São Carlos (SP) Rua Dona Francisca, 2245, 89221-000 Joinville – SC – Brasil mariarosacoutinho@yahoo.com.br

Esta pesquisa teve como objetivo o estudo das representações sobre saúde e doença entre os Guarani Nhandeva residentes na aldeia de Biguaçu, município do estado de Santa Catarina, sul do Brasil. O estudo teve como principal motivação a importância do próprio tema dentro da cultura guarani, que traz em sua mitologia e, conseqüentemente, na organização do grupo, as prescrições de León Cadogan para uma vida saudável, apresentadas em "Sintesis de la medicina racional y mística Mbyá" (Guarani in America Indígena, nº 9, México, 1949). Assim, dediquei atenção às suas práticas médicas locais, mais precisamente ao xamanismo, elemento fundamental de sua cultura, tentando identificar as representações em relação ao processo saúde-doença tais como elas aparecem elaboradas pelo grupo, e como as práticas terapêuticas são usadas no seu cotidiano.

Nessa aldeia, os moradores guarani mais antigos autodenominam-se Nhandeva ou Avá-Chiripá, e reconhecem os demais grupos guarani como o Pãi, o Tambeupé e o Mbyá. Além desses Nhandeva, convivem membros do grupo Guarani Mbyá, que estão presentes há pouco tempo nessa área mas compartilham valores importantes de sua cultura, como o ritual xamânico, denominado por eles de 'reza de cura' ou 'benzimento', os rituais de passagem, a língua guarani, enfim, as referências simbólicas que os constituem como grupo étnico.

O estudo segue o viés traçado por C. Geertz, em A interpretação das culturas (Rio de Janeiro, Zahar, 1973) quando o autor observa que "fazer antropologia é analisar as formas simbólicas – palavras, imagens, instituições, comportamentos – em termos das quais os homens (people) se representam, para si mesmos e para os outros". Para isto, tanto os discursos dos informantes quanto as observações realizadas em campo foram considerados fundamentais.

Revisando as pesquisas realizadas sobre esta temática, Ana Maria Canesqui, em Dilemas e desafios das ciências sociais na saúde coletiva (São Paulo, Hucitec, Rio de Janeiro, Abrasco, 1995) lembra que os estudos sobre as representações da saúde tiveram diferentes enfoques teórico-metodológicos, e alguns conceitos utilizados nesses estudos são 'idéia', 'visão de mundo', 'formas de pensamento', 'identidade', 'significado', 'crenças', 'valores', 'imaginário' e 'percepção'.

O que esses estudos acabaram demonstrando é que as condições de estar doente ou saudável são experiências inerentes a todas as sociedades ou grupos humanos, os quais, no entanto, elaboram diferentes formas de lidar com tais experiências. Assim, percebeu-se a necessidade de uma renovação teórico-metodológica na área, uma vez que a diversidade cultural existente propõe novas questões nesse campo temático, mesmo porque a doença englobaria outras dimensões de natureza biológica, social, psicológica e cultural.

A presente pesquisa busca, portanto, focalizar as práticas e explicações terapêuticas do grupo Nhandeva na forma como elas aparecem no seu contexto social, conduzidas estas à reinvenção de seus símbolos e procedimentos como resultado da construção da sua identidade como grupo étnico.

Uma vez que as características sócio-culturais não se ausentam numa relação interétnica, também as diferenças no tratamento de doenças vão ser sempre percebidas e, dessa forma, a afirmação da medicina local poderá ser feita constantemente em relação a uma 'outra' que esteja sendo utilizada. Portanto, é nesse conjunto de relações e práticas que a identidade vai sendo construída e reconstruída, refletindo-se nas representações sobre saúde-doença.

Nessa mesma direção, procuro analisar a interação terapêutica com base no relacionamento dessas práticas, uma vez que os Nhandeva utilizam a medicina ocidental sem estabelecer uma oposição aos seus recursos terapêuticos. Estes, ao contrário, ganham uma importância significativa quanto às referências culturais sobre as quais o grupo se orienta.

Neste trabalho há um esforço por apreender o processo em que as representações sobre doença, corpo e saúde são elaboradas a partir dos conflitos que permeiam as relações intra e intergrupais que possibilitam, de acordo com essa visão, os 'ataques' dos agentes causadores das doenças, neutralizados somente com a ação do xamã. Sobre essa questão, especificamente, Victor Turner, em seu estudo "Symbols in Ndembu rituals" (The forest of symbols: aspects of Ndembu ritual, Cornell University Press, Ithaca, 1967), sugere que as sessões de cura funcionam como um momento de alívio das tensões e de reordenação grupal. De fato, na aldeia de Biguaçu, a ameaça e a suspeita de feitiçarias estão muito presentes no cotidiano do grupo, reforçando cada vez mais suas práticas terapêuticas. Nesse sentido, as sessões xamânicas são eventos importantes não só no controle das enfermidades, mas dos próprios conflitos internos, operando no sentido de manter a sua coesão pela participação vital em um processo que reafirma as suas crenças e valores como tais.

Barbarie y civilización: sangre, monstruos y vampiros en Buenos Aires durante el segundo gobierno de Rosas (1835-1852)

Gabriel Ferro

Dissertação de mestrado, 2003 Universidad de San Andrés, Buenos Aires, Argentina gabof@ciudad.com.ar

In early nineteenth century Buenos Aires people coexisted with different types of real, metaphorical or symbolical blood. As nobody could have been indifferent to it, the devices of the modern political practices did not allow blood to run fruitlessly around Buenos Aires in the very first moment of the great entrance of popular classes to the political activity. We are referring to the period in which Juan Manuel de Rosas considers the importance to have this society stimulated by means of some impressive representations. He makes up his own logos and slogans to conquer a new cluster of political actors. Flooding his speeches with metaphors of blood and monstrosity he also donates them a cast of enemies and a cause. Their adversaries will answer back using the same resource in their speech. So the Río de la Plata gets gory.

Although less bloody than many contemporary European regimes of that moment, the figure of Rosas and the rosismo were caught up into the cultural speech of blood and monstrosity since then.

In the twentieth century the Restaurador and its time are still in the very centre of the political debate. More than half a century away, authors still use the same resource to define Rosas and his times. If the word is the active element for the writing of history, the discursive weld "Rosas – Blood – Monstrosity – Barbarism" (the persistent joined points into the antirrosista speech) is enclosing an inestimable universe that deserves the attention to take a long hard look.

A hundred years after Rosas government, Juan Domingo Perón, his government and supporters are narrated using the cultural arsenal inherited by the founding fathers. As well from Montevideo (Uruguay) and in alternative supports similar to those ones used a century before, this device is reactivated by a new generation of guardians of the civilization to be thrown down on the symbolic figure and paradigm of barbarism in their own contemporary history.

Analyzing the emergency, foundation, diffusion and subsistence of the most recurrent tropos in plastic and literary attacks over Rosas, the historiography about his figure and government, this thesis examines the formation and intention of their collective creator to demonstrate how these metaphors have conditioned the way in which the period had to be thought and narrated for long more than a century.

Histórias de sensibilidades: espaços e narrativas da loucura em três tempos (Brasil, 1905/1920/1937)

Nádia Maria Weber Santos

Tese de doutoramento, 2005 Programa de Pós-Graduação em história Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre – RS – Brasil nmws@terra.com.br

Tendo como tema a loucura, como objeto textos literários e como problema a questão da sensibilidade na História, a realização desta tese envolveu um exercício interdisciplinar, e teve o intuito de perceber a forma pela qual os 'escritos de si' – ou 'escritos auto-referenciais' – são reveladores de sensibilidades sobre a loucura. A partir do diálogo da História Cultural com a Literatura e com a Psicologia Analítica lançaram-se luzes nas fontes da ficção e deu-se a voz ao próprio louco. Ele contou sua história. Ele expressou sua sensibilidade sobre a doença, sobre o meio que o abriga e sobre o mundo em que vive. Foram analisados três conjuntos de textos – romance, diário e cartas – que versam sobre loucura e internações em hospícios. Revisitou-se a história da psiquiatria brasileira nas primeiras três décadas do século XX, cruzando-a com a vida e obra dos três autores e de personagens da ficção. Alguns dos textos analisados, surgidos durante hospitalização em manicômio descortinam nuanças na sensibilidade fina desses escritores.

Alguns aspectos do longo processo histórico de rupturas e permanências, que foi o complexo movimento de institucionalização da loucura no Brasil, puderam ser percebidos e avaliados sob um outro enfoque, desde dentro dos escritos de pessoas que, de alguma forma, se viram envolvidas com essa temática. A literatura, neste sentido, apareceu como uma fonte profícua para tal fim.

As fontes primárias da pesquisa são os seguintes textos: o romance simbolista de Rocha Pombo No hospício, publicado em 1905, no Rio de Janeiro; o Diário do hospício, de Lima Barreto, inserido na edição de seu romance inacabado Cemitério dos vivos, que relata suas memórias e reflexões durante uma internação no Hospício Nacional de Alienados do Rio de Janeiro, em janeiro e fevereiro de 1920; e as doze cartas de TR, iniciais de um paciente internado no Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre (RS), em 1937, às quais denominou-se Cartas de hospício. O período histórico escolhido, as três primeiras décadas do século XX, foi uma época em que a sociedade brasileira sofria profundas transformações políticas, econômicas, urbanas e – por que não dizer? – das suas sensibilidades sobre as questões sociais. Optei por inverter a equação da maioria dos trabalhos de nossa historiografia sobre a psiquiatria no Brasil, ou seja, parti da narrativa do próprio 'louco', que focaliza sua condição como personagem, personagem tanto de uma exclusão, como de um texto literário que conduz, em si mesmo, um imaginário e uma sensibilidade específica sobre a loucura.

Os possíveis motivos do adiamento da denúncia de mulheres vítimas de violência física conjugal: estudo em grupo de mulheres atendidas no Cevic – Florianópolis, 2002

Patrícia Alves de Souza

Dissertação de mestrado, 2002 Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis p.as@ig.com.br

A violência contra a mulher é a cada dia mais evidente. Não respeita fronteiras de classe social, raça/etnia, religião, idade e grau de escolaridade. Nos últimos dez anos, a violência contra a mulher vem sendo retratada como problema de Saúde Pública, tanto pelo movimento feminista quanto por associações profissionais, serviços de saúde e organismos internacionais, como a OMS – Organização Mundial da Saúde, a OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde, e por escolas de formação como a ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública e a UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Lidar com esta problemática adequadamente requer, além da intervenção de diferentes profissionais e de instituições distintas, o aprofundamento de sua compreensão para, a partir disto, buscar sua superação.

A presente pesquisa insere-se nessa lógica, buscando o olhar da saúde pública sobre um aspecto da violência conjugal – o adiamento da denúncia. Seu objetivo, portanto, é colaborar para a compreensão dos possíveis motivos que levam as mulheres a permanecer tanto tempo numa relação conjugal como sujeitos que se mantêm submissos com relação à violência que sofrem. Para investigar esse problema, em Florianópolis, buscaram-se instituições e programas que poderiam atender mulheres vítimas de violência física, nas quais foram realizadas entrevistas sobre seu funcionamento. Destas, o Cevic – Centro de Atendimento de Vítimas de Crime foi o local escolhido para o desenvolvimento do trabalho.

Realizaram-se reuniões em grupo com mulheres vítimas de violência física conjugal, levando ao desenvolvimento dos exercícios de participação. A metodologia de investigação foi qualitativa, mediante grupo focal e entrevistas abertas e semi-estruturadas. Sobre as entrevistas fez-se a análise de conteúdo, e, como resultado do trabalho, contemplaram-se alguns objetivos específicos:

  • verificar o atendimento realizado em instituições públicas;

  • identificar as políticas públicas voltadas à violência física conjugal em Santa Catarina;

  • buscar novos conhecimentos na área da violência que auxiliem nas políticas públicas de assistência, saúde e educação, com ênfase nos Direitos Humanos da Mulher;

  • colaborar para o entendimento da violência doméstica como problema de Saúde Pública.

Observou-se que a mulher vítima de violência mantém-se em um relacionamento violento em razão da falta de apoio emocional da família e de amigos. O medo de novas agressões e as ameaças de morte contra ela e os filhos, como também a dependência financeira, não parecem ser fatores fundamentais, pois muitas mulheres agredidas fisicamente são as provedoras do lar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jan 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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