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Os paulistanos, "ianques do sul", e a "doença moderna", a neurastenia, nas primeiras décadas do século XX* * Este trabalho faz parte da pesquisa “Espaços e tempos culturais de uma metrópole atlântica: São Paulo 1867-1930”, desenvolvida na Universidade de Erfurt, Alemanha, com financiamento da Deutsche Forschungsgemeinschaft (Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa).

São Paulo residents known as “Southern Yankees” and the “modern disease,” namely neurasthenia, in the early decades of the twentieth century

Resumos

Em pouco tempo o boom do café, a imigração europeia e a atlantização de diversos setores de vida transformaram São Paulo de um pequeno povoado em uma próspera metrópole atlântica. Nas primeiras décadas do século XX, observadores descreviam a cidade, por seu progresso e atividade, como Yankee City. De que forma a neurastenia, “a mais moderna e americana das doenças”, combina com essa imagem? Após a análise de anúncios, livros científicos e de divulgação da ciência, bem como de artigos em revistas, pode-se afirmar que a neurastenia era amplamente difundida e bastante comercializável. O presente trabalho enfatiza a relação sociocultural dos paulistanos com o fenômeno da neurastenia.

São Paulo (Brasil); neurastenia; modernidade; estilo de vida urbana; história atlântica


In a brief period of time the coffee boom, European immigration and the “atlanticization” of various sectors of life saw São Paulo transform from a small village into a thriving Atlantic metropolis. In the early decades of the twentieth century, observers described the city as Yankee City, due to its progress and activity. To what extent does neurasthenia, namely “the most modern and American of disorders”, tally with that image? After analysis of advertisements, scientific books and texts for the dissemination of science, as well as articles in journals, it can be stated that neurasthenia was prevalent and widespread. This work emphasizes the socio-cultural familiarity of São Paulo with the phenomenon of neurasthenia.

São Paulo (Brazil); neurasthenia; modernity; urban lifestyle; Atlantic history


Em 23 de dezembro de 1900, o New York Times registrava: “São Paulo é chamada a ‘cidade ianque do Brasil’. É uma surpresa para o viajante americano encontrar entre as montanhas do sul do Brasil uma cidade tão pujante, com tanto impulso e atividade local, parecendo sugerir, naturalmente, um caráter americano” (Yankee..., 23 Dec. 1900YANKEE… Yankee city of Brazil. Sao Paulo, so-called for its surprising push and activity. New York Times, New York. s.p. 23 Dec. 1900.).1 1 No original: “São Paulo is called the ‘Yankee City of Brazil.’ It is a surprise to the travelling American to find among the mountains of southern Brazil a town so thriving and so full of local push and activity as to suggest naturally an American character”. Nesta e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre.

Treze anos mais tarde, o mesmo jornal afirmava: “Em São Paulo, os filhos progressistas da terra se descrevem – talvez com mais direito do que em muitos outros casos – como os ‘ianques do Brasil’” (Reyes, 3 Aug. 1913REYES, Rafael. Reyes in São Paulo, among the “Yankees of Brazil”. New York Times, New York. s.p. 3 Aug. 1913.).2 2 No original: “In São Paulo, the progressive sons of the soil describe themselves – perhaps with more justice than in many other cases – as the ‘Yankees of Brazil’”. Outros observadores dessa época também relatavam que São Paulo “desperta a admiração de todos os brasileiros, embasbacados e orgulhosos de terem, também eles, uma cidade “americana”, isto é, imbuída daquele espírito de orgulho, de empreendimento, de ardor, de atividade incessante que falta às antigas capitais brasileiras” (Lombroso-Ferrero, 1981LOMBROSO-FERRERO, Gina. O traço mais saliente da cidade é sua italianidade. In: Silva Bruno, Ernani (Org.). Memória da cidade de São Paulo: depoimentos de moradores e visitantes, 1553-1958. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico. p.145-146. 1981., p.146).

Em 1907, outro viajante relatou saber que São Paulo era “sem contestação, a cidade mais ativa do Brasil... Sem dúvida seu desenvolvimento tem sido algo de muito precoce, digamos, muito americano... acredito que os paulistas são de certa forma um pouco os ianques do sul; venceram todos os obstáculos” (Burnichon, 1981BURNICHON, Joseph. São Paulo é, sem contestação, a cidade mais ativa do Brasil. In: Silva Bruno, Ernani (Org.). Memória da cidade de São Paulo: depoimentos de moradores e visitantes, 1553-1958. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico. p.153-154. 1981., p.154).

O boom do café das décadas anteriores, a imigração europeia em massa e a atlantização de diversos setores de vida, desde a economia (de exportação), passando pela arquitetura, hábitos de consumo e pela moda até as formas de lazer transformaram, em pouco tempo, o antigo povoado de jesuítas, com vinte mil habitantes em meados da década de 1870, em uma próspera metrópole. Em 1891, após o fim do Império – com sua orientação centralista voltada para a capital, Rio de Janeiro – São Paulo conseguiu concretizar a ambição de supremacia por meio da política do “café com leite”, durante a qual se alternavam no poder as elites de São Paulo (café) e Minas Gerais (leite) (Love, 1980LOVE, Joseph. São Paulo in the Brazilian federation, 1889-1937. Stanford: Stanford University Press. 1980.; Dorsch, Wagner, 2007DORSCH, Sebastian; WAGNER, Michael. Gezähmter Dschungel – industrialisierte Agrarwirtschaft – romantisierter Landloser: die Mystifizierung des Ländlichen in der deagrarisierten Gesellschaft Brasiliens. Geschichte und Gesellschaft, Göttingen, v.33, n.4, p.546-574. 2007.). Em meados da década de 1910, com muita autoconfiança, inseriu-se na bandeira paulista a frase Non ducor, duco (“Não sou conduzido, conduzo”).

Em torno da virada do século XIX para o XX e logo após, historiadores e políticos paulistanos tentaram consolidar em seus discursos a sua cidade como o centro brasileiro do progresso. As reivindicações políticas e econômicas de supremacia deveriam ser fundamentadas e legitimadas de forma histórica e transcendente. Segundo o discurso majoritário, a marca cunhada pelo espaço fazia dos paulistanos uma selecionada “raça de gigantes”, expressão demarcada, já no início do século XIX, pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajou pelo Brasil. No estudo sociológico Raça de gigantes de 1926, Alfredo Ellis Junior (1926ELLIS JUNIOR, Alfredo. Raça de gigantes: a civilização no planalto paulista: estudo da evolução racial anthroposocial e psychicológica do paulista dos seculos XVI, XVII, e XIX, e das mesologias physica e social do planalto. São Paulo: Helios. 1926., p.362) interpretou esse termo da seguinte forma: “o planalto paulista é uma região predeterminada ao sucesso e à prosperidade”. Segundo o autor, os bandeirantes, marcados pela fronteira e pelos encontros espaciais, climáticos e culturais, foram os responsáveis pela conquista do território nacional e pela americanização do Brasil. Considerando essa “ideia de pioneirismo de São Paulo” (Brefe, 2005BREFE, Ana Claudia Fonseca. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional, 1917-1945. São Paulo: Editora da Unesp; Museu Paulista. 2005., p.192) em relação ao presente e, sobretudo, ao futuro, apostando em um enorme desenvolvimento econômico, o Rio seria apresentado como “antinação, lugar de atraso”, e “São Paulo, inversamente, como a nação, a locomotiva do progresso que embalava o país rumo a um futuro moderno” (Brefe, 2005BREFE, Ana Claudia Fonseca. O Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional, 1917-1945. São Paulo: Editora da Unesp; Museu Paulista. 2005., p.190). Na busca do “sentido de identidade” e do “destino de cidade”, o foco, sustentado por essa prosperidade, estava voltado especialmente para o futuro ou nas palavras de Nicolau Sevcenko (2009SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras. 2009., p.37): “cortada do passado pelo seu modo de desenvolvimento abrupto, São Paulo, tal como era figurada pelos seus cronistas, aparecia insistentemente refletida num improvável espelho do futuro”. Diante desse panorama, o presente trabalho dissertará sobre concepções existentes na virada do século e como deveria ser a natureza dos paulistanos para poderem construir esse futuro. Exemplificando, tratar-se-á de imagens corporais relacionadas à doença nervosa moderna, a neurastenia.

O médico e eletroterapeuta nova-iorquino George Miller Beard (1839-1883) publicou, em 1869, o artigo “Neurasthenia, or nervous exhaustion” (Neurastenia, ou exaustão nervosa) no Boston Medical and Surgical Journal, aprofundando o tema em 1880, na monografia A practical treatise on nervous exhaustion (neurasthenia) (Um tratado prático sobre exaustão nervosa [neurastenia]) e ainda, em 1881, no volume complementar American nervousness: its causes and consequences (Nervosidade americana: suas causas e consequências). Nesse período, tanto nos EUA quanto na Europa Central, parecia claro que Beard acertava a “sintomatologia da época” com a descrição da “neurastenia”, uma vez que apresentava uma conceitualização médico-mental para os efeitos de sobrecarga psíquica e física provocada pela vida urbana moderna com suas mudanças aceleradas. Até os anos 1920, na literatura, a neurastenia foi predominantemente considerada doença muito frequente e, ao mesmo tempo, sinal de atividade econômico-tecnológica e de progresso, tanto individual como da sociedade em geral.

Durante esse período e paralelo ao relatório médico de Beard, comentaristas e analistas sociais escreveram amplamente sobre o tema do sucesso econômico americano e do estilo de vida dos cidadãos dos Estados Unidos. A temática central desses relatos era o estresse sofrido pelos americanos que eram estereotipados como viciados em trabalho e carentes de tempo livre (Goetz, 2001GOETZ, Christopher G. Poor Beard!! Charcot’s internationalization of neurasthenia, the “American disease”. Neurology, Chicago, v.57, p.510-514. 2001., p.513).3 3 No original: “During this period, and in parallel with Beard’s medical report, social commentators and analysts wrote extensively on the topic of American economic success and the lifestyle of the United States citizens. The leit-motif of these exposés was the stress endured by Americans who were stereotyped as work-addicted and rest-deprived”.

A historiografia também descreveu o fenômeno como “a mais moderna e americana das doenças” (Campbell, 2007CAMPBELL, Brad. Neurotic nationalism: the “American disease” in American modernist literature. Tese (Doutorado) – University of Illinois at Urbana-Champagn, Urbana, Illinois. 2007., p.III)4 4 No original: “the most modern and American disease”. e fazia dos EUA da época uma neurasthenic nation(nação neurastênica) (Schuster, 2006SCHUSTER, David G. Neurasthenic nation: the medicalization of modernity in the United States, 1869-1920. Tese (Doutorado) – University of California, Santa Barbara. 2006.). Outros, sobretudo contemporâneos alemães e franceses, seguiram essa noção de neurotic nationalism (nacionalismo neurótico) (Gijswijt-Hofstra, Porter, 2001GIJSWIJT-HOFSTRA, Marijke. Introduction: cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. In: Gijswijt-Hofstra, Marijke; Porter, Roy (Org.). Cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. New York: Rodopi. p.1-30. 2001.; ver também Radkau, 1998RADKAU, Joachim. Das Zeitalter der Nervosität: Deutschland zwischen Bismarck und Hitler. München, Wien: Carl Hanser. 1998., p.324-338). Portanto, segundo a interpretação de alguns historiadores, nesses países, a doença teria adquirido um caráter gerador de identificação nacionalista.

Na historiografía, a neurastenia foi pesquisada em especial nas citadas regiões do Atlântico Norte, sendo que lá foram constatadas diversas “culturas de neurastenia” (Gijswijt-Hofstra, Porter, 2001GIJSWIJT-HOFSTRA, Marijke; PORTER, Roy (Org.). Cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. New York: Rodopi. 2001.). Com relação à América Latina, há mais observações do que estudos sobre o conceito (ver, p. ex., Drinot, 2004DRINOT, Paulo. Madness, neurasthenia and “modernity”: medico-legal and popular interpretations of suicide in early twentieth-century Lima. Latin American Research Review, Austin, v.39, n.2, p.89-113. 2004.; Schmidt, 2007SCHMIDT, Peer. “Siéndome preciso no perder minuto”: tiempo y percepción del tiempo en México (1810-1910). In: Mayer, Alicia (Org.). México en tres momentos 1810-1910-2010, v.2. México: Unam. p.271-282. 2007.). Rafaela Teixeira Zorzanelli (2009, 2010) publicou artigos sobre neurastenia, focalizando mais o Atlântico Norte, porém muito pouco o Brasil. Já Luiz Fernando Duarte (1986)DUARTE, Luiz Fernando Dias. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986. publicou sua dissertação de mestrado, relacionada ao conceito de nervosismo nas classes trabalhadoras.

O presente trabalho enfatiza São Paulo e a relação sociocultural dos paulistanos com o fenômeno da neurastenia. Neste trabalho, médicos e suas avaliações desempenham um importante papel, sobretudo como discursos sobre a sociedade. Anúncios publicitários, livros científicos e de ciência popular, assim como artigos em jornais e revistas serviram como fontes centrais de pesquisa. Posto que os documentos analisados foram publicados ou escritos em São Paulo, também informam sobre o contexto histórico da doença naquela cidade. Infelizmente os registros sobre pacientes não puderam ser considerados, pois o acervo do Hospital de Juquery (hoje Franco da Rocha), o antigo Manicômio Judiciário de São Paulo, foi totalmente destruído por um incêndio em 2005 – de acordo com Maria C. Pereira Cunha (1986CUNHA, Maria Clementina Pereira. O espelho do mundo: Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1986., p.17), ele possuía “uma riqueza surpreendente”, que foi mantida fora do alcance dos historiadores até meados dos anos 1980.5 5 Um grupo de pesquisa, coordenado por Jaime Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo, trata atualmente da reorganização do restante do acervo de prontuários do Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo (1897-1952), recolhido em 2012 ao Arquivo Público do Estado de São Paulo. Na continuação da presente pesquisa o autor pretende levantar e analisar esses dados. Os dados dos “neurastênicos brasileiros, [que] com frequência, viajavam para realização de tratamento com os grandes especialistas na Europa e nos EUA” (Zorzanelli, 2010ZORZANELLI, Rafaela Teixeira. Neurastenia. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, supl.2, p.431-446. 2010., p.442) ainda não foram integrados a esta pesquisa. Assim, neste artigo, o foco foi centralizado sobre os debates públicos na imprensa.

Será que a reserva, até agora observada em relação à historiografia sobre o tema, deve-se à falta de importância ou à inexistência da neurastenia na época? A escassez de dados existentes sobre números de pacientes aponta nessa direção: anualmente, entre 1910 e 1917, no Hospital Central da Santa Casa de São Paulo, no âmbito de um contingente geral de 11 mil casos de doenças nas categorias de medicina, cirurgia e oftalmologia, foram tratados apenas entre 27 e 51 neurastênicos – um número ínfimo de casos (Morbidade..., 1912MORBIDADE... Morbidade (1910). Gazeta Clínica. São Paulo, v.10, p.43-45. 1912., 1913MORBIDADE... Morbidade (1912). Gazeta Clínica. São Paulo, v.11, p.73. 1913., 1915MORBIDADE... Morbidade (1914). Gazeta Clínica. São Paulo, v.13, s.p. 1915., 1917MORBIDADE... Morbidade (1916). Gazeta Clínica. São Paulo, v.15, p.26-27. 1917., 1918MORBIDADE.... Morbidade (1917). Gazeta Clínica. São Paulo, v.16, p.31. 1918.). Porém, outros materiais pesquisados apontam em outra direção. Assim, em 1913, o médico Augusto Vergely, da cidade de Jaú, no interior de São Paulo, escreveu na revista paulistana Gazeta Clínica, que “a neurastenia, sobretudo a ‘pequena neurastenia’, é uma afecção das mais frequentes em todas as classes sociais”, especialmente a “pequena neurastenia que se encontra a cada passo na clínica corrente tantas vezes passa despercebida” (Vergely, 1913VERGELY, Augusto. Neurasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.11, p.66-69. 1913., p.66).6 6 No Rio de Janeiro, nessa época, parece ter sido considerável o número de pacientes neurastênicos atendidos em clínicas particulares. Durante o primeiro Congresso Médico Paulista, em 1916, no qual a doença recebeu atenção especial, o prestigiado especialista carioca Henrique Roxo (1877-1969) mencionou em sua palestra um “avultado número de doentes” (Roxo, 1916, p.42). Também Zorzanelli (2010, p.442) menciona a grande frequência de casos na clínica particular. Os dados sobre atendimentos em clínicas em São Paulo, a ser investigados no desenvolvimento da pesquisa, podem trazer mais clareza à situação na Yankee City, permitindo uma comparação mais embasada.

Outros até elevaram a neurastenia à doença da época. O doutor Ascanio Villas Boas, inspetor sanitário de São Paulo, expôs na Gazeta Clínica em 1909 que cada época tem suas “formas de nervosidade” específicas: “No nosso tempo de industrialismo e de positivismo científico ... as formas de nervosidade se manifestam muito claramente, denunciando o espírito, o modo de sentir, a mentalidade do tempo atual. São os estados neurastênicos que as caracterizam. A forte concorrência em todos os ramos de atividade, a intensidade da vida cerebral para afrontá-la, a rapidez das comunicações e da transmissão do pensamento, a falta de crenças sólidas para base da conduta, ligadas a predisposição mais ou menos poderosa, influem essencialmente na criação do desequilíbrio mental” (citado em Neves, 2008NEVES, Afonso Carlos. O emergir do corpo neurológico no corpo paulista: neurologia, psiquiatria e psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1930). Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008., p.321). Segundo o inspetor, a aceleração do ritmo e a crescente insegurança da época tornaram a neurastenia uma doença que revelava “a mentalidade do tempo atual”.

Em 1907, o doutor dom Justino, um frade beneditino médico, constatava que: “a neurastenia é um dos assobrosos e mortais perigos do XX século [sic], que estão vindo sobre nós, por trazer tanto prejuízo à vida, à energia e ao trabalho da humanidade” (Justino, 2010JUSTINO, Dom. Neurastenia (recentes contribuições ao seu estudo). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, supl.2, p.582-585. Reimpressão da obra de 1907. 2010., p.395). A declaração de Antônio Austregésilo Rodrigues Lima (1876-1960) do Rio de Janeiro, em meados dos anos 1910, parece, então, estar correta: “com a vida moderna a ‘debilidade nervosa’ se exalta, e os sintomas ansiosos dominam o cômputo das populações das cidades. Acha-se o ‘nervosismo’ tão espalhado que podemos dizer que todo o mundo foi, é, ou será nervoso” (Austregésilo, 1937AUSTREGÉSILO, Antônio. A cura dos nervosos. Rio de Janeiro: Editora Guanabara. 1.ed. 1917. 1937., prefácio). Nessa obra, a neurastenia era considerada a doença nervosa por excelência.

No entanto, não apenas os médicos avaliavam a situação dessa maneira. A partir da virada do século XIX para o XX, nos jornais paulistanos encontravam-se diversos anúncios publicitários, que se referiam a um grande e diferenciado mercado. Os anúncios exaltavam diversos medicamentos, aparelhagens e métodos de cura. Nesse contexto, uma farmácia promovia um tipo de granulado à base de noz-de-cola, que continha cafeína, contra “neurastenia, fraqueza geral, cansaço físico e intelectual”, declarando ser um “fortificante geral e reconstituinte de primeira ordem” (A Notícia, 13 fev. 1907, p.3A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 13 fev. 1907.). Kola-Werneck era declarado “o mais seguro tônico, contra as moléstias ou excessos que produzem o esgotamento nervoso” (Revista Médica..., 1907, s.p.REVISTA MÉDICA... Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.10. 1907.). Fortificar-se contra o esgotamento nervoso era o tema dominante. Em outro lugar, propagandeava-se um “Vinho Reconstituinte Granado” que “conquistou a preferência da ilustre classe médica”: “o uso deste preparado é o mais racional, sendo um tratamento simultaneamente tônico, estimulante, nutritivo e digestivo, de grande eficácia para combater a anemia, neurastenia, raquitismo, fraqueza… Os seus efeitos benéficos manifestam-se rapidamente pelo aumento do apetite e das forças” (Gazeta Clínica, 1917GAZETA CLÍNICA. Gazeta Clínica, São Paulo, v.11. 1917., s.p.).

Indicações referentes a uma eficácia especial em comparação a outras aplicações bem como alusões a especialistas ou autoridades apontam para uma forte competitividade. “Digestivos Picard” eram indicados “para os nervosos e neurastênicos”, afirmando que “inúmeros atestados que temos comprovam a eficiência destes preparados” (A Cigarra, 1915A CIGARRA. A Cigarra, São Paulo. 1915., s.p.). Um anúncio da “Deschiens (Paris)” ilustrado com uma mulher dizia que “todos os médicos proclamam que vinho e xarope de hemoglobina curam sempre” nos casos de “anemia, debilidade, neurastenia, tísica” (A Cigarra, 1915A CIGARRA. A Cigarra, São Paulo. 1915., s.p.). O “Elixir de Papaina de P. Braga. aprovado pela Inspectoria Geral de Higiene” deveria fazer efeito não apenas nos casos de “anemia”, mas também nos de “debilidade, neurastenia”: “dezenas de atestados dos mais abalizados clínicos ... atestam sua eficácia” (A Notícia, 21 jan. 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 21 jan. 1907., p.4). Orlando Rangel preconizava o seu licor “Kola-Bah”, “aprovado pela Diretoria Geral de Saúde Pública e adotado pela classe médica brasileira”, recomendado, entre outros, nos casos de “esgotamento nervoso, na surmenage (cansaço por excesso de trabalho intelectual ou físico), na neurastenia” (O Comércio, 4 jul. 1902O COMÉRCIO. O Comércio, São Paulo. 4 jul. 1902., p.5; Revista Médica..., 1907REVISTA MÉDICA... Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.10. 1907., s.p.). Em outro anúncio de Orlando Rangel – de uma maneira geral, Rangel era muito presente – neurastenia era o foco principal: “O maior tônico restaurador das forças – O melhor tônico do sistema nervoso cérebro-espinhal – O mais poderoso antineurastênico” (O Comércio, 2 jul. 1902O COMÉRCIO. O Comércio, São Paulo. 2 jul. 1902., p.5). Chama atenção que, embora frequentemente a neurastenia fosse o foco central do tratamento, raramente era a única afecção a ser tratada. “Panbiline de Annonay (Ardèche/França)... medicação… única... ativando [sic] simultaneamente sobre a ‘secreção hepática’ e sobre a ‘excreção biliar’” (Gazeta Clínica, 1919GAZETA CLÍNICA. Gazeta Clínica, São Paulo, v.17. 1919., p.48) superava os demais anúncios citados e, de acordo com sua publicidade, fazia efeito sobre mais de trinta doenças.

Também parecia haver um mercado para aparelhagens maiores e mais caras. Assim, o doutor N.T. Sanden publicou reiteradas vezes em diversos jornais um dispendioso anúncio sob o título “Neurastenia” para o seu “Cinturão Elétrico Herculex”. Uma grande imagem de um usuário masculino acompanhava a oferta de livros gratuitos sobre “saúde” e “vigor”. As cartas de usuários curados provenientes do estado de São Paulo são de supremo interesse: um desses usuários havia sido “radicalmente curado de uma neurastenia”. Anteriormente, ele “sofria horrivelmente, não podia escrever e tinha dias que não podia levar uma xícara de café à boca”. Após três meses de tratamento com o cinturão elétrico “tinham desaparecido todos esses incômodos. Sinto-me feliz em declarar que até hoje (isto [há] quase dois anos) não têm voltado os meus antigos sofrimentos.” Outro escrevia: “o meu estado de saúde impossibilitava de [me] ocupar antes de me submeter à vigorosa influência do vosso Herculex”. Os “sofrimentos” de um comandante da polícia de Vila Americana também eram “terriveis... não podia mais alimentar-me nem com leite”, seu “sistema nervoso estava inteiramente enfraquecido”. Porém, com a aplicação do Herculex, sua força retornou: “Depois que fiz uso do vosso cinturão, como bem, de tudo, durmo bem e nada sofro; não podia virar-me nem na cama, e agora faço marchas forçadas e exercícios musculares militares” (A Notícia, 18 maio 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 18 maio 1907., p.2).

O doutor Sanden declarou então que “muitos homens que estão sujeitos a muitas preocupações, incômodos de espírito, a excesso de trabalho, em pouco tempo mostram sinais de prostração nervosa. Os sinais de perturbação nervosa são a irritabilidade, a impaciência, a irresolução e muitas vezes a incompetência… Quando a energia do sistema nervoso não pode mais recuperar-se, é tempo de lhe dar auxílio” (A Notícia, 18 maio 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 18 maio 1907., p.2). O princípio desse método de cura é: “o poder motriz que atua sobre vós, a força física, sexual e mental, chama-se força nervosa: isto é, eletricidade”. Pois “os maiores sábios da atualidade dizem que a vala do sistema nervo-sexual [sic] é uma rede de fios elétricos” (A Notícia, 29 ago. 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 29 ago. 1907., p.3). “Centenares [sic] de doentes recobram a saúde” (A Notícia, 10 jul. 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 10 jul. 1907., p.2), mais tarde, foram até “milhares”, e também “caso[s] crônico[s]” (A Notícia, 29 ago. 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 29 ago. 1907., p.3), a serem curados com o Herculex. Em outros anúncios alertava-se explicitamente contra “imitações baratas” (A Notícia, 18 maio 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 18 maio 1907., p.2) que, evidentemente, encontravam-se à venda no mercado.

Um certo doutor Wood exaltava “a mais formidável descoberta do século! O ‘rádio’” e o seu “cinto rádio-ativo [sic]”: segundo ele, este seria “a base da vida, porque a morte não é mais do que a perda total da rádio-atividade [sic] humana”. Com o cinturão a “maior força dinâmica conhecida acaba a entrar no campo prático da vida, triunfante como entrara no da ciência!”. Ele era muito eficaz no caso de “neurastenia, doenças nervosas” e outras doenças, pois era o mais moderno em termos científicos: “a ciência moderna abandonou os velhos elixires de longa vida para substituí-los pelos princípios vitais universais” (A Notícia, 16 jun. 1908A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 16 jun. 1908., p.4). Ao mesmo tempo também, doutor Wood alerta: “De todos os campos explorados pelos empíricos, certamente a medicina tem sido o mais fecundo à vasta classe dos charlatães”. Diante de um cenário de maior desconfiança, até era possível devolver o “cinto rádio-ativo [sic] de Dr. Wood (único oficialmente reconhecido)”: “Daí o descrédito de toda descoberta nova, pois que as cartas, atestados e tributos de gratidão já foram desacreditados, que, de usá-los, inspira-se logo desconfiança; ... Porém, quando se tem confiança num resultado verdadeiro, pode-se fazer o que fazemos. Reembolsaremos o comprador, se em quinze dias não ficar satisfeito” (A Notícia, 18 ago. 1908A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 16 jun. 1908., p.2).

Todavia, quase não encontrei alusões a estações de tratamento ou sanatórios. Então, parece não haver existido neurasthenia business, a neurastenia como negócio (Kaufmann, 2001KAUFMANN, Doris. Neurastenia in Wilhelmine Germany: culture, sexuality, and the demands of nature. In: Gijswijt-Hofstra, Marijke; Porter, Roy (Org.). Cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. New York: Rodopi. p.161-176. 2001., p.164), ao menos não nos moldes do que ocorreu na Alemanha ou nos EUA. Porém, aparentemente, houve forte demanda. Argumento em favor disso é a frequência de anúncios publicitários e a diversidade de preparados com variações de preço de $800 até 160$000 réis. Eles deveriam se dirigir a pessoas com “trabalho intelectual ou físico”. Nos primeiros tempos, a neurastenia era considerada, sobretudo, uma doença da classe superior, masculina, que executava trabalhos intelectuais (ver Held, 2008HELD, Lisa. Symptoms in search of a disease: neurasthenia, chronic fatigue syndrome, and the meaning of illness from modernity to postmodernity. Tese (Mestrado) – York University, Toronto. 2008., p.30; Schuster, 2006SCHUSTER, David G. Neurasthenic nation: the medicalization of modernity in the United States, 1869-1920. Tese (Doutorado) – University of California, Santa Barbara. 2006., p.15 e s.). Ainda que a publicidade focalizasse homens, as mulheres não eram excluídas. Até valia a pena importar medicamentos e aparelhagens da região do Atlântico Norte, sendo que as marcas francesas predominavam. Apenas os dois cinturões eram anunciados com nomes ingleses (Dr. Wood, Dr. Sanden). Também a invocação de diversas autoridades, que declaravam a eficácia do produto, a inclusão gratuita de livros e a garantia da possibilidade de devolução são argumentos em favor de uma intensa competitividade, portanto, da existência de um mercado. Assim como em outros lugares, supõe-se que os anúncios contribuíram para a divulgação da doença (ver Schuster, 2006SCHUSTER, David G. Neurasthenic nation: the medicalization of modernity in the United States, 1869-1920. Tese (Doutorado) – University of California, Santa Barbara. 2006., p.321).

As repetidas advertências em relação a imitações e a uma “vasta classe dos charlatães” indicam um próspero mercado negro. Nesse âmbito, por exemplo, “uma Senhora” recomendava nos casos de “fraqueza geral, neurastenia” etc. “um remédio maravilhoso que por acaso conheceu”, que foi eficaz em “numerosos enfermos, depois de terem experimentado, sem resultado, todos os remédios recomendados”. Ela fala de um “dever sagrado” e de um “voto desejado” como motivação para o seu “fim, essencialmente humanitário” (Vida Moderna, 1907VIDA MODERNA. Vida Moderna, São Paulo. 1907., s.p.).

Eram justamente esses indícios, aos quais o doutor Saul de Avilez se referia, em 1907, na Revista Médica de São Paulo, em um artigo com o marcante título: “O médico na sociedade do futuro”. Nele, criticava os “médicos que fazem espetáculo na imprensa”, o “charlatão” que aclama “com reclames escandalosos, burlescos e imorais” “específicos milagrosos”. A partir dos citados anúncios, pode-se compreender muito bem a crítica à propaganda para “panaceias que curam todas as moléstias, aparelhos maravilhosos, sistemas infalíveis de cura etc.”. Nesse contexto, Saul de Avilez (1907AVILEZ, Saul de. O médico na sociedade do futuro. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.10, p.318-329. 1907., p.320, 322, 328) que, em geral, também se detinha com a neurastenia e doenças nervosas, enumerava, por exemplo, junto às doenças acompanhadas de febre, o “nervosismo”.

De acordo com a experiência dos médicos, a neurastenia era uma doença “benquista”. Em sua obra Esboço de psiquiatria forense, de 1904, o doutor Franco da Rocha, figura central nos primórdios da psiquiatria em São Paulo7 7 Sobre Franco da Rocha, ver Cunha (1986, p.63-68). , “refere que não chegam muito ao psiquiatra, pois são diagnosticados como ‘neurasthenia’ por clínicos: um diagnóstico que, segundo ele, agrada os familiares do doente” (Neves, 2008NEVES, Afonso Carlos. O emergir do corpo neurológico no corpo paulista: neurologia, psiquiatria e psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1930). Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008., p.87). Em 1912, Henrique Roxo escreveu um artigo inteiro sobre “Falsos neurastênicos” na Revista Médica de São Paulo: “O indivíduo tem muitas vezes a aparência do neurastênico, e a família insinua e busca apegar-se a esta hipótese, certamente muito mais favorável. Quantas vezes me tem sido dado constatar a demência precoce onde os parentes buscam patentear a moléstia de Beard!” (Roxo, 1912ROXO, Henrique. Falsos neurasthenicos. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.15, p.386-392. 1912., p.389). O doutor Vergely (1913VERGELY, Augusto. Neurasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.11, p.66-69. 1913., p.67), resumia em seu artigo sobre neurastênicos: Esses “podem ficar tranquilos, pois não são histéricos”. Em 1909, Antônio Austregésilo (p.8) era da opinião que antigamente se constatava de uma forma geral que, “qualquer nervosidade feminina era histérica, no sexo masculino – neurastenia”. Segundo Roxo (1912ROXO, Henrique. Psychasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.17, p.42-48. 1919., p.386), mesmo no caso de médicos não especializados, a neurastenia é uma “diagnose” que “tem de ser contestada”, geralmente trata-se muito mais de uma “psicastenia, esgotamento nervoso originário”. Evidentemente, não era difamatório ser considerado neurastênico, sendo dada preferência a esse diagnóstico em comparação à histeria ou à demência precoce.

No entanto, por que razão essa doença tinha uma reputação relativamente boa e era bem difundida nos discursos médicos e populares, porém não na clínica? Podem-se encontrar alguns indícios para isso nos documentos até agora examinados. Parece que a sintomatologia havia atingido exatamente o espírito da época, isto é, a questão da força e da fraqueza do corpo (ver, com relação aos trabalhadores urbanos, Duarte, 1986DUARTE, Luiz Fernando Dias. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986., p.75), do indivíduo confrontado com um mundo cheio de novas exigências em relação a ele. Quase todos os anúncios giram em torno desses conceitos. Certamente não é uma coincidência que a fonte do fortalecimento se encontre na eletricidade – a representação e a base da atividade econômica e da vida moderna – e que ainda seja combinada com uma imagem corporal amplamente difundida, segundo a qual os nervos eram comparados a cabos elétricos e o “sistema nervo-sexual” com “uma rede de fios elétricos” (A Notícia, 29 ago. 1907A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 29 ago. 1907., p.3; ver também Zorzanelli, 2009ZORZANELLI, Rafaela Teixeira. A fadiga e seus transtornos: condições de possibilidade, ascensão e queda da neurastenia novecentista. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.16, n.3, p.605-620. 2009., p.608; Roelcke, 2001ROELCKE, Volker. Electrified nerves, degenerated bodies: medical discourses on neurasthenia in Germany, circa 1880-1914. In:Gijswijt-Hofstra, Marijke; Porter, Roy (Org.). Cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. New York: Rodopi. p.177-197. 2001.). Por meio dos métodos de cura, os pacientes alcançavam forças “hercúleas”; sendo abastecidos com nova energia elétrica ou “rádio-ativa” para, com isso, poder enfrentar as exigências pouco especificadas da modernidade, a “forte concorrência em todos os ramos de atividade, ... a rapidez das comunicações e da transmissão do pensamento”, mencionadas no artigo do doutor Villas Boas (1909, citado por Neves, 2008NEVES, Afonso Carlos. O emergir do corpo neurológico no corpo paulista: neurologia, psiquiatria e psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1930). Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008., p.321). Na neurastenia, o medo em relação à degeneração, ao contrário do que ocorria com outras doenças psíquicas da época, desempenhava um papel subordinado (ver também Caponi, 2012CAPONI, Sandra. Loucos e degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2012.). A neurastenia era classificada como sendo pouco substancial, mais como uma doença funcional e menos como constitucional. Assim como para os EUA e a Alemanha, pode-se afirmar em relação a São Paulo: “numa época de medicalização, essa ambiguidade fazia claramente parte do apelo popular do colapso nervoso. As pessoas gostavam mais da ideia de uma doença que descrevia os sintomas e angústias que elas sentiam, do que de um conceito claramente definido pelo crescente conjunto de profissionais de saúde mental” (Barke, Fribush, Stearns, 2000, p.566).8 8 No original: “in an age of medicalization, this ambiguity was clearly part of nervous breakdown’s popular appeal. People liked the idea of a disease entity that described symptoms and anxieties they felt, rather than an entity clearly delimited by the burgeoning apparatus of the mental health professionals”.

Como causas da neurastenia se consideravam o ritmo acelerado, assim como a sobrecarga da vida moderna e, finalmente, o surmenage, ou seja, o excesso de trabalho intelectual ou físico. Essas eram características que distinguiam o ser humano moderno. Mesmo que, aqui, possivelmente com frequência estivessem sendo tratadas afecções sérias – pois, infelizmente, os registros dos pacientes não se encontravam disponíveis – identifica-se, assim como na Alemanha, no Peru ou nos EUA, compreensão e uma certa admiração em relação aos neurastênicos (curados): eles eram encarados como um sinal de modernidade e como propriamente modernos (ver Drinot, 2004DRINOT, Paulo. Madness, neurasthenia and “modernity”: medico-legal and popular interpretations of suicide in early twentieth-century Lima. Latin American Research Review, Austin, v.39, n.2, p.89-113. 2004.; Radkau, 1998RADKAU, Joachim. Das Zeitalter der Nervosität: Deutschland zwischen Bismarck und Hitler. München, Wien: Carl Hanser. 1998.). Eram capazes de superar seus “sofrimentos terríveis”, provenientes das compreensíveis condições gerais e, assim, recuperar suas forças “hercúleas”.

O foco se encontrava então no sofrimento subjetivo e individual, por meio do qual o neurastênico era capaz de se diferenciar em relação às doenças epidêmicas ocorrentes, tais como febre amarela, varíola, etc. Estas dominavam o amplamente difundido discurso de medicalização, que declarava, por meio de uma generalização, os “grupos populares” como “massa bestializada” (Mota, 2005MOTA, André. Tropeços da medicina bandeirante: medicina paulista entre 1892-1920. São Paulo: Edusp. 2005., p.32; para uma perspectiva sanitária, ver também Cunha, 1986CUNHA, Maria Clementina Pereira. O espelho do mundo: Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1986., p.21-54). Com isso, conferia-se aos neurastênicos a possibilidade de escapar individualmente da medicalização disciplinante.

Além disso, a doença tinha o caráter de um “conceito geral”9 9 No original: “umbrella term”. (Gijswijt-Hofstra, 2001GIJSWIJT-HOFSTRA, Marijke. Introduction: cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. In: Gijswijt-Hofstra, Marijke; Porter, Roy (Org.). Cultures of neurasthenia: from Beard to the First World War. New York: Rodopi. p.1-30. 2001., p.20), não dispunha de uma “patologia física clara”10 10 No original: “clear physical pathology”. (Schuster, 2006SCHUSTER, David G. Neurasthenic nation: the medicalization of modernity in the United States, 1869-1920. Tese (Doutorado) – University of California, Santa Barbara. 2006., p.3). No Brasil também ocorreram intensos debates em torno da doença, sua localização, seu tratamento etc. (ver, p. ex., Austregésilo, 1919AUSTREGÉSILO, Antônio. Psiconeuroses e sexualidade, v.1: A neurastenia sexual e seu tratamento. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro e Maurillo. 1919.; Duarte, 2010DUARTE, Luiz Fernando Dias. O nervosismo como categoria nosográfica no começo do século XX. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, supl.2, p.313-326. 2010.; Roxo 1912ROXO, Henrique. Falsos neurasthenicos. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.15, p.386-392. 1912., 1919ROXO, Henrique. Psychasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.17, p.42-48. 1919.). Essas incertezas por parte da classe médica ofereciam aos doentes possibilidades individuais de acesso. Os anúncios dirigiam-se diretamente aos doentes em potencial: “Doentes, aqui está a vossa cura” (A Notícia, 18 ago. 1908A NOTÍCIA. A Notícia, São Paulo. 18 ago. 1908., p.2); explicavam de forma pseudocientífica o modo de ação dos tratamentos e suas qualidades – a confiabilidade dos remédios era um tema importante para um amplo público.11 11 Apenas os anúncios nas revistas especializadas pesquisadas, anúncios que frequentemente apresentavam recomendações de dosagem, eram provavelmente dirigidos aos médicos. Parece que os (supostos) doentes em geral se autodiagnosticavam e se tratavam de forma correspondente. Em seguida, alguns pacientes se dirigiam aos médicos com os diagnósticos dos quais suspeitavam: “os parentes buscam patentear a moléstia de Beard” (Roxo, 1912ROXO, Henrique. Falsos neurasthenicos. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.15, p.386-392. 1912., p.389). Saul de Avilez (1907AVILEZ, Saul de. O médico na sociedade do futuro. Revista Médica de São Paulo, São Paulo, v.10, p.318-329. 1907., p.322) criticava esse “individualismo exacerbado” que, entre outros, se manifestava com a consulta a inúmeros médicos diferentes: “O direito que tem o doente de escolher o médico é exercido, nos nossos dias, com singular desenvoltura”. Franco da Rocha (citado por Neves, 2008NEVES, Afonso Carlos. O emergir do corpo neurológico no corpo paulista: neurologia, psiquiatria e psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1930). Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008., p.94) também atestou indignado que “esses indivíduos vagueiam por todos os médicos e mudam sempre de opinião sobre suas próprias moléstias”. Com certeza, essa crítica também pode ser interpretada como uma defesa da supremacia por parte dos médicos, que parecia estar sendo ameaçada (ver Mota, 2005MOTA, André. Tropeços da medicina bandeirante: medicina paulista entre 1892-1920. São Paulo: Edusp. 2005.). Presumivelmente, esse é mais um dos motivos para a atitude de reserva por parte dos médicos em relação ao diagnóstico da doença, num momento em que investiam grande esforço para legitimar seu saber no âmbito de uma disciplina ainda pouco institucionalizada (Muñoz, 2010MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de. Degeneração atípica: uma incursão ao arquivo de Elza. Dissertação (Mestrado) – Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. 2010.).

Pode-se, então, verificar um momento individualizante que também por ser perceptível em especial nas “classes abastadas” (Imprensa Médica, 1905IMPRENSA MÉDICA. Imprensa Médica, São Paulo. 1905., p.173), tornava a neurastenia atraente para o paciente: o momento de força. Um tema que ocupava intensamente os paulistanos em sua busca pelo “sentido de identidade” e pelo seu “destino de cidade” (Sevcenko, 2009SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras. 2009., p.37). Ainda está por ser pesquisado se, assim como na região do Atlântico Norte, a redução da atividade em torno desse tema esteve ligada à psicologização da doença em São Paulo (ver Duarte, 1986DUARTE, Luiz Fernando Dias. Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1986., p.67 e s.).

Henrique Roxo – como vimos, oriundo do Rio de Janeiro – dissertou, em 1916, no primeiro Congresso Médico Paulista: “Poderia parecer que eu buscasse fazer associação de ideias por contraste, escolhendo para tema de uma palestra – a neurastenia – numa cidade, em que há tanta atividade e progresso. Poder-se-ia antolhar extravagante buscar ver aqui neurastênicos, mas é que me não passou desapercebido que não há progresso sem esforço, que não há atividade sem cansaço, que a luta pela vida exaure o indivíduo e que nas grandes cidades sobejam os neurastênicos” (citado por Neves, 2008NEVES, Afonso Carlos. O emergir do corpo neurológico no corpo paulista: neurologia, psiquiatria e psicologia em São Paulo a partir dos periódicos médicos paulistas (1889-1930). Tese (Doutorado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008., p.403).

Nesse caso, São Paulo parece ser o palco ideal para o surgimento de neurastênicos. “A mais moderna e americana das doenças” não combina perfeitamente com a imagem da “Yankee City of Brazil”? Tendo em vista as características dessa época, não se poderia conceber São Paulo como “nação neurastênica” ou como “cidade/estado neurastênico”? Certamente são necessários mais estudos para provar essas teses.12 12 Joachim Radkau (1998, p.185), por exemplo, constatou que, por volta de 1900, na época do Império Alemão, “na questão da modernidade da neurastenia, a Alemanha tornou-se muito americana”. Entretanto, pode-se afirmar que, evidentemente, a doença era muito popular. Na publicidade de jornais e revistas paulistanos, ela era um fenômeno amplamente difundido e bastante comercializável. Ela se refletia especialmente sob forma de “pequena neurastenia” (Vergely, 1913VERGELY, Augusto. Neurasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.11, p.66-69. 1913., p.66), problemas do cotidiano no campo da “nervosidade” e uma “fraqueza geral”. Fraqueza e forças individuais num mundo em transformação eram tematizadas pelos contemporâneos até mesmo no que dizia respeito ao corpo. Com forças “hercúleas” poder-se-ia enfrentar as exigências da vida moderna e construir o futuro da “raça de gigantes”.

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  • VERGELY, Augusto. Neurasthenia. Gazeta Clínica, São Paulo, v.11, p.66-69. 1913.
  • VIDA MODERNA. Vida Moderna, São Paulo. 1907.
  • YANKEE… Yankee city of Brazil. Sao Paulo, so-called for its surprising push and activity. New York Times, New York. s.p. 23 Dec. 1900.
  • ZORZANELLI, Rafaela Teixeira. Neurastenia. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.17, supl.2, p.431-446. 2010.
  • ZORZANELLI, Rafaela Teixeira. A fadiga e seus transtornos: condições de possibilidade, ascensão e queda da neurastenia novecentista. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.16, n.3, p.605-620. 2009.
  • *
    Este trabalho faz parte da pesquisa “Espaços e tempos culturais de uma metrópole atlântica: São Paulo 1867-1930”, desenvolvida na Universidade de Erfurt, Alemanha, com financiamento da Deutsche Forschungsgemeinschaft (Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa).
  • 1
    No original: “São Paulo is called the ‘Yankee City of Brazil.’ It is a surprise to the travelling American to find among the mountains of southern Brazil a town so thriving and so full of local push and activity as to suggest naturally an American character”. Nesta e nas demais citações de textos publicados em outros idiomas, a tradução é livre.
  • 2
    No original: “In São Paulo, the progressive sons of the soil describe themselves – perhaps with more justice than in many other cases – as the ‘Yankees of Brazil’”.
  • 3
    No original: “During this period, and in parallel with Beard’s medical report, social commentators and analysts wrote extensively on the topic of American economic success and the lifestyle of the United States citizens. The leit-motif of these exposés was the stress endured by Americans who were stereotyped as work-addicted and rest-deprived”.
  • 4
    No original: “the most modern and American disease”.
  • 5
    Um grupo de pesquisa, coordenado por Jaime Rodrigues, da Universidade Federal de São Paulo, trata atualmente da reorganização do restante do acervo de prontuários do Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo (1897-1952), recolhido em 2012 ao Arquivo Público do Estado de São Paulo. Na continuação da presente pesquisa o autor pretende levantar e analisar esses dados.
  • 6
    No Rio de Janeiro, nessa época, parece ter sido considerável o número de pacientes neurastênicos atendidos em clínicas particulares. Durante o primeiro Congresso Médico Paulista, em 1916, no qual a doença recebeu atenção especial, o prestigiado especialista carioca Henrique Roxo (1877-1969) mencionou em sua palestra um “avultado número de doentes” (Roxo, 1916, p.42). Também Zorzanelli (2010, p.442) menciona a grande frequência de casos na clínica particular. Os dados sobre atendimentos em clínicas em São Paulo, a ser investigados no desenvolvimento da pesquisa, podem trazer mais clareza à situação na Yankee City, permitindo uma comparação mais embasada.
  • 7
    Sobre Franco da Rocha, ver Cunha (1986, p.63-68).
  • 8
    No original: “in an age of medicalization, this ambiguity was clearly part of nervous breakdown’s popular appeal. People liked the idea of a disease entity that described symptoms and anxieties they felt, rather than an entity clearly delimited by the burgeoning apparatus of the mental health professionals”.
  • 9
    No original: “umbrella term”.
  • 10
    No original: “clear physical pathology”.
  • 11
    Apenas os anúncios nas revistas especializadas pesquisadas, anúncios que frequentemente apresentavam recomendações de dosagem, eram provavelmente dirigidos aos médicos.
  • 12
    Joachim Radkau (1998, p.185), por exemplo, constatou que, por volta de 1900, na época do Império Alemão, “na questão da modernidade da neurastenia, a Alemanha tornou-se muito americana”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2014
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2014

Histórico

  • Recebido
    Dez 2012
  • Aceito
    Jun 2013
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