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Uma história em construção: Manguinhos-Maré no tempo presente

Resumo

As duas primeiras décadas do século XXI foram representativas para a história contemporânea da Fundação Oswaldo Cruz e demonstraram seu protagonismo no cenário nacional da saúde. O artigo apresenta transformações espaciais ocorridas no território ocupado pela instituição a partir de 2000. Relacionam-se as transformações no uso dos territórios com sua política institucional no contexto nacional e são ressaltadas as demandas sociais que impactaram a instituição – transformações urbanas de grande porte e pandemias. O trabalho averigua, sob os pressupostos da história do tempo presente, as mudanças ocorridas no campus Manguinhos-Maré e no discurso de sujeitos institucionais gestores e projetistas. Para isso, conjuga análise dos relatórios institucionais, da base digital cartográfica e de imagens aéreas.

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz; Manguinhos-Maré; Tempo presente; História urbana

Abstract

The two first decades of the twenty-first century were representative of the contemporary history of the Oswaldo Cruz Foundation (Fundação Oswaldo Cruz) and demonstrated its active role in the national health scenario. This article discusses the spatial transformations that took place in the territory occupied by the foundation from the year 2000 onward. The transformations in the use of this territory and it’s institutional policy within the national context are described, along with the social demands that have impacted the institution, namely large-scale urban transformations and pandemics. This research uses the premises of the history of the present to investigate the changes that took place on the Manguinhos-Maré campus and in the discourse of the institutions involved in managing and planning these changes through analysis of institutional reports, digital mapping, and aerial images.

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz; Manguinhos-Maré; Present time; Urban history

Por ocasião das comemorações do primeiro centenário da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi realizada a exposição “100 anos de arquitetura em Manguinhos”, no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Um substancioso material foi reunido para essa exposição, sob a curadoria do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz (DPH/COC), contribuindo para que a presidência da instituição sinalizasse o interesse de aprofundar tal estudo sobre a produção arquitetônica em Manguinhos. Assim, viabilizou-se um levantamento ampliado sobre a evolução urbanística do campus , conduzido pela equipe do DPH/COC entre 1998 e 2003, financiado pelo Programa Especial de Pesquisa (PEP) da COC/Fiocruz. A demanda também se justificava pela necessidade de subsidiar solicitações técnicas do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para atualizar informações sobre o sítio de interesse histórico de tombamento federal. Foram levantados e agrupados documentos, relatos orais, fotografias e mapas que deram origem a uma publicação intitulada Um lugar para a ciência: a formação do Campus de Manguinhos (Oliveira, Costa, Pessoa, 2003).

Aquele estudo utilizou material de arquivo histórico, necessário para o levantamento da história da instituição e da cidade do Rio de Janeiro, como documentos, relatórios institucionais, cartografia, matérias de jornais e fotografias de diferentes procedências, e não apenas de acervos da própria instituição. Muitas informações vieram de arquivos externos à Fiocruz, em especial do Instituto Cultural da Aeronáutica (Incaer), Cedae, Light, Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia do Rio de Janeiro (Crea), Jornal do Commercio , Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Centro de Pesquisa e Documentação Contemporânea da Fundação Getulio Vargas (CPDoc-FGV), Arquivo Nacional, Comlurb, Museu Aeroespacial do Campo dos Afonsos, Biblioteca Noronha Santos (Iphan-RJ), entre outros.

A metodologia adotada utilizou estudos desenvolvidos sobre “sedimentação histórica” e “estratificação histórica” (Oliveira, Costa, Pessoa, 2003, p.17), e consiste na elaboração de mapas representativos de uma determinada área, mostrando, por “estratos” ou “camadas”, como se deram suas transformação e consolidação (“sedimentação”) durante um determinado período histórico. A pesquisa resultou na realização de 11 mapas em que se reconstituiu, por décadas, a situação do terreno de Manguinhos, desde 1900 até os anos 2000.

Quase vinte anos após a publicação dos resultados da primeira pesquisa, a instituição voltou a sinalizar a importância de registrar as mudanças no ordenamento do campus de Manguinhos. A atual pesquisa,1 1 Pesquisa desenvolvida no Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz desde junho de 2021, financiada pelo Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Institucional/Fiocruz. Integram o grupo de trabalho os pesquisadores: Renato da Gama-Rosa Costa, Inês El-Jaick Andrade, Renata Soares C. Santos, Matheus Gonçalves Góes e Eric Gallo. considerando o recorte de tempo estudado, utilizou a metodologia de análise das fontes que tem como base reflexões trazidas pela história do tempo presente. Isso implica a utilização de fontes contemporâneas, produzidas quase simultaneamente ao processo de desenvolvimento da investigação, como, por exemplo, material digital (textos, relatórios e imagens) e entrevistas. Foram utilizados como fontes os relatórios institucionais, os relatórios de atividades anuais e os resultantes de discussão dos congressos internos realizados pela instituição em 2002, 2006, 2012 e 2014.

Manteve-se o uso dos métodos anteriores para a elaboração dos mapas, e foram feitos, então, mais dois: o da década de 2010 e o da década de 2020, apresentados aqui de forma preliminar, reunidos na Imagem 1. Os mapas que constam da publicação de 2003 foram elaborados com o auxílio de um software de desenho vetorial, a partir do Levantamento Aerofotogramétrico Digital do Município do Rio de Janeiro , executado em 1999 pelo Instituto Pereira Passos (Prefeitura..., 1999). Os mapas atuais foram desenvolvidos em programa informático similar, utilizando a mesma técnica, com base no conjunto de mapas de 2003, recuperados nos arquivos da instituição, na cartografia do campus produzida pela Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic) nos últimos anos, além do levantamento aéreo de 2013, realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro (Prefeitura..., 2013) e mosaicos de imagens de satélite disponibilizados pelo Google Earth (Google Earth, 2022).

O uso de mapas como recurso metodológico foi uma escolha que possibilitou vislumbrar o resultado da pesquisa como expressão gráfica e, também, como possibilidade de interpretação da realidade. O método de sedimentar a cartografia em períodos temporais reflete a evolução e a trajetória da instituição como espaço físico, que envolve vivências sociais, construções, desconstruções e transformações no território. A compreensão comum sobre a cartografia, como uma simples representação gráfica do espaço, neutra e imparcial, certamente não traduz seu significado genuíno, que podemos entender como uma representação gráfica de uma narrativa, de uma história, unindo simultaneamente homem, tempo e espaço ( Oliveira, 2020OLIVEIRA, Fabiano Arndt Araújo Pykosz de. Os mapas contam histórias: reflexões, análises e perspectivas da utilização da cartografia histórica no ensino de história. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020. ). Dessa forma, percebe-se que a cartografia é uma interpretação do mundo e, sendo assim, dotada de juízo de valor. Ela é influenciada por todas as questões sociais que envolvem o objeto de estudo e sujeita à seletividade imposta pelo autor nos critérios utilizados para omissão e exposição de informações geográficas relativas ao espaço. Dessa maneira, o mapeamento configura-se como um instrumento visual e parcial que ilustra um determinado território e suas características, em um período específico em sua trajetória histórica ( Harley, 2005HARLEY, John Brian. La nueva natureza de los mapas. Ciudad de México: FCE, 2005. , 2009HARLEY, John Brian. Mapas, saber e poder. Confins, Revista Franco-Brasileira de Geografia, 2009. Disponível em: https://journals.openedition.org/confins/5724?lang=pt Acesso em: 7 out. 2022.
https://journals.openedition.org/confins...
).

A investigação empreendida, tanto para a pesquisa anterior quanto para a atual, não pretendeu desenvolver apenas uma história institucional, embora nossas reflexões certamente contribuam para tal. A análise dos principais acontecimentos ocorridos na instituição e na cidade do Rio de Janeiro, durante o período de estudo adotado, ajudou-nos a interpretar as transformações urbanas e as construções arquitetônicas empreendidas para a Fiocruz em Manguinhos, possibilitando uma leitura sistematizada da trajetória do campus ao longo de 120 anos.

A última década analisada na publicação de 2003 indicava a relação de algumas obras iniciadas e de projetos que estavam em elaboração ou a ser consolidados nos anos seguintes. Muitas delas foram concluídas na década de 1990, chamando a atenção de seus autores: “Sem dúvida, o maior número de realizações em toda a história da instituição” (Oliveira, Costa, Pessoa, 2003, p.193). Numa primeira análise, percebemos que as décadas de 2010 e 2020 seriam ainda mais expressivas em número de realizações. No levantamento das construções foram identificadas cerca de 117 delas, divididas entre instalações de menor porte ou de caráter de apoio técnico ou logístico, como subestações de energia, depósitos, caixas d’água etc. (58), estruturas modulares provisórias do tipo contêiner (19) e edificações de maior porte (40).

Analisaram-se alguns desses projetos e obras, entre os de maior porte, que suscitaram mais envolvimento das unidades da Fiocruz, pelo ponto de vista da inovação e da necessidade de ampliação e investimento em áreas novas e/ou mais consolidadas da instituição (Relatório final..., 2012). Essas representam as maiores alterações na composição do campus Manguinhos na sua atualidade. Até o momento a pesquisa analisou as razões e as negociações para a construção de cada edifício – a necessidade, as controvérsias e o contexto em que foram propostos, bem como o desenvolvimento dos projetos arquitetônicos, as equipes envolvidas e a implantação no campus ou nos campi . Entre essas construções estão a sede da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (2004); o Pavilhão Joaquim Alberto Cardoso de Melo (2005); o Pavilhão Hélio e Peggy Pereira (2001-2008); o Centro Henrique Penna (2006); o Novo Almoxarifado Central e Prédio Administrativo de Bio-Manguinhos, denominado Centro Administrativo Vinícius Fonseca (2013-2016); o Centro de Documentação em História da Saúde, sede da Casa de Oswaldo Cruz (2018); o Complexo Hospitalar Covid-19 (2020); o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (em construção); e as instalações do campus Maré (em construção).2 2 Para as construções, estão sendo produzidos verbetes, reunindo as informações coletadas pela pesquisa.

Figura 1
: Mapa do campus (2000-2020), mostrando as novas construções erguidas no campus Manguinhos-Maré nas duas últimas décadas, com identificação dos destacados pela pesquisa (elabora por DPH/Fiocruz e adaptada pelos autores)

Tais projetos envolveram ao menos três equipes de projetistas, entre arquitetos e engenheiros: os ligados à antiga Dirac, atual Cogic;3 3 A antiga Dirac Cogic, a partir do decreto n.8.932, de 14 de dezembro de 2016. “Na aprovação do Estatuto e o Quadro Demonstrativo de Cargos em Comissão e das Funções de Confiança da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ocorreram mudanças de nomenclaturas de unidades que abrangeu a Dirac e outras diretorias”. Ver: https://www.cogic.fiocruz.br/pagina-exemplo/historico/ . os pertencentes a Bio-Manguinhos e os da Casa de Oswaldo Cruz. A separação de projetos por essas equipes, aparentemente de forma independente, pode trazer consequências para a forma de ocupação da área de Manguinhos. Nos mapas é possível reparar como os terrenos próximos à orla dos rios e localizados nas extremidades do campus , e fora da área de proteção delimitada pelo Iphan em 1989, apresentam, nas últimas décadas, um adensamento sem planejamento, enquanto o polígono de proteção manteve, de certa forma, sua ocupação preservada.

De forma geral, a implantação dessas novas construções chama atenção para uma tendência verificada nos anos 2000 em Manguinhos. Com o aumento das atividades da instituição, identifica-se a localização periférica das grandes edificações ao longo do canal Faria-Timbó e do rio Jacaré, próximos às saídas da rua Leopoldo Bulhões, e a de cargas, localizada na avenida Brasil, ou mesmo na área de expansão do campus , batizado campus Maré, para se evitar a ocupação das áreas centrais e vizinhas aos núcleos históricos.

Identifica-se, também, o grande número de estruturas do tipo contêiner, indicando uma tendência institucional de atender a demandas emergenciais das unidades, instalando equipes e serviços em espaços de rápida execução e supostamente provisórios, mas que se revelam de longa permanência no campus . Nessa lógica de implantação de caráter emergencial, foi construído um hospital para o atendimento das vítimas da covid-19, um dos grandes investimentos da instituição nestes últimos dois anos. Embora reconheçamos a importância do estudo desse hospital, ele não será objeto de análise deste artigo. No momento, cabe indicar nossa preocupação na sua continuidade, pois sabemos que sua estrutura não permite uma vida longa. A questão que se coloca é sobre sua permanência no campus , ao mesmo tempo que se aponta para uma lenta desativação do antigo hospital Evandro Chagas,4 4 Sobre a história do hospital, ver Benchimol (1990) ; Martire (2018) ; Santos (2019) ; Benchimol e Santos (2019) . de 1918, que passa por transformações de uso no momento da realização deste artigo (Costa, Santos, Martire, 2022).

Figura 2
: Foto aérea do Centro Hospitalar Covid-19. Ao fundo, o edifício-sede da Fundação Oswaldo Cruz, o Pavilhão Mourisco Mourisco (acervo da Asmontec)

Do levantamento de construções mencionado, selecionamos dois casos emblemáticos para analisar e refletir sobre o momento atual da instituição. São eles o projeto do Centro de Biotecnologia ou Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) e as construções que compõem o novo campus Maré. Vamos percorrer ambas as construções como exemplos de uma “história inacabada”, conceito caro nos debates do tempo presente que, em linhas gerais, nos coloca diante das limitações de análise histórica de um tempo que ainda não se “encerrou” ou mantém um afastamento temporal significativo para resultar consensos historiográficos. Isso porque a interpretação dos fatos, dos discursos, dos atores envolvidos, das negociações é ainda mais complexa quando estão ainda em construção. O primeiro, o CDTS, é representativo do investimento que a Fiocruz vem fazendo em biotecnologia, nesse caso, desde a década de 1990 e, de forma mais contundente, desde meados dos anos 2000. Tal projeto atravessa quase quatro décadas de atuação da instituição em inovação científica e ainda permanece sem conclusão. As novas instalações do campus Maré, por sua vez, tiveram início mais recente. O Biobanco Covid-19 (BC19-Fiocruz); o Centro de Recursos Biológicos; e o Centro de Pesquisa, Inovação e Vigilância em covid-19 e Emergências Sanitárias foram estimulados pelos desafios que a pandemia impôs e pretendem ser um apoio a pesquisas sobre novas pandemias no futuro.

Manguinhos no tempo presente

Os estudos do tempo presente retornam à inquietação historiográfica na segunda metade do século XX com uma crescente validação do campo e dos métodos capazes de proporcionar sua reflexão e escrita. A validação desses estudos ocorreu em vários países europeus, com ênfase inicialmente na França, e foi um processo acentuado por resistências internas, uma vez que a história recente era interpretada como um objeto problemático no campo da história (Delgado, Ferreira, 2013; Dosse, 2009DOSSE, François. L’Histoire à l’épreuve de la guerre des mémoires. Tempo e Argumento, v.1, n.1, p.5-16, 2009. ; Ferreira, 2018FERREIRA, Marieta M. Notas iniciais sobre a história do tempo presente e a historiografia no Brasil. Revista Tempo e Argumento , v.10, n.23, p.80-108, 2018. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180310232018080. Acesso em: 27 set. 2022.
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, 2000FERREIRA, Marieta M. História do Tempo Presente: desafios. Cultura Vozes , v.94, n.3, p.111-124, 2000. ; Hobsbawm, 1993HOBSBAWM, Eric J. Un historien et son temps présent. In: Institut d’Histoire du Temps Présent. Ecrire l’histoire du temps présent. Paris: CNRS Editions, 1993. , 2004HOBSBAWM, Eric J. O presente como história. In: Hobsbawm, Eric J. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p.243-255. ; Kaelble, 1993KAELBLE, Hartmut. La Zeitgeschichte, l’histoire allemande et l’histoire internationale du temps présent. In: Institut d’Histoire du Temps Présent. Ecrire l’histoire du temps présent. Paris, CNRS Editions, 1993. ; Lohn, Campos, ago. 2017; Arend, Macedo, 2009).

Ferreira (2000FERREIRA, Marieta M. História do Tempo Presente: desafios. Cultura Vozes , v.94, n.3, p.111-124, 2000. , p.111) afirma que a história dos fatos recentes nem sempre foi vista dessa maneira. Ao contrário, recorda que, na Antiguidade clássica, era um ponto central aos olhos dos historiadores, uma vez que “a história era um repositório de exemplos que deveriam ser preservados, e o trabalho do historiador era expor os fatos recentes atestados por testemunhos diretos” (p.11). Os testemunhos diretos eram fontes valiosas, verdadeiros privilégios para as pesquisas históricas, o que perdeu relevância após a institucionalização da história como disciplina, no século XIX, que legitimou o afastamento temporal e as análises de fontes escritas como condição para uma interpretação histórica, consolidando o triunfo de uma concepção de história “científica”. Essa concepção traria outra relação do historiador com o documento como fonte de estudo, que passaria necessariamente pelo distanciamento no tempo e pela opção histórica de arquivo ou catalogação de uma fonte. Os estudos do tempo presente, por outro lado, acrescentariam outra dimensão à noção de documento, que passaria a incluir novas possibilidades para interpretação histórica: relatos orais, a interação com as mídias sociais, o trabalho de campo, o envolvimento e as experiências pessoais dos pesquisadores.

Expressões como histoire du temps présent, contemporany history, Zeitgeschichte passaram a integrar o vocabulário dos historiadores após a Segunda Guerra Mundial ( Kaelble, 1993KAELBLE, Hartmut. La Zeitgeschichte, l’histoire allemande et l’histoire internationale du temps présent. In: Institut d’Histoire du Temps Présent. Ecrire l’histoire du temps présent. Paris, CNRS Editions, 1993. ), e o interesse foi crescente desde então. No entanto, ainda não há consenso entre historiadores sobre a expressão “tempo presente”. De qualquer forma, os últimos anos consolidaram estudos que ampliaram e legitimaram trabalhos no campo, diante de resistências à sua incorporação como objeto. Estudos que não ignoram as dificuldades, mas evidenciam possibilidades de escrita do presente no campo da história (principais referências usadas no artigo).

Este trabalho segue o legado de tais estudos e busca contribuir para a escrita da história contemporânea da Fiocruz com os olhos atentos ao momento presente, aos anos recentes vividos à luz dos acontecimentos nos quais a instituição, e nós mesmos, pesquisadores, estamos inseridos. Aqui, cientes de que nenhum historiador jamais escapa às indagações de seu tempo ( Rousso, 2006ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: Ferreira, Marieta de Moraes; Amado, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p.93-101. ), e, seguindo posicionamento de Lohn e Campos (ago. 2017), nos debruçaremos sobre algumas possibilidades abertas pela história do tempo presente tanto como reflexão conceitual quanto como atitude metodológica.

Para Ferreira (2018)FERREIRA, Marieta M. Notas iniciais sobre a história do tempo presente e a historiografia no Brasil. Revista Tempo e Argumento , v.10, n.23, p.80-108, 2018. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180310232018080. Acesso em: 27 set. 2022.
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, há uma orientação que deve prevalecer na definição de tempo presente: a presença de indivíduos protagonistas ou testemunhas do passado. São esses indivíduos responsáveis por oferecer seus relatos e narrativas como fontes históricas, sendo essas fontes valiosíssimas para a análise do historiador. Concepção que se alinha perfeitamente àquelas colocadas por Ricoeur (2007)RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. quando destaca que a história do tempo presente é “aquela onde esbarram uma na outra a palavra dos testemunhos ainda viva e a escrita em que já se recolhem os rastros documentários dos acontecimentos considerados” (p.456). É nessa trilha, a partir da valorização do relato oral, que optamos por analisar as narrativas de indivíduos que tiveram importante atuação nas novas construções no campus de Manguinhos nestas últimas duas décadas da instituição. E fazemos esse esforço de escrita da história encarando umas das maiores dificuldades da narrativa sobre o passado no tempo presente: as diferentes percepções que se cruzam nos mesmos objetos estudados e o envolvimento do próprio pesquisador.

O Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde

Ao longo de sua vida institucional, a Fundação Oswaldo Cruz enfrentou uma série de desafios em relação à saúde pública brasileira. E, desde a década de 1990, vem investindo em estratégias de inovação na área de biotecnologia. Desde 2005, mais especificamente, vem erguendo o CDTS. O surgimento da pandemia de covid-19 acelerou algumas estratégias, como o investimento na fabricação de vacinas e a construção de um novo complexo hospitalar para receber vítimas da doença. A estruturação do Biobanco, do Centro de Recursos Biológicos (CRB) e do Centro de Pesquisa, Inovação e Vigilância em Covid-19 e Emergências Sanitárias também fez parte do esforço institucional de enfrentamento dessa pandemia e outras que possam vir, marcando a década de 2010-2020 como uma das mais importantes da vida da instituição.

O CDTS é uma das edificações apontadas na publicação de 2003 como iniciadas entre finais dos anos 1980 e os primeiros anos de 1990. Ele foi primeiramente pensado durante a gestão de Sérgio Arouca (1985-1989) na presidência da Fiocruz, como Centro de Biotecnologia. Entretanto, segundo Morel (27 mar. 2019), este não obteve os recursos necessários na época pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello, e teve que esperar 15 anos para que se retomasse seu projeto e que fosse aprovada sua construção durante o quarto Congresso Interno da instituição, realizado em novembro de 2002.5 5 O projeto inicial foi desenvolvido pelo escritório contratado a partir de uma licitação pública pela Fiocruz, Projeto Arquitetos Associados Ltda (Paal), entre 2004 e 2005.

Para conhecimento histórico dessa construção no campus foram analisados os registros institucionais da Fiocruz, como os relatórios dos congressos internos, mas também foi necessário encarar um dos desafios de escrever sobre o “nosso próprio tempo”, utilizando experiências com ida a campo e o recurso dos relatos orais. Foram percorridos os 15 mil metros quadrados de construção pelo grupo de trabalho em visita ao espaço, ainda em obra, e com isso foi inevitável um entrelaçamento à nossa narrativa da experiência de percorrer os cinco pavimentos do prédio enquanto foram ouvidos profissionais envolvidos com o projeto. Entre essa escuta e a observação dos relatos foi possível entender as principais questões que balizaram o projeto do CDTS ao longo de sua construção, e foi possível montar um quebra-cabeça dessa história, tanto no momento da visitação quanto em entrevista realizada no DPH.

Com relação à peculiaridade dos relatos, Rousso (2006)ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: Ferreira, Marieta de Moraes; Amado, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p.93-101. chama atenção para o fato de serem fontes de informação sobre a vivência de um indivíduo uma fonte inacessível por arquivos devido a sua própria contemporaneidade. E que, apesar de sua riqueza documental, “essa ‘fonte’ não é nem mais nem menos importante para os historiadores que lidam com a história da recordação de um acontecimento do que é para aqueles que lidam com o próprio acontecimento” (p.98).

Dessa maneira, a interpretação do projeto do CDTS como acontecimento histórico por meio dessas fontes dialoga com a concepção de relevo para Ricoeur (1997RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa . Campinas: Papirus, 1997. , p.243) sobre um acontecimento histórico, sobre o qual enfatizava que “não é somente o que acontece, mas o que pode ser narrado ou o que já foi narrado nas crônicas ou lendas”. Narrativa essa que ocorre indiscutivelmente no presente, como defendido pelo historiador Marc Bloch (2001)BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. ao ressaltar que a história não é o estudo do passado, mas uma forma de conhecimento do passado, e que esse saber é modificado e transformado a partir das inquietações do presente no momento em que são produzidos os conhecimentos. Discussão ampliada posteriormente por Le Goff (1990LE GOFF, Jacques. História e memória . Campinas: Editora da Unicamp, 1990. , p.51), outro historiador francês ligado à Escola dos Annales ,6 6 Sobre o movimento dos Annales, ver Burke (1997) . ao chamar atenção para o fato de que “toda história é bem contemporânea na medida em que o passado é apreendido no presente e responde, portanto, aos seus interesses, o que não é só inevitável, como legítimo”.

Sobre as primeiras inquietações do projeto do CDTS, Carlos Morel, pesquisador da Fiocruz e coordenador do CDTS, destaca que a Fiocruz sentia a necessidade de atualizar o seu parque tecnológico, considerado atrasado em desenvolvimento tecnológico e inovação, investindo na produção de vacinas, fármacos, biofármacos e kits de diagnósticos (Morel, 27 mar. 2019; Costa, 2019COSTA, Rodrigo das Neves. Debaixo do mesmo teto. Prática projetual em edifícios de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019. ). Esse interesse por um centro de biotecnologia estava profundamente alinhado ao acompanhamento e vínculo, por parte de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, a estudos que despertavam interesse mundial em biologia molecular (Galler, 2005). Sua realização buscava articular as áreas de pesquisa básica e produção, tradicionais na instituição, ao desenvolvimento tecnológico e à pesquisa aplicada, associando investimentos público e privado: “A criação do Centro representou uma inovação para a Fiocruz, tanto com relação à atividade, pois se trata de um nicho particular de pesquisa, quanto no que diz respeito à forma de organização” ( Costa, 2019COSTA, Rodrigo das Neves. Debaixo do mesmo teto. Prática projetual em edifícios de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019. , p.105).

Com os argumentos de se conquistar a soberania nacional na área de desenvolvimento tecnológico e assegurar investimentos no combate a doenças negligenciadas, tal projeto exigiu um grande investimento da instituição, que precisava criar instalações de raiz e não adaptar nenhuma construção existente. Sua construção precisou acompanhar a evolução do projeto (que receberia cinco versões) e enfrentou vários percalços, não estando em pleno funcionamento até hoje e, de acordo com Rodrigo Costa (2019COSTA, Rodrigo das Neves. Debaixo do mesmo teto. Prática projetual em edifícios de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019. , p.103, 2022), “sua construção ainda não está concluída e seu desenho está em revisão”.

Após a aprovação final para o início da obra pelo Tribunal de Contas da União, em julho de 2008, sua supervisão foi demandada à então Diretoria de Administração do Campus (Dirac), que sentiu necessidade de revisar todo o projeto, considerado defasado tecnologicamente em apenas poucos anos, entre a entrega e a liberação pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Essa revisão significou o cancelamento da obra a partir de março de 2012, até que fossem atendidas as adequações às modificações que se faziam necessárias e que fossem resolvidas todas as pendengas administrativas e de contrato. A retomada das obras só se daria em maio do ano seguinte, sendo repassada sua responsabilidade à Bio-Manguinhos, que fez nova revisão no projeto, refletindo novo atraso nas obras. Isso fez com que a incumbência sobre sua continuidade retornasse à Dirac. E, por decisão de um novo congresso interno, realizado em novembro de 2015, o projeto passou definitivamente para a responsabilidade da Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional da Fiocruz ( Costa, 2019COSTA, Rodrigo das Neves. Debaixo do mesmo teto. Prática projetual em edifícios de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019. ; Fiocruz, 31 mar. 2016). Nesse congresso interno ficou atribuído ao CDTS a competência de realizar atividades de referência em ciência translacional para o desenvolvimento de produtos e processos para a saúde. Em dezembro de 2018, a obra foi retomada. Uma nova versão do projeto está em elaboração desde 2019, e a construção está até hoje para ser concluída.

O projeto se compõe de três edifícios: a construção principal, de cerca de 15 mil metros quadrados e cinco pavimentos; o espaço da Experimentação Animal, de três pavimentos distribuídos em 4 mil metros quadrados; e a Casa de Utilidades, com um pavimento e de mil metros quadrados, perfazendo o total de 20 mil metros quadrados. Para a sua implantação, foi escolhido um pedaço de colina situado próximo à confluência do rio Faria-Timbó com o rio Jacaré. A fachada principal foi voltada para o edifício-sede da Fiocruz, o Castelo Mourisco, buscando valorizar essa vista, conforme descrito por Rodrigo Costa (2022)COSTA, Rodrigo das Neves. [Depoimento]. Entrevistadores: Renato da Gama-Rosa Costa, Inês El-Jaick Andrade, Renata Soares C. Santos, Matheus Góes, Éric Gallo, Rio de Janeiro: Departamento de Patrimônio Histórico/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. 1h31min. 2022. em sua entrevista à equipe e confirmado na visita realizada às obras no mesmo ano. No edifício principal ficam localizados os laboratórios, os ambientes administrativos e de apoio. A Casa de Utilidades é o local que abriga boa parte do maquinário central necessário ao funcionamento dos outros dois edifícios. A edificação principal é a maior do conjunto em altura, comprimento e volume. Nesse prédio está concentrado o maior número de atividades – que funciona como organizador para os outros dois prédios periféricos e possui 75% da área total construída. Nessa edificação principal foram projetadas aberturas mais generosas com amplos vidros nas fachadas, enquanto a Experimentação Animal e a Casa de Utilidades são mais fechadas, com fachadas contendo aberturas menores, principalmente ao sul, onde se localiza a favela de Manguinhos ( Costa, 2019COSTA, Rodrigo das Neves. Debaixo do mesmo teto. Prática projetual em edifícios de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019. ). O mesmo ocorre em relação à cobertura, onde se destaca o elemento curvo da edificação principal.

Figura 3
: Desenho da fachada principal do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (acervo da Paal Arquitetura)

Campus Maré

A discussão sobre o campus Maré nos coloca diante de um dos maiores impasses na escrita do tempo presente: escrever sobre algo concomitante ao seu projeto de elaboração. Para isso, torna-se necessário reforçar a ideia de que a história do tempo presente é por natureza uma história inacabada, “uma história em constante movimento, refletindo as comoções que se desenrolam diante de nós e sendo, portanto, objeto de uma renovação sem fim” ( Bédarida, 2006BÉDARIDA, François. Tempo presente e presença da história. In: Ferreira, Marieta de M.; Amado, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p.219-229. , p.229). Hobsbawm (2004HOBSBAWM, Eric J. O presente como história. In: Hobsbawm, Eric J. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p.243-255. p.11-26) argumenta que, a despeito de todos os problemas estruturais na história do tempo presente, é necessário fazê-la. Afirma que não há escolha e ainda ressalta a necessidade de realizar as pesquisas com iguais cuidados e critérios dedicados aos outros tempos, ainda que seja para salvar do esquecimento, e talvez da destruição, as fontes que serão indispensáveis aos historiadores do terceiro milênio. Com isso, convencido da importância de apresentar, do ponto de vista histórico, uma importante construção da Fiocruz, o artigo coloca em evidência o campus Maré.

O campus Maré da Fiocruz, anteriormente conhecido como “Expansão” do campus Manguinhos, foi doado à Instituição pela União, para instalação de unidades técnicas e administrativas da Fiocruz, em 23 de setembro de 2021 (Brasil, 23 set. 2021), recuperando, em certa medida, a unidade do terreno do antigo Instituto Soroterápico Federal,7 7 Sobre a delimitação territorial da Fiocruz, ao longo de sua história, ver Oliveira, Costa, Pessoa (2003); Benchimol (1990) . antes da abertura da avenida Brasil. É constituído por terreno acrescido de marinha com 58.205,50m2, situado na avenida Brasil, n.4.036, opostamente ao Campus Manguinhos.

Como se vê nas últimas páginas da referida publicação de 2003, havia a intenção de se construir um novo conjunto de edifícios, na época identificado como Complexo Niemeyer (Oliveira, Costa, Pessoa, 2003, p.200-203). O projeto, de autoria de Oscar Niemeyer, previa a construção de cinco novos pavilhões no terreno da antiga Delegacia de Saúde (hoje campus Maré) e, também, na área do antigo campo de futebol, hoje ocupado pelo Complexo Hospitalar Covid-19, no campus Manguinhos: o Museu da Microscopia, o Pavilhão de Exposições, um centro de convenções, um pavilhão de serviços e o Observatório da Vida. Tal conjunto, entretanto, não foi levado adiante, devido, possivelmente, a escolhas institucionais que resultaram na construção de vários outros edifícios nas últimas duas décadas. Por sua vez, a integração das duas áreas da Fiocruz em Manguinhos, separadas pela avenida Brasil, que previa a ligação por meio de uma passarela, ainda é entendida como necessária pela instituição. Seu projeto está em estudo para ser retomado sob a denominação de Passarela da Ciência.

O campus Maré é composto pelo edifício-sede (antigo prédio da 15ª Delegacia Federal de Saúde), uma área recreativa/esportiva, o prédio da Fiotec e um conjunto de instalações originadas durante a pandemia de covid-19, que são: o Biobanco Covid-19 (BC19-Fiocruz), inaugurado em dezembro de 2021 (Fiocruz inaugura..., 13 dez. 2021), o Centro de Recursos Biológicos e o Centro de Pesquisa, Inovação e Vigilância em Covid-19 e Emergências Sanitárias, ainda em fase de finalização no momento de escrita deste texto, além de áreas com potencial arqueológico.

O Biobanco é “uma infraestrutura adequada para o armazenamento seguro, confiável, ético, legal e rastreável de amostras humanas e não humanas (vírus) relacionadas à covid-19 e ao coronavírus SARS-Cov-2 e suas variantes de interesse para pesquisas, desenvolvimentos tecnológicos e inovação” (Do CRB-Saúde..., s.d.). Segundo a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima,8 8 A cientista e pesquisadora Nísia da Trindade Lima é atual ministra da Saúde, nomeada pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, empossada ao cargo em 2 de janeiro de 2023. Na época referida, era presidente da Fundação Oswaldo Cruz (2017-2022). a construção do Biobanco está coerente com a missão institucional, “de contribuir para a superação da crise causada pela pandemia de covid-19, uma construção que muito contribuirá para o nosso Sistema Único de Saúde [SUS]” (Fiocruz inaugura..., 13 dez. 2021).

O BC19-Fiocruz, com 1.100m2, foi construído com financiamento do Ministério da Saúde no âmbito da criação de centros que possibilitam a concepção e condução de pesquisas e ensaios clínicos relacionados à covid-19, independentemente da localização geográfica dos espécimes biológicos coletados. De acordo com a instituição, o acervo do Biobanco se constitui de amostras biológicas humanas, e “será capaz de armazenar aproximadamente 1,5 milhão de amostras em condições adequadas ... incluindo um sistema automatizado de monitoramento da guarda de seus acervos” (Do CRB-Saúde..., s.d.).

Por sua vez, o Centro de Recursos Biológicos (CRB) preserva uma coleção de vírus, constituída de “organismos cultiváveis, partes replicáveis desses, bem como bancos de dados contendo informações moleculares, fisiológicas e estruturais associadas a estes acervos” (Do CRB-Saúde..., s.d.). Ambos constituem uma plataforma aberta a instituições de ciência e tecnologia, estimulando ações de colaboração em níveis nacional e internacional.

Segundo relato institucional, a Fiocruz vem investindo, desde 2005 na estruturação de um Centro de Recursos Biológicos em Saúde, como forma de compor uma coleção de culturas constituída por micro-organismos patogênicos, cuja origem estaria relacionada principalmente a doenças tropicais ou com potencial biotecnológico na área da saúde. A matéria não menciona, mas certamente tal investimento vem sendo feito desde a construção do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, e a pergunta se coloca: como a instituição articulará as duas propostas, o estabelecimento do CDTS e as instalações que compõem o novo campus Maré? Segundo a mesma reportagem, a CRB-Saúde se propõe a contribuir e apoiar a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e inovação, oferecendo produtos e serviços certificados à comunidade científica e ao Sistema Único de Saúde; prestar serviços e fornecer produtos de alta qualidade para o desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e medicamentos de acordo com os requisitos legais e internacionais de biossegurança, bioproteção e qualidade; fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), visando à redução da dependência internacional do Brasil na área da inovação em saúde (Do CRB-Saúde..., s.d.).

A construção do Centro de Pesquisa, Inovação e Vigilância em Covid-19 e Emergências Sanitárias foi iniciada em outubro de 2021, ainda durante a vigência dos planos de convivência com a doença, que obrigou a processos de distanciamento social e trabalho remoto. A intenção é que o novo centro de pesquisa atue no enfrentamento de futuras emergências sanitárias, articulando o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a covid-19, “incluindo o comportamento do vírus e resposta a profilaxias e imunizantes, mas também para suportar uma estrutura prospectiva em outras emergências sanitárias” (Fiocruz inicia..., 25 out. 2021). Com prazo estimado de execução de 12 meses, sob o encargo da equipe de arquitetos e engenheiros da Cogic, a construção vem causando alterações na dinâmica urbana e social na área então conhecida como “expansão do campus Manguinhos” e seu entorno, constituído por habitações multi e unifamiliares que compõem parte do bairro Maré.

Esses incômodos, tais como poluição sonora e do ar, deslocamentos nas ruas vizinhas em função das obras, entre outros, são percebidos no dia a dia da instituição, mas não são facilmente mapeados. Uma das formas de observar essa questão são os relatos produzidos nas mídias sociais e aplicativos de mensagens, que nos fornecem elementos e pistas, mas não são suficientes para uma afirmação mais conclusiva. Essa aparente vulnerabilidade de construção de conhecimento sobre um determinado tempo, o presente, não desqualifica uma análise ou interpretação contemporânea, apenas reforça o que Paul Ricoeur (1997)RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa . Campinas: Papirus, 1997. ressalta em suas contribuições teóricas sobre os acontecimentos de nosso próprio tempo, compreendendo-os como parte de um processo aberto e indeterminado. De acordo com suas palavras, “é preciso lutar contra a tendência a se considerar o passado do ponto de vista do acabado, do imutável, do irretocável” (p.372).

O complexo científico-tecnológico se constitui de edificações que somam 13 mil metros quadrados e área urbanizada de mais 12 mil metros quadrados. A intenção é reunir pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento em 15 laboratórios, cujo uso será otimizado, seguindo uma orientação institucional preconizada no sétimo Congresso Interno da Fiocruz, que permite compartilhar “o uso de laboratórios, equipamentos, plataformas, recursos humanos, protocolos de pesquisa e capital intelectual” (Fiocruz inicia..., 25 out. 2021), a exemplo do que está sendo preparado nas instalações do novo CDTS.

Os laboratórios de pesquisa e, também, de experimentação animal (roedores de pequeno porte) apresentarão níveis de biossegurança 2 (NB2) e 3 (NB3). O prédio principal, localizado bem atrás do antigo edifício da Delegacia de Saúde do então Ministério da Saúde, construído nos anos 1970, e no limite do terreno com o muro que separa o campus do bairro Maré, terá três andares, sendo um exclusivamente técnico, viabilizando manutenções com menos interferências nos ambientes de pesquisa, esquema que vem sendo adotado no prédio do CDTS. Segundo reportagem, o novo centro permitirá que a Fiocruz siga “fortalecida e ainda mais aparelhada para atendimento e desenvolvimento de pesquisas, ... ao intensificar ações de desenvolvimento científico e tecnológico, que poderão converter em produtos e conhecimento em benefício ao SUS e à população brasileira” (Fiocruz inicia..., 25 out. 2021).

Na estruturação do novo campus Maré, a ideia é deslocar as funções do Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) para o outro lado da avenida Brasil, propondo a demolição de suas instalações, juntamente com outros serviços do campus Manguinhos, como as antigas instalações do Politécnico e o Pavilhão Osório de Almeida, todas desenvolvidas na estrutura modular pensada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, e de grande expressão no campus . Tal movimento indica, de fato, que a movimentação das áreas (e seus espaços) é uma dinâmica constante e requer acompanhamento diário, e de conclusão indeterminada, o que torna a história do tempo presente tão fascinante.

Figura 4
: Foto aérea do campus Maré na sua fase de conclusão (acervo da Presidência da Fiocruz)

Considerações finais

Decorridos vinte anos após a publicação do livro Um lugar para a ciência: a formação do campus de Manguinhos (Oliveira, Costa, Pessoa, 2003), a retomada do tema nos suscitou não apenas uma atualização do que já foi pesquisado e publicado, mas, igualmente, uma análise do que foi produzido, dos desafios encontrados e dos resultados alcançados. Este artigo procurou trazer em primeira mão os resultados da continuação dessa pesquisa, sistematizando mapas e informações desenvolvidos até então, esperando a publicação mais completa em livro, a exemplo do que foi feito em 2003.

A análise das últimas duas décadas da história da Fundação Oswaldo Cruz no que diz respeito às escolhas das construções realizadas no campus Manguinhos-Maré nos apresenta conhecimentos sobre a política institucional, mas também nos coloca diante de uma série de desafios para a sua escrita, uma vez que somos sujeitos e atores do tempo em que vivemos. Como contemporâneos, nos encontramos diante de um desafio colocado por Agamben (2009AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. , p.65), quando chama a atenção para o fato de que ser contemporâneo significa “ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós”. Segundo o que entendemos de Agamben, essa luz significa revelar conhecimentos sobre uma determinada realidade que na contemporaneidade parece nos escapar a todo momento, dificultando, inclusive, a escolha de uma delimitação temporal.

Além dessa dificuldade, de estabelecer os marcos temporais para tratar do presente, as reflexões oriundas da pesquisa e apresentadas neste artigo trouxeram desafios também para a história. Ao analisar as construções no campus , estivemos alinhados às principais discussões de um campo historiográfico, o tempo presente, que nos proporcionou sua compreensão a partir da análise de um conjunto de acontecimentos simultâneos ao desenvolvimento da pesquisa.

A história recente da Fiocruz aqui contada, com ênfase nos dois objetos analisados neste estudo, está ainda em construção. O Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, como vimos, planejado no final dos anos 1980, e em construção desde os anos 2000, envolveu uma série de negociações e mudanças de projeto e na sua gestão. Sua conclusão é esperada para um tempo próximo, no mesmo sentido em que se aguarda a entrega do conjunto de edificações prevista para o campus Maré. Nesse caso, um empreendimento mais recente, que envolveu o posicionamento da instituição diante da pandemia de covid-19, e das dificuldades de se construir em sua área original, tão adensada nos últimos anos e protegida por questões ambientais e patrimoniais, bem como em sua área de expansão, que está trazendo uma nova dinâmica para a comunidade local.

Nesse sentido, falar do tempo presente nos traz muito mais desafios sem respostas imediatas do que supostamente aqueles que teríamos ao fazer uma análise de um tempo histórico “distante”, visto que, concomitantes à escrita e à publicação deste artigo, muitos dos acontecimentos e fatos aqui analisados ainda não tiveram sua conclusão. Diante de tantas possibilidades e “incertezas” ressaltadas em nossa análise, concluímos que estamos inseridos em um processo dialético que envolve a observação dos fatos e a possibilidade de construí-los na leitura do tempo presente.

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NOTAS

  • 1
    Pesquisa desenvolvida no Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz desde junho de 2021, financiada pelo Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Institucional/Fiocruz. Integram o grupo de trabalho os pesquisadores: Renato da Gama-Rosa Costa, Inês El-Jaick Andrade, Renata Soares C. Santos, Matheus Gonçalves Góes e Eric Gallo.
  • 2
    Para as construções, estão sendo produzidos verbetes, reunindo as informações coletadas pela pesquisa.
  • 3
    A antiga Dirac Cogic, a partir do decreto n.8.932, de 14 de dezembro de 2016. “Na aprovação do Estatuto e o Quadro Demonstrativo de Cargos em Comissão e das Funções de Confiança da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ocorreram mudanças de nomenclaturas de unidades que abrangeu a Dirac e outras diretorias”. Ver: https://www.cogic.fiocruz.br/pagina-exemplo/historico/ .
  • 4
    Sobre a história do hospital, ver Benchimol (1990)BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz. 1990. ; Martire (2018)MARTIRE, Giovanna Ermida. Hospital Evandro Chagas: uma análise das transformações no edifício e diretrizes para o uso e ocupação. Dissertação (Mestrado em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Rio de Janeiro, 2018. ; Santos (2019)SANTOS, Renata Soares C. O Instituto Oswaldo Cruz e seus hospitais: médicos, pacientes e suas mazelas rurais e urbanas (1909-1930). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro, 2019. ; Benchimol e Santos (2019)BENCHIMOL, Jaime L.; SANTOS, Renata S.C. Hospitais, higiene e microbiologia no Rio de Janeiro: uma incursão histórica sob a ótica de Oswaldo Cruz. In: Amora, Ana M.G.A.; Costa, Renato Gama-Rosa. A modernidade na arquitetura hospitalar: contribuições para a historiografia. Rio de Janeiro: Proarq-FAU-UFRJ, 2019. p.86-121. .
  • 5
    O projeto inicial foi desenvolvido pelo escritório contratado a partir de uma licitação pública pela Fiocruz, Projeto Arquitetos Associados Ltda (Paal), entre 2004 e 2005.
  • 6
    Sobre o movimento dos Annales, ver Burke (1997)BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997. .
  • 7
    Sobre a delimitação territorial da Fiocruz, ao longo de sua história, ver Oliveira, Costa, Pessoa (2003); Benchimol (1990)BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do sonho à vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz. 1990. .
  • 8
    A cientista e pesquisadora Nísia da Trindade Lima é atual ministra da Saúde, nomeada pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, empossada ao cargo em 2 de janeiro de 2023. Na época referida, era presidente da Fundação Oswaldo Cruz (2017-2022).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    Out 2023

Histórico

  • Recebido
    02 Nov 2022
  • Aceito
    07 Abr 2023
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