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"The Americano Dream" ou "The American Dream": o debate contemporâneo sobre a imigração de mexicanos para os Estados Unidos

Resumos

Neste artigo resenho o debate acadêmico suscitado nos Estados Unidos por causa dos argumentos de Huntington sobre a imigração hispânica, sobretudo a de mexicanos, para este país. Em suas obras "The Hispanic challenge" e Who are we?, Huntington argumenta que, por razões demográficas e políticas, os imigrantes mexicanos não se assimilariam ao core culture norte-americano fundado nos valores anglo-protestantes, o que dividiria os EUA em dois povos, duas culturas e duas linguagens. As pesquisas empíricas aqui resenhadas que testaram os argumentos empíricos de Huntington os negaram e os críticos teóricos destes concebem que eles são doutrinários porque expressam uma ideologia settler, bem como manifestam a teoria do conflito do pluralismo cultural e a do colonianismo interno.

Estados Unidos; imigração; mexicanos; assimilação; core culture; Huntington


In this article I review the academic debate generated in the United States from the Huntington's arguments about Hispanic immigration, especially Mexicans, for this country. In his works "The Hispanic challenge" and Who are we?, Huntington argues that for demographic and political reasons Mexican immigrants not assimilate to American culture founded on the core Anglo-Protestant values??, which will divide the United States into two peoples, two cultures and two languages?? Empirical studies that tested here the empirical Huntington's arguments denied them and the critical theorists conceive them doctrinal, because express a settler ideology and manifest conflict theory of cultural pluralism and the internal colonialism.

United States; immigration; Mexican; assimilation; core culture; Huntington


Introdução

Desde a fundação dos Estados Unidos, a afluência da imigração e sua influência na organização econômica, política, social e cultural desse país tem sido uma questão inquietante que divide políticos e intelectuais. Por exemplo, para Thomas Jefferson (1787) a massa de imigrantes que se deslocavam à época para o país poderia torná-lo politicamente heterogêneo e incoerente pelo fato de os imigrantes trazerem consigo os princípios dos governos dos seus países. Contemporaneamente é o aumento do fluxo imigratório de latino-americanos, sobretudo de mexicanos, para os Estados Unidos que mantém viva essa preocupação.

A imigração é um tema fundamental, e diria apaixonante, para os EUA, que constantemente desafia a política pública norte-americana; provoca debates públicos; estimula a realização de pesquisas, a formulação de teorias e a formação de associações políticas. Ao revisar a literatura sobre a imigração nos EUA constatei que há uma miríade de pesquisas; livros e artigos acadêmicos; publicações nas mídias impressas e virtuais abordando-a de modo favorável ou desfavorável. O enfoque da produção acadêmica abrange todas as áreas de conhecimento das ciências sociais, contemplando, por diversas perspectivas teóricas e metodológicas, estritas ou multidisciplinares, temas como segurança nacional, direitos civis, políticas públicas, identidade nacional, racial e étnica, assimilação, demografia, economia, política, religião, cultura, educação e relações familiares, relações internacionais, entre outros (cf. Waters; Ueda; Marrow, 2007WATERS, M. C.; UEDA, R.; MARROW, H. B. The new Americans: a guide to immigration since 1965. Cambridge, Massachusetts, London: Harvard University Press, 2007.).

Em 2004, na sua edição de março/abril, a revista Foreign Policy publicou o artigo "The Hispanic challenge", de autoria do cientista político Samuel Huntington. Em maio do mesmo ano Huntington publicou seu livro Who are we? The challenges to America's national identity, no qual ele expõe de modo mais extenso o teor daquele artigo. Tanto o artigo quanto o livro provocaram uma onda de debates por meio de artigos, ensaios, resenhas, conferências, editoriais, colunas de jornais e manifestações em blogs, contestando os argumentos fáticos e teóricos de Huntington sobre a imigração de mexicanos para os EUA. Por exemplo, ainda em março de 2004, o Woodrow Wilson International Center for Scholars e o Migration Policy Institute realizaram a conferência "The Hispanic Challenge? What we Know about Latino Immigration", na qual vários especialistas no tema apresentaram suas críticas ao artigo de Huntington.

No mesmo ano, na sua edição maio/junho, a revista Foreign Policy publicou as reações de acadêmicos sobre o artigo, com uma breve resposta, em carta, de Huntington a eles. Ainda em 2004, Etzioni (2004)ETZIONI, A. "The real threat: an essay on Samuel Huntington". Contemporary Sociology, vol. 34, n° 5, p. 477-485, September, 2005., Krauze (2004)KRAUZE, E. "Identity fanaticism. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". New Republic, 21, p. 28-31, June, 2004., Jacoby (2004)JACOBy, T. "Rainbow's end. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". Washington Post, May, 2004., Fuchs (2004)FUCHS, L. H. "Mr. Huntington's nightmare. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity. American". Prospect, p. 70-71, August, 2004., Waldschmidt-Nelson (2004)WALDSCHIMIDT- NELSON, B. "Who are we? Fears and facts in Samuel Huntington's attack on Latino immigration to the United States". IPG, nº 3, p. 145-163, 2004., entre outros, reagiram contrariamente ao teor do artigo ou ao do livro de Huntington. Muito embora não deixe explícito que se trata de uma edição crítica a Huntington, em seu volume 17/2004-2005, o Harvard Journal of Hispanic Policy apareceu com o título "Furthering prosperity: the impact of Latinos on the United States". Nessa edição o jornal examina, por meio de artigos, comentários, resenhas e entrevistas, a infuência latina em diferentes setores e seu impacto nas políticas públicas dos EUA para imigrantes latinos.

Neste artigo faço uma revisão da literatura acadêmica produzida nos EUA a propósito das polêmicas provocadas pelas obras de Huntington supracitadas. Meu objetivo aqui é simplemente sistematizar esse debate que está disperso em diversos textos e fontes. Por isso, não pretendo ratificar ou retificar fatos e dados, bem como elaborar conceitos e propor teoria sobre a problemática da imigração nos EUA, que para Tichenor (1994)TICHENOR, D. J. "The politics of immigration reform in the United States, 1981-1990". Polity, vol. 26, nº 3, p. 333-362, Spring, 1994. é um puzzle. O critério adotado para a seleção dos textos acadêmicos dos autores que polemizam com Huntington foi o da relevância fática e teórica das suas críticas; suas bases de dados; suas experiências em pesquisa no tema; seus vínculos institucionais acadêmicos; e a reputação dos periódicos e das associações científicas nos quais eles publicaram seus trabalhos. A fonte de dados para coleta dos textos foi a internet. O artigo está organizado como segue: na primeira parte exponho as tendências e standards que animam o debate norte-americano sobre a imigração. Na segunda parte apresento os argumentos de Huntington em "The Hispanic challenge". Na sequência apresento as críticas empíricas de ordem demográfica e política sobre as concepções de Huntington e, na quarta e última parte, as críticas teóricas feitas à teoria de Huntington.

O puzzle: gloomy Cassandras versus sanguine Pollyannas

Conforme Strum (2004)STRUM, P. Immigration in U.S. History. In: STRUM, P.; SELEE, A. The Hispanic challenge? What we know about Latino immigration. Washington. D.C: Division of United States Studies and Mexico Institute, Woodrow Wilson International Center for Scholars, The Migration Policy Institute, 2004., o debate sobre a imigração perpassa a história dos EUA, que desde a sua fundação se vê enredado em questões sobre as vantagens e desvantagens da imigração; seu impacto econômico, social, cultural, político e demográfico para a unidade nacional frequentemente desafiada por fluxos migratórios humanos, os quais impelem a adoção de políticas públicas. Por outro lado, cada geração de imigrantes enfrenta o desafio de adaptar-se e integrar-se ao país e, uma vez obtendo sucesso, passa a temer o próximo fluxo de imigrantes de origem diferente da dela. Por exemplo, em 1790 o congresso norte-americano adotou a lei de cidadania restrita aos brancos livres. No período de 1892 a 1934 diversos dispositivos legais foram adotados para contingenciar a cidadania de imigrantes chineses, indianos, japoneses e filipinos, os quais somente na metade de 1940 receberam legalmente o status de cidadãos. Em 1924 e 1950 foi adotado o sistema de cotas para o ingresso de imigrantes no país que privilegiava imigrantes brancos. Medidas para autorizar aqueles que podem imigrar e como devem ser tratados no país são constantes na política norte-americana.

Segundo Tichenor (1994)TICHENOR, D. J. "The politics of immigration reform in the United States, 1981-1990". Polity, vol. 26, nº 3, p. 333-362, Spring, 1994., se em 1965 The Hart Celler Act revogou o sistema de cotas, limitou contudo a concessão de vistos para os imigrantes do terceiro mundo. O The Imigration Reform and Control Act (Irca), de 1986, e O The Imigration Act, de 1990, foram reformas que introduziram mudanças significativas na política de imigração estadunidense, modificando a longa história do país relativa ao controle da imigração. Para o autor essa história se caracterizava pela adoção de diversos dispositivos legais e princípios ideológicos que priorizaram restringir ou impedir a migração de povos não europeus para os EUA. Os efeitos dessas reformas provocaram debates acadêmicos que deram suporte para a adoção ou restrições de políticas públicas imigratórias.

O aumento da imigração ilegal e de refugiados políticos, a influência na política de imigração estadunidense por não brancos oriundos da Ásia, América Latina e Caribe e a redução do fluxo migratório de europeus ocidentais foram os temas da agenda acadêmica e governamental nas décadas de 1980 e 1990. Raça e direito civil, crescimento econômico e trabalho, políticas sociais, direitos humanos, Aids e DSTs, homossexualidade, crime, bilinguismo, entre outros, foram temas transversais aos supracitados. Para Tichenor, as reformas de 1986 e de 1990 propiciaram "stunning outcomes" para a política de imigração norte-americana, sobretudo porque possibilitaram aos imigrantes asiáticos, latino-americanos e caribenhos influenciar institucionalmente a agenda da política da "nation's immigration".

Com a adoção do Imigration Act, os acadêmicos designaram "the 1990s as 'the decade of immigration', predicting a dramatic recasting of the nation's racial composition" (TICHENOR, 1994, p. 338TICHENOR, D. J. "The politics of immigration reform in the United States, 1981-1990". Polity, vol. 26, nº 3, p. 333-362, Spring, 1994.). Ainda para Tichenor, a partir da reforma de 1986 o debate acadêmico sobre a imigração foi rivalizado pelas concepções expansionistas e restritivas. A primeira, de orientação liberal, concebe que as reformas propiciariam consequências positivas para o dilema imigratório porque anistiariam uma vasta população de estrangeiros que viviam ilegalmente nos EUA; implementariam para imigrantes programas de geração de renda e trabalho e de proteções trabalhistas; garantiriam direito à residência aos estrangeiros e reconhecimento de cidadania; expandiriam numericamente a admissão de refugiados; poriam fim à exclusão social com base em concepções políticas e orientação sexual; adotariam programas para reunificar famílias de imigrantes e expandiriam a imigração legal. Os intelectuais de tendência restritiva concebem que as reformas criariam conflitos no desenvolvimento do país, pois acentuariam no mercado de trabalho a discriminação dos estrangeiros legalizados; incentivariam uma política de trabalho para os produtores explorarem mão de obra barata; proporcionariam a admissão de investidores estrangeiros e de imigrantes com habilidades especiais oriundos de nações sub-representadas na população de imigrantes nos EUA.

Para Domínguez (2006)DOMÍNGUEZ, J. "Latinos and U.S. foreign policy". Harvard University, Weatherhead Center for International Affairs, paper nº 6-5, p .1-46, 2006., a política de imigração norte-americana caracteriza-se por três standards normativos. O primeiro, concebido por razões de segurança nacional pelo governo norte-americano, estabelece medidas legais e políticas para a admissão de imigrantes considerando sua origem nacional, religião, status de imigração, lealdade política e afinidade étnica. Esse standard concebe a imigração como uma ameaça à segurança nacional. O segundo standard é liberal e, sobretudo, é sustentado pelos defensores dos U.S. latinos que, baseados nos princípios da democracia liberal, enfatizam que, tal qual os cidadãos estadunidenses, os U.S. latinos têm direito de manifestar suas preferências políticas, de se organizar em associações políticas e de ter representação política para defender seus interesses. Para eles, a política imigratória de admissão de grupos étnicos vai ao encontro da democracia e do pluralismo. "The liberal democracy normative standard is, therefore, voice, participation and demographic representation" (DOMÍNGUEZ, 2006, p.DOMÍNGUEZ, J. "Latinos and U.S. foreign policy". Harvard University, Weatherhead Center for International Affairs, paper nº 6-5, p .1-46, 2006. 4). O terceiro standard é multiculturalista porque, além de encampar os princípios do liberalismo político, reivindica que povos com experiências distintas têm perspectivas e interesses que os legitimam a receber tratamento especial pelas políticas externas dos EUA em razão de suas ancestralidades. Membros de uma origem nacional específica, ou seus descendentes, devem ser considerados como comunidade link entre os EUA e seus países de origem. "The multiculturalist normative standard is privileged ethnic group knowledge, interest, and skill" (DOMÍNGUEZ, 2006, p. 5DOMÍNGUEZ, J. "Latinos and U.S. foreign policy". Harvard University, Weatherhead Center for International Affairs, paper nº 6-5, p .1-46, 2006.).

Segundo Citrin et al. (2007)CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007., após a década de 1960 a composição étnica dos EUA foi modificada por meio do Immigration and Nationality Act of 1965, que sobretudo estimulou a imigração de latinos e asiáticos. Essa onda migratória e também os movimentos de direitos civis abalaram a expectativa liberal para a qual o incentivo à imigração iria modernizar e superar a divisão dos laços étnicos (cf. Glazer; Moynihan, 1975GLAZER, N.; MOyNIHAN, D. P. Ethnicity: theory and experience. Cambridge: Harvard University Press, 1975., apud Citrin et al., 2007CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007.), bem como o tradicional lema nacional Epluribus unum 1 1 "De muitos, um" é o lema nacional estadunidense criado em 1776 para expressar a integração das 13 colônias dos EUA. . Em decorrência da diversidade étnica e da política da identidade provocadas pela imigração, o debate acadêmico e a agenda política, os EUA foram desafiados. Segundo os autores, duas tendências se confrontam no debate sobre esse tópico: a gloomy Cassandras e a sanguine Pollyannas, a primeira preocupa-se com"the creation of a balkanized 'alien' nation"; a segunda diz que "we've been here before and that the experiences of today's immigrants will resemble those of their European predecessors in the American melting pot" (CITRIN et al., 2007CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007., p. 31).

É nesse cenário do debate acadêmico que buscamos situar e entender os posicionamentos de Huntington e de seus críticos sobre a política imigratória norte-americana. Considerando a tipologia das tendências acadêmicas e dos standards normativos, concebidos por Tichenor, Domínguez e Citrin et al., é plausível, como veremos a seguir, conjeturar que Huntington é partisan da tendência restritiva e do standard normativo governamental da segurança nacional, enquanto os que o criticaram podem ser considerados aderentes à tendência expansionista, seja ao standard liberal, seja ao multiculturalista. Para Domínguez (2006, p. 2-3)DOMÍNGUEZ, J. "Latinos and U.S. foreign policy". Harvard University, Weatherhead Center for International Affairs, paper nº 6-5, p .1-46, 2006., Huntington é o mais influente representante contemporâneo do standard governamental. Para Citrin et al. (2007)CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007., Huntington é adepto da tendência sanguine Pollyannas porque para ele a imigração, sobretudo procedente do México, ameaça a coesão nacional dos EUA, impedindo-o de atingir metas coletivas por causa da eventual fratura da sua unidade cultural.

Améxica

Nesta seção apresento uma resenha das concepções cardinais de Huntington sobre a imigração hispânica, principalmente mexicana, nos EUA. Preferi fazê-la com base no conteúdo do artigo "The Hispanic challenge" porque nele Huntington expressa de maneira resumida suas concepções apresentadas no teor de Who are we?. Na resenha destaco os diagnósticos e prognósticos do autor sobre a imigração hispânica. Com estes Huntington constrói cenários para antecipar ameaças futuras e agir sobre elas. A primeira causa é de natureza demográfica decorrente de fatores de contiguidade, escala, ilegalidade, concentração regional, persistência e presença histórica dos imigrantes mexicanos no sudoeste norte-americano. As políticas de identidade e o relativismo cultural, na figura do multiculturalismo, são a segunda causa, e a terceira decorre do declínio do patriotismo da elite política, governamental, econômica e intelectual em decorrência de sua adesão aos valores cosmopolitas, que enfraquece o patriotismo das massas. Dessas causas decorre o prognóstico de Huntington de que a imigração dos hispânicos para os Estados Unidos extinguirá o domínio do inglês como língua nacional unificadora, enfraquecerá os valores culturais dominantes do país e destruirá as lealdades étnicas para com a identidade primária norte-americana, "By ignoring this question, Americans acquiesce to their eventual transformation into two peoples with two cultures (Anglo and Hispanic) and two languages (English and Spanish)" (HUNTINGTON, 2004a, p. 32HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Logo na introdução do seu artigo "The Hispanic challenge" (2004aHUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.), Huntington demonstra ao leitor o seu temor a respeito da recente imigração hispânica que vem ocorrendo nos Estados Unidos. Segundo ele:

The persistent inflow of Hispanic immigrants threatens to divide the United States into two peoples, two cultures, and two languages. Unlike past immigrant groups, Mexicans and other Latinos have not assimilated into mainstream U.S. culture, forming instead their own political and linguistic enclaves - from Los Angeles to Miami - and rejecting the Anglo-Protestant values that built the American dream. The United States ignores this challenge at its peril (HUNTINGTON, 2004a, p.30).

Em seguida, Huntington sumariza o processo pelo qual os grupos imigrantes do passado foram assimilados aos princípios, valores, instituições e cultura dos Estados Unidos, os quais alicerçaram as lealdades deles para com esse país. Segundo Huntington: Ao longo dos séculos XVII e XVIII os Estados Unidos foram fundados majoritariamente por colonos brancos, ingleses e protestantes. Baseados em termos de raça, etnia, cultura e religião, seus valores, instituições e cultura proveram e formaram a fundação desse país para os séculos seguintes. Tomados como credos, esses princípios e práticas assumiram um papel ideológico para justificar a independência, e até hoje têm sido reiterados pelo público como um componente essencial da identidade estadunidense. No segundo momento da imigração, por volta do final do século XIX, o componente étnico britânico pioneiro foi afetado pela imigração de alemães, irlandeses e escandinavos. Esses imigrantes provocaram uma mudança na identidade religiosa, que, outrora exclusivamente protestante, passou a ser também católica. No século XX, a Segunda Guerra Mundial induziu uma onda migratória de europeus do sul e do leste; a assimilação deles e de seus descendentes provocou a redefinição da etnia e da religião enquanto componente da identidade nacional dos Estados Unidos. A partir de então, a noção de etnia europeia deu lugar à de raça, forjada pelas conquistas dos movimentos por direitos civis, bem como o Immigration and Nationality Act, de 1965, propiciou o surgimento de uma identidade multiétnica e multirracial.

Para Huntington, tendo sido banida a exclusividade da religião protestante e da etnia europeia como elementos primários da identidade estadunidense, esta passou a ser "defined in terms of culture and creed" (HUNTINGTON, 2004a, p. 31HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.), ambos indissociáveis. Quais são os elementos desse credo que, para Huntington, foram legados pela cultura anglo-protestante e que são cruciais para a sustentação da identidade nacional dos Estados Unidos?

the English language; Christianity; religious commitment; English concepts of the rule of law, including the responsibility of rulers and the rights of individuals; and dissenting Protestant values of individualism, the work ethic, and the belief that humans have the ability and the duty to try to create a heaven on earth, a "city on a hill" (HUNTINGTON, 2004a, p. 31-32).

Foi essa cultura e também as oportunidades econômicas e as liberdades políticas que historicamente atraíram imigrantes para os Estados Unidos. Se esse país não tivesse sido fundado pelos protestantes ingleses, mas sim pelos católicos franceses, espanhóis ou portugueses, ele não seria o que ele tem sido. Porém, no final do século XX, essa cultura e esse credo foram desafiados pelas doutrinas multiculturalistas e da diversidade. A identidade nacional cedeu ao avanço político de grupos identitários baseados na raça, na etnia e no gênero. A cultura e o credo tradicionais também sucumbiram ao impacto das diásporas culturais transnacionais; à expansão dos imigrantes com nacionalidades e lealdades duais; ao crescimento intelectual e econômico dos Estados Unidos, bem como ao de sua elite política constituída por uma identidade cosmopolita e transnacional. A globalização contribui também para a mudança da identidade nacional estadunidense, haja vista que esta vem disseminando sentimentos identitários limitados ao sentido de "blood and belief".

Mas não são essas mudanças que mais inquietam Huntington. Para ele, "In this new era, the single most immediate and most serious challenge to America's traditional identity comes from the immense and continuing immigration from Latin America, especially from Mexico, and the fertility rates of these immigrants compared to black and white American natives" (

HUNTINGTON, 2004a, p. 32

). Os estadunidenses, ao darem muita importância aos benefícios econômicos da imigração, ignoraram as consequências sociais e culturais provocadas por ela. A extensão e a natureza dos problemas promovidos por essa recente imigração são bastante diferentes dos problemas ocasionados pelas imigrações precedentes. Em face de sua preocupação com essa imigração, Huntington questiona: "Will the United States remain a country with a single national language and a core Anglo-Protestant culture?" (HUNTINGTON, 2004a, p. 32HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.). Não! Ao ignorarem essa questão os estadunidenses estão consentindo em transformar a unidade singular de sua identidade em dois povos e em duas culturas: anglo e hispânica.

Vejamos como Huntington prognostica a mudança econômica, social, cultural e política caso houvesse uma diminuição da imigração dos mexicanos para os Estados Unidos: 1- Ocorreria a redução da imigração ilegal; ela alcançaria o nível de 175.000 imigrantes legais, que foi recomendado a partir de 1999 pela Comissão de Imigração; 2- Haveria um aumento dos salários dos cidadãos estadunidenses; 3- Cessaria o debate sobre o uso do espanhol e do inglês como línguas oficiais, esta última continuaria como única língua oficial; 4- A educação bilíngue desapareceria; 5- As controvérsias sobre as políticas sociais e outros benefícios para imigrantes não mais ocorreriam; 6- Desapareceria o debate sobre o custo econômico que os imigrantes acarretam para o Estado; 7- A educação e a habilidade média dos imigrantes seriam melhoradas; 8- O fluxo de imigrantes se tornaria altamente diverso, o que os incentivaria a aprender inglês e absorver a cultura dos Estados Unidos; 9- "And most important of all, the possibility of a de facto split between a predominantly Spanish-speaking United States and an English-speaking United States would disappear, and with it, a major potential threat to the country's cultural and political integrity" (HUNTINGTON, 2004a, p. 32-33HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Em seguida, Huntington aponta e examina os fatores demográficos que fazem com que a imigração mexicana seja diferente das dos demais povos que imigraram para os Estados Unidos. Esses fatores são: contiguidade, escala, ilegalidade, concentração regional, persistência e presença histórica. Para ele, a fronteira seca dos Estados Unidos com o México é o maior fator facilitador do massivo fluxo migratório dos mexicanos para aquele país. Essa contiguidade proporciona problemas econômicos e sociais para os Estados Unidos, porque esse país é vizinho de um dos mais pobres países do terceiro mundo, e essa proximidade facilita aos mexicanos estar em constante contato, no México, com suas famílias, seus amigos e seus locais de origem. A alta escala da migração de mexicanos para os EUA decorre da contiguidade. Segundo Huntington2 2 Huntington lançou mão dos dados do U.S. Census Bureau/2000. (2004a, p. 33HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.), em 1970 entraram legalmente nesse país 645.000 mexicanos; em 1980, 1.650.000; em 1990, 2.249.000. Esse fluxo migratório supera as taxas de migração de outros povos que imigraram para os EUA ao longo dos séculos XIX e XX. Como consequência, nesse país, o número de pessoas nascidas de imigrantes mexicanos vem aumentando substancialmente, de modo que nele está ocorrendo uma diminuição da heterogeneidade de povos: os mexicanos estão superando os europeus, canadenses e asiáticos em termos de estrangeiros nascidos nos EUA. Estima-se que em 2000 eles constituirão 27% dessa população, enquanto os chineses e os filipinos atingirão respectivamente 4,9% e 4,3%.

Em comparação aos imigrantes hispânicos, em 1990 os mexicanos representavam mais da metade dos imigrantes; em 2000 eles compunham a metade de todos os imigrantes que migraram para o país. Estimativas indicam que em 2050 os hispânicos representarão 25% da população estadunidense, dentre eles os mexicanos predominarão. Esse fenômeno demográfico decorre da alta taxa de fertilidade das famílias hispânicas. Em 2002, a taxa de fertilidade dos hispânicos atingiu 3,0%, a dos negros, 2,1% e a dos brancos, 1,8%. Em relação à língua, mais da metade deles não fala o inglês, mas o espanhol. A contiguidade também facilita a imigração ilegal dos mexicanos. Entre os imigrantes hispânicos ilegais, em 2000 eles representavam 69% dessa população. A contiguidade, a fertilidade e a imigração ilegal se fazem acompanhar pela concentração regional. Contrariando o princípio dos "Pais Fundadores", segundo o qual a dispersão dos imigrantes era essencial para a assimilação, os imigrantes mexicanos vêm majoritariamente fixando residência no sul da Califórnia, os cubanos em Miami e os dominicanos e porto-riquenhos em Nova York. A alta taxa de imigração e de fertilidade concentradas em regiões vem afetando o sistema de educação dos Estados Unidos. Nas cidades do sul do país as escolas estão se transformando em hispânicas, nas quais o inglês não é a língua-padrão. Para Huntington, os fatores até aqui apontados por ele contribuem para a persistência do fluxo migratório dos mexicanos para os Estados Unidos. A possibilidade de esse fluxo migratório declinar depende de o México atingir um desempenho econômico que possibilite uma renda per capta semelhante à dos Estados Unidos.

Dentre todos os grupos que imigraram para os Estados Unidos, somente os mexicanos reivindicam direito de território. Eles clamam que os estados do Texas, Novo México, Arizona, Califórnia, Nevada e Utah faziam parte do território mexicano, os quais foram invadidos e apropriados pelos Estados Unidos ao longo das guerras de independência do Texas e da guerra Mexicana-Americana ocorridas respectivamente em 1835-1836 e 1846-1848. Por conseguinte, os imigrantes mexicanos, ao fixarem residência concentrada naqueles estados, concebem que têm direito especial para ocupá-los; porque eles se sentem como se estivessem retornando à terra deles. "History shows that serious potential for conflict exists when people in one country begin referring to territory in a neighboring country in proprietary terms and to assert special rights and claims to that territory" (HUNTINGTON, 2004a, p. 36HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Para Huntington, os fatores evocados por ele demonstram que a imigração dos mexicanos é substancialmente diferente da história da imigração dos demais povos para os Estados Unidos. Tal diferença é um obstáculo para que eles assimilem a cultura do país, sobretudo um obstáculo relativo às normas em educação, ao status econômico e ao casamento inter-racial. No entanto, o mais grave obstáculo que se apresenta a essa assimilação concerne ao fato de que "The size, persistence, and concentration of Hispanic immigration tends to perpetuate the use of Spanish through successive generations" (HUNTINGTON, 2004a, p. 36HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Como consequência, "If the second generation does not reject Spanish outright, the third generation is also likely to be bilingual, and fluency in both languages is likely to become institutionalized in the Mexican-American community" (HUNTINGTON, 2004a, p. 38HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.). Essa tendência pode se confirmar porque os hispânicos, principalmente mexicanos, incentivam seus filhos a ser fluentes em inglês e espanhol. O crescimento e a influência da comunidade hispânico-americana, bem como sua proficiência bilíngue em espanhol e inglês, vêm provocando mudanças na forma de os anglo-estadunidenses se comunicarem com os seus compatriotas. Doravante lhes é exigido que sejam fluentes em espanhol para se comunicar com os hispânicos. Os líderes políticos dos hispânicos vêm militando para que os EUA se transformem em um país bilíngue, sobretudo no que concerne à implantação de uma educação em espanhol-inglês. Tal iniciativa é apoiada por agentes governamentais, organizações que militam pelos direitos civis, líderes de igrejas, sobretudo católicos; e por parlamentares republicanos e democratas. Huntington denomina esse movimento político pró-bilíngue de "Spanglish". Por seu turno, o mercado econômico e de trabalho também contribui para o avanço desse movimento. O crescimento do mercado de consumidores hispânicos exige que seja dada cada vez mais prioridade à mão de obra proficiente em espanhol e em inglês. Até o mercado de trabalho de serviço público tem sido afetado pelo bilinguismo. Nas cidades do sul, policiais e bombeiros que são proficientes nas duas línguas são os mais bem remunerados. Isso vem afetando a renda familiar no sul dos Estados Unidos. As famílias proficientes em espanhol e inglês têm maior renda familiar do que as que falam somente o inglês e as que falam somente o espanhol. Então: "For the first time in U.S. history, increasing numbers of Americans (particularly black Americans) will not be able to receive the jobs or the pay they would otherwise receive because they can speak to their fellow citizens only in English" (HUNTINGTON, 2004a, p. 39HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Para Huntington, se continuar a expansão do espanhol como segunda língua haverá consequências para a política e para o governo, pois em muitos estados os indivíduos que aspiram a ocupar cargos legislativos ou executivos deverão ser fluentes em ambas as línguas. Os candidatos para presidente dos Estados Unidos e para o Senado que apenas são fluentes em inglês estão em desvantagem em relação aos bilíngues. Em suma, "English speakers lacking fluency in Spanish are likely to be and feel at a disadvantage in the competition for jobs, promotions, and contracts" (HUNTINGTON, 2004a, p. 40HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.). Segundo Huntington, o avanço do bilinguismo contraria o princípio da unidade estadunidense segundo o qual os americanos devem ter somente uma bandeira e uma língua. E "If this trend continues, the cultural division between Hispanics and Anglos could replace the racial division between blacks and whites as the most serious cleavage in U.S. society" (HUNTINGTON, 2004a, p.40HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.). Tal clivagem pode ser constatada por meio de pesquisas que informam que muitos imigrantes mexicanos e seus descendentes não se identificam primariamente com os Estados Unidos. Como consequência, uma possível reação

could be the rise of an, anti-Hispanic, anti-black, and anti-immigrant movement composed largely of white, working and midlle-class males, protesting their Jobs losses to immigrants, and foreign countries, the perversion of their culture, and the displacement of their language. Such a moviment can labeled "white nativism" [...]. The most powerful stimulus to such white nativism will be the cultural and linguistic threats whites see from the expanding power of Hispanics in U.S. society (HUNTINGTON, 2004a, p. 41).

Ademais, esses movimentos, compostos por muitos indivíduos educados em universidades, podem se tornar parceiros de políticos populistas e de antigos movimentos racistas que atuam no sul dos Estados Unidos. Para Huntington as mudanças nas proporções raciais nos Estados Unidos sustentam as inquietações do "nativismo branco", pois as estatísticas demográficas mostram que em muitos estados do sul os não hispânicos brancos são minoria. Estima-se que em 2040 eles serão minoria em todo o conjunto dos Estados Unidos, porque

For several decades, interest groups and government elites have promoted racial preferences and affirmative action, which favor blacks and nonwhite, immigrants. Meanwhile, pro-globalization policies have shifted jobs outside the United States, aggravated income inequality, and promoted declining real wages for working-class Americans (HUNTINGTON, 2004a, p. 41).

Huntington concebe que as perdas de poder e de status fomentam reações de qualquer grupo social, étnico, racial e econômico. Entretanto, seria impensável conceber que os estadunidenses reagiriam tal qual os sérvios reagiram quando promoveram a limpeza étnica contra os muçulmanos, haja vista estes terem predominado etnicamente, a partir da década de 1990, na Bósnia e na Herzegovina. Nos Estados Unidos, a reação dos brancos nativistas se fará por meio de iniciativas políticas contra os benefícios para os imigrantes ilegais e contra as políticas de ações afirmativas e a educação bilíngue, promovidas por organizações nacionais de negros e hispânicos. Trata-se de uma reação política organizada contra o lobby dos hispânicos por garantia de privilégios. "Why not a national organization promoting white interests?", pergunta Huntington (2004a, p. 41HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.). Entretanto, a mais poderosa reação dos nativistas brancos se fará em virtude da ameaça cultural e linguística que eles percebem na expansão do poder dos hispânicos na sociedade estadunidense. Pesquisas indicam tal ameaça ao informarem que a maioria das crianças de origem mexicana, nascidas no México ou nos Estados Unidos, primeiramente se considera mexicana, depois americana. Huntington percebe como um movimento de reconquista o crescimento demográfico, social e cultural dos mexicanos nos estados do sul dos EUA. Citando o professor Charles Truxillo, da Universidade do Novo México, e outros, ele ratifica as previsões destes de que os estados do norte do México e os do sul dos EUA formarão por volta de 2080 "La Republica del Norte", "Mexifornia"3 3 Termos emprestados por Huntington do livro de Victor Hanson, Mexifornia: a state of becoming (2003). , a "MexAmérica", ou "Amexica", isto é, esse movimento poderá consolidar nessa região um bloco mexicano autônomo dentro dos EUA. Miami é o protótipo contemporâneo dessa reconquista.

O crescimento econômico de Miami empreendido por latinos americanos, o qual foi, sobretudo, iniciado pelos cubanos na década de 1950, contribui ainda mais para reforçar essa ameaça. Miami é considerada, por Huntington, uma cidade encravada na sua própria economia e na cultura latino-americana, de modo que lá a assimilação à americanização é desnecessária, pois não há nenhuma pressão para alguém se tornar americano. Em consequência, lá os anglos e os negros se transformaram em minorias estrangeiras que por não terem fluência em espanhol são ignorados pelos burocratas do governo de Miami. Como minoria, em Miami, resta aos anglos as seguintes escolhas: 1- aceitarem a condição de subordinados e de estrangeiros nos próprios EUA; 2- assimilarem-se à cultura e à comunidade hispânica; ou 3- irem embora de Miami.

Huntington conjectura se o caso de Miami será o futuro de Los Angeles e de outros estados do sudoeste. His panic é de que o resultado final desse processo poderia ser o mesmo que o de Miami: a criação de uma grande e distinta comunidade de hispânicos com poder econômico e político suficiente para se tornar uma comunidade com identidade à parte da identidade nacional americana e com poder de influenciar a política, o governo e a sociedade dos EUA. Entretanto, a "hispanização" dos outros estados do sudoeste vem ocorrendo de modo lento e politicamente conduzida, enquanto a de Miami ocorre de modo veloz, explícita e economicamente dirigida. Ao comparar o modo como se deu a migração de cubanos na Flórida e o modo como vem ocorrendo a imigração contemporânea de mexicanos nos outros estados do sudoeste, Huntington concebe que o primeiro foi intermitente, pois refletia a política interna do governo cubano, enquanto o segundo é contínuo, ilegal em larga escala e não dá sinal de parar. Além disso, os primeiros migrantes cubanos que migraram para a Flórida pertenciam majoritariamente às classes média e alta enquanto a migração de mexicanos para os estados do sul é composta por gente pobre, com baixa instrução e mão de obra desqualificada. "The pressures toward Hispanization in the Southwest thus come from below, whereas those in South Florida came from above" (HUNTINGTON, 2004a, p. 44HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.).

Huntington destaca outra importante diferença entre os migrantes cubanos e os mexicanos. Politicamente os cubanos são hostis ao governo de Fidel Castro; já os mexicanos se mostram ambivalentes em relação aos governantes do México, pois estes, desde 1980, vêm incentivando a expansão da força política da comunidade mexicana nos EUA. Em consequência, os migrantes mexicanos se sentem confortáveis com a sua própria cultura e desdenhosos da cultura americana.

The persistence of Mexican immigration into the United States reduces the incentives for cultural assimilation. Mexican Americans no longer think of themselves as members of a small minority who must accommodate the dominant group and adopt its culture. As their numbers increase, they become more committed to their own ethnic identity and culture. Sustained numerical expansion promotes cultural consolidation and leads Mexican Americans not to minimize but to glory in the differences between their culture and U.S. culture (HUNTINGTON, 2004a, p. 44).

Em suma, para Huntington a contínua imigração de mexicanos para os Estados Unidos: 1- acentuará e sustentará ainda mais o predomínio dos valores dos mexicanos sobre os dos mexicanos-americanos; 2- se eles não assimilarem os valores e atitudes americanos, os EUA poderão ser divididos em duas línguas e duas culturas; 3- em consequência, uma fraca e instável democracia poderá surgir. Para ele:

Such a transformation would not only revolutionize the United States, but it would also have serious consequences for Hispanics, who will be in the United States but not of it. [...]. There is no Americano dream4. There is only the American dream created by an Anglo-Protestant society. Mexican Americans will share in that dream and in that society only if they dream in English (HUNTINGTON, 2004a, p. 45).

Testing Huntington

Como dissemos em "The Hispanic challenge" (2004aHUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a.) e em Who are we? The challenges to America's national identity (2004b), Huntington comunga concepções semelhantes; por isso nesta resenha o leitor encontrará seus críticos fazendo referências tanto a um quanto ao outro. Ambos repercutiram uma sucessão de ideias e sentimentos no meio acadêmico; na opinião pública e na comunidade hispânica norte-americana, sobretudo contrária à "Améxica" concebida por Huntington. Neste artigo limitarei essa reverberação na academia e os critérios para a escolha dos artigos constam em sua introdução. Contudo, com o intuito de certificar a pertinência e a persistência temporal dos argumentos de Huntington, selecionei trabalhos que apresentam resultados de pesquisas realizadas antes e após 2004, ano de publicação das obras supracitadas. Devido aos limites deste artigo, não há como apresentar em detalhe todos os dados e as análises quantitativas produzidas pelas pesquisas, bem como mostrar tabelas, quadros, gráficos e mapas nelas apresentadas, de modo que explorei mais os resultados das pesquisas, informados nas suas conclusões. Esta seção está dividida em duas partes. Na primeira, resenho as pesquisas que testaram a pertinência e a persistência temporal dos argumentos de Huntington relativos aos fatores demográficos e linguísticos, ao patriotismo e aos valores anglo-protestantes. Na segunda, resenho as pesquisas sobre os fatores políticos.

Assimilação thin e thick

Em seu estudo Citrin 5et al. (2007)CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007. buscaram checar as hipóteses de Huntington de que a escala numérica, concentração, homogeneidade linguística e outras características dos imigrantes hispânicos subtrairia a preponderância da língua inglesa enquanto fator nacional unificador dos EUA; enfraqueceria os valores culturais dominantes do país e promoveria lealdades étnicas que se insurgiriam contra a identidade primária americana. Ao construir esse cenário Huntington prognosticou três ameaças para o país: 1- a não assimilação dos imigrantes hispânicos, sobretudo mexicanos, por razões demográficas, causará a divisão da unidade territorial e linguística dos EUA; 2- por causa da influência do multiculturalismo a cultura anglo-protestante fundada no individualismo será substituída pelos direitos de grupo; 3- o declínio do patriotismo entre a elite política, governamental, econômica e intelectual porá em risco o sentido histórico da singularidade histórica dos EUA, comprometendo a sua coesão nacional e a confiança das massas na capacidade de a elite articular, realizar e alcançar metas coletivas.

Segundo os autores essas ameaças prognosticadas por Huntington são inerentes a sua maneira de conceber a cultura anglo-protestante como sendo o núcleo da identidade nacional dos EUA. Duas tendências rivalizam para contestar essa concepção de Huntington. A que reconhece a relevância dessa cultura, porém afirma que os valores e costumes norte-americanos se modificaram em decorrência da mudança na composição étnica da população. A outra concorda com a concepção de Huntington, porém rejeita o seu temor de um choque de culturas interno aos EUA ao afirmar que os imigrantes mexicanos se adaptaram e se assimilaram aos valores da cultura anglo-protestante. Citrin et al. se declaram adeptos da segunda tendência e para ratificá-la apresentam os resultados de uma pesquisa de dados que realizaram, cujo objetivo foi testar a validade empírica das causas apontadas por Huntington que impedem os imigrantes mexicanos de se assimilarem ao mainstream da cultura norte-americana. Para tal os autores analisaram dados sobre o comportamento, os valores e a autoidentificação dos mexicanos nos EUA.

Para os autores a assimilação no contexto da imigração significa a atenuação das diferenças étnicas por meio da sua homogeneização. Ao longo do tempo gerações sucessivas de imigrantes, sobretudo a partir da terceira geração, parecerão com as de origem anglo-protestante porque assimilarão os valores nacionais tradicionais do país que os acolheu. Essa pespectiva contraria o prognóstico de Huntington de que a assimilação dos descendentes de imigrantes mexicanos será menos generalizada do que a dos descendentes de outras nacionalidades; na linha do tempo eles serão menos monolíngues em inglês, menos comprometidos com a ética individualista da autoconfiança, menos patriotas porque não se identificam como norte-americanos.

Para Citrin et al., a questão empírica fundamental é verificar se os fatores contrários à assimilação apontados por Huntington são capazes de superar o poder das normas políticas americanas e da cultura popular que no passado facilitaram a assimilação de outros imigrantes de origem diferente da hispânica. A fim de demonstrarem as evidências empíricas de sua perspectiva, os autores adotaram o modelo de análise de assimilação concebido por Salins (1997)SALINS, P. Assimilation, American style. Philadelphia and New York: Basic Books, 1997., o da abordagem da

"thin" assimilation, consisting of speaking English, supporting America's constitutional ideals, and psychological identification as an American [e o modelo da] "first" or "thick" assimilation, which additionally involves, in Huntington's view, religious convictions and adherence to the Protestant ethic (CITRIN et al., 2007, p. 33).

Porém, porque os bancos de dados consultados apresentaram inconsistência sobre a aceitação cultural em oposição aos valores políticos, eles realizaram parcialmente a análise da perspectiva "thick", concentrando seu estudo no uso da linguagem, da autodefinição e do patriotismo6 6 Para essas dimensões as fontes de dados dos autores foram "the Pew Hispanic Center's Latino Surveys conducted in 2002 and 2004, the Washington Post/Kaiser Family Foundation/Harvard University Latino Survey conducted in 1999, the American National Election Studies (ANES), the 1994 General Social Survey (GSS), and the Los Angeles County Social Surveys (LACSS) conducted by UCLA from1994 through 2002. The 2002 Kaiser/Pew Latino Survey and the 2004 Pew National Survey of Hispanics: Politics and Civic Participation are both national random-digit dialed (RDD) telephone surveys of Latinos 18 and older, highly stratified with geographically disproportionate oversamples. The surveys were administered in either English or Spanish, at the discretion of the respondent. The Hispanic samples are broken down by country of origin and include 2,929 Hispanic respondents in 2002 and 2,288 in 2004. The 2002 survey includes a comparison sample of 1,008 non-Hispanic whites and 171 black respondents. The WashingtonPost/Kaiser/Harvard Latino Survey was conducted by the ICR Survey Research Group and is a stratified, disproportionate RDD national sample of adults 18 and over. Respondents included approximately 2,500 whites,550 blacks, 60 Asians, and 1,010 Latinos. The wellknown NES and GSS are national surveys conducted by the Center for Political Studies at the University of Michigan and the National Opinion Research Center at at the University of Chicago respectively" (CITRIN et al., p. 34-35). . Os autores submetem ao teste os argumentos de Huntington. No que concerne ao fator demográfico7 7 Para esse fator os autores utilizaram a base de dados do U.S. Census Bureau/2005. , o censo dos EUA, realizado em 2005, ratificou o retrato de Huntington do padrão da escala da imigração no sudoeste do país, porque nessa região o crescimento da população hispânica aumentou mais da metade com predominância de mexicanos, que continuará crescendo devido à diferença étnica em idade e tamanho da família. Para testar os demais fatores indicados por Huntington, os autores analisaram dados referentes à segunda e à terceira geração dos imigrantes mexicanos "given that this group was socialized during the period of massive Mexican immigration and political multiculturalism that has animated Huntington's anxieties" (CITRIN et al., 2007, p. 34CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007.). Os autores chegaram à conclusão de que:

Hispanics acquire English and lose Spanish rapidly beginning with the second generation, and appear to be no more or less religious or committed to the work ethic than native-born whites. Moreover, a clear majority of Hispanics reject a purely ethnic identification and patriotism grows from one generation to the next. At present, a traditional pattern of political assimilation appears to prevail (CITRIN et al., 2007, p. 31).

Ao submeterem os argumentos de Huntington ao teste da realidade os autores negam as proposições causais daquele, de que a imigração mexicana ameaça a identidade nacional norte-americana em termos de linguagem, ética do trabalho e patriotismo. Suas conclusões vão ao encontro das de outros estudos sobre o tema, por exemplo, Waters 8e Jiménez (2005)WATERS, M. C.; JIMÉNEZ, T. R. "Assessing immigrant assimilation: new empirical and theoretical challenges". Annual Review of Sociology, nº 31, p. 109-110, 2005., ao examinarem os fatores primários da assimilação: status socioeconômico, concentração espacial, assimilação à linguagem e casamento exogâmico, concluíram que após 1940 imigrantes de origem latina, caribenha e asiática foram incorporados com sucesso àquela sociedade9 9 Além da vasta bibliografia que revisaram, das quais extraíram os dados, os autores utilizaram informações do United States Census (1990 e 2000) e do Migration Policy Institute (1990 e 2000). . Para eles os resultados de sua pesquisa

does not lead to the kinds of alarmist, unsupported claims made by writers such as the political scientist Samuel Huntington (2004, p. 30), who argued that, "Unlike past immigrant groups, Mexicans and other Latinos have not assimilated into mainstream U.S. culture" (WATERS; JIMÉNEZ, 2005, p. 121).

No tocante ao fator fertilidade, Parrado10 e Morgan (2008)PARRADO, E. A.; MORGAN, P. "Intergenerational fertility among Hispanics women: new evidence of immigrant assimilation". Demography, 45: 3, p. 651-71, August, 2008. realizaram uma pesquisa11 11 Os autores utilizaram como fonte de dados o National Vital Statistics Report 1990, 2000, 2002 e 2006. motivada pelas preocupações com a adaptação dos imigrantes em consequência do crescimento da população hispânica dos EUA. No seu estudo, eles concluíram que no período 1940-1960 o padrão de fertilidade dos imigrantes hispânicos, sobretudo o dos mexicanos, mostrou-se convergente com o dos brancos, seguindo o histórico-padrão dos imigrantes europeus de rápido declínio da fertilidade intergeracional, em decorrência da elevação do nível educacional das mulheres. Para os autores, essa convergência dos mexicanos no fator fertilidade indica que eles se assimilaram ao mainstream da sociedade norte-americana.

Jác (2013)JÁC M. "The Hispanic challenge" after 2000 [online]. Post, June, 2013. Disponível em: <http://postnito.cz/?p=3531>. Acesso em: 2 jan. 2014.
http://postnito.cz/?p=3531...
12 12 Assistente de pesquisa no Departamento de Estudos Americanos da Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Charles, em Praga. realizou um estudo para checar se em 2010 continuava pertinente a validade fática dos prognósticos demográficos de Huntington. Na linha do tempo o resultado de seu estudo ratificou os de Waters e Jiménez (2005)WATERS, M. C.; JIMÉNEZ, T. R. "Assessing immigrant assimilation: new empirical and theoretical challenges". Annual Review of Sociology, nº 31, p. 109-110, 2005., Citrin et al. (2007)CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007. e parcialmente o de Parrado e Morgan (2008)PARRADO, E. A.; MORGAN, P. "Intergenerational fertility among Hispanics women: new evidence of immigrant assimilation". Demography, 45: 3, p. 651-71, August, 2008., porque, segundo Jác, há uma lacuna de dados sobre fertilidade dos imigrantes hispânicos entre 1990 e 2000, período do boom da imigração mexicana para os EUA. Para ele, em relação ao fator fertilidade, é preciso esperar o comportamento da terceira geração de imigrantes hispânicos para refutar ou não o prognóstico de Huntington de que esses imigrantes não seguiriam o padrão dos anglos. No tocante ao crescimento populacional, o autor confirma os prognósticos demográficos feitos por Huntington, porque, segundo os dados do U.S. Census Bureau/2010, em 2000 os hispânicos compunham 12,5%, cerca de 35 milhões, do total da população dos EUA. Em 2010 eles compunham 16% (50,5 milhões) dessa população (308,7 milhões). No período 2000-2010, "More than half of the growth in the total population of the Unites States [...] was due to the increase in the Hispanic population, especially population of Mexican origin, making 63 percent of all Hispanics in 2010"(JÁC, 2013, s.pJÁC M. "The Hispanic challenge" after 2000 [online]. Post, June, 2013. Disponível em: <http://postnito.cz/?p=3531>. Acesso em: 2 jan. 2014.
http://postnito.cz/?p=3531...
.).

Em relação aos fatores contiguidade, escala, ilegalidade e concentração regional, Jác apresenta o seguinte diagnóstico: em 2010 mais da metade dos imigrantes hispânicos residia em quatro estados, Califórnia, Texas, Flórida e Novo México. No primeiro eram 37,6% da população; no segundo, 37,6% , na Flórida, 22,5% e no Novo México 46,3%, indicando que mais de três quartos desses imigrantes reside no sudoeste e no sul dos EUA. No tocante à ilegalidade, Jác, com base nos dados fornecidos pelo U.S. Bureau of Justice Statistics/2011, informa que em 2009 mais da metade das prisões federais (56%) ocorreu nos distritos fronteiriços com o México, o Arizona e o Novo México; prevalecendo a prisão por imigração ilegal, vindo em seguida a prisão por tráfico de drogas. Para o autor, em 2010 os dados sobre o crescimento populacional, contiguidade, escala, ilegalidade e concentração regional no sul e sudoeste dos EUA indicam que, tal qual Huntington assinalou em 2004, a imigraçao mexicana é sem precedentes na história dos EUA.

But do really Hispanics challenge the American identity? As we examined in the first chapter, there is not enough empirical evidence for Huntington's concerns about division of the United States into two peoples, two cultures, and two languages. To great extent, Hispanics follow the three-generation model of language assimilation and they express their support for key American values. And in some cases they are even more supportive - especially in their liberal perception of the USA as a land of freedom and opportunity. Moreover, Samuel P. Huntington neglects the fact that incorporationism has always been part of American identity and that each immigrant group maintain some ties with its origin (JÁC, 2013, s.p.).

A lealdade da Améxica

Passo agora a revisar alguns estudos que se dedicaram a testar com mais acuidade os argumentos e os prognósticos de Huntington de que os imigrantes mexicanos não aderiram aos valores políticos dos EUA. Para testar a validade temporal dos argumentos de Huntington sobre a não assimilação dos imigrantes mexicanos aos valores e atitudes políticos norte-americanos, escolhi a pesquisa de De la Garza, Falcon e Garcia realizada em 1996 e a de Cargile, Merolla e Pantoja, realizada em 2011.

De la Garza13, Falcon e Garcia (1996)DE LA GARZA, R.; FALCON, A.; GARCIA, F. C. "Will the real Americans please stand up: Anglo and Mexican-American support of core American political values". American Journal of Political Science, vol. 40, nº 2, p. 335-51, 1996. apresentaram suas análises sobre os dados de um survey nacional14 14 Latino National Political Survey (LNPS) realizado no período de agosto/1989 a abril/1990. Foram entrevistados 1.546 mexicanos-americanos, os quais foram definidos como tal se eles, um dos pais ou dois avós eram unicamente de origem mexicana. A amostra incluiu também 485 anglos (cf. DE LA GARZA; FALCON; GARCIA, 1996, p. 338-339). que eles realizaram entre 1989 e 1990 com mexicanos-americanos e com anglo-americanos. Com esse survey eles buscaram conhecer como esses grupos sociais apoiavam os principais valores americanos. Segundo eles, desde a sua fundação os EUA têm se preocupado com a sua capacidade de fazer com que os imigrantes e seus descendentes incorporem os valores políticos americanos. Essa preocupação explica por que a história das leis de imigração desse país se caracteriza pelo aumento do controle de quem pode entrar e residir nele. Tal temor e tal controle têm caracterizado o relacionamento do país com os mexicanos-americanos, sobretudo a desconfiança de que eles não absorvam e não apoiem os valores fundamentais da cultura política do país: o patriotismo e a autossuficiência econômica. Essa histórica desconfiança é atualizada constantemente por meio de declarações de agentes políticos e intelectuais da academia, que difundem suas opiniões nas quais os imigrantes mexicanos, e os latinos em geral, diferem dos imigrantes anglos porque são resistentes à incorporação política e, portanto, ameaçam a unidade da nação. Segundo eles, um survey realizado em 1990 pelo National Opinion Research constatou que, dentre judeus, negros, asiáticos, hispânicos, brancos do sul, os estadunidenses anglos colocam os hispânicos em último lugar em relação à confiança na adesão destes ao patriotismo e ao welfare dos EUA. Contribui ainda mais para essa desconfiança o fato de os mexicanos-americanos exercerem um papel cada vez mais importante na política nacional e regional do país.

Foi esse cenário que motivou De la Garza, Falcon e Garcia a realizar o Latino National Political Survey (LNPS), e os resultados a que chegaram são relatados a seguir. Segundo eles a análise dos dados do LNPS/1989-1990 conduziu a surpreendentes descobertas. Em primeiro lugar, eles constataram que, quando o fator demográfico não é considerado, o fator etnicidade provoca um efeito negativo sobre a incorporação cívica dos mexicanos-americanos, de sorte que os anglo-americanos tendem a apoiar mais os valores cívicos do individualismo econômico e do patriotismo do que os mexicanos-americanos. Porém, quando analisaram os dados isoladamente, os pesquisadores perceberam que entre os mexicanos-americanos há uma grande diferença: os mais escolarizados tendem a ser mais individualmente orientados e mais patriotas do que os menos escolarizados. Ademais, o survey constatou que os mexicanos-americanos com intensa consciência étnica são menos leais aos valores cívicos dos Estados Unidos do que os mexicanos e anglo-americanos.

Mas, quando os fatores demográficos foram controlados, eles constataram que há diferentes padrões de valores econômicos individualistas e patrióticos. Em relação ao individualismo econômico, não há diferença relevante entre os anglo-americanos e os mexicanos-americanos, ambos aderem àquele valor, de maneira que estatisticamente a consciência étnica não tem relação com o individualismo econômico. Do mesmo modo, a consciência étnica não afeta o patriotismo, mas, quando isso ocorre, seu impacto é positivo porque os mexicanos-americanos mais escolarizados e que preservam suas consciências étnicas são altamente patriotas; tal qual os anglo-americanos mais escolarizados, ou mais do que estes. Portanto, para De la Garza, Falcon e Garcia, estatisticamente a consciência étnica não tem relação com o patriotismo. Uma vez que os dados estatísticos do survey não sustentaram haver uma relação entre consciência étnica e os valores econômicos individualistas e patrióticos, os autores conjeturaram o que segue: o individualismo econômico não é um valor exclusivo dos estadunidenses, pois os mexicanos também o possuem desde a sua experiência social no México; de modo que quando eles migram para os EUA o levam consigo e não esperam contar com o apoio do governo desse país para que suas necessidades privadas sejam supridas. E na condição de imigrantes eles socializam seus filhos, nos seus lares, ou por meio de suas associações, para adotar os valores do individualismo econômico, tal qual o fazem os anglo-americanos.

No que concerne aos mexicanos-americanos serem mais patriotas do que os anglo-americanos, os autores apresentam três hipóteses. Primeiro, os últimos têm um sentimento negativo para com o governo, e isso os leva a ter menos orgulho e estima pela nação. Segundo, os imigrantes mexicanos que obtiveram a cidadania estadunidense passaram por transições sociais repletas de intensos sentidos emocionais. Por fim, os mexicanos-americanos têm uma longa história de patriotismo em razão da Guerra Espanhola-Americana.

Em suma, De la Garza, Falcon e Garcia concebem que suas análises lhes permitem afirmar que as características étnicas não impedem a incorporação cívica dos mexicanos-americanos, e que mais e mais eles estão se aprimorando para aderir aos valores fundamentais dos Estados Unidos. Teoricamente os resultados do survey indicam que há necessidade de ser repensada a relação entre aculturação étnica e incorporação cívica. Também esses resultados invalidam a teoria segundo a qual a aculturação precede ou é paralela à incorporação política, ao contrário, eles indicam que, pelos menos no caso dos mexicanos-americanos, a incorporação cívica precede a aculturação. Ademais, os seus achados indicam que, muito embora, à época, os mexicanos-americanos não tivessem uma boa fluência em inglês, ou uma intensa consciência étnica, mesmo assim eles aderiram aos valores dos Estados Unidos, muito mais do que os anglo-americanos. Em consequência os mexicanos-americanos se incorporarão ao mainstream dos valores dos Estados Unidos muito mais rapidamente do que fizeram ou fazem os imigrantes europeus.

Além disso, não há nenhum fundamento teórico que possa sustentar que das diferenças culturais resultem diferenças de valores políticos. O estudo sugere que as diferenças étnicas fortalecem os apoios dos valores políticos. Para De la Garza, Falcon e Garcia, o achado mais importante de sua pesquisa é que o crescimento da influência dos mexicanos-americanos na polity será baseado em um compromisso com os valores fundamentais dos Estados Unidos. Mas isso não significa que o crescimento do envolvimento político dos mexicanos-americanos não irá abalar o sistema político estadunidense, pois as suas demandas por oportunidades iguais e pelo fim da discriminação na educação e no emprego poderão modificar seriamente os arranjos sociais norte-americanos. Muito embora essas demandas gerem conflitos, elas são perfeitamente compatíveis com os valores políticos fundamentais dos Estados Unidos, porque os mexicanos-americanos apoiam firmemente o patriotismo e o individualismo econômico.

Em 2011 Cargile, Merolla e Pantoja apresentaram no encontro anual da American Political Science Association (APSA) os resultados da sua pesquisa que buscou testar as hipóteses de Huntington (2004)HUNTINGTON, S. P. "The Hispanic challenge". Foreign Policy, 141, p. 30-45, mar.-abr., 2004a. e Buchanan (2006________. State of emergency, the third world invasion and conquest of America. New York: St. Martin's Griffin, 2006.; 2002BUCHANAN, P. The death of the West, how dying populations and immigrant invasions imperil our country and civilization. New York: St. Martin's Griffin, 2002.), de que os imigrantes mexicanos ameaçam a identidade norte-americana por terem valores e atitudes antidemocráticos. Para tal, realizaram um survey 15 15 "We conducted an online survey with YouGov, with an even number of Hispanics and Whites. The study was in the field from June 9th to June 21st, 2011. YouGov interviewed 878 respondents who were then matched down to a sample of 400 Whites and 400 Latinos to produce the final dataset. Respondents were matched on gender, age, education, party identification, ideology and political interest, and then the sample was weighted to known marginals for the general population from the 2007 American Community Survey" (p. 10). para comparar o apoio dos anglos e dos imigrantes mexicanos para a democracia em princípio e na prática.

Democracy in principle simply means that individuals are attached to normative principles such as support for institutions, support for civil liberties and civil rights. By democracy in practice, we mean the application of those principles in real circumstances, such as one's support for civil liberties for a group that they dislike (CARGILE; MEROLLA; PANTOJA, 2011, p.5).

Os autores procuraram testar duas hipóteses concorrentes: a hipótese esposada por Huntington e Buchanan da incompatibilidade cultural dos imigrantes latinos para assimilar a cultura política dos anglo-americanos por causa da cultura política autoritária e antidemocrática de seus países de origem, sobretudo a do México. A segunda hipótese é a da compatibilidade cultural que afirma ser inevitável a assimilação dos descendentes de imigrantes latinos, a partir da segunda geração, aos valores anglo-americanos. Os autores adotam essa hipótese, todavia recusam concebê-la na perspectiva do melting pot, porque ao longo do tempo persistem nas gerações diferenças de renda e educação entre imigrantes latinos e brancos. Contudo, a desigualdade social não impede os imigrantes latinos de assimilar os valores democráticos dos anglos, porque, segundo eles, alguns desses valores são aprendidos antes da imigração.

A questão-chave que os autores procuraram evidenciar na sua pesquisa era se hispânicos nascidos no exterior, os nascidos nos EUA e os anglos têm valores diferentes de apoio à democracia em princípio e na prática. No tocante à democracia em princípio, eles solicitaram aos entrevistados para indicar em uma escala de 1 a 10 quais são as características essenciais da democracia. As características propostas pelos pesquisadores foram:

people choose their leaders in free elections; the army takes over when government is incompetent; civil rights protect people's liberty against oppression; people can change the law in referendums; and, religious authorities interpret the laws (CARGILE; MEROLLA; PANTOJA, 2011, p. 12).

No tocante à atitude relativa à democracia na prática, eles perguntaram aos entrevistados

the degree to which they supported allowing the identified group to do the following: make a speech in my city; protest against the government; hold a rally; run for office; and teach in public schools. We created an additive scale, in which higher values indicate higher levels of tolerance (alpha = 94). The scale ranges from 1 to 35 (CARGILE; MEROLLA; PANTOJA, 2011, p. 17).

Após exporem o método e os limites empíricos da pesquisa, os autores chegaram às seguintes evidências factuais. No tocante à democracia em princípio, entre os entrevistados são pequenas as diferenças de valores relativos à eleição de líderes políticos, proteção das liberdades civis, mudança de leis por referendum. Muito embora a análise de regressão não tenha mostrado diferença substancial, os hispânicos nascidos no exterior e os nascidos nos EUA mostraram-se mais propensos do que os anglos a dar importância ao papel das Forças Armadas e das autoridades religiosas. Entre os entrevistados não houve diferença em relação ao apoio ao regime democrático. Sobre o equilíbrio do poder, os imigrantes hispânicos dão mais apoio ao poder presidencial sobre o Congresso do que os hispânicos nascidos nos EUA e os anglos.

Em relação à prática dos valores da democracia, os autores chegaram aos seguintes resultados: os imigrantes hispânicos têm menos tolerância do que os nascidos nos EUA e os anglos, porém, em relação ao apoio às instituições democráticas, não foi constatada diferença entre os grupos de informantes. Em suma para os autores:

Our results find little support for the cultural incompatibility hypothesis. In three cases, we find no differences between U.S. born Latinos, foreign-born Latinos, and non-Hispanic whites. In two cases, we only see differences between foreign-born Latinos and non-Hispanic whites. The insignificant differences between U.S. born and non-Hispanic whites suggest that any diferences wash out by the second generation. There are only two cases where we find differences between Latinos (both U.S. and foreign-born) and non-Hispanic whites, but the differences are quite minimal and certainly do not seem to rise to the level of "threat" often portrayed by Huntington and conservative commentators. Instead, our results show more support for the cultural compatibility hypothesis, as expected (CARGILE; MEROLLA; PANTOJA, 2011, p. 19).

Mosaic and hibrid versus settler

Após ter apresentado alguns estudos empíricos que refutaram os argumentos testáveis de Huntington, nesta seção resenho algumas críticas feitas a sua teoria da cultura consequente dos prognósticos elaborados por ele na sua crítica da imigração mexicana. Segundo seus críticos, implícita nessa teoria está uma ideologia de cunho doutrinário intervencionista que perpassa suas obras, notadamente em The clash of civilizations, "The Hispanic challenge" e Who are we?

Segundo Etzioni16 (2005)ETZIONI, A. "The real threat: an essay on Samuel Huntington". Contemporary Sociology, vol. 34, n° 5, p. 477-485, September, 2005., a teoria do medo perpassa o pensamento de Huntington, na qual este identifica a ameaça de um inimigo: imigrantes mexicanos, a civilização islâmica ou inclinações democráticas; para os quais ele sugere medidas explícitas e implícitas para proteger a segurança nacional dos EUA. Etzione considera que Who are we? pretende ser uma obra de ciências sociais, porém se caracteriza por disseminar e legitimar, com erudição, para o público, os preconceitos fabricados por uma elite:

The key issue then is to determine whether a nation truly faces particular threats or whether such concerns are largely drummed up if not totally manufactured - say, in order to keep a nation under the control of one power elite or another and to make its citizens accept various governamental measures that they otherwise would not tolerate (ETZIONI, 2005, p. 478).

Para Etzioni a doutrina do medo de Huntington vai além de conceber os mexicanos como ameaça linguística, cultural e política para a sociedade norte-americana, porque ela evoca que estes querem se apropriar de um vasto território dos EUA. Essa doutrina consiste em negar o curso da ação por meio do dispositivo de prever como ele ocorreria e pelo fato de este provocar a manifestação de sentimentos nativistas e de políticas anti-imigração. Para isso Huntington lança mão da técnica de fabricação da realidade que consiste na seleção de dados que são grosseiramente interpretados a fim de mostrar a gravidade da presumida ameaça. Para Etzioni, mesmo a realidade fabricada por Huntington não sustenta a ameaça evocada por ele.

even if one accepts Huntington's particular selection of measurements and their interpretations, one still does not find the threats that he evokes. I then turn to show that Huntington's alarms are based on a profound misunderstanding of what keeps the American society united and commands our mutual respect (ETZIONI, 2005, p. 480).

Em seguida Etzioni passa a replicar os argumentos de Huntington. Para ele não há evidência de que os mexicanos ameacem realizar uma secessão no sul dos EUA, ao contrário, conforme Krauze (2004)KRAUZE, E. "Identity fanaticism. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". New Republic, 21, p. 28-31, June, 2004., são os estados do norte do México que estão sendo "gringo-ized" pela disseminação de hábitos, normas e capital americanos (cf. Krauze, 2004KRAUZE, E. "Identity fanaticism. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". New Republic, 21, p. 28-31, June, 2004.). Além disso, para Etzioni não há evidências de que a presumida não aculturação de imigrantes mexicanos subverterá os credos, a identidade e a unidade norte-americana. Por exemplo, em relação à língua, estudos provam que a segunda e a terceira geração de descendentes de imigrantes mexicanos tornam-se proficientes em inglês (cf. Jacoby, 2004JACOBy, T. "Rainbow's end. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". Washington Post, May, 2004.; Fuchs, 2004FUCHS, L. H. "Mr. Huntington's nightmare. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity. American". Prospect, p. 70-71, August, 2004.). Em relação aos imigrantes mexicanos não assimilarem os valores anglo-protestantes, sobretudo o da ética do trabalho, Etzioni ressalta que o mesmo foi creditado a outros grupos de imigrantes, inclusive imigrantes católicos, porém ao longo do tempo eles assimilaram os modernos valores capitalistas. Por exemplo, por meio de um survey, Pachon e De Sipio (1994)PACVHON, H.; DE SIPIO, L. New Americans by choice: political perspectives of Latino immigrants. Boulder: Westview Press, 1994. demostraram que, em relação ao welfare, os imigrantes de descendência hispânica trabalham em tempo integral, evitam receber ajuda do governo e votam para cargos representativos em candidatos que têm projetos para a educação. No tocante à endogenia dos imigrantes hispânicos, Jacoby (2004)JACOBy, T. "Rainbow's end. Review of Who are we?: The challenges to America's national identity". Washington Post, May, 2004. demonstrou que, assim como os imigrantes asiáticos, entre um terço e metade deles casam com alguém de etnia diferente. Portanto, é infundada a afirmação de Huntington de que os imigrantes mexicanos se recusam a assimilar os valores e os comportamentos do liberalismo econômico e político e mantêm-se endogâmicos.

very core of Who are we? lies Huntington's basic misleading conception as to what makes America great. Throughout American history, and again recently, alarms have been sounded when immigrants did not seem to assimilate (or did not do so quickly enough) and appeared to maintain subcultural distinctions. As a result, various coercive measures have been advocated, both to stop immigration and to deal with those immigrants already in the country (ETZIONi, 2005, p. 481-482).

A mosaic is enriched by a variety of elements of different shapes and colors, but it is held together by a single framework. The mosaic symbolizes a society in which various communities maintain their cultural particularities, proud and knowledgeable about their specific traditions, but they also recognize that they are integral parts of a more encompassing whole. As Americans, we are aware of our different origins but also united by a joint future and fate (ETZIONI, 2005, p. 482).

Os críticos de Huntington que o rotulam de racista, xenofóbico, nativista e chauvinista pouco contribuem para a compreensão da real dimensão da sua visão de mundo, que, para Etzione, é ideológica e "isomórfica". Ela está expressa em suas obras, fabricando fatos e manipulando dados, de modo que não são obras de ciências sociais, mas manifestações de sua ideologia nacionalista, militarista e antipluralista. Em Who are we? Huntington declara que é um settler, um colono e não imigrante. Os settlers são

white and protestant, are those who fashioned the "true" America and controlled it. This control indeed has and is being undermined by immigrants, yet it is not America that is losing power and creed but (as elsewhere in the world) the settlers (ETZIONI, 2005, p. 485).

Para Etzioni, não são os imigrantes que ameaçam os EUA, mas os settlers, porque evocam a proteção de seus privilégios por meio de ideologias alarmistas.

Segundo Etzioni, essa ideologia e essa ameaça ultrapassam os muros dos EUA, as quais estão presentes nas obras de Huntington. Em seu primeiro livro The soldier and the State: the theory and politics of civil-military relations (1957), Huntington, em defesa dos regimes militares e autoritários, critica os regimes democráticos e pluralistas. Em The clash of civilizations and the remaking of world order (1996), ele concebe a ameaça do islã e dos chineses sobre o ocidente e em Who are we? são os mexicanos que ameaçam os EUA. Em suma, para Etzioni, a ideologia settler de Huntington segue uma mesma inclinação nacionalista, autoritária/militarista, homogeneizadora das diferenças religiosas, culturais e étnicas e antipluralista.

Em 2007 Capetillo-Ponce17 CAPETILLO-PONCE, J. "From 'A clash of civilizations' to 'Internal colonialism': reactions to the theoretical bases of Samuel Huntington's 'The Hispanic challenge'". Ethnicities, vol. 7, n° 1, p. 116-134, 2007. publicou um artigo com objetivo de compreender a teoria intríseca a "The Hispanic challenge", cujo principal argumento é de que a onda migratória de latinos, principalmente de mexicanos, provocaria uma secessão dos EUA em dois povos, duas culturas e duas línguas. Inspirado em Said (1979)SAID, E. Orientalism. New York: Vintage Books, 1979., o autor busca fazer conhecer os pressupostos teóricos que sustentam esse argumento e o fio condutor que atravessa a teoria de Huntington em The clash of civilizations e no "The Hispanic challenge". Em sua obra Orientalism (1979), Said, ao criticar o credo da positividade e da imutabilidade da cultura, do self e da identidade nacional, concebe que as culturas são híbridas, a realidade humana é mutável e reconstruída e tudo que é concebido como essencial e estável está sob ameaça de transformação.

Segundo Capetillo-Ponce, no meio acadêmico a teoria da cultura de Said, divulgada no seu livro Orientalism (1979), provocou reações patrióticas, xenofóbicas e chauvinistas, dentre as quais ele destaca a de Huntington, manifestada em seu ensaio "A clash of civilizations?", publicado em 1993, a partir do qual, em 1996, ele adensa suas concepções no livro The clash of civilizations and the remaking of the world order, que consistem, en passant, em conceber que o processo de globalização diminuiria a sua marcha ou seria interrompido por causa da colisão de civilizações, sobretudo causada pelas civilizações islâmica e chinesa contra a civilização ocidental. Conforme Capetillo-Ponce, em "The Hispanic challenge" Huntington dá continuidade a sua concepção de conflito de civilizações, doravante concebida no interior dos EUA e ocorrendo entre a tradição cultural anglo-protestante e a latina.

Thus, we can clearly trace in Huntington's recent work a trajectory that has moved him from a "civilizationist" stance, solidly situated within the field of international relations, to a "culturalist" approach that tries to weave together such disparate strands as ethnic studies, identity politics, nationalism, and migration theory. And yet what binds that trajectory it self together is Huntington's invariable emphasis on a supposedly persistent and even willful-seeming factor that can perhaps be dubbed "the autonomy of culture" (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 119).

Pela perspectiva da autonomia da cultura adotada por Huntington, os imigrantes latinos, principalmente mexicanos, são concebidos exclusivamente como receptores da cultura anglo e suas ações para assimilá-la são negadas, desconsiderando-se o contexto de pressões econômicas e políticas. Essa concepção de cultura constrói diferenças antagônicas entre culturas que, segundo Said, produzem distorções e falsificações como os conceitos de Oriente e Ocidente. Conforme a crítica de Said relativa à teoria da autonomia da cultura, "The Hispanic challenge" seria um obra retrógrada e uma ficção ideológica cujo teor destaca a superioridade de uma cultura por meio de valores. Trata-se de uma ideologia conservadora enraizada na noção de essencialismo cultural de um grupo que culpa os grupos que não são provenientes dele de serem responsáveis por todos os efeitos negativos produzidos à nação. A abordagem da autonomia da cultura nega a concepção liberal de que o acesso aos recursos políticos, sociais e econômicos não decorre exclusivamente de causas culturais, mas também de fatores estruturais e sistêmicos.

Huntington's latest article can therefore be seen as falling within the culturalist, conservative, ethnocentric reaction to what is perceived as the "unnatural" growth of a particular minority, and within the growing genre of anti-Latino writings (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 117).

Para Capetillo-Ponce, o modelo teórico do liberalismo (Nathan Glazer, Michael Walzer e Daniel Patrick Moynihan) e o da cultura de massa (Oswald Spengler e Jose Ortega y Gasset) são impróprios para a compreensão do teor étnico e nacionalista presente em "The Hispanic challenge". Para ele, a teoria do conflito do pluralismo cultural e a do colonialismo interno são mais apropriadas. A primeira foi originariamente concebida por Furnivall (1948)FURNIVALL, J. S. Colonial policy and practice: a comparative study of Burma and Netherlands India. Cambridge: Cambridge University Press, 1948., para quem as características da sociedade plural são simbiose econômica, prevenção mútua, diversidade cultural e clivagem social. Cada grupo, com sua religião, sua cultura, sua língua e o seu modo de ser, vive separadamente em uma unidade política comum, porém integrado pela imposição do poder colonial e pelas circunstâncias econômicas. Smith (1965)SMITH, Michael, G. The plural society in the British West Indies. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1965. aprimora essa teoria concebendo que a unidade das sociedades plurais é obtida e mantida pela predominância e pela dominação de um grupo cultural. Segundo Capetillo-Ponce, inerente à teoria do conflito do pluralismo cultural está a homogeneização das diferenças culturais por meios não democráticos que negam as afinidades culturais de vários grupos e sua capacidade para proporcionar o consenso e a integração institucional.

Para ele, Huntington em "The Hispanic challenge" participa da teoria do conflito do pluralismo cultural, porém, diferente de Furnivall, que a concebeu no contexto das sociedades coloniais dos anos 1930 e 1940, e de Smith, que a elaborou nos anos 1960 no contexto de sociedades plurais pós-coloniais, Huntington a aplica num contexto de uma nação no qual não faz mais sentido a experiência colonial e pós-colonial. Sua semelhança com a teoria de Furnivall e Smith consiste em considerar os latinos, principalmente mexicanos, como um grupo social inserido em uma cultura dominante e que se recusa a assimilá-la, tornando-se uma ameaça à homogeneidade cultural que põe em risco a unidade da sociedade.

In this way he shows his strict allegiance to the conflict model of cultural pluralism, in that he implicitly dismisses the possibility of a certain degree of consensus, institutional integration, or structural balance being achieved between the Latinos and the Anglo Protestants. All Huntington can see is an enemy increasingly gaining strength within our borders (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 123).

Conforme Capetillo-Ponce, para a completa compreensão do modelo teórico que Huntington adota no seu ensaio, é necessário também analisá-lo da ótica da teoria do colonialismo interno, concebida por Blauner (1972)BLAUNER, R. Racial oppression in America. New York: Harper and Row, 1972. e Glazer (1983)GLAZER, N. Ethnic dilemmas: 1964-1982. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1983. Na sua teoria crítica do colonialismo interno, eles se assemelham ao fazerem a distinção entre os grupos étnicos que estão em processo de assimilação e os grupos étnicos que foram conquistados e colonizados, bem como a distinção entre os grupos que possuem características nacionais e que podem exigir direitos nacionais e os grupos aos quais não são aplicáveis esses direitos. É com base nessas distinções que Huntington se filia à teoria do colonialismo interno, também conhecida como pluralismo desigual, que serve de paradigma para a compreensão de sociedades cujas características seguem o modelo de assimilação, como os EUA. Capetillo-Ponce considera que o teor do ensaio de Huntington abraça uma ideologia do colonialismo interno porque:

Certain of the aspects of Huntington's "The Hispanic Challenge" quite clearly make it an excellent case study of internal colonialist ideology. One of this is Huntington's make up the dominant majority, has a great impact on culture beyond such "natural" processes as contact and acculturation. The dominant group simply "carries out a policy that constrains, transforms, or destroys indigenous values, orientations, and ways of life". Huntington would of course never overtly commit himself to such an imperialistic notion but it is nonetheless implicit within his view that Mexican-American culture is a culture of poverty that can be transformed only via its complete assimilation to the dominant group's language and culture (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 122).

Ele considera também que o artigo contém um teor racista, por causa da ênfase de Huntington nos valores anglo-protestantes e na língua inglesa, porque para Blauner "internal colonization is linked to racism, because in both we see 'the tendency of ruling powers to view their subjects as inherently alien and culturally degenerate'" (BLAUNER, 1972, p. 85BLAUNER, R. Racial oppression in America. New York: Harper and Row, 1972., apud CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 123CAPETILLO-PONCE, J. "From 'A clash of civilizations' to 'Internal colonialism': reactions to the theoretical bases of Samuel Huntington's 'The Hispanic challenge'". Ethnicities, vol. 7, n° 1, p. 116-134, 2007.). Em "The Hispanic challenge" isso fica denotado na premissa central de Huntington de que a uniformidade cultural é fundamental para a sociedade norte-americana ser saudável, a qual está ameaçada pela cultura inferior dos imigrantes mexicanos, que, segundo Huntington, é indolente com a educação, tem falta de iniciativa e de autoconfiança. O modo pelo qual ele utiliza os dados tem por finalidade construir, com base no essencialismo cultural, uma oposição entre a cultura anglo e a latina, revelando sua adesão à teoria do conflito do pluralismo cultural. Esse procedimento assume cunho propagandístico em favor de uma cultura monolítica e autônoma que obsta a integração institucional e o equilíbrio estrutural entre diferentes culturas. Explícita está nessa concepção de homogeneidade cultural a assimilação de todos à cultura anglo-protestante, no caso, à língua, aos seus valores e ao seu modo de ser.

Huntington's analysis of Latinos living in today's United States stands in radical contrast to Said's conception of cultures as hybrid and heterogeneous entities, so interrelated in fact that it is virtually impossible to simply delineate them, or, even less, to speak of them as individual units (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 123).

Para Capetillo-Ponce, em "The Hispanic challenge" Huntington, ao adotar a cultura anglo-protestante como core culture dos EUA, tornou-a o cerne da sua abordagem teórica, contudo ele não torna explícito o significado que dá a ela porque não se preocupa em fazer a distinção entre cultura e credo. Para entendê-la, o autor apoia-se em Wolfe (2004)WOLFE, A. "Native son". Foreign Affairs, vol. 83, nº 3, p. 120-125, May-June, 2004., segundo o qual a concepção de cultura, sobretudo de core culture, refere-se à homogeneidade cultural por meio da assimilação, enquanto a noção de credo remete a um conjunto aberto de ideias "about what the United States should be, and thus is open to all, regardless of faith, ethnicity or race" (WOLFE, 2004WOLFE, A. "Native son". Foreign Affairs, vol. 83, nº 3, p. 120-125, May-June, 2004., apud CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 128CAPETILLO-PONCE, J. "From 'A clash of civilizations' to 'Internal colonialism': reactions to the theoretical bases of Samuel Huntington's 'The Hispanic challenge'". Ethnicities, vol. 7, n° 1, p. 116-134, 2007.). Segundo Capetillo-Ponce, a concepção de core culture anglo-protestane de Huntington é uma inversão da definição de credo de Wolfe, porque no mundo real ela se torna um credo ideológico na superioridade dessa cultura, cuja finalidade é a homogeneização cultural por meio de regulações antidemocráticas das relações entre grupos diferentes. Enquanto credo com aparência de teoria da cultura "The Hispanic challenge" almeja influenciar tanto os scholars quanto os policy makers a proporem regulações antidemocráticas e antiminorias para combater as consequências que ele concebe como negativas da imigração de latinos, sobretudo de mexicanos. Por outro lado, muito embora procure evitar semelhanças de sua concepção de core culture com a dos movimentos nativistas, Huntington instila um futuro choque interno de culturas entre nacionalistas brancos e latinos.

Segundo Capetillo-Ponce, apesar de Huntington não tornar manifesta a sua adesão à teoria da colonização interna, que intrinsecamente está vinculada ao racismo, ele a revela por meio de sua abordagem teórica da cultura monolítica que

has led directly, in "The Hispanic challenge", to a really quite explicit suggestion that Latinos, and especially Latinos of Mexican heritage, are inherently alien and culturally degenerate, and thus ideal subjects for internal colonialism (CAPETILLO-PONCE, 2007, p. 130).

Para o autor, Wolfe, com o seu conceito de credo, e Said, com o seu conceito de cultura híbrida e relacional, contribuem para o entendimento da imigração latina e a integração bem-sucedida de novos grupos na contemporânea sociedade norte-americana.

Considerações Finais

Pelo exposto, os resultados das pesquisas empíricas aqui resenhadas não confirmaram os diagnósticos e prognósticos de Huntington sobre a imigração hispânica, sobretudo mexicana, por meio dos quais ele concebe que o desafio para os EUA seria a assimilação dos imigrantes hispânicos, sobretudo mexicanos, ao núcleo da cultura anglo-protestante. Se Huntington está certo no seu diagnóstico relativo aos fatores demográficos dessa imigração em termos de contiguidade, escala, ilegalidade e concentração regional, suas previsões, porém, não se sustentaram ao teste da realidade pretérita e contemporânea. Waters e Jiménez (2005)WATERS, M. C.; JIMÉNEZ, T. R. "Assessing immigrant assimilation: new empirical and theoretical challenges". Annual Review of Sociology, nº 31, p. 109-110, 2005. e Parrado e Morgan (2008)PARRADO, E. A.; MORGAN, P. "Intergenerational fertility among Hispanics women: new evidence of immigrant assimilation". Demography, 45: 3, p. 651-71, August, 2008. mostram que desde 1940 os imigrantes latinos se assimilaram aos fatores primários da imigração: status socioeconômico, concentração espacial, assimilação à linguagem, casamento exogâmico e fertilidade. Em sua pesquisa, De la Garza, Falcon e Garcia (1996)DE LA GARZA, R.; FALCON, A.; GARCIA, F. C. "Will the real Americans please stand up: Anglo and Mexican-American support of core American political values". American Journal of Political Science, vol. 40, nº 2, p. 335-51, 1996. concluíram que mexicanos-americanos apoiam os principais valores políticos norte-americanos. Os achados de todos os pesquisadores supracitados foram ratificados pelas pesquisas de Citrin et al. (2007)CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007., Cargile, Merolla e Pantoja (2011)CARGILE, I. A. M.; MEROLLA, J. L.; PANTOJA, A. D. "A comparison of Anglo and Hispanic attitudes toward democracy". Annual Meeting of the American Political Science Association, Seattle, WA, 1-31, September, 2011. e Jác (2013)JÁC M. "The Hispanic challenge" after 2000 [online]. Post, June, 2013. Disponível em: <http://postnito.cz/?p=3531>. Acesso em: 2 jan. 2014.
http://postnito.cz/?p=3531...
.

Se os diagnósticos e prognósticos de Huntington não correspondem à realidade fática, então qual seria a razão da sua relutância em aceitá-la? Para Etzione (2005)ETZIONI, A. "The real threat: an essay on Samuel Huntington". Contemporary Sociology, vol. 34, n° 5, p. 477-485, September, 2005., essa recusa decorre da pertença política e ideológica de Huntington à elite settler dos EUA, e segundo Capetillo-Ponce (2007)CAPETILLO-PONCE, J. "From 'A clash of civilizations' to 'Internal colonialism': reactions to the theoretical bases of Samuel Huntington's 'The Hispanic challenge'". Ethnicities, vol. 7, n° 1, p. 116-134, 2007., os argumentos de Huntington são constitutivos de sua concepção da autonomia da cultura, que, enraizada na noção de essencialismo cultural, expressa e propaga a ideologia conservadora de um grupo. Os aportes teóricos de sua ideologia são a teoria do conflito do pluralismo cultural e a do colonialismo interno. Para Etzione, a ideologia settler de Huntington reluta em aceitar a diversidade cultural dos EUA por causa de seu vínculo com a teoria do melting pot; para a qual os imigrantes de origem diversa da dos pioneiros devem assimilar os valores destes, no caso, os valores anglo-protestantes. Contrário a essa assimilação, Etzione é favorável à teoria do mosaico. Por seu turno, Capetillo-Ponce é pela teoria da cultura híbrida, concebida por Said, e pela teoria do credo de Wolfe, que, segundo o autor, encontra-se invertida em Huntington, no seu credo na noção de core culture que predica a homogeneidade cultural adstrita à superioridade cultural dos valores anglo-protestantes, na qual a diversidade cultural deve ser homogeneizada pela assimilação. Caso contrário, regulações antidemocráticas e antiminorias são adotadas e instilações para o choque de culturas são propagadas. Etzione e Capetillo-Ponce concebem, ao seu modo, que o teor de "The Hispanic challenge" e Who are we? repercute, internamente nos EUA, a doutrina de Huntington do choque de culturas, manifesta em The clash of civilizations and the remaking of world order, a qual apela para uma ameaça da ordem internacional desencadeada por um inimigo objetivo.

As críticas de Etzioni e Capetillo-Ponce remetem à ameaça que Huntington via na crescente influência do multiculturalismo para o enfraquecimento dos valores culturais anglo-protestantes, cujas consequências seriam a fratura das lealdades dos imigrantes para com a identidade primária dos EUA e a substituição dos direitos individuais pelos de grupos. Para ele, quem fomentava essa ameaça era a elite intelectual, sobretudo acadêmica.

Considero que os argumentos de Etzioni e Capetillo-Ponce, ao menos nos seus textos aqui resenhados, são insuficientes para avaliar com propriedade a complexidade e a validade da ameaça que Huntington via na teoria do multiculturalismo, bem como sua teoria do choque das civilizações. Até porque, nos escritos de Huntington aqui estudados, sobretudo no seu artigo, ele não aborda pontualmente a ameaça do multiculturalismo, tal qual ele fez em relação às ameaças dos fatores demográficos. O mesmo ocorre com a terceira ameaça percebida por Huntington: a de que a perda do patriotismo da elite política proporcionaria o enfraquecimento da confiança das massas quanto à manutenção da coesão nacional e à articulação e realização de metas coletivas. Por prudência teórica e insuficiência de dados históricos prefiro deixar esses temas para pesquisas futuras. No tocante aos estudos empíricos que testaram os argumentos sociodemográficos e políticos de Huntington, seus autores chegaram à conclusão de que eles não são procedentes porque os imigrantes assimilaram a língua e os valores anglo-protestantes. Assim os autores demonstraram o que Huntington concebia e esperava da imigração mexicana: a assimilação. Nesta resenha, a referência aos autores e obras nem de longe sintetiza o rico e vasto acervo de estudos dedicados ao tema em questão; eles são citados aqui apenas para evidenciar como há, em torno dele, uma vasta literatura e um debate acadêmico caloroso que repercutem no debate público político.

Desde 2009, nos EUA, está em curso uma proposta de reforma da política de imigração, cuja enfâse é a legalização de quase 11 milhões de imigrantes ilegais. Em janeiro de 2014, o Senado norte-americano encaminhou o projeto de lei para ser aprovado na Câmara. A reforma vem animando debates na academia e nas instituições políticas estatais e civis e provocando manifestações de rua e virtuais favoráveis e contrárias a ela. Se o teor do projeto de lei, dos debates e das manifestações repercutiu os diagnósticos e prognósticos de Huntington e as reações de seus críticos, aqui não há como abordar. A montagem do puzzle continua a ser feita.

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  • 1 "De muitos, um" é o lema nacional estadunidense criado em 1776 para expressar a integração das 13 colônias dos EUA.
  • 2 Huntington lançou mão dos dados do U.S. Census Bureau/2000.
  • 3 Termos emprestados por Huntington do livro de Victor Hanson, Mexifornia: a state of becoming (2003).
  • 4 Aqui, Huntington faz referência ao livro The Americano dream, escrito por Lionel Sosa, um bem-sucedido empresário mexicano-americano que tem seus negócios estabelecidos no Texas.
  • 5 Jack Citrin é professor de ciência política na Universidade da Califórnia e Berkeley e diretor do Instituto de Estudos Governamentais. Foi também diretor do The State Data Program e do Acting Director of the Survey Research Center/Universidade de Berkeley. Publicou diversos livros e artigos sobre o tema desta resenha.
  • 6 Para essas dimensões as fontes de dados dos autores foram "the Pew Hispanic Center's Latino Surveys conducted in 2002 and 2004, the Washington Post/Kaiser Family Foundation/Harvard University Latino Survey conducted in 1999, the American National Election Studies (ANES), the 1994 General Social Survey (GSS), and the Los Angeles County Social Surveys (LACSS) conducted by UCLA from1994 through 2002. The 2002 Kaiser/Pew Latino Survey and the 2004 Pew National Survey of Hispanics: Politics and Civic Participation are both national random-digit dialed (RDD) telephone surveys of Latinos 18 and older, highly stratified with geographically disproportionate oversamples. The surveys were administered in either English or Spanish, at the discretion of the respondent. The Hispanic samples are broken down by country of origin and include 2,929 Hispanic respondents in 2002 and 2,288 in 2004. The 2002 survey includes a comparison sample of 1,008 non-Hispanic whites and 171 black respondents. The WashingtonPost/Kaiser/Harvard Latino Survey was conducted by the ICR Survey Research Group and is a stratified, disproportionate RDD national sample of adults 18 and over. Respondents included approximately 2,500 whites,550 blacks, 60 Asians, and 1,010 Latinos. The wellknown NES and GSS are national surveys conducted by the Center for Political Studies at the University of Michigan and the National Opinion Research Center at at the University of Chicago respectively" (CITRIN et al., p. 34-35CITRIN, J., et al. "Testing Huntington: is Hispanic immigration a threat to American identity?". Perspectives on Politics, vol. 5, nº 1, p. 31-48, March, 2007.).
  • 7 Para esse fator os autores utilizaram a base de dados do U.S. Census Bureau/2005.
  • 8 Mary C. Waters é professora M.E. Zukerman de sociologia na Universidade de Harvard. O seu trabalho centra-se na pesquisa sobre a integração dos imigrantes e de seus filhos, relações intergrupais, bem como a medição e o significado da identidade racial e étnica.
  • 9 Além da vasta bibliografia que revisaram, das quais extraíram os dados, os autores utilizaram informações do United States Census (1990 e 2000) e do Migration Policy Institute (1990 e 2000).
  • 10 Emilio Parrado é professor de sociologia na Universidade da Pennsylvania. Diretor do Programa de Estudos Latinoamericanos e Latinos, no qual desenvolve pesquisa sobre a adaptação de imigrantes latinos nos EUA.
  • 11 Os autores utilizaram como fonte de dados o National Vital Statistics Report 1990, 2000, 2002 e 2006.
  • 12 Assistente de pesquisa no Departamento de Estudos Americanos da Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Charles, em Praga.
  • 13 Rodolfo De la Garza é professor na Columbia University/Departament of Political Science, na qual se dedica ao estudo combinado de comportamemento político e políticas públicas. No primeiro enfoque enfatiza a política étnica de latino-americanos do prisma da opinião pública e envolvimento eleitoral. Em política pública dedica-se ao estudo da fixação e incorporação de imigrantes. É vice-presidente do Tomás Rivera Policy Institute/University of Southern California, no qual desenvolve pesquisas, coordena projetos de políticas públicas para imigrantes e organiza seminário no campo da imigração de latinos. Membro do Conselho de Relações Exteriores/EUA. Foi vice-presidente da American Political Science Association (cfe. Columbia University).
  • 14 Latino National Political Survey (LNPS) realizado no período de agosto/1989 a abril/1990. Foram entrevistados 1.546 mexicanos-americanos, os quais foram definidos como tal se eles, um dos pais ou dois avós eram unicamente de origem mexicana. A amostra incluiu também 485 anglos (cf. DE LA GARZA; FALCON; GARCIA, 1996, p. 338-339DE LA GARZA, R.; FALCON, A.; GARCIA, F. C. "Will the real Americans please stand up: Anglo and Mexican-American support of core American political values". American Journal of Political Science, vol. 40, nº 2, p. 335-51, 1996.).
  • 15 "We conducted an online survey with YouGov, with an even number of Hispanics and Whites. The study was in the field from June 9th to June 21st, 2011. YouGov interviewed 878 respondents who were then matched down to a sample of 400 Whites and 400 Latinos to produce the final dataset. Respondents were matched on gender, age, education, party identification, ideology and political interest, and then the sample was weighted to known marginals for the general population from the 2007 American Community Survey" (p. 10).
  • 16 Sociólogo e professor das Universidades de Columbia e de George Washington (EUA) e membro do Instituto de Estudo de Guerra e Paz.
  • 17 Professor adjunto de sociologia na Universidade de Massachusetts, Boston. Presidente em exercício do Programa de Estudos Latinos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    Set 2013
  • Aceito
    Fev 2014
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