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A política de difusão do germanismo por intermédio dos periódicos da Bayer: a Revista Terapêutica e O Farmacêutico Brasileiro

The policy of disseminating Germanism through the Bayer periodicals Revista Terapêutica and O Farmacêutico Brasileiro

Resumos

Analisa os periódicos publicados pela companhia químico-farmacêutica Bayer, enquanto objetos da relação científica entre Brasil e Alemanha. A conclusão da Primeira Guerra Mundial acarretou o rompimento das relações políticas, econômicas e científicas da Alemanha com inúmeros países, incluindo o Brasil. A comunidade médico-científica alemã liderou uma política de difusão do germanismo através da ciência e da medicina, direcionada para a América Latina. Relacionada com essa política estava a indústria químico-farmacêutica alemã que apoiou, financiou e também foi beneficiada pelas atividades de difusão da ciência germânica e de intercâmbio científico internacional via a conquista de mercados consumidores. No Brasil teve o apoio do médico Renato Kehl.

Bayer; periódicos científicos; Renato Kehl (1889-1974); difusão da ciência alemã; Brasil e germanismo


The article analyzes two periodicals published by the chemical and pharmaceutical company Bayer - as they played into scientific relations between Brazil and Germany. At the close of World War I, a number of countries, including Brazil, broke off political, economic, and scientific relations with Germany. Germany's medical and scientific community moved to implement a policy of disseminating Germanism through science and medicine, aimed above all at Latin America. Germany's chemical and pharmaceutical industry was impacted by this policy, as it both supported and was a beneficiary of the endeavor to disseminate German science and to promote international scientific exchange, which opened new markets. In Brazil, these efforts were backed by physician Renato Kehl.

Bayer; scientific periodicals; Renato Kehl (1889-1974); dissemination of German science; Brazil and Germanism


DOSSIÊ BRASIL-ALEMANHA: RELAÇÕES MÉDICO-CIENTÍFICAS

A política de difusão do germanismo por intermédio dos periódicos da Bayer: a Revista Terapêutica e O Farmacêutico Brasileiro

The policy of disseminating Germanism through the Bayer periodicals Revista Terapêutica and O Farmacêutico Brasileiro

Marlom Silva RolimI; Magali Romero SáII

IMestre em História das Ciências e da Saúde pelo Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz (COC)/Fiocruz. Av. Brasil, 4306/4o andar 21040-361 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil. marlom.rolim@gmail.com

IIPesquisadora titular e professora do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde/COC/Fiocruz. Av. Brasil, 4306/4o andar. 21040-361 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil. magali@coc.fiocruz.br

RESUMO

Analisa os periódicos publicados pela companhia químico-farmacêutica Bayer, enquanto objetos da relação científica entre Brasil e Alemanha. A conclusão da Primeira Guerra Mundial acarretou o rompimento das relações políticas, econômicas e científicas da Alemanha com inúmeros países, incluindo o Brasil. A comunidade médico-científica alemã liderou uma política de difusão do germanismo através da ciência e da medicina, direcionada para a América Latina. Relacionada com essa política estava a indústria químico-farmacêutica alemã que apoiou, financiou e também foi beneficiada pelas atividades de difusão da ciência germânica e de intercâmbio científico internacional via a conquista de mercados consumidores. No Brasil teve o apoio do médico Renato Kehl.

Palavras-chave: Bayer; periódicos científicos; Renato Kehl (1889-1974); difusão da ciência alemã; Brasil e germanismo.

ABSTRACT

The article analyzes two periodicals published by the chemical and pharmaceutical company Bayer - as they played into scientific relations between Brazil and Germany. At the close of World War I, a number of countries, including Brazil, broke off political, economic, and scientific relations with Germany. Germany's medical and scientific community moved to implement a policy of disseminating Germanism through science and medicine, aimed above all at Latin America. Germany's chemical and pharmaceutical industry was impacted by this policy, as it both supported and was a beneficiary of the endeavor to disseminate German science and to promote international scientific exchange, which opened new markets. In Brazil, these efforts were backed by physician Renato Kehl.

Keywords: Bayer; scientific periodicals; Renato Kehl (1889-1974); dissemination of German science; Brazil and Germanism.

As consequências da Primeira Guerra Mundial comprometeram as relações entre a Alemanha e o Brasil, incluindo as relações científicas entre ambos os países. Além das punições impostas pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha sofreu com a proibição do alemão como idioma científico e o impedimento da participação de cientistas germânicos em congressos internacionais. Tais medidas foram impostas pelo Conselho Internacional de Pesquisas, criado em 1919 pelas principais academias científicas das potências aliadas (Sá, Silva, 2010, p.11). O Instituto Oswaldo Cruz, por exemplo, que mantinha o periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, publicado em português e alemão desde a sua criação em 1909, passou a veicular os trabalhos científicos da instituição somente em língua portuguesa e, posteriormente, cada vez mais, também em língua inglesa.1 1 Pesquisas sobre as relações científicas Brasil-Alemanha vêm sendo realizadas no Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, sob coordenação de Magali Romero Sá e Jaime Benchimol. Esses estudos já apresentaram resultados como, por exemplo, a tese de doutorado de André Felipe Cândido da Silva (Silva, 2011) e a dissertação de mestrado de Marlom Silva Rolim (Rolim, 2011).

Diante desse cenário, alguns setores da sociedade alemã desenvolveram estratégias próprias para tentar restabelecer as relações políticas, econômicas e científicas da Alemanha com outros países. Nesse contexto, a ciência assumiu um papel de extrema importância na política de relações internacionais da chamada República de Weimar, tornando-se a 'ponta de lança' da política externa alemã. Conforme esclarecem Magali Sá e André Silva (2010, p.11), determinados grupos da comunidade científica alemã colocaram-se como legítimos representantes de uma grande potência que estava momentaneamente abalada nos âmbitos da política e da economia.

A política de difusão do germanismo por intermédio da ciência foi majoritariamente direcionada para países de língua espanhola e portuguesa, sobretudo para as nações latino-americanas.2 2 Em razão dos interesses e limites da pesquisa e das particularidades das regiões, o artigo priorizou a análise das atividades destinadas aos latino-americanos em detrimento do universo mais amplo dos ibero-americanos. Desse modo, a partir dos anos de 1920, parte da comunidade científica alemã desenvolveu diversas ações internacionais de saúde pública e de intercâmbio científico com relação aos países ibero-americanos, em especial à América Latina, já que a região era considerada pelos alemães como um 'continente amigável', cujos círculos científicos e intelectuais há muito nutriam grande admiração pela ciência germânica em múltiplas áreas do conhecimento. Nesse sentido, de acordo com Andrés Reggiani (2005, p.62), "nenhuma outra manifestação da 'excelência alemã' despertava tanto respeito como a ciência médica que, entre 1901 e 1918, havia obtido um de cada três Prêmios Nobel". Naquele período, a medicina alemã conseguira importantes resultados contra vários flagelos de grande prevalência global. Além disso, a Alemanha concebera o arquétipo de estudo clínico universitário integrado, que associava investigação laboratorial, tratamento clínico e ensino universitário, lançando, assim, as bases para o modelo contemporâneo de formação médica.

Na opinião de alguns médicos germânicos, a ciência médica deveria ser o principal mecanismo de propagação da cultura da Alemanha, facilitando assim sua penetração política e econômica na América Latina. Essa ideia está claramente manifestada no discurso do ginecologista alemão Walter Benthin:3 3 Discurso pronunciado, em 1935, por Walter Benthin, chefe de ginecologia do hospital de Königsberg, em uma conferência na sede da Associação Econômica Alemã para a América Central e do Sul na qual incitava seus compatriotas a adotar política mais agressiva de promoção do germanismo direcionada para as Américas (Reggiani, 2005, p.57).

Na América do Sul, o médico está envolvido com a política mais frequentemente que o jurista, e sua influência se faz sentir nos níveis mais altos do governo. Por outro lado, é indubitável que nos países latino-americanos a luta pela supremacia se desenvolve no terreno da educação científica e especialmente na medicina. Os médicos constituem um valioso instrumento para a difusão do Deutschtum [germanismo]. O médico alemão ocupa uma posição mais apreciada entre todos os estrangeiros. Além disso, a medicina abre caminhos importantes para a economia (citado em Reggiani, 2005, p.57).

Destarte, sob a liderança dos quadros de instituições científicas e culturais das cidades de Hamburgo e Berlim, entre outras, determinados grupos da comunidade médico-científica germânica organizaram várias ações de propagação da ciência médica alemã, direcionadas notadamente para a América Latina. Muitas tinham o objetivo de atrair estudantes de medicina, a fim de despertar neles "um sentimento de admiração pela cultura na qual estariam inseridos, estabelecendo uma relação de identificação e lealdade" (Sá, Silva, 2010, p.26). Assim, muitas vagas para estudantes de medicina de origem latino-americana foram oferecidas em cursos proporcionados principalmente pelo Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo (IDMTH) e pelo Instituto Robert Koch de Berlim. Quando, em 1922, o helmintologista do IDMTH Friedrich Fülleborn visitou a América Central e do Sul sua viagem tinha como objetivos "propaganda e estudo" e o estreitamento das relações com a classe médica e os estudantes visando principalmente que "os estudantes da América Central e do Sul estudem ou completem seus estudos na Alemanha e não na França, como vem acontecendo até agora" (Wulf, 1994, p.28).4 4 Nessa e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre.

Aos poucos, foi-se estruturando uma rede de apoio aos estudantes que desejassem complementar sua formação na Alemanha, como, por exemplo, através da criação de cursos do idioma alemão em instituições científicas e culturais germânicas.

A partir de 1935, a Academia Médica Germano-ibero-americana de Berlim tornou-se outro importante centro de propagação da ciência médica alemã e de organização de atividades de intercâmbio científico destinadas a estudantes de medicina e médicos de língua espanhola e portuguesa. De acordo com Luis Bosenberg (2006, p.34), a Academia tinha como propósito oficial difundir o saber médico-científico alemão entre os países ibero-americanos. Segundo dados coletados por Andrés Reggiani (2005, p.59), entre 1936 e 1939, a instituição organizou a visita à Alemanha de cerca de mil médicos ibero-americanos, sendo mais de 70% provenientes do Brasil, Argentina, Chile e México. Entre as atividades a eles oferecidas pela Academia Médica Germano-ibero-americana constam demonstrações de operações cirúrgicas e conferências proferidas por especialistas alemães nos idiomas espanhol e português, além de visitas guiadas a hospitais e outros estabelecimentos de saúde, incluindo clínicas universitárias, institutos de investigação e experimentação e laboratórios farmacêuticos em diversas cidades da Alemanha.

Luis Bosenberg (2006, p.34) destaca que essas atividades de intercâmbio tinham como finalidade transformar os estudantes de medicina e médicos ibero-americanos em propa-gandistas do germanismo em seus países de origem, nos quais poderiam influenciar posições e decisões políticas e econômicas. Por outro lado, como informa Andrés Reggiani (2005, p.66), no que diz respeito aos estudantes de medicina, "as viagens [para a Alemanha] foram-se transformando em um rito de passagem profissional em uma carreira cada vez mais competitiva ou, no caso de médicos já estabelecidos, em uma forma adicional de acumulação de pres-tígio e legitimação frente aos seus pares".

Paralelamente às atividades de intercâmbio para estudantes de medicina e médicos ibero-americanos, cientistas e médicos alemães recebiam incentivos para a realização de viagens, missões de pesquisa e ações de saúde pública principalmente na América Latina. Cursos do idioma espanhol foram oferecidos em instituições científicas germânicas aos interessados em desenvolver atividades na região latino-americana. Desde o início da década de 1920, diversas autoridades e profissionais médicos da Alemanha realizaram viagens à América Latina, de pesquisa ou 'diplomacia', sempre, de alguma forma, conjugadas à propaganda cultural germânica no seio das comunidades médico-científicas locais. Entre 1920 e 1933, o Brasil recebeu a visita de médicos importantes como Fedor Krause, Fritz Munk, Max Nonne, Friedrich Fülleborn, Alfons Maria Jacob, Walter Kikut5 5 Walter Kikuth passou seis meses trabalhando no Instituto Oswaldo Cruz em 1928. Após voltar ao Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, foi convidado para dirigir a seção de Quimioterapia da Bayer em Leverkusen, Alemanha (Sá, 2011, p.509). , Max Kuczynski e, o diretor do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, Bernhard Nocht.

Outros importantes mecanismos de propagação da cultura germânica foram periódicos médico-terapêuticos direcionados aos países de língua espanhola e portuguesa. Um dos periódicos mais representativos foi a Revista Médica de Hamburgo, criada em 1914 por Ludolph Brauer, diretor do Hospital de Eppendorf. A publicação, que já objetivava o estreitamento dos laços com a comunidade médica ibero-americana, teve de ser interrompida com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, mas em 1920 o projeto foi retomado, com o apoio tanto de Bernhard Nocht, diretor do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, quanto de autoridades médicas e farmacêuticas espanholas contrárias ao boicote à ciência alemã no pós-guerra. A Revista Médica de Hamburgo foi um instrumento de relações internacionais da comunidade médico-científica alemã, em particular hamburguesa, de acordo com os pressupostos da política de propagação do germanismo através da medicina. Como elucidam Magali Sá e André Silva (2010), o objetivo da publicação era divulgar nos países ibéricos e latino-americanos as investigações científicas realizadas na Alemanha, sobretudo os progressos alcançados nas técnicas terapêuticas e na indústria farmacêutica. A partir de 1923, a Revista Médica de Hamburgo passou a atuar como órgão científico oficial do Centro Ibero-americano de Hamburgo, fundado em 1922 "com o objetivo mútuo de fomentar o intercâmbio intelectual entre os países de língua espanhola e portuguesa" (p.18).

De acordo com esses autores, as várias atividades de difusão da ciência médica germânica e de intercâmbio científico voltadas para a América Latina buscaram rivalizar tanto com a ativa política cultural francesa, que possuía fins e características similares, quanto com a crescente influência norte-americana, viabilizada especialmente através de ações da fundação Rockefeller.

A política de propagação do germanismo através da divulgação da ciência médica recebeu apoio e patrocínio do governo e de setores privados interessados nas oportunidades que poderiam advir do restabelecimento das relações internacionais da Alemanha com outros países. Ator importante nesse processo foi a potente indústria químico-farmacêutica alemã, cujo desenvolvimento ocorria desde meados do século XIX. No pós-guerra, ela apoiou e financiou pesquisas, ações de saúde pública e atividades de intercâmbio científico voltadas para os países latino-americanos com o intuito de conquistar ou reconquistar mercados consumidores (Sá, Silva, 2010, p.23).

Cientistas e médicos alemães muitas vezes atuaram como agentes de promoção da indústria químico-farmacêutica germânica, favorecendo a abertura de novas oportunidades comerciais, enquanto essas companhias industriais, por sua vez, ajudavam a atividade científica na Alemanha a superar as dificuldades decorrentes da derrota na Primeira Guerra Mundial. Existiu assim no pós-guerra grande convergência de interesses entre a comunidade médico-científica alemã e a indústria químico-farmacêutica germânica.

Episódio exemplar ocorreu em 1922, quando transcorreram as comemorações do centenário da independência do Brasil. O neurologista Fedor Krause, representante da comu-nidade médico-científica alemã, entregou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro um 'presente' enviado pela indústria químico-farmacêutica de seu país. O documento que o acompanhava afirmava:

Em consideração a este notável acontecimento e como testemunha de nosso sentimento de amizade e boas relações que sempre ligaram e continuarão a ligar os Estados Unidos do Brasil e a nação Alemã, as mais importantes casas industriais químico-farmacêuticas da Alemanha tomam a liberdade de oferecer à famosa Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro uma coleção dos seus mais importantes produtos farmacêuticos. Seria motivo de sincera alegria e extrema satisfação para a indústria alemã se estes medicamentos fossem partilhados entre hospitais e pudessem contribuir para a cura de cidadãos doentes deste país, ou ao menos para diminuir seus sofrimentos (Anais..., 1922, p.507).

A doação foi enviada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em nome de diversas empresas, entre outras a Leopold Cassella & Co., a Meister Lucius & Bruming, a Merck e a Friedrich Bayer & Co.

De acordo com Magali Sá et al. (2009, p.253), as relações entre membros da comunidade médico-científica alemã e a indústria químico-farmacêutica da Alemanha podem ser encaradas como conjunto de movimentos simultâneos e convergentes nos quais médicos e cientistas nem sempre atuavam de forma deliberada como agentes de promoção da indústria. Entretanto, alguns muitas vezes tornavam explícita a relação entre a propagação da cultura germânica através da ciência médica e a conquista de mercados consumidores para setores da economia alemã, especialmente para a indústria farmacêutica. Vê-se isso em discurso do já citado Walter Benthin. Ao defender uma política mais agressiva de propagação do germanismo na América Latina, o ginecologista afirmou: "Penso especialmente em nossa indústria químico-farmacêutica que, apesar da concorrência de franceses e estadunidenses, conseguiu obter uma grande demanda para seus produtos" (citado em Reggiani, 2005, p.57).

Outro importante instrumento dessa relação entre a política de propagação do germanismo por intermédio da medicina e a indústria químico-farmacêutica foi a já referida Revista Médica de Hamburgo. De acordo com Magali Sá e André Silva (2010), a publicação cuidou dos interesses mercadológicos dessa indústria através, por exemplo, de artigos que apresentavam resultados positivos de medicamentos desenvolvidos pelas empresas germânicas. Receberam destaque aqueles utilizados na luta contra enfermidades tropicais, como o Bayer 205, contra a doença do sono; o antisséptico Yatren; o antissifilítico Salvarsan e os antimaláricos Plasmoquina e Atebrina (p.32).

O papel dos periódicos da Bayer na política de propagação do germanismo

A indústria químico-farmacêutica alemã elaborou estratégias próprias de comercialização de seus medicamentos. A Bayer, por exemplo, ao longo do período entreguerras, promoveu no Brasil a circulação dos periódicos Revista Terapêutica (1921-1945) e O Farmacêutico Brasileiro (1926-1945). Os periódicos destinados aos públicos médico e farmacêutico respectivamente foram importantes componentes da estratégia de comercialização da Bayer no disputado mercado brasileiro de medicamentos, em sintonia com os princípios da política de propagação do germanismo. De maneira geral, ambas as publicações propagaram as realizações da ciência alemã e as atividades de intercâmbio internacional a fim de disseminar o prestígio da cultura e da ciência germânicas em benefício da proliferação dos medicamentos Bayer.6 6 Embora a Bayer desde 1911 já mantivesse escritório de representação no território brasileiro, passou a produzir medicamentos no país em 1921 por intermédio da filial Chimica Industrial Bayer Meister Lucius. Além disso, colaboravam para que os medicamentos comercializados pela indústria alemã carregassem o prestígio associado à nação de origem da sua marca. Têm razão assim Victor García e Jorge Valderrama (2004, p.116) ao afirmar que o prestígio da ciência e da tecnologia das nações chamadas "civilizadas", como a Alemanha, proporcionava suporte incontestável à crença na eficácia terapêutica de seus produtos farmacêuticos.

Com o desenvolvimento da indústria químico-farmacêutica, os médicos passaram cada vez mais a receitar medicamentos industrializados. Portanto, o consumo de especialidades farmacêuticas foi em parte estimulado por essas prescrições que lhes conferiam legitimidade e atribuíam prestígio a determinadas marcas (Quintaneiro, 2002, p.144). Conforme esclarece José Gomes Temporão (1986), a partir dos anos 1920, teve início um claro processo de diferenciação entre a indústria farmacêutica nacional e a estrangeira, no que diz respeito às estratégias de comercialização. A indústria de capital estrangeiro procurou direcionar as ações promocionais para o público especializado, enquanto as empresas de capital nacional continuaram a priorizar a propaganda popular. Tal diferenciação de estratégias pode ter sido determinada pelo avanço da pesquisa industrial e pela a produção de drogas oriundas de processos tecnológicos mais complexos, o que colocou no centro das preocupações mercadológicas os "intermediadores técnicos das possibilidades de consumo", ou seja, os médicos (p.29).

O laboratório alemão Bayer pode ser considerado um dos pioneiros tanto no desen-volvimento de novos medicamentos quanto na criação de estratégias comerciais tendo em mira o público médico. Alguns dos primeiros medicamentos sintéticos de ação específica contra doenças como sífilis (Salvarsan) e malária (Plasmoquina) foram desenvolvidos nos laboratórios da companhia farmacêutica germânica. No Brasil também ela desenvolveu algumas das primeiras estratégias de comercialização destinadas exclusivamente ao público médico. A partir de 1921, a Bayer promoveu no país a circulação mensal da Revista Terapêutica7 7 Desde muito antes, a 'matriz' do periódico da Bayer já circulava em alguns países da Europa com distintas denominações. Em Portugal, por exemplo, desde 1912, havia em língua portuguesa a Revista de Informações Terapêuticas. A Revista Terapêutica passou a ser distribuída no Brasil, mas com edição, redação e impressão feitas pela Bayer em Leverkusen. Após 1930, redação e impressão continuaram a cargo da matriz, na Alemanha, mas a edição passou a ser responsabilidade da filial brasileira, Chimica Industrial Bayer Meister Lucius. (Figura 1).


Em linhas gerais, seu objetivo era propagar os medicamentos da Bayer entre o público médico brasileiro e, para tanto, seguia um modelo 'ético-científico' de propaganda demandado pela categoria profissional: anúncios e artigos regidos por uma postura de 'cientificidade' para divulgar os produtos da companhia farmacêutica. O editorial do primeiro número da Revista de Informações Terapêuticas, versão portuguesa da Revista Terapêutica, ressaltava sua característica 'científica':

Esta publicação conterá trabalhos de índole vária, procurando assim atrair a atenção do médico, nas diversas especialidades, e se bem que deva inserir trabalhos clínicos sobre os produtos farmacêuticos da nossa fabricação, convém, entretanto notar que fornecerá dados de clínica terapêutica muito úteis e do mais alto interesse. De resto os produtos 'Bayer', sobejamente conhecidos no mundo médico, excluem toda a ideia de reclamo. Julgamos, pois, que a nossa revista poderá figurar dignamente ao lado de muitas outras de caráter profissional (Revista..., 1912, p.1).

Com o objetivo de convencer o público médico a prescrever os medicamentos Bayer, a maioria dos anúncios veiculados na Revista Terapêutica continha basicamente informações técnicas e objetivas acerca da fórmula, indicação, posologia e empacotamento dos medi-camentos anunciados, diferentemente dos reclamos da propaganda popular que possuíam características mais informais e prolixas. De acordo com Renata Sigolo (1995, p.75), de modo geral, a propaganda ético-científica procurava estabelecer um diálogo de caráter pretensamente científico com a classe médica para que o medicamento fosse representado como algo inacessível ao paciente sem a intermediação do médico. Desse modo, os anúncios da Revista Terapêutica geralmente utilizavam vocábulos e informações que pressupunham conhecimento a princípio acessível apenas a médicos.

Outro recurso comumente utilizado para atribuir cientificidade aos medicamentos anunciados era a demonstração de que as especialidades farmacêuticas propagadas eram resultado de intensa experimentação laboratorial. O artigo "Uns dados explicativos e quadros da casa Bayer", por exemplo, publicado na Revista Terapêutica (1934, p.146), procurava apresentar a companhia farmacêutica não apenas como grande organização industrial, mas, sobretudo, como importante centro de investigação científica. Dizia o artigo:

Além das grandes usinas Elberfeld, Hoechst, Leverkusen, Mainkur e Marburg que produzem estes preparados [Bayer], as fábricas de Elberfeld, Hoechst e Marburg têm instalados institutos científicos próprios em quais uma fila de cientistas, médicos, farmacólogos, quimioterapêuticos, fisiólogos, patólogos, bacteriólogos, zoólogos, químicos e físicos unem suas forças e seus conhecimentos no estudo de todo e qualquer problema. ... foi particularmente a investigação quimioterapêutica destes institutos que deu ao mundo muitos produtos valorosos e de grande bem para a humanidade.

A exposição de verificações clínicas acerca da eficácia das especialidades farmacêuticas anunciadas também era importante atributo de cientificidade dos medicamentos Bayer. Muitos anúncios eram acompanhados no verso de atestados médicos que avalizavam a eficácia terapêutica do medicamento propagado. A publicação desses atestados estava baseava-se no recurso retórico do prestígio. Desse modo, prestigiosos médicos estrangeiros, majoritariamente alemães, e brasileiros utilizavam sua autoridade para afiançar a eficácia dos medicamentos propagados não apenas por meio dos anúncios, mas também por intermédio de notas terapêuticas e artigos que relatavam a cura de pacientes através de especialidades farmacêuticas da marca Bayer. Os artigos publicados como verificações clínicas geralmente incluíam relatos de casos, dados estatísticos de cura e imagens que garantiam a eficácia terapêutica do tratamento medicamentoso narrado pelo médico autor do texto.

Nas páginas da Revista Terapêutica eram muito comuns ainda os artigos de divulgação de descobertas em áreas da ciência, como a medicina e a química, que tinham possibilitado ou possibilitariam progressos terapêuticos. Tais textos muitas vezes acabavam explicitamente propagando algum medicamento específico. De modo geral, os artigos que celebravam descobertas científicas divulgavam especialmente as realizações da ciência alemã, sobretudo no âmbito da medicina. Nesses casos também a Bayer fazia uso da retórica do prestígio, já que a autoridade da ciência germânica promoveria o suporte incontestável à crença na eficácia terapêutica dos medicamentos produzidos pela companhia.

A propagação da ciência germânica nas páginas da Revista Terapêutica se dava ainda pelo culto a grandes personalidades científicas do país e suas realizações. Entre 1932 e 1937, a Revista Terapêutica publicou uma série de homenagens aos vencedores do prêmio Nobel de medicina, entre os quais figuravam destacadamente cientistas de nacionalidade alemã. Entre os homenageados estavam Theodor Kocher, Albrecht Kossel, Willem Einthoven e Otto Meyerhof, além da célebre tríade formada por Robert Koch, Paul Ehrlich e Emil von Behring (Figura 2).


Outra série de homenagens, na qual também sobressaíam personalidades científicas germânicas, contemplava as 'figuras destacadas na luta contra o paludismo'. Entre elas estavam cientistas ligados ao Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, como Bernhard Nocht e Peter Mühlens, e aos laboratórios da Bayer, como Walter Kikuth, Wilhelm Roehl, Fritz Mietzsch e Hans Mauss (Figura 3).


Esse esforço de propagação da ciência alemã, além de atender aos objetivos mercadológicos da Bayer, colocava a Revista Terapêutica em sintonia com a política mais abrangente de propagação do germanismo característica da conjuntura pós-Primeira Guerra Mundial e, em certa medida, também propagadora das atividades de intercâmbio científico entre médicos alemães e brasileiros. O periódico divulgou em suas páginas congressos e cursos realizados em instituições germânicas para médicos estrangeiros, enfatizando que cur-sos 'especiais' eram ministrados em francês e espanhol com o objetivo de "facilitar aos médicos estrangeiros, principalmente aqueles dos países sul-americanos que não dominassem o idioma alemão, o estudo das diferentes especialidades a fim de familiarizarem-se com os métodos alemães modernos" (Revista Terapêutica, ago. 1931) (Figura 4).


Além de divulgar congressos e cursos, a Revista Terapêutica promovia contatos com instituições germânicas que ofereciam suporte a médicos e estudantes de medicina que desejassem complementar sua forma-ção na Alemanha. Citamos como exemplos o Instituto Alemão para Estrangeiros da Universidade de Berlim, a Casa Hegel, a Casa Lessing, a Casa Kaiserin Friedrich, o Gabi-nete de Informação Acadêmica e o Insti-tuto Ibero-americano. Essas instituições procuravam "facilitar a estada de médicos estrangeiros e de estudantes de escolas superiores que vão à Alemanha aperfeiçoar seus estudos"; também ofereciam informações aos visitantes e "auxílio de várias ordens para que os mesmos encontrem todas as faci-lidades durante a permanência no país" (Revista Terapêutica, 1933). A própria Bayer tornou-se uma dessas instituições de apoio a médicos estrangeiros que desejavam visitar a Alemanha. Na Revista Terapêutica, a companhia farmacêutica divulgou sua recém-criada Seção de Informações:

especialmente criada para os nossos amigos do estrangeiro, fornece todas as informações que lhe forem pedidas e dá indicações quanto à maneira mais conveniente e vantajosa de aproveitar o tempo. A Seção de Informações Bayer, em Berlim, também está ao dispor dos nossos amigos para outros assuntos pessoais (indicação de hotéis e pensões convenientes, apresentação a personalidades que o visitante tenha interesse em procurar ou a organizações públicas etc.) (Revista Terapêutica, 1937).

As visitas de médicos brasileiros à Alemanha nem sempre estavam relacionadas à participação em congressos ou cursos de aperfeiçoamento. Muitas vezes personalidades e comitivas médicas brasileiras visitavam o país germânico em missões de diplomacia científica, a convite de instituições alemãs. O roteiro dessas visitas abrangia instituições científicas espalhadas por diversas cidades, incluindo os laboratórios de grandes indústrias químico-farmacêuticas como a Bayer. Como forma de estimular o intercâmbio científico, a Revista Terapêutica publicou relatos e fotografias das visitas à Alemanha de personalidades e comitivas médicas brasileiras. Personalidades como Carlos Chagas, Miguel Couto e Juliano Moreira e 'caravanas' médicas brasileiras numerosas8 8 Em 1938, uma "Caravana médica brasileira" formada por cerca de trinta médicos embarcou para a Alemanha em visita diplomática a instituições científicas. Participaram, por exemplo, da inauguração do edifício da Academia Germano-ibero-americana em Berlim. Os detalhes da excursão foram narrados pelo doutor Carlos Osbourne em conferência no Sindicato Médico Brasileiro (Revista Terapêutica, 1939). tiveram suas viagens devidamente registradas nas páginas da Revista Terapêutica (Figuras 5 e 6).



A prática de 'intercâmbio' científico contou também com a divulgação de conferências de médicos alemães transmitidas no Brasil em língua portuguesa pelo programa de rádio Hora Médica do Brasil. Descrita como uma organização médica de radiodifusão e intercâmbio científico, a Hora Médica do Brasil transmitia uma vez por mês 'conferências médicas diretamente da Alemanha' através da Rádio Jornal do Brasil e da Rádio Transmissora. A ini-ciativa visava, também, a médicos que habitavam o interior do Brasil.

Os farmacêuticos formavam outro importante grupo ao qual os laboratórios nacionais e estrangeiros dedicavam estratégias específicas de comercialização. A importância do farmacêutico para a indústria de medicamentos devia-se ao papel de intermediador do consumo de especialidades farmacêuticas que esse profissional geralmente exercia e ainda exerce.

A Chimica Industrial Bayer Meister Lucius, filial no Brasil do laboratório alemão Bayer, passou a publicar trimestralmente, a partir de 1926, O Farmacêutico Brasileiro. De acordo com os dados apresentados pelo próprio periódico, ele possuía tiragem média de dez mil exemplares distribuídos gratuitamente a farmacêuticos residentes nas mais diversas cidades do Brasil. De modo geral, tinha como objetivo propagar os medicamentos da Bayer entre os farmacêuticos e, para tanto, seguiu em certa medida o modelo de propaganda ético-científica já utilizado na Revista Terapêutica.9 9 A publicação de periódicos destinados aos farmacêuticos brasileiros não foi iniciativa original da Bayer. Em 1925, por exemplo, o laboratório nacional Casa Granado iniciou a publicação da Revista Brasileira de Medicina e Farmácia, destinada aos públicos médico e farmacêutico brasileiros vinculada ao modelo ético-científico de propaganda. Assim como o médico, o farmacêutico era um profissional com formação especializada e, portanto, também demandava informações compatíveis com o nível dos seus conhecimentos. Alguns anúncios e artigos do periódico farmacêutico eram, aliás, reproduções de reclamos e textos anteriormente veiculados no periódico médico.

Um anúncio do antisséptico vesical Helmitol publicado em O Farmacêutico Brasileiro, por exemplo, continha a seguinte explicação técnica acerca de sua ação: "O Helmitol desprende aldeído fórmico em grande quantidade, tanto na urina (mesmo sendo amoniacal) como nos tecidos, vantagem que não possuem os seus similares" (O Farmacêutico..., 1926). A compreensão desse tipo de mensagem técnico-científica pressupunha um conhecimento que o público farmacêutico, assim como o público médico, seria capaz de possuir em virtude de sua formação especializada.

Esse e outros anúncios veiculados em O Farmacêutico Brasileiro eram finalizados com um lembrete tradicionalmente destinado ao público médico: "Prescreva-se sempre: comprimidos Bayer de Helmitol - tubo original de 20 compr. de ½ grama". A inscrição desse lembrete em anúncio destinado a farmacêuticos revela o reconhecimento por parte da Bayer do papel de prescritor de medicamentos que frequentemente exerciam em substituição ao médico. Além disso, a transcrição de informações acerca da embalagem original do medicamento expõe a preocupação da Bayer com proliferação de especialidades farmacêuticas falsificadas e sucedâneas, cujo combate era muito recorrente nas páginas de O Farmacêutico Brasileiro. De acordo com artigo intitulado "Sobre a substituição e falsificação de medicamentos", a proliferação de especialidades falsificadas e sucedâneas devia-se "em primeiro lugar, ao preço" (O Farmacêutico..., 1927a, p.17). Com o objetivo de combater a indicação e comercialização dos falsos medicamentos, e evitar "os perigos e as desvantagens do emprego de imitações", a Bayer veiculou uma série de anúncios caracterizados metaforicamente, por exemplo, como 'soldadinhos de chumbo' e 'barquinhos de papel' em comparação aos verdadeiros 'soldados' e 'navios', os medicamentos originais Bayer (O Farmacêutico..., 1926; 1927b).

O argumento ordinariamente utilizado pela Bayer era que a indicação e comercialização de especialidades falsificadas ou sucedâneas comprometeriam ao longo do tempo a reputação e, consequentemente, o lucro "sólido" dos farmacêuticos. O combate a esses medicamentos era realizado ainda por intermédio da publicação de ensaios comparativos com os "produtos originais" (O Farmacêutico..., 1927b).

Tal como na Revista Terapêutica, outro recurso rotineiramente utilizado em O Farmacêutico Brasileiro era a demonstração de que os medicamentos produzidos pela Bayer resultavam de intensa investigação laboratorial. De acordo com essa lógica, um texto publicado no periódico sobre o "histórico da organização farmacêutica Bayer" dizia:

Considerando que somente a experimentação mais conscienciosa das questões atinentes ao problema deve constituir a base da fabricação de substâncias tão impor-tantes, como sejam os medicamentos, é que se resolveu fundar institutos próprios, para a realização de pesquisas químico-científicas. Por isto, fundaram-se em 1896, em Elberfeld e Hoechst, laboratórios científicos, ainda hoje, completamente independentes dos negócios das fábricas e destinados somente à verificação de questões científicas diversas (O Farmacêutico..., 1940, p.7).

Seguindo a mesma lógica, um anúncio veiculado em O Farmacêutico Brasileiro (1931) afirmava que a origem laboratorial dos produtos Bayer assegurava a qualidade de seus medicamentos:

Todos e cada um dos produtos Bayer tem tido uma origem nitidamente científica e passaram pelo mais minucioso e completo processo de análise, pelas mais rigorosas experiências clínicas, antes de serem entregues ao consumo público. Só a isso se deve que a ciência, quer pela boca do sábio, que é a guarda da humanidade no laboratório, quer pelas opiniões e conselhos médicos que zelam pela saúde pública, tenha dado este 'veredictum' simples e concludente: SE É BAYER É BOM!10 10 O slogan "se é Bayer é bom" foi criado em 1922 pelo poeta e publicitário brasileiro Manuel Bastos Tigre. A frase ficou internacionalmente conhecida e foi utilizada pela Bayer em inúmeros países de língua portuguesa e espanhola. Para saber mais acerca do slogan e de Bastos Tigre consultar Pinto (2005) e Brasil (2008).

Somada à investigação e experimentação laboratorial, a opinião de médicos apresentada como verificação clínica era outro importante recurso de atribuição de autoridade científica às especialidades farmacêuticas utilizado no periódico da filial Bayer no Brasil. A exposição de verificações clínicas era veiculada nas páginas do periódico normalmente através de anúncios, artigos e notas terapêuticas assinadas por conceituados médicos brasileiros e estrangeiros.

Do mesmo modo que a Revista Terapêutica, O Farmacêutico Brasileiro costumava celebrar os progressos alcançados em diversas áreas da ciência que permitiam avanços terapêuticos. Um artigo sobre 'os labores da ciência' exemplifica a relação entre os progressos da biologia e da química e o desenvolvimento de medicamentos nos laboratórios das indústrias Bayer:

O que nós queremos é admirar os progressos da química e da biologia, conquistando nos laboratórios, com as suas infinitas combinações, produtos que vêm aliviar a humanidade de grandes tormentos, de moléstias que lhe assediam o organismo, nele se instalam para romper o equilíbrio, cuja estabilidade é a saúde. O que têm feito essas duas ciências nos últimos decênios, nas mãos de sábios experimentados, di-lo eloquententemente o arsenal terapêutico das fábricas BAYER, da Alemanha (O Farmacêutico..., 1928, p.2).

A maior parte dos artigos de O Farmacêutico Brasileiro propagavam de maneira especial as realizações da ciência alemã, seguindo aquele modelo que já apresentamos páginas atrás: exposição de descobertas realizadas por cientistas alemães e culto a grandes personalidades científicas germânicas, como no caso dos supracitados 'três nomes célebres' de Robert Koch, Emil von Behring e Paul Ehrlich (Figura 7).


Contudo, diferentemente do que ocorreu com a Revista Terapêutica, a vinculação entre O Farmacêutico Brasileiro e a política de difusão do germanismo esteve limitada à propagação das realizações da ciência alemã. O periódico farmacêutico não disseminou atividades de intercâmbio científico tendo em mira os farmacêuticos brasileiros, salvo raras exceções, como certa vez em que a Bayer divulgou seu próprio bureau de informações em Berlim "aos Srs. 'Médicos' e Farmacêuticos que pretendem viajar para a Alemanha" (O Farmacêutico..., 1937, p.47; destaque nosso). A carência de anúncios, artigos e notas que propagassem atividades de intercâmbio científico nas páginas de O Farmacêutico Brasileiro está provavelmente relacionada ao pressuposto da política de difusão do germanismo de que o público médico, e não o público farmacêutico, deveria ser o alvo principal das ações de intercâmbio científico, já que os profissionais de medicina, muito mais que os profissionais de farmácia ou quaisquer outros, exerciam importante influência política e econômica nas sociedades latino-americanas no início do século XX.

A atuação de Renato Ferraz Kehl nos periódicos da Bayer

Para elaborar e executar algumas estratégias de comercialização no Brasil, a Bayer contou muitas vezes com a colaboração de cientistas locais. De maneira geral, os que prestaram serviços à empresa alemã conheciam hábitos, necessidades e preferências de médicos e farmacêuticos locais e, desse modo, auxiliaram a implementação de estratégias adequadas às demandas dos brasileiros. Entre os profissionais nativos a serviço da Bayer, o que obteve maior destaque foi o médico, farmacêutico e eugenista Renato Ferraz Kehl (1889-1974). Ao longo de sua trajetória como funcionário da Bayer, dirigiu os periódicos Revista Terapêutica e O Farmacêutico Brasileiro, legitimando a propagação dos medicamentos da empresa e a difusão da ciência alemã entre médicos e farmacêuticos brasileiros, já que o eugenista era uma prestigiosa autoridade científica reconhecida por ambas as categorias.

Renato Ferraz Kehl foi contratado em 1924 pela Chimica Industrial Bayer Meister Lucius, sucursal no Rio de Janeiro da indústria farmacêutica alemã Bayer, em princípio, para exercer a função técnica de controlador da fabricação e da manutenção da armazenagem dos medicamentos produzidos pela companhia industrial. De acordo com a legislação brasileira da época, essa função deveria ser realizada obrigatoriamente por farmacêutico diplomado no Brasil, e Kehl possuía formação acadêmica tanto em farmácia quanto em medicina. Além disso, sua contratação está possivelmente relacionada ao fato de possuir ascendência germânica e dominar o idioma alemão. Entretanto, o principal fator que levou a Bayer a convidar Renato Kehl para prestar serviços à companhia foi certamente o prestígio que o médico-farmacêutico possuía nos círculos científico, intelectual e político brasileiros, "mormente no âmbito da eugenia", que, aliás, "ultrapassava os limites de sua pátria" (Verkauf Pharma..., s.d., p.86).11 11 Os dados acerca da contratação de Renato Ferraz Kehl pela Bayer e sobre a trajetória do farmacêutico, médico e eugenista na empresa foram obtidos através de relatório a propósito das atividades da companhia farmacêutica alemã no Brasil. O relatório faz parte do acervo arquivístico da Bayer na cidade de Leverkusen, Alemanha, pesquisado e traduzido no âmbito do já citado projeto de pesquisa coordenado por Magali Romero Sá (Sá et al., 2009). Desde meados da década de 1920, Renato Kehl já se havia consolidado como o principal representante da eugenia no Brasil e até mesmo na América Latina (Stepan, 2004; Souza, 2006; Santos, 2008).

O prestígio como principal liderança do movimento eugênico no Brasil rendeu a Kehl não apenas a nomeação para cargos em instituições de saúde pública como também o reconhecimento de importantes instituições como a Associação Brasileira de Farmacêuticos e principalmente a Academia Nacional de Medicina. Em 26 de abril de 1929, ele foi recebido como sócio efetivo da primeira, em parte em virtude de "haver sido, no nosso meio, o precursor do movimento pela saúde e pela beleza da raça" (Boletim..., 1929, p.12). Pouco depois, em 4 de agosto de 1932, foi eleito membro titular da seção de farmácia da Academia Nacional de Medicina (O Farmacêutico..., 1932, p.20).

Em 1927, três anos após a contratação pela sucursal carioca da companhia farmacêutica alemã, Renato Kehl foi alçado ao cargo de diretor médico e chefe de laboratório na Chimica Industrial Bayer Meister Lucius, tendo solicitado seu desligamento do Departamento Nacio-nal de Saúde Pública nesse mesmo ano para se dedicar exclusivamente às suas funções na companhia farmacêutica (Souza, 2006, p.111). Entretanto, segundo relatório acerca das ativi-dades da Bayer no Brasil, apesar da promoção, Renato Kehl não conseguiu conquistar na empresa a posição que gostaria de ocupar. Em 1930, por ocasião da visita ao Brasil de Wilhelm Rudolf Mann, então diretor-geral das indústrias Bayer, Renato Kehl se teria empenhado em obter uma função efetiva de direção na companhia farmacêutica, mas sua aspiração teria malogrado ao esbarrar na oposição de Hermann Kaeble, na época gerente geral da Chimica Industrial Bayer Meister Lucius.12 12 Apesar desse episódio, Renato Kehl continuou conquistando importantes posições científicas e econômicas na própria Bayer. De acordo com o mesmo relatório, em 1932, o eugenista, ao lado de Hermann Kaeble, se tornou administrador e acionista do Instituto Behring de Terapêutica Experimental, fundado no mesmo ano na cidade do Rio de Janeiro em parceria com a Chimica Industrial Bayer Meister Lucius (Verkaufsvertretungen..., 1932-1941). Ainda de acordo com o relatório, esse episódio teria gerado um "rancor silencioso" em Renato Kehl. Consta que, durante a Segunda Guerra Mundial, o eugenista não realizaria qualquer esforço para auxiliar os funcionários alemães da Bayer, entre os quais se encontrava Hermann Kaeble, que haviam sido aprisionados no Rio de Janeiro pelo governo brasileiro em decorrência do rompimento das relações entre Brasil e Alemanha (Verkauf Pharma..., s.d., p.80-98).

De qualquer maneira, durante o período em que prestou serviços à Bayer no Brasil (1924-1944), por iniciativa da empresa ou mesmo do próprio eugenista, Renato Kehl atuou destacadamente como articulista e 'diretor' dos periódicos Revista Terapêutica e O Farmacêutico Brasileiro. Como dissemos, nessas funções legitimou a propagação comercial dos medicamentos Bayer e a difusão da ciência alemã. Por outro lado, sua atividade como articulista e diretor das duas revistas forneceu-lhe importante espaço para a propagação também da eugenia entre os públicos médico e farmacêutico e, consequentemente, para a reafirmação da identidade entre o nome de Kehl e a ciência eugênica. Os periódicos da Bayer serviram a essa relação assimétrica de 'difusão e recepção' científica entre Alemanha e Brasil até 1945, quando, em função da liquidação da companhia farmacêutica, deixaram de circular.13 13 Acerca de uma abordagem 'multidirecional' da relação de difusão e recepção científica entre países de centro e periferia ver, por exemplo, Dantes, Hamburguer (1996); Petitjean (1996) e Pratt (1999).

Ao longo do tempo em que prestou serviços à Bayer, Renato Kehl continuou a exercer intensamente a missão de propagar a eugenia e procurou manter seu nome associado à 'ciência da boa geração'. Nesse período, publicou alguns dos livros sobre o tema da eugenia que compuseram sua vastíssima obra, totalizando cerca de duas dezenas de títulos. Entre 1924 e 1944, publicou, por exemplo, Bíblia da saúde, Lições de eugenia, Sexo e civilização e Por que sou eugenista. Além disso, entre 1929 e 1932, dirigiu o periódico Boletim de Eugenia e, em 1931, fundou a Comissão Central Brasileira de Eugenia. A contratação de Renato Kehl para um cargo remunerado em uma indústria químico-farmacêutica 'multinacional' concedeu-lhe o suporte financeiro necessário para a continuação de suas atividades como propagandista da eugenia para além do âmbito da companhia industrial.

Portanto, a Revista Terapêutica e O Farmacêutico Brasileiro foram em princípio mecanismos de divulgação dos medicamentos comercializados pela Bayer e de difusão da ciência alemã em sintonia com os pressupostos da política de propagação do germanismo através da ciência médica. Nessa relação assimétrica de difusão e recepção científica, alguns cientistas brasileiros legitimaram a propagação comercial alemã, mas, ao mesmo tempo, aproveitaram essa relação para concretizar objetivos próprios como, no caso de Renato Kehl, a ascensão profissional e a divulgação de um ideal de nacionalidade baseado nos pressupostos raciais da eugenia.

NOTAS

Recebido para publicação em setembro de 2012.

Aprovado para publicação em dezembro de 2012.

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  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.56-57. 1940.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.47. 1937.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.27. 1932.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.24. 1931.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.21. 1931.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.11. 1928.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.7. 1927a.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.6. 1927b.
  • O FARMACÊUTICO... O Farmacêutico Brasileiro, Rio de Janeiro, n.3. 1926.
  • PETITJEAN, Patrick. Ciências, impérios, relações científicas franco-brasileiras. In: Hamburguer, Amélia Império et al. (Org.). A ciência nas relações Brasil-França (1850-1950) São Paulo: EdUSP. 1996.
  • PINTO, Zélio Alves. Reclames da Bayer: 1911-1942. São Paulo: Carrenho Editorial. 2005.
  • PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: EdUSC. 1999.
  • QUINTANEIRO, Tânia. O mercado brasileiro e o esforço de guerra norte- americano. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.29, p.141-164. 2002.
  • REGGIANI, Andrés H. Medicina y Kulturpolitik en la era del nacional socialismo: La Academia Médica Germano-Ibero-Americana (1936-1939). Ibero-Online, Berlin, v.3, n.1, p.57-74. 2005.
  • REVISTA... Revista de Informações Terapêuticas, Lisboa, n.1. 1912.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.5-6. 1939.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.7-8. 1938.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.9-10. 1937.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.9-10. 1934.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.11-12. 1933.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen. ago. 1931.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.8. 1930.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, n.5. 1926.
  • REVISTA TERAPÊUTICA. Revista Terapêutica, Leverkusen, jan. 1926.
  • ROLIM, Marlom Silva. Se é Bayer é bom: divulgação comercial e científica alemã na Revista Terapêutica e em O Farmacêutico Brasileiro (1921-1945). Dissertação (Mestrado) - Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2011.
  • SÁ, Magali Romero. Os estudos em malária aviária e o Brasil no contexto científico internacional (1907-1945). História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.18, n.2, p.499-518. 2011.
  • SÁ, Magali Romero et al. Medicina, ciência e poder: as relações entre França, Alemanha e Brasil no período de 1919 a 1942. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.16, n.1, p.247-261. 2009.
  • SÁ, Magali Romero; SILVA, André Felipe Cândido da. La Revista Médica de Hamburgo y La Revista Médica Germano-Ibero-Americana: diseminación de la medicina germânica en España y América Latina (1920-1933). Asclepio, Madrid, v.62, n.1, p.7-34. 2010.
  • SANTOS, Ricardo Augusto dos. Pau que nasce torto, nunca se endireita! E quem é bom, já nasce feito? Esterilização, saneamento e educação: uma leitura do eugenismo em Renato Kehl (1917-1937). Tese (Doutorado) - Área de História, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. 2008.
  • SIGOLO, Renata Palandri. A saúde em frascos: concepções de doença e cura: Curitiba, 1930-1935. Dissertação (Mestrado) - Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 1995.
  • SILVA, André Felipe Cândido da. A trajetória de Henrique da Rocha Lima e as relações Brasil-Alemanha (1901-1956). Tese (Doutorado) - Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2011.
  • SOUZA, Vanderlei Sebastião de. A política biológica como projeto: a eugenia negativa e a construção da nacionalidade na trajetória de Renato Kehl (1917-1932). Dissertação (Mestrado) - Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2006.
  • STEPAN, Nancy. Eugenia no Brasil: 1917-1940. In: Hochman, Gilberto; Armus, Diego (Org). Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, p.331-391. 2004.
  • TEMPORÃO, José Gomes. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde Rio de Janeiro: Graal. 1986.
  • VERKAUF PHARMA... Verkauf Pharma Länderübersicht. Brasilien. 1/6.6. 18.2. (Bayer-Archiv, Leverkusen). s.d.
  • VERKAUFSVERTRETUNGEN... Verkaufsvertretungen der Bayer AG. Behring-Institut. Rio de Janeiro. Signatur 009-K-001-002. (Bayer-Archiv, Leverkusen).1932-1941.
  • WULF, Stefan. Das Hamburger Tropeninstitut 1919 bis 1945: auswärtige Kulturpolitik und Kolonialrevisionismus nach Versailles. Berlin: Reimer. 1994.
  • 1
    Pesquisas sobre as relações científicas Brasil-Alemanha vêm sendo realizadas no Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, sob coordenação de Magali Romero Sá e Jaime Benchimol. Esses estudos já apresentaram resultados como, por exemplo, a tese de doutorado de André Felipe Cândido da Silva (Silva, 2011) e a dissertação de mestrado de Marlom Silva Rolim (Rolim, 2011).
  • 2
    Em razão dos interesses e limites da pesquisa e das particularidades das regiões, o artigo priorizou a análise das atividades destinadas aos latino-americanos em detrimento do universo mais amplo dos ibero-americanos.
  • 3
    Discurso pronunciado, em 1935, por Walter Benthin, chefe de ginecologia do hospital de Königsberg, em uma conferência na sede da Associação Econômica Alemã para a América Central e do Sul na qual incitava seus compatriotas a adotar política mais agressiva de promoção do germanismo direcionada para as Américas (Reggiani, 2005, p.57).
  • 4
    Nessa e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre.
  • 5
    Walter Kikuth passou seis meses trabalhando no Instituto Oswaldo Cruz em 1928. Após voltar ao Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo, foi convidado para dirigir a seção de Quimioterapia da Bayer em Leverkusen, Alemanha (Sá, 2011, p.509).
  • 6
    Embora a Bayer desde 1911 já mantivesse escritório de representação no território brasileiro, passou a produzir medicamentos no país em 1921 por intermédio da filial Chimica Industrial Bayer Meister Lucius.
  • 7
    Desde muito antes, a 'matriz' do periódico da Bayer já circulava em alguns países da Europa com distintas denominações. Em Portugal, por exemplo, desde 1912, havia em língua portuguesa a
    Revista de Informações Terapêuticas. A
    Revista Terapêutica passou a ser distribuída no Brasil, mas com edição, redação e impressão feitas pela Bayer em Leverkusen. Após 1930, redação e impressão continuaram a cargo da matriz, na Alemanha, mas a edição passou a ser responsabilidade da filial brasileira, Chimica Industrial Bayer Meister Lucius.
  • 8
    Em 1938, uma "Caravana médica brasileira" formada por cerca de trinta médicos embarcou para a Alemanha em visita diplomática a instituições científicas. Participaram, por exemplo, da inauguração do edifício da Academia Germano-ibero-americana em Berlim. Os detalhes da excursão foram narrados pelo doutor Carlos Osbourne em conferência no Sindicato Médico Brasileiro (Revista Terapêutica, 1939).
  • 9
    A publicação de periódicos destinados aos farmacêuticos brasileiros não foi iniciativa original da Bayer. Em 1925, por exemplo, o laboratório nacional Casa Granado iniciou a publicação da
    Revista Brasileira de Medicina e Farmácia, destinada aos públicos médico e farmacêutico brasileiros vinculada ao modelo ético-científico de propaganda.
  • 10
    O
    slogan "se é Bayer é bom" foi criado em 1922 pelo poeta e publicitário brasileiro Manuel Bastos Tigre. A frase ficou internacionalmente conhecida e foi utilizada pela Bayer em inúmeros países de língua portuguesa e espanhola. Para saber mais acerca do
    slogan e de Bastos Tigre consultar Pinto (2005) e Brasil (2008).
  • 11
    Os dados acerca da contratação de Renato Ferraz Kehl pela Bayer e sobre a trajetória do farmacêutico, médico e eugenista na empresa foram obtidos através de relatório a propósito das atividades da companhia farmacêutica alemã no Brasil. O relatório faz parte do acervo arquivístico da Bayer na cidade de Leverkusen, Alemanha, pesquisado e traduzido no âmbito do já citado projeto de pesquisa coordenado por Magali Romero Sá (Sá et al., 2009).
  • 12
    Apesar desse episódio, Renato Kehl continuou conquistando importantes posições científicas e econômicas na própria Bayer. De acordo com o mesmo relatório, em 1932, o eugenista, ao lado de Hermann Kaeble, se tornou administrador e acionista do Instituto Behring de Terapêutica Experimental, fundado no mesmo ano na cidade do Rio de Janeiro em parceria com a Chimica Industrial Bayer Meister Lucius (Verkaufsvertretungen..., 1932-1941).
  • 13
    Acerca de uma abordagem 'multidirecional' da relação de difusão e recepção científica entre países de centro e periferia ver, por exemplo, Dantes, Hamburguer (1996); Petitjean (1996) e Pratt (1999).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Abr 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013

    Histórico

    • Recebido
      Set 2012
    • Aceito
      Dez 2012
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