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A guerra e as laranjas: uma palestra radiofônica sobre o valor alimentício das frutas nacionais (1940)

War and oranges: a radiophonic lecture on the nutritional value of Brazilian fruits (1940)

Resumos

Apresenta o uso do rádio pelos sanitaristas desde o início do século XX, para fins educativos. Homens como Geraldo Horácio de Paula Souza e Borges Vieira utilizaram as ondas do rádio para popularizar práticas higiênicas e divulgar temas de interesse sanitário. Em 16 de abril de 1940 Paula Souza foi aos microfones da Rádio Educadora Paulista e, por meio de palestra, defendeu o valor nutritivo e a necessidade de consumo da laranja como ato patriótico. Divulgando as qualidades alimentícias da fruta, Paula Souza lançou a Campanha da Laranja. O sucesso extrapolou o estado de São Paulo, ganhando espaço na imprensa e sob a forma de folheto de propaganda do Serviço de Informação Agrícola, com o apoio incondicional do então ministro da Agricultura Fernando Costa.

Geraldo Horácio de Paula Souza; Instituto de Higiene; história da alimentação; práticas alimentares; Brasil


Since the early twentieth-century, sanitarians have relied on the radio for educational purposes. Men like Geraldo Horácio de Paula Souza and Borges Vieira used radio waves to popularize hygienic habits and disseminate information on sanitary topics. On April 16, 1940, Paula Souza stood before the microphones at Rádio Educadora Paulista and gave a lecture on the nutritional value of oranges and the need to eat them as a patriotic act. Touting the fruit's nutritional qualities, Paula Souza launched the 'orange campaign'. Its success reached beyond the borders of São Paulo state, as the campaign found space in the press and took form as an advertising brochure published by the Agricultural Information Service, with the unconditional support of the Minister of Agriculture, Fernando Costa.

Geraldo Horácio de Paula Souza; Institute of Hygiene; history of food; eating practices; Brazil


FONTES

A guerra e as laranjas: uma palestra radiofônica sobre o valor alimentício das frutas nacionais (1940)

War and oranges: a radiophonic lecture on the nutritional value of Brazilian fruits (1940)

Jaime RodriguesI; Maria da Penha Costa VasconcellosII

IUniversidade Federal de São Paulo. Estrada do Caminho Velho, 333 07252-312 Guarulhos – SP – Brasil. jaime.rodrigues@unifesp.br

IIDepartamento de Saúde Materno-infantil/Faculdade de Saúde Pública/Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 715. 01246-904 São Paulo – SP – Brasil. mpvascon@usp.br

RESUMO

Apresenta o uso do rádio pelos sanitaristas desde o início do século XX, para fins educativos. Homens como Geraldo Horácio de Paula Souza e Borges Vieira utilizaram as ondas do rádio para popularizar práticas higiênicas e divulgar temas de interesse sanitário. Em 16 de abril de 1940 Paula Souza foi aos microfones da Rádio Educadora Paulista e, por meio de palestra, defendeu o valor nutritivo e a necessidade de consumo da laranja como ato patriótico. Divulgando as qualidades alimentícias da fruta, Paula Souza lançou a Campanha da Laranja. O sucesso extrapolou o estado de São Paulo, ganhando espaço na imprensa e sob a forma de folheto de propaganda do Serviço de Informação Agrícola, com o apoio incondicional do então ministro da Agricultura Fernando Costa.

Palavras-chave: Geraldo Horácio de Paula Souza; Instituto de Higiene; história da alimentação; práticas alimentares; Brasil.

ABSTRACT

Since the early twentieth-century, sanitarians have relied on the radio for educational purposes. Men like Geraldo Horácio de Paula Souza and Borges Vieira used radio waves to popularize hygienic habits and disseminate information on sanitary topics. On April 16, 1940, Paula Souza stood before the microphones at Rádio Educadora Paulista and gave a lecture on the nutritional value of oranges and the need to eat them as a patriotic act. Touting the fruit's nutritional qualities, Paula Souza launched the 'orange campaign'. Its success reached beyond the borders of São Paulo state, as the campaign found space in the press and took form as an advertising brochure published by the Agricultural Information Service, with the unconditional support of the Minister of Agriculture, Fernando Costa.

Keywords: Geraldo Horácio de Paula Souza; Institute of Hygiene; history of food; eating practices; Brazil.

A importância do rádio para a difusão do trabalho musical de artistas brasileiros já foi objeto de algumas reflexões historiográficas (Lenharo, 1995; Cabral, 1996; Sevcenko, 1998; Calabre, 2004). Todavia o papel desse meio de comunicação para fins educativos ainda está por merecer a atenção dos pesquisadores da técnica, da ciência e do cotidiano. O documento que apresentamos neste artigo oferece, entre outras possibilidades, a de refletir sobre o impacto do rádio como engenho técnico e de mídia de massa na educação sanitária e num aspecto das políticas de saúde pública (no caso, as políticas de alimentação).

A palestra radiofônica cujo texto transcrevemos foi pronunciada por Geraldo Horácio de Paula Souza, médico que, havia mais de duas décadas, tinha uma atuação profissional destacada no campo da higiene. Paula Souza nasceu em 1889 e seu primeiro título universitário foi conseguido na Escola de Farmácia de São Paulo, em 1908. Logo em seguida partiu para o Rio de Janeiro, onde se bacharelou na Faculdade de Medicina local, em 1913. Após a morte de seu pai – Antônio Francisco de Paula Souza, fundador da Escola Politécnica de São Paulo e homem influente na política provincial e estadual na virada do Império à República –, em 1917, Geraldo viajou para Baltimore, onde se especializou em saúde pública na Universidade Johns Hopkins (1918-1920), como bolsista da Fundação Rockefeller, em uma turma na qual teve como colegas Francisco Borges Vieira e Carlos Chagas.

Retornando de Baltimore, Souza assumiu a cadeira de Higiene da Faculdade de Medicina de São Paulo em 1922, o que lhe valeria também a direção do Instituto de Higiene. Por um breve período, na década de 1920, esteve também à frente do Serviço Sanitário do estado.

No biênio 1927-1929 atuou como técnico da Seção de Higiene da Liga das Nações e no desempenho dessa função visitou países da Europa e do norte da África. Em fins da década seguinte, uma viagem ao Japão parece ter sido marcante em sua carreira, a julgar pelo amplo material que coletou naquele país sobre temas de medicina oriental e sobre doenças endêmicas e epidêmicas, principalmente na China e na Coréia sob ocupação japonesa. Sua experiência internacional prosseguiu com a assunção, em 1943, da Vice-presidência da Associação Americana de Saúde Pública, em Washington (DC). Em 1945 Souza integrou a delegação brasileira à Conferência de São Francisco, que, em conjunto com a delegação chinesa, propôs a criação de um organismo internacional de higiene sob o patrocínio das Nações Unidas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), criada no ano seguinte, teve Paula Souza como um dos seus membros organizadores interinos e um de seus vice-presidentes. Após trabalhar anos no exterior, Paula Souza regressou a São Paulo e à direção da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo, onde permaneceu até sua morte, em 1951. Aspectos biográficos mais densos podem ser encontrados na literatura recente (Campos, 2001; Rocha, 2003; Faria, set.-dez. 2005).

Esse rápido apanhado da trajetória profissional de Paula Souza baseia-se no trabalho de organização de seu arquivo pessoal1 1 Arquivo Geraldo Horácio de Paulo Souza (AGHPS), sob a custódia do Centro de Memória da Saúde Pública, da Faculdade de Saúde Pública da USP. A organização desse acervo foi parte das atividades programadas para o primeiro ano da bolsa de pós-doutorado concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a Jaime Rodrigues (jul. 2005-jun. 2006), no desenvolvimento do projeto Uma História Social da Alimentação na Cidade de São Paulo (Décadas de 1920 a 1950), sob a supervisão de Maria da Penha Costa Vasconcellos, no Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. e poderia ser longamente ampliado – o que não se fará aqui, considerando não ser este um texto de caráter estritamente biográfico. A partir da identificação dos documentos desse arquivo, foi elaborado um quadro de arranjo que dividiu o acervo em sete conjuntos – Produção Intelectual, Homenagens, Correspondência, Documentos Pessoais, Recortes de Jornais, Fotografias e Miscelânea – totalizando cerca de seis metros lineares e somando mais de 2.600 unidades documentais. O documento aqui apresentado foi catalogado no conjunto Produção Intelectual; outros documentos referentes à palestra na Rádio Educadora encontram-se em Correspondência e Recortes de Jornais.

A palestra pode ser entendida como uma ação de divulgação científica em meio a um amplo rol de iniciativas no campo da saúde pública tomadas por Paula Souza. Tais iniciativas foram da educação sanitária à pesquisa química e biológica em laboratórios; do ensino formal em diferentes níveis aos cuidados manifestados com relação ao saneamento e o meio ambiente; das propostas de legislação e políticas públicas ao enfronhamento com o poder em suas diferentes faces e instâncias; da pesquisa social – exemplificada na aplicação de um inquérito alimentar em parceria com colegas seus do Instituto de Higiene – à implementação dos centros de saúde, ação na qual foi pioneiro no Brasil.

No campo da divulgação científica e da educação sanitária, o rádio foi um dos instrumentos de que Souza se valeu, com o objetivo de ganhar ouvintes para as causas que defendia em saúde pública, ao mesmo tempo que promovia uma aproximação entre a sisuda ciência praticada nos laboratórios e os símbolos da modernidade.2 2 Registros de outras intervenções feitas em emissoras de rádio podem ser encontrados na Arquivo Paula Souza. Entre eles, a fala nos microfones da Rádio Cruzeiro do Sul, convocando a população a participar de campanha encabeçada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para o combate às doenças venéreas, em 12 de outubro de 1938 (AGHPS, doc. PI 1938.6); uma conferência na Rádio Record sobre os avanços da medicina, em 4 de novembro de 1942 (AGHPS, doc. PI 1942.8); uma palestra na Rádio Record sobre os progressos da ciência médica e da técnica sanitária, em 6 de novembro de 1949 (AGHPS, doc. PI 1949.3); a fala na Rádio Excelsior sobre a Organização Mundial da Saúde, em 26 de novembro de 1949 (AGHPS, doc. PI 1949.5) e uma entrevista à Rádio do Departamento de Cultura da USP sobre a carreira de sanitarista, em 23 de novembro de 1950 (AGHPS, doc. PI 1950.2). Outros recursos foram utilizados pelos profissionais do Instituto de Higiene de São Paulo para fins de divulgação científica, destacando-se especialmente a colaboração de Borges Vieira em periódicos populares, adaptando a linguagem técnica aos leitores sem formação específica que consumiam publicações como Viver! Mensário de Força, Saúde e Beleza, vendida em bancas de jornais e revistas. Contabilizamos pelo menos seis artigos publicados por Borges Vieira nesse periódico, nos anos de 1938 e 1939. Ali, o autor se expressou como um médico colunista que alertava seus leitores para os perigos sazonais ou relativos às idades da vida, privilegiando assuntos como doenças sexualmente transmissíveis, moléstias de verão e da infância.3 3 Pela ordem, Borges Vieira publicou os seguintes textos em Viver: Considerações sobre o problema da sífilis (ago. 1938, p.9-18); Inimigos de nossa infância (set. 1938, p.66-68); O verão e as doenças transmissíveis (nov. 1938, p.15-18); Doenças transmissíveis e portadores de germes (dez. 1938, p.16-21); Defendemos nossos filhos contra a difteria (fev. 1939, p.13-17); A propósito da febre amarela (jun. 1939, p.17-23).

A laranja era o objeto em questão por ocasião da ida de Paula Souza ao microfone da Rádio Educadora Paulista, em 16 de abril de 1940. As iniciativas de intervir em maus hábitos alimentares e de usar o rádio com essa pretensão não eram solitárias nem surgiram naquele momento.

A intenção de modificar os hábitos alimentares da população – embora sem menções específicas às laranjas – não surgiu às vésperas da palestra de 1940. Anteriormente, Paula Souza fora o orientador da aplicação do primeiro inquérito alimentar em São Paulo e um dos autores do estudo pioneiro sobre a alimentação popular na cidade, em 1932 e 1933 (Paula Souza, Cintra, Carvalho, 1935), com a intenção de conhecer os hábitos alimentares populares e propor mudanças nos aspectos identificados como problemáticos.4 4 Além dos inquéritos alimentares, outros indícios dos hábitos populares de alimentação ficaram registrados em pesquisas feitas entre as décadas de 1930 e 1950, em todo o país, com vistas à composição do valor do salário mínimo. Eram as chamadas Pesquisas de Padrão de Vida (PPVs). No caso de São Paulo, tais pesquisas foram implementadas sob a coordenação dos professores da Escola de Sociologia e Política. Homens como Horace Davis e Samuel Lowrie, ligados àquela instituição, criaram a metodologia e conduziram as três primeiras de uma série de seis PPVs no período assinalado. A primeira, que pode ser considerada um ensaio metodológico, foi aplicada em 1934, sem delimitação precisa de público. A segunda pesquisa, realizada entre 1936 e 1937, restringiu-se aos trabalhadores da limpeza urbana paulistana. A terceira foi realizada entre 1940 e 1941 e inquiriu os metalúrgicos da Usina Santa Olímpia. Somente no início da década de 1950 a Prefeitura paulistana assumiria a tarefa de aplicar as PPVs, por meio dos técnicos da Divisão de Estatística e Documentação Social. Ver, entre outros, Soares,1990, e Lowrie, out. 1938. Na tabulação dos dados coletados nesse sobressaem, primeiramente, as duas faixas etárias nas quais foram classificados os inquiridos: crianças até 12 anos e adultos com mais de 12 anos – excluindo, portanto, categorias como as que vinham sendo trabalhadas em estudos sobre a alimentação do pré-escolar e do escolar. Crianças e adultos seriam também as categorias utilizadas em sua palestra radiofônica de 1940, certamente pela compreensão imediata que os ouvintes teriam diante de tais palavras e da dificuldade desse mesmo público em lidar com um repertório técnico repleto de termos como puberdade, adolescência ou maturidade.

As informações prestadas pelas famílias ouvidas no inquérito denotam que os alimentos consumidos pelo maior número de pessoas eram pão, leite, carne, arroz, feijão, massas, batata, ovos e queijo. Legumes, frutas e verduras não foram quantificados, devido à dificuldade de anotar o consumo desses produtos nas fichas de coleta de dados, quer pela variedade das escolhas, quer pelas variações nas unidades assinaladas (dúzia, maço, peso etc.).

Nas conclusões desse trabalho, a ignorância popular foi apontada como causa das deficiências do regime alimentar entre os moradores dos distritos (Pinheiros e Cerqueira César) onde foi aplicado o inquérito, embora os autores não descartassem a renda como causa dessas mesmas deficiências. É fato que Souza, Cintra e Carvalho estranharam a estabilidade no padrão de consumo do leite, mesmo quando a renda das famílias permitia comprar o produto em quantidades maiores. Todavia, no caso da carne, os autores reconheceram que a deficiência se devia ao custo elevado do produto. Identificado o déficit, propunham soluções aparentemente fora do âmbito de atuação dos profissionais de saúde pública, entre elas o desenvolvimento da cultura da soja e "uma modificação tal no regime industrial e comercial da carne e do leite, que acarretasse sensível barateamento de seu custo, para então poder frutificar a propaganda da intensificação do consumo, e conseguir-se imprimir no povo o hábito do uso de tão úteis alimentos".

Se carne e leite ainda não podiam ser consumidos em larga escala em razão de seu preço, o baixo nível de consumo de outros produtos de preço menor permanecia sem explicação plausível e merecia uma intervenção racional. O caso da laranja, comparado em termos do seu consumo no Brasil e nos Estados Unidos, poderá ser mais bem analisado a partir da leitura do texto da conferência aqui transcrito, mas não foi o único. O feijão era, talvez, o caso mais exemplar, e voltaria à pauta na palestra que é o objeto principal deste artigo (ao se fazer a apologia do 'velho hábito dos paulistas' de associarem o consumo de feijão com laranja) e em outras oportunidades, no início da década de 1940.

Com base na experiência do inquérito de 1932-1933, Souza explicava que o preparo do feijão requeria um tempo longo, maior do que todos os demais alimentos de uma refeição juntos. Essa "soma de esforços e o dispêndio decorrente do preparo do feijão em cada família" poderia representar uma dificuldade para a ampliação no consumo desse valioso alimento. Por isso, o objetivo era criar "cozinhas de bairro" destinadas exclusivamente ao preparo do feijão, que seria vendido pronto às famílias, experiência que, segundo o autor, já ocorria nos Estados Unidos (AGHPS, doc.PI 1940.3, fl.2). Alguns anos depois, Paula Souza reforçaria seu argumento em uma entrevista à Agência Nacional. Para ele, as 'feijoarias' trariam uma economia no consumo de combustíveis como gás, carvão e lenha, no contexto da Segunda Guerra Mundial e das dificuldades de abastecimento sentidas no Brasil daquele período. Além disso, o autor fazia uma analogia com o circuito de produção e venda do pão: se, no passado, esse era um alimento feito em casa, as transformações nos hábitos e na produção permitiram que o pão fosse vendido nas padarias e, com isso, as mulheres ficaram liberadas desse trabalho que requeria longo tempo e dedicação no preparo. O preparo e a compra fora do lar possibilitaram a realização de experiências com novos ingredientes na mistura. Com as feijoarias ocorreria algo semelhante:

o feijão, que em lugar de ser comprado como hoje, em pequenas parcelas, nem sempre com escolha e critérios devidos, preparado em pequenas porções, nem sempre pela melhor técnica, de consumir um tempo precioso das donas de casa ou cozinheiras e obrigar a um dispêndio de combustível geralmente muito superior ao que se tornaria indispensável para o preparo da mesma porção feita em maior escala, pudesse ser encontrado já pronto para ser servido, em nossa porta, ou ao nosso fácil alcance, em estabelecimentos localizados em vários pontos da cidade.5 5 "Feijoarias", entrevista concedida à Agência Nacional em 24 de maio de 1942 (AGHPS, doc. PI 1942.4A, fl.1).

O objetivo era fazer das feijoarias os núcleos das almejadas cozinhas distritais. Além dos membros do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort), a iniciativa contaria com o apoio dos empresários reunidos na Federação das Indústrias de São Paulo. Em que pesem os esforços de Souza e o poder das instituições associadas à idéia, a experiência não teve o êxito esperado. Quanto às cozinhas distritais, algumas foram instaladas pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) na segunda metade da década de 1940, tendo uma delas, situada no Tatuapé, recebido o nome de Paula Souza (AGHPS, doc. HO 1951.43 e HO 1953.2).

A conjuntura da produção de laranjas, em 1940, possibilitava uma tentativa de intervenção pela via educativa. Paula Souza fora aos microfones da Rádio Educadora para inaugurar a Campanha da Laranja. Concomitantemente, os produtores paulistas estavam às voltas com dificuldades de exportação do produto para a Europa, tradicional mercado de consumo dessa fruta. O motivo era a eclosão da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, portanto menos de um ano antes da palestra em questão. Embora o escoamento alternativo da produção dos laranjais não fosse necessariamente o principal motor a impulsionar Paula Souza na escolha do tema de sua palestra radiofônica, a coincidência denota uma articulação de interesses entre a promoção da saúde pública (no caso, dos bons hábitos alimentares) e a ampliação do mercado consumidor interno para itens da lavoura nacional (no caso, a laranja).

Em busca de um mercado alternativo para escoar a safra que começava a ser colhida, os produtores de laranjas procuraram contatos que lhes permitissem promover o consumo da fruta no Brasil. Comer laranjas passaria a ser, a partir de então, um ato patriótico e parte do esforço de manutenção da produção econômica brasileira, diante da situação de guerra na Europa. Para levar adiante a campanha, foram contatadas a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Associação Comercial, a Associação Citrícola, a Sociedade Rural Brasileira, a Federação dos Sindicatos dos Operários da Indústria, a Bolsa de Mercadorias e empresas de transportes.

O prestígio e o apoio da imprensa mostravam-se indispensáveis para fazer a iniciativa tomar vulto. Isso ajuda a entender ter sido a tradicional Rádio Educadora Paulista – fundada em 1923 por membros da elite paulista (cf. Rodrigues, s.d.) e uma das mais antigas do país – o veículo da primeira peça de divulgação do consumo da laranja. Outros órgãos da imprensa escrita também aderiram à iniciativa. O Diário de S. Paulo, por exemplo, publicou na íntegra a palestra de Paula Souza, em sua edição de 17 de abril de 1940, louvando ainda as entidades participantes da campanha. Relacionou (e retratou, em uma fotografia de 14 x 6cm) as autoridades presentes, entre outros, Mariano J. Marcondes, Cincinato Braga, Arnaldo Lafer e o representante (não nomeado na matéria) da Secretaria da Agricultura.

A ressonância da palestra e o escopo da Campanha da Laranja ultrapassaram o limite do estado de São Paulo. A palestra, que já tinha valido a seu autor um reconhecimento em forma de telegrama de felicitações de Sampaio Arruda, chefe de gabinete do Ministério da Agricultura, chegou às mãos do então ministro da pasta, Fernando Costa, provavelmente levada pelos promotores do evento. Meses depois, o texto foi publicado sob a forma de folheto de propaganda pelo Serviço de Informação Agrícola. No arquivo pessoal de Paula Souza não ficou nenhum exemplar do referido folheto; restou, no entanto, o texto original datilografado da palestra (objeto de publicação neste espaço) e a correspondência trocada entre ele e o ministro Costa. Nessa correspondência, Souza dizia-se "desvanecido pelas honrosas referências aí feitas à minha pessoa", agradecendo as "expressões de simpatia e amizade". Mário Vilhena, secretário do Serviço de Publicidade Agrícola, respondeu que, diante da "larga aceitação em todo o país", o Ministério da Agricultura resolvera reeditar a conferência sobre "O valor alimentício da laranja", desta feita mandando imprimir dez mil exemplares. Paula Souza replicou, reiterando que se sentia lisonjeado, mas sobretudo "feliz em ter podido contribuir para uma campanha tão patriótica como essa que o Exmo. Sr. Ministro Fernando Costa está realizando, de propaganda de um produto tão valioso como a laranja" (AGHPS, doc. CO 1940.6.1, 8 jul. 1940; CO 1940.7.1A, 17 jul. 1940; CO1940.7.1B, 24 jul. 1940. Surgida como iniciativa particular de produtores paulistas, a Campanha da Laranja tornava-se nacional e ganhava o aval do Estado brasileiro.

Podemos calcular a repercussão do folheto não apenas pelo número de exemplares impressos e distribuídos, mas também pelas notícias que jornais cariocas e paulistanos publicaram a seu respeito. Notícias dando conta disso foram publicadas, entre outros, no Jornal do Commercio, no Correio Paulistano, no Jornal da Manhã, no Diário de S. Paulo, no Correio Português (Rio de Janeiro) e n'O Estado (Niterói) de 14 jul. 1940. Articulado pela Agência Nacional e encaminhado às redações, o texto saiu em todos esses jornais rigorosamente com o mesmo teor, reforçando a forma como o Estado apropriou-se da bandeira da Campanha da Laranja e a ampliou:

O Ministro Fernando Costa recebeu do Dr. G.H. de Paula Souza, professor de Higiene da Faculdade de Medicina de São Paulo e diretor do Instituto de Higiene dessa capital, uma carta em que agradece ao titular da Agricultura a edição da conferência por ele pronunciada sobre o valor alimentício da laranja.

A conferência em jogo, contribuição do Ministério da Agricultura à grande campanha em favor da laranja brasileira, foi largamente distribuída em todo o país, esgotando-se rapidamente.

Por isso, o sr. Fernando Costa recomendou ao Serviço de Informação Agrícola que reeditasse o trabalho do professor Paula Souza em mais 10 mil exemplares, a fim de ser satisfeita a procura que há desta útil e oportuna conferência daquele cientista. (AGHPS, doc. RJ 1940.2 A a F, 14 jul.1940)

O incentivo ao consumo de laranjas é apenas um item da profusa e longa militância de Paula Souza em prol da melhoria da alimentação popular. Outros itens, de maior ou menor monta em sua carreira, podem ser mencionados e permitem uma compreensão mais ampla do significado da palestra na Rádio Educadora Paulista.

Desde 1923, pelo menos, a questão da alimentação popular povoava o universo da atuação dos higienistas. Em outubro daquele ano, especialistas da área reuniram-se no Rio de Janeiro durante o Primeiro Congresso Brasileiro de Higiene, sendo Paula Souza um dos delegados paulistas no encontro (os outros eram Francisco Borges Vieira, Antonio de Almeida Júnior, Samuel B. Pessoa e o deputado Palmeira Ripper). Dentre os vinte temas debatidos no Congresso, quatro diziam respeito à alimentação: fiscalização sanitária dos gêneros alimentícios, abastecimento do leite, alimentação escolar e pré-escolar e alimentação dos soldados brasileiros (Annaes..., 1926, p.99-138). Para os professores vinculados ao Instituto de Higiene, a questão não era nova: afinal, nos cursos ministrados na instituição, a inspeção sanitária (incluindo inspeções em mercados e no sistema de produção do leite) era parte integrante da formação profissional em higiene desde a formação do Laboratório de Higiene, ainda no âmbito da cadeira referente a essa disciplina na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1918. A formação de educadoras sanitárias teria início em 1925 (ainda que seu regulamento tenha sido instituído pelo decreto 4.089, de agosto de 1926). A implantação do curso comporia o rosário de medidas de caráter modernizador e preventivo implementadas por Paula Souza em 1924 e 1925, ao lado da criação do Instituto de Higiene e da instalação do primeiro centro de saúde em São Paulo, no bojo da reforma do Serviço Sanitário do estado (Rocha, 2003, p.142).

A preocupação com o tema não arrefeceu ao longo da primeira metade do século XX; afinal, no Sétimo Congresso Brasileiro de Higiene, realizado na Faculdade de Higiene e Saúde Pública dirigida por Souza em São Paulo, em 1948, os temas oficiais diminuíram para quatro, sendo a 'higiene alimentar' um deles – o que denota o aumento da importância relativa do assunto no meio dos especialistas.6 6 Programa do VII Congresso Brasileiro de Higiene, Centro de Memória da Saúde Pública/Faculdade de Saúde Pública/USP.

Foi nos cursos de formação de educadoras sanitárias e nas propostas de políticas públicas feitas pelos profissionais do Instituto de Higiene que o tema da alimentação popular ganhou maior densidade. Na gestão de Paula Souza, o Instituto elaborou (sob a pena de Antonio de Almeida Jr.) e distribuiu às escolas a Cartilha de higiene para uso das escolas primárias, na qual a educação alimentar ganhava um peso importante, ressaltando quais alimentos e comportamentos alimentares deveriam ser valorizados ou evitados (Almeida Jr., 1923). Entre os alimentos valorizados já figuravam o leite e frutas como as laranjas – cuja necessidade de consumo seria realçada na palestra feita por Paula Souza em 1940 na Rádio Educadora Paulista.

A 'higiene alimentar' (ou nomenclaturas diversas, como nutrição e dietética) manteve-se como disciplina obrigatória nos diferentes cursos oferecidos pelo Instituto de Higiene e por sua sucessora, a Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo, até meados do século XX. Ao longo de mais de duas décadas, o ensino na área transformou-se, sendo o ano de 1939 um marco devido a três textos legais postos em vigor pelo governo do estado de São Paulo. Trata-se dos decretos que criaram o Centro de Estudos sobre Alimentação (decreto 9.903) – que, nos termos da palestra na Rádio Educadora, seria um centro de estudos e de formação de técnicos para atuar em campanhas sanitárias no setor de alimentação –, o curso de nutrição para donas de casa e auxiliares de alimentação (decreto 10.033) e o que instituiu o curso anexo ao Centro de Estudos sobre Alimentação para a formação de nutricionistas, obrigatório para todas as educadoras (decreto 10.617).

Ainda durante o Estado Novo, Paula Souza teria a oportunidade de externar sua aprovação em relação ao caráter geral das políticas alimentares levadas a cabo pelo governo federal. Sinais disso podem ser observados na palestra radiofônica transcrita a seguir (quando Souza afirma que "os órgãos governamentais, agrícolas e econômicos, cuidam de boa parte do problema") e também na intervenção feita por ele na Nona Conferência Sanitária Panamericana, realizada no Rio de Janeiro entre 7 e 19 de setembro de 1942. Nessa última ocasião, Souza destacou as iniciativas governamentais voltadas à alimentação, concentradas em órgãos como a Seção de Nutrição da Divisão de Organização Sanitária do Departamento Nacional de Saúde, o Instituto Oswaldo Cruz, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Trabalho – no caso deste último, ressaltando a experiência dos restaurantes populares (AGHPS, doc. PI 1942.7, 17 set. 1942).

No caso da Campanha da Laranja, o engajamento de Paula Souza se fazia por iniciativa própria, pela sua militância na causa da melhoria da alimentação popular, por se inserir entre suas atribuições como diretor do Instituto de Higiene/Faculdade de Higiene e Saúde Pública e também pelos seus vínculos políticos, além da participação no Idort7 7 Para uma visão mais ampla acerca da história do Idort, ver o estudo clássico de Maria Antonieta M. Antonacci (1993). – promotor, entre outros eventos, das Jornadas de Alimentação Racional.8 8 No âmbito do Idort, a Jornada sobre Alimentação (1940) foi precedida pela Jornada contra o Desperdício nos Transportes (1939). Em seguida foram realizadas jornadas sobre Habitação Econômica (1941), sobre Economia Rural (1942), sobre o Brasil no Pós-Guerra (1943-1944) e sobre Educação (1945-1946), cf. Lauro Cesar Ibanhez (1992). Eventos como esses, nas palavras de Paula Souza, tinham como objetivo criar "uma atmosfera feliz de ampla cooperação" com vistas à solução "dos problemas vitais para a nacionalidade".9 9 Texto de Paula Souza para o Diário da Noite, 24 set.1940. Os motivos que o levaram a ter uma produção acadêmica e de divulgação científica acerca dos temas alimentares não são excludentes e, neste caso, somaram-se às iniciativas 'patrióticas' do contexto da Segunda Guerra Mundial e da proteção aos produtores agrícolas nacionais.

NOTAS

Recebido para publicação em agosto de 2006.

Aprovado para publicação em agosto de 2007.

Palestra feita pelo sr. dr. G. H. de Paula Souza, na Rádio Educadora Paulista, no dia 16 de abril de 1940

Localização: Centro de Memória da Saúde Pública (CMSP)

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Arquivo Geraldo Horácio de Paula Souza (AGHPS)

Produção Intelectual (PI), documento PI 1940.1

É assunto que a todos nós interessa, fundamentalmente, o da nutrição – base da saúde. Clama-se pela divulgação de bons princípios alimentares, pela melhoria da qualidade e barateamento dos gêneros alimentícios. Os órgãos governamentais, agrícolas e econômicos, cuidam de boa parte do problema. Os Institutos científicos e educativos se encarregam de outras faces da questão. Criou-se, ainda no ano passado, no Instituto de Higiene, o Centro de estudos sobre alimentação, órgão coordenador de estudos, encarregado também da importante missão de formar os técnicos em alimentação para as campanhas sanitárias nesse setor. Já funciona, ali, o curso de nutricionistas, bem como, orientado pelo Instituto, o curso de auxiliares de alimentação na Escola Profissional Feminina. O primeiro formando o quadro dos oficiais; o segundo, o dos soldados da campanha que se vai esboçando.

O fator mais importante é o derivado da justa compreensão do público. À dona de casa, que dita o cardápio da família, compete, consultando as boas normas, impor os hábitos salutares.

Trataremos, hoje, reunindo o útil ao agradável e ao econômico, da necessidade de um maior consumo de laranjas.

No Brasil, país produtor de frutas magníficas, o povo ainda não se habituou, entretanto, a delas fazer o uso amplo que seria desejável, como fazem outros povos, mais educados dieteticamente e inteirados do seu real valor.

A laranja, para muitos, é apenas uma fruta saborosa, cujo suco, doce e rico em água, pode acalmar a sede. Dentre o povo, poucos são, entretanto, os que sabem das suas grandes qualidades alimentícias.

O seu teor de açúcares, direta e imediatamente utilizáveis, tornam-na precioso alimento energético, sobretudo para os trabalhadores, que despendem força muscular ativa. Uma laranja de tamanho médio vale cerca de 100 calorias.

É ainda boa fonte de sais, entre os quais o de cálcio, além de fósforo, enxofre, ferro, sódio e potássio, de que tanto necessitamos, e de vitaminas A, B1, C e B2 em diferentes proporções, fatores importantes que figuram de maneira deficiente na alimentação do nosso homem.

Para ter-se uma idéia do que vale uma laranja, peço licença para reproduzir um paralelo entre a batata, de indiscutível valor alimentício, e a laranja, feito por um dietólogo americano.

Por mais estranho que pareça à primeira vista, verifica-se que a batata contém quase tanta água quanto a laranja, e, como fator energético, apresenta fécula, ao passo que a laranja tem açúcar, ambos hidratos de carbono, servindo ao mesmo fim alimentar. Na batata existe apenas um bocado mais de proteínas que na laranja, e quanto a gorduras, em ambas a quantidade não vai além de traços. Os mesmos sais e vitaminas figuram nas batatas e na laranja, embora em proporções diversas.

Diferem, sendo as laranjas ácidas, enquanto que as batatas não o são, o que importa mais no que respeita ao sabor, que propriamente ao resultado final, pois uma vez absorvida, a acidez da laranja é rapidamente destruída, ficando os dois alimentos em situação semelhante com relação ao sangue.

O mesmo autor americano ainda afirma não figurar a laranja na composição diária de pratos em seu país, por ser de mais difícil aquisição que a batata. Já entre nós o caso é diferente.

Não fora isso, apareceria ao lado da carne e do tomate, como prato equivalente ao muito generalizado, de carne, batatas e tomates, nos Estados Unidos. Entre os sais, de um lado a batata forneceria um bocado mais de ferro e insuficiente quantidade de cálcio; a laranja é bem melhor fonte de cálcio, um dos elementos minerais de que mais falta há entre nós.

O velho hábito dos paulistas, de comerem feijão com laranja, constituía boa prática, que não deveria nunca ser esquecida. Voltemos a ele.

Como fonte de vitamina C, os estudos do Instituto de Higiene provaram ser a laranja lima riquíssima, a laranja pêra e a laranja baiana vindo logo em seguida, com alto teor vitamínico.

Quanto às vitaminas A, D e B2, apresentam pequeno teor, que se não deve, entretanto, desprezar.

O teor em vitamina B1 é apreciável e, como se sabe, essa vitamina tem grande influência no despertar o apetite.

Em um grupo de crianças alimentadas com dieta de leite e seus derivados, à qual eram adicionados 15cc. de suco de laranja, o suficiente para garantir o teor indispensável de vitamina C, quando aumentou a quantidade de laranja para 45cc., Daniels verificou notável influência sobre o apetite e ganho de peso, explicável pelo aumento do teor em vitamina B1, como ficou mais tarde evidenciado, com experiência semelhante na qual o excesso de laranja foi propositadamente substituído por vitamina B1, de fermento de cerveja.

Uma laranja de tamanho médio pode suprir, para uma pessoa adulta:

1/30 das calorias de que necessita

1/15 do cálcio

+/– 1/2 da vitamina B1

+/– 1/23 da vitamina A

1/10 da vitamina B2

1/4 de fósforo

+/– 1/15 de ferro

Ainda comparando o conteúdo de 100 calorias de laranja com quantidade de equivalência calórica de batata, vemos que: a laranja apresenta quatro vezes a quantidade de cálcio que a batata; quase cinco vezes mais vitamina A; três vezes o conteúdo em vitamina B1, o dobro em vitamina B2 e cerca de dez vezes mais a de vitamina C. Contém pouco mais da metade do teor em fósforo e praticamente o mesmo valor em ferro.

Morgan, Hatfield e Tauner fizeram curiosas observações com crianças de um colégio, administrando-lhes, em grupos separados, alimentação suplementar: para umas, leite; para outras, uma laranja de tamanho médio; para outro grupo, 4 figos, e um quarto grupo ficou como testemunha, sem nada receber em adição à alimentação comum a todas. O grau de desnutrição no início da experiência era o seguinte, em ordem decrescente: grupo da laranja, do figo, do leite e do controle. Todos recebiam a mesma ração básica. Após 14 semanas foi feito o estudo dessas crianças, e a média dos lucros apurados coloca o 'grupo laranja' em primeiro lugar (American Journal of Diseases of Children, v.32, 1926, p.839).

Como vemos, indica-se, para as crianças, dieta contendo sempre, além do leite, boas frutas nacionais, como bananas e laranjas. Para o adulto, mesmo que reduza o teor em leite, nunca deverá fazê-lo quanto às frutas, que a todos fornecem sais e vitaminas. E das frutas, nesse particular, a laranja é das mais preciosas, por barata e rica, ao mesmo tempo.

Se apenas a quarta parte da população do nosso estado consumisse uma laranja por dia, muito lucraria a população em saúde, ao mesmo tempo que daria consumo diário a dois milhões de laranjas. O mercado interno absorveria enorme parte da safra, incrementando assim a indústria citrícola e valorizando o trabalho nacional, de onde provém a nossa riqueza.

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  • Soares, José Maurício 1990 Custo de vida e salário. In: Encontro Regional de Tropicologia, 3., Aracaju, 1986. Anais... Recife: Massangana. p.125-133.
  • 1
    Arquivo Geraldo Horácio de Paulo Souza (AGHPS), sob a custódia do Centro de Memória da Saúde Pública, da Faculdade de Saúde Pública da USP. A organização desse acervo foi parte das atividades programadas para o primeiro ano da bolsa de pós-doutorado concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a Jaime Rodrigues (jul. 2005-jun. 2006), no desenvolvimento do projeto Uma História Social da Alimentação na Cidade de São Paulo (Décadas de 1920 a 1950), sob a supervisão de Maria da Penha Costa Vasconcellos, no Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
  • 2
    Registros de outras intervenções feitas em emissoras de rádio podem ser encontrados na Arquivo Paula Souza. Entre eles, a fala nos microfones da Rádio Cruzeiro do Sul, convocando a população a participar de campanha encabeçada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para o combate às doenças venéreas, em 12 de outubro de 1938 (AGHPS, doc. PI 1938.6); uma conferência na Rádio Record sobre os avanços da medicina, em 4 de novembro de 1942 (AGHPS, doc. PI 1942.8); uma palestra na Rádio Record sobre os progressos da ciência médica e da técnica sanitária, em 6 de novembro de 1949 (AGHPS, doc. PI 1949.3); a fala na Rádio Excelsior sobre a Organização Mundial da Saúde, em 26 de novembro de 1949 (AGHPS, doc. PI 1949.5) e uma entrevista à Rádio do Departamento de Cultura da USP sobre a carreira de sanitarista, em 23 de novembro de 1950 (AGHPS, doc. PI 1950.2).
  • 3
    Pela ordem, Borges Vieira publicou os seguintes textos em
    Viver: Considerações sobre o problema da sífilis (ago. 1938, p.9-18); Inimigos de nossa infância (set. 1938, p.66-68); O verão e as doenças transmissíveis (nov. 1938, p.15-18); Doenças transmissíveis e portadores de germes (dez. 1938, p.16-21); Defendemos nossos filhos contra a difteria (fev. 1939, p.13-17); A propósito da febre amarela (jun. 1939, p.17-23).
  • 4
    Além dos inquéritos alimentares, outros indícios dos hábitos populares de alimentação ficaram registrados em pesquisas feitas entre as décadas de 1930 e 1950, em todo o país, com vistas à composição do valor do salário mínimo. Eram as chamadas Pesquisas de Padrão de Vida (PPVs). No caso de São Paulo, tais pesquisas foram implementadas sob a coordenação dos professores da Escola de Sociologia e Política. Homens como Horace Davis e Samuel Lowrie, ligados àquela instituição, criaram a metodologia e conduziram as três primeiras de uma série de seis PPVs no período assinalado. A primeira, que pode ser considerada um ensaio metodológico, foi aplicada em 1934, sem delimitação precisa de público. A segunda pesquisa, realizada entre 1936 e 1937, restringiu-se aos trabalhadores da limpeza urbana paulistana. A terceira foi realizada entre 1940 e 1941 e inquiriu os metalúrgicos da Usina Santa Olímpia. Somente no início da década de 1950 a Prefeitura paulistana assumiria a tarefa de aplicar as PPVs, por meio dos técnicos da Divisão de Estatística e Documentação Social. Ver, entre outros, Soares,1990, e Lowrie, out. 1938.
  • 5
    "Feijoarias", entrevista concedida à Agência Nacional em 24 de maio de 1942 (AGHPS, doc. PI 1942.4A, fl.1).
  • 6
    Programa do VII Congresso Brasileiro de Higiene, Centro de Memória da Saúde Pública/Faculdade de Saúde Pública/USP.
  • 7
    Para uma visão mais ampla acerca da história do Idort, ver o estudo clássico de Maria Antonieta M. Antonacci (1993).
  • 8
    No âmbito do Idort, a Jornada sobre Alimentação (1940) foi precedida pela Jornada contra o Desperdício nos Transportes (1939). Em seguida foram realizadas jornadas sobre Habitação Econômica (1941), sobre Economia Rural (1942), sobre o Brasil no Pós-Guerra (1943-1944) e sobre Educação (1945-1946), cf. Lauro Cesar Ibanhez (1992).
  • 9
    Texto de Paula Souza para o
    Diário da Noite, 24 set.1940.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Jan 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Recebido
      Ago 2006
    • Aceito
      Ago 2007
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