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Brasileiros em Portugal: transmissões, recepções e transformações alimentares

Resumos

Foi a partir de 1993 que o saldo migratório em Portugal passou a revelar-se positivo e em crescimento. Em 1997, viviam em Portugal 175.263 pessoas com autorização de residência, a que se juntavam imigrantes ilegais em número desconhecido, calculando-se em pouco mais de 2% a percentagem de imigrantes no cômputo total da população residente no país. 11,4% dos imigrantes eram oriundos do Brasil. Dados mais recentes e ainda provisórios, fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, relativos a 2007, dão conta de 435.736 imigrantes legais. Os brasileiros, num total de 66.354, representam 15,2% desse total. Sabendo-se que a presença de uma comunidade estrangeira numericamente significativa dá origem quer à abertura de pequenas lojas de produtos antes inexistentes no país de acolhimento quer ao comércio paralelo, procurei sondar que novidades alimentares brasileiras ocorreram em Portugal nos últimos anos, através de um questionário a realizar a um mínimo de 200 brasileiros. Pretendeu saber-se sexo, idade, estado de onde são oriundos, atividade a que se dedicam, prato brasileiro preferido, quais os alimentos que consumiam no Brasil e não conseguem encontrar em Portugal, quais os alimentos brasileiros que consomem em Portugal e, finalmente, onde conseguem obtê-los. A análise dos dados obtidos no questionário, bem como as informações disponíveis acerca dos chamados restaurantes étnicos, permitem estudar os hábitos alimentares da comunidade brasileira em Portugal, nomeadamente as transmissões, recepções e transformações alimentares que estão em curso e que têm repercussões entre portugueses e brasileiros, uma vez que as transferências culturais resultam das inter-relações entre conjuntos culturais postos em contacto.

alimentação; imigração brasileira; Portugal; século XXI


From 1993 onwards the net migratory balance in Portugal has become positive and on the rise. In 1997 there were 175.263 people living in Portugal with a residence permit as well as illegal immigrants, whose number was unknown. However it was estimated that the immigrants' percentage amounted slightly over 2% as far as the total resident population in Portugal is concerned. 11,4% of the immigrants came from Brazil. More recent official data and still provisional, provided by the Foreign Border Service (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), regarding 2007, account for 435.736 legal immigrants. The Brazilian amount to 66.354, representing 15,2% of the total amount. It is known that the presence of a foreign community amounting to a significant number allows the emergence of both small shops of products that have not formerly existed in the host country, and parallel trade. We have tried to find out which Brazilian dietary changes have occurred in Portugal throughout the last years, by means of a survey involving a minimum of 200 Brazilian people. We wished to know their gender, age, State they came from, working activity, favourite Brazilian food, food products they used to eat in Brazil and cannot find in Portugal and, ultimately, where they can get them. The analysis of the data obtained in the survey, as well as the available information on the so-called ethnic restaurants allow us to study food habits of the Brazilian community in Portugal, namely the undergoing transmissions, receptions and dietary changes, which have impact on Portuguese and Brazilian, since cultural influences result from the interrelations among cultural groups in close contact.

Brazilian immigrants; dietary changes; Portugal; 21th century


ARTIGOS

Brasileiros em Portugal: transmissões, recepções e transformações alimentares* * A obtenção das respostas ao inquérito aqui trabalhado só foi possível com diversas colaborações, a dos que se prontificaram a responder e a de todos - e foram muitos - os que ajudaram a conseguir obter respostas. Nesse sentido, merecem especiais agradecimentos os que mais ativamente colaboraram nessa atividade, nomeadamente, no meio universitário, os Colegas Prof a Dr a Inês de Ornellas e Castro, Prof a Dr a Fátima Hanaque e Prof. Dr. Luís de Araújo e as antigas alunas Ms. Ana Cristina Pereira, Dr a Maria de Jesus Assunção e Dr a Maria Elsa Mourão, a quem também devo o desenho do mapa de Portugal. Fora do meio universitário, os maiores encómios são para as Senhoras Dr a Patrícia Pratas, Dr a Paula Dinis, D. Andradina Pestana, D. Gislaine Peixoto, D. Irene Oliveira e para o Senhor Márcio Sousa Santos.

Isabel M. R. Mendes Drumond Braga

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - Portugal

RESUMO

Foi a partir de 1993 que o saldo migratório em Portugal passou a revelar-se positivo e em crescimento. Em 1997, viviam em Portugal 175.263 pessoas com autorização de residência, a que se juntavam imigrantes ilegais em número desconhecido, calculando-se em pouco mais de 2% a percentagem de imigrantes no cômputo total da população residente no país. 11,4% dos imigrantes eram oriundos do Brasil. Dados mais recentes e ainda provisórios, fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, relativos a 2007, dão conta de 435.736 imigrantes legais. Os brasileiros, num total de 66.354, representam 15,2% desse total. Sabendo-se que a presença de uma comunidade estrangeira numericamente significativa dá origem quer à abertura de pequenas lojas de produtos antes inexistentes no país de acolhimento quer ao comércio paralelo, procurei sondar que novidades alimentares brasileiras ocorreram em Portugal nos últimos anos, através de um questionário a realizar a um mínimo de 200 brasileiros. Pretendeu saber-se sexo, idade, estado de onde são oriundos, atividade a que se dedicam, prato brasileiro preferido, quais os alimentos que consumiam no Brasil e não conseguem encontrar em Portugal, quais os alimentos brasileiros que consomem em Portugal e, finalmente, onde conseguem obtê-los. A análise dos dados obtidos no questionário, bem como as informações disponíveis acerca dos chamados restaurantes étnicos, permitem estudar os hábitos alimentares da comunidade brasileira em Portugal, nomeadamente as transmissões, recepções e transformações alimentares que estão em curso e que têm repercussões entre portugueses e brasileiros, uma vez que as transferências culturais resultam das inter-relações entre conjuntos culturais postos em contacto.

Palavras-chave: alimentação, imigração brasileira, Portugal, século XXI.

ABSTRACT

From 1993 onwards the net migratory balance in Portugal has become positive and on the rise. In 1997 there were 175.263 people living in Portugal with a residence permit as well as illegal immigrants, whose number was unknown. However it was estimated that the immigrants' percentage amounted slightly over 2% as far as the total resident population in Portugal is concerned. 11,4% of the immigrants came from Brazil. More recent official data and still provisional, provided by the Foreign Border Service (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), regarding 2007, account for 435.736 legal immigrants. The Brazilian amount to 66.354, representing 15,2% of the total amount. It is known that the presence of a foreign community amounting to a significant number allows the emergence of both small shops of products that have not formerly existed in the host country, and parallel trade. We have tried to find out which Brazilian dietary changes have occurred in Portugal throughout the last years, by means of a survey involving a minimum of 200 Brazilian people. We wished to know their gender, age, State they came from, working activity, favourite Brazilian food, food products they used to eat in Brazil and cannot find in Portugal and, ultimately, where they can get them. The analysis of the data obtained in the survey, as well as the available information on the so-called ethnic restaurants allow us to study food habits of the Brazilian community in Portugal, namely the undergoing transmissions, receptions and dietary changes, which have impact on Portuguese and Brazilian, since cultural influences result from the interrelations among cultural groups in close contact.

Keywords: Brazilian immigrants, dietary changes, Portugal, 21th century.

I

Corre de boca em boca e na internet a seguinte anedota: interrogaram 850.000 habitantes em Portugal: "acha que existem muitos imigrantes em Portugal? 20% responderam sim, 13% responderam não e 67% responderam oi?!"1 1 Sítio Caipirinha, Samba e Publicidade pa Caramba ( http://www.aventurapaulista.blogspot.com). Mais do que a dupla questão humorística - exagero da percentagem e dificuldade de entendimento do português falado por portugueses por parte dos brasileiros - a questão que nos importa é a consciência, por parte de todos, que, efetivamente, muitos brasileiros escolheram Portugal como local de residência nos últimos anos.

Deixando observações impressionistas, fixemo-nos nos números e comecemos por dar conta da situação de Portugal relativamente aos fenómenos migratórios. Efetivamente, em termos demográficos o país caracterizou-se estruturalmente pela existência de muitos emigrantes que saíam para os mais variados destinos em diversos continentes. No entanto, a partir de meados dos anos 1970, deram-se alterações significativas: os países receptores de mão de obra portuguesa, em resultado da crise petrolífera de 1973-74, optaram por medidas restritivas e, paralelamente, depois de 1975, Portugal recebeu um número considerável de pessoas residentes nas antigas colónias de África. Apesar da pressão demográfica de então, a emigração portuguesa diminuiu e só retomou o seu curso a partir de meados da década de 1980, desta feita composta por emigrantes temporários a termo fixo e emigrantes sazonais, apesar de uma parte deles acabar por se tornar permanente. Paralelamente, um novo destino europeu assumiu-se relevante: a Suíça (Baganha; Góis, 1999; Baganha; Peixoto, 1996; Marques, 2009).

De qualquer modo, a partir da década de 1980, as migrações em Portugal passaram a assinalar uma novidade: a existência simultânea de fluxos de entrada e de saída de pessoas, com perfis económicos semelhantes, em número significativo (Baganha, 2001, p. 142). Assim, Portugal tem recebido a presença de três grandes grupos de imigrantes: indivíduos oriundos do continente americano - representando 20% do total dos imigrantes, em 1997 - da União Europeia - 26% no mesmo ano - e dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) - 44% nessa mesma data (Norte et al., 2004, p. 8). Todos com uma enorme concentração na área metropolitana de Lisboa (Baganha; Marques; Góis, 2009; Fonseca et al., 2002).

Naturalmente, no passado recente, para nos limitarmos ao século XX, também se fixaram estrangeiros em Portugal. Nos anos 1960, entre os 30.000 estrangeiros residentes, 22% eram brasileiros que tinham chegado nas décadas de 1940 e 1950. A percentagem de estrangeiros com autorização de residência era então de 0,3%. Porém, foi a partir de 1993 que o saldo migratório em Portugal passou a revelar-se positivo e em crescimento. Em 1997, viviam em Portugal 175.263 pessoas com autorização de residência, a que se juntavam imigrantes ilegais em número desconhecido, calculando-se em pouco mais de 2% a percentagem de imigrantes no cômputo total da população residente no país. 11,4% dos imigrantes eram oriundos do Brasil e 44% destes viviam no distrito de Lisboa, 16% no do Porto e 10% no de Aveiro (Pires, 2000, p. 197-202). Se nos fixarmos nos últimos anos, poderemos verificar que, dos mais de 50.000 indivíduos estrangeiros residentes em 2000, passou-se a mais de 65.000 em 2001 e a mais de 70.000 em 2002, os quais representaram 4% da população. Concomitantemente, também se verificou uma diversificação das nacionalidades. Das 102 em 1981, passou-se a 129 em 1991 e a cerca de 170 em 2003 (Baganha; Ferrão; Malheiros, 1999, p. 149; Norte et al., 2004, p. 6-7). Ou seja, estamos perante uma situação muito diferente da que Portugal conhecera no passado, quando se caracterizava pela emigração e não pela imigração.

Os dados mais recentes, do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME),2 2 Ver http://www.acime.gov.pt. continuam a mostrar, de facto, o crescimento da população estrangeira em Portugal, havendo a acrescentar, aos números oficiais, a presença de um número indeterminado de indivíduos sem situação regularizada. Tal tem tido repercussões positivas no rejuvenescimento da população e no total da população ativa, pois, como se sabe, os imigrantes representam um sector da população com uma elevada taxa de ativos: não há idosos e quase todos trabalham. Acresce ainda que os custos sociais que o Estado despende com os imigrantes - que chegam já com a escolaridade - são inferiores aos custos com os nacionais. Finalmente, os impostos pagos pelos imigrantes são superiores às prestações sociais de que usufruem (Ferreira; Rato; Mortágua, 2004, p. 50-52; Rato; Geada; Rodrigues, 2000, p. 9).

II

Fixemo-nos nos brasileiros. Tanto quanto se sabe a imigração brasileira é um fenómeno expressivo pois, na atualidade, pelo menos 1% da população vive fora do seu país (Machado, 2003, f. 18). E se o destino preferencial tem sido os Estados Unidos da América, Portugal vem recebendo um número crescente de brasileiros. Segundo dados oficiais fornecidos pelo ACIME, entre 2001 e 2004, Portugal concedeu 183.833 autorizações de permanência - renovadas anualmente - a estrangeiros, das quais 37.951, ou seja, 20,6%, beneficiaram cidadãos brasileiros. Em 2004, foram expedidas 265.361 autorizações de residência - obtidas ao fim de cinco anos de permanência - entre as quais as de 28.956 brasileiros, ou seja, 10,9% do total. No ano de 2004, as pessoas oriundas do país presidido por Luiz Inácio Lula da Silva representaram 14,9% dos imigrantes legais estantes em Portugal.

Entre as motivações para a vinda de brasileiros, pelo menos entre 1998 e 2003, certamente generalizáveis a outros anos, contam-se a elevada taxa de desemprego e os baixos salários praticados no país de origem, segundo inquérito realizado pela Casa do Brasil em Lisboa e pelo ACIME junto de 400 brasileiros residentes nos distritos de Lisboa e Setúbal (Pereira, 2004, f. 22). Recorde-se que, no Brasil, só a partir dos anos 1980 é que a emigração de carácter económico passou a ter significado, o que se explica tendo em conta o descrédito da política económica no que se refere à estabilização monetária durante o governo de Sarney. Vários fatores têm facilitado a escolha de muitos cidadãos brasileiros: o facto de, em Portugal, se falar a mesma língua - o que não impede dificuldades de compreensão e alguma marginalização inicial (Baganha; Ferrão; Malheiros, 1999, p. 150; Bôas, 2004, p. 92; Machado, 2004, p. 266) - a existência de referentes culturais idênticos facilitadores de alguma integração, o reconhecimento de igualdade de direitos no plano jurídico, a obtenção de nacionalidade portuguesa devido a laços de parentesco, a ideia que Portugal poderia funcionar como uma porta de entrada para outros destinos europeus e o crescente investimento de empresas brasileiras em Portugal e de empresas portuguesas no Brasil e, finalmente, a divulgação de notícias na imprensa e de reportagens na televisão do Brasil, as quais passaram imagens positivas de Portugal. Vejam-se os casos da repercussão do programa Fantástico, passado na TV Globo, em outubro de 1999, referido por Vianna (2006), e das notícias publicadas pela revista brasileira Veja estudadas por Pinho (2001).

Entre os 265.361 estrangeiros que receberam autorização de residência em 2004, contam-se 144.383 homens (54,4%) e 120.978 mulheres (45,6%). No que se refere aos brasileiros, dos 28.956 com autorização de residência temos 13.815 homens (47,7%) e 15.141 mulheres (52,3%). Representam, respectivamente, 9,6% e 12,5% do total das pessoas com autorização de residência. Vale a pena salientar que a tradicional máxima "homens que partem mulheres que ficam", tão típica dos movimentos migratórios de outros tempos, não é válida para a comunidade brasileira estabelecida em Portugal na atualidade. Porém, num passado recente não foi assim. Ainda em 1998, as mulheres brasileiras representavam apenas 36% em face dos 64% dos homens (Pereira, 2004, f. 24). É certo que não é caso único. Entre os vários contingentes de imigrantes, também estão em número superior as mulheres da Federação Russa, da Ucrânia e de São Tomé e Príncipe.

Já no que se refere à idade média dos imigrantes brasileiros, em 2001, era de 31,2 anos, ligeiramente inferior à média da de todos os estrangeiros nesse ano, a qual se situou em 32,3 anos. Médias mais baixas foram as dos franceses, 26,8 anos; angolanos, 28,5 anos; são-tomenses, 29,6; guineenses 29,8; romenos 30,3% e chineses 30,5%.

No mesmo ano de 2001, a comunidade brasileira apresentou, tal como seria de esperar, níveis de qualificação académica variados. Assim, 6% não sabiam ler nem escrever, 6,4% sabiam ler e escrever mas não possuíam qualquer grau, 46,9% tinha o ensino básico, 26,7% frequentou o ensino secundário e 14% tinham um diploma do ensino superior. Estudos relativos ao início da imigração brasileira para Portugal salientam que os oriundos das Terras de Vera Cruz apresentavam a maior percentagem de trabalhadores por conta própria e que, por exemplo, ainda em 1998, 46,4% estavam ocupados em profissões científicas e técnicas (Rato; Geada; Rodrigues, 2000, p. 15). Contudo, há que pontualizar, pois esses números não compreendem os imigrantes ilegais dedicados às atividades menos valorizadas, sendo clara uma bipolarização acentuada: pessoas com profissões altamente qualificadas e pessoas com atividades de baixa qualificação (Baganha; Ferrão; Malheiros, 1999, p. 150; Machado, 2003, f. 25-29). De notar que Machado (2003) ao trabalhar com os imigrantes brasileiros estantes no Porto, deu conta da existência de muitas pessoas de poucos recursos e de uma concentração de profissionais de ginástica, restauração, construção civil e dentistas.

Se distribuirmos a comunidade brasileira por grupos socioeconómicos, podemos verificar que, em 2001, há um predomínio de operários qualificados e semiqualificados (17%), seguindo-se os empregados no comércio e nos serviços (15%) e os operários não qualificados (13%). Esses três grupos representam 45%, a que acrescem 28% de inativos.3 3 Ver http://www.acime.gov.pt.

De 2001 até ao presente, sabe-se que o contingente imigrante em Portugal tem continuado a aumentar. Só de 2003 para 2004, a população estrangeira cresceu 7%. Registaram-se, então, 446.178 imigrantes legais, 262.523 com autorização de residência e 183.655 com autorização de permanência. Foram ainda concedidos vistos de trabalho, de estudo ou de estada temporária a 19.276 pessoas, 10.770 das quais brasileiras. Em 2004, a comunidade brasileira contava com cerca de 77.000 cidadãos, seguida pelas comunidades ucraniana com 66.048, cabo-verdiana com 63.887 e angolana com 34.995. A maioria dos imigrantes residia na região de Lisboa. Faro, Setúbal e Porto eram então as outras cidades que acolhiam mais imigrantes.4 4 Ver http://www.acidi.gov.pt. Dados mais recentes e ainda provisórios, fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, relativos a 2007, dão conta de 435.736 imigrantes legais, dos quais são 240.096 homens e 195.640 mulheres. Os brasileiros totalizam 66.354 e, embora menos do que em 2004, representam 15,2% do total, continuando a predominar as mulheres 34.520 (52%) em face dos 31.834 homens (48%). Terá a tendência de crescimento verificada nos últimos anos começado a inverter-se?

Em 2007, continuaram os imigrantes em geral e os brasileiros em particular a escolher o distrito de Lisboa como local de residência preferida. Só nele se concentraram 36,8% do total de brasileiros em Portugal. Seguem-se, a grande distância, os distritos de Faro (8046), Porto (7083), Setúbal (6156) e Aveiro (4057). Com pouco significado, isto é, com menos de 1000 pessoas, os distritos de Bragança (338), Guarda (432), Portalegre (447), Vila Real (529), Castelo Branco (619), Viana do Castelo (677), Beja (690) e Évora (765). Nos arquipélagos da Madeira (1156) e dos Açores (898) também se encontram alguns.5 5 Ver http://www.sef.pt. Ou seja, a atração mais significativa é pela capital, seguindo-se o Sul do país, local de grande afluência turística, logo com oferta de trabalho e, em seguida, algumas cidades movimentadas, mais uma vez procuradas por oportunidades de trabalho. Pouco atrativo se têm mostrado os distritos de Trás-os-Montes, Alentejo e parte da Beira Interior, zonas tradicionalmente menos povoadas e com pouca oferta no mercado de emprego.

III

Como em qualquer outra época, para fazer face aos problemas específicos dos imigrantes, estes tendem a organizar-se, escolhendo, de acordo com as suas posses, determinadas zonas para morar, criando certos espaços de divertimento, de comércio dos seus produtos específicos e agrupando-se à volta de determinadas instituições leigas ou religiosas. No caso dos brasileiros, todas essas matérias carecem de estudo. Apontem-se apenas alguns indícios dessas realidades.

Em 1991, para dar resposta à crescente presença de brasileiros em Portugal, germinou a ideia de constituir a Casa do Brasil em Lisboa. A fundação ocorreu em dezembro, na Associação Cristã de Moços, onde mais de 60 pessoas assinaram a ata de criação e elegeram uma comissão organizadora.

A 15 de janeiro de 1992, deu-se a criação oficial da Casa do Brasil em Lisboa. Apoio à comunidade, mormente apoio jurídico, debate de questões afetas aos imigrantes com as autoridades portuguesas e brasileiras e realização de eventos culturais têm pautado as preocupações da associação (Desmet, 1998, f. 101-154; Feldman-Bianco, 2002, p. 400-403).6 6 Ver http://www.casadobrasil.info.

Em qualquer época, a vida dos imigrantes nos países de acolhimento conheceu dificuldades. A começar pelo facto de nem sempre a chegada ao país escolhido ser tranquila. Recorde-se a criminalidade ligada à imigração, nomeadamente a utilização subversiva dos meios de comunicação, o auxílio à imigração ilegal, o tráfico de pessoas e o lenocínio, a angariação de mão de obra ilegal, a falsificação de documentos, as organizações criminosas, os casamentos de conveniência e as redes dedicadas ao aliciamento e à exploração dos imigrantes (Guia, 2008). De qualquer modo, a própria desorganização social da população imigrante, provocada pela falta de meios de vida nos países de acolhimento, propicia a criminalidade praticada por parcelas dessa população. Em Portugal o aumento da criminalidade por parte dos estrangeiros (inclui os imigrantes legais e ilegais mas também os turistas, os exilados e os passageiros em trânsito) tem acompanhado o crescimento da imigração. Assim, enquanto em 1997, a percentagem de reclusos estrangeiros era de 11%, em 2004 tinha subido para 17,29% (Guia, 2008, p. 67).

Os brasileiros não fogem ao quadro traçado, nem enquanto vítimas de redes de aliciamento (Machado, 2005) nem enquanto autores de determinados tipos de criminalidade. A mais significativa praticada pelos brasileiros estantes em Portugal, nos últimos anos, refere-se ao tráfico e outros crimes relacionados com drogas e aos crimes contra a propriedade, tal como acontece entre os cabo-verdianos. De qualquer modo, de 2002 para 2005, o primeiro tipo de crimes tendeu a diminuir e o segundo a aumentar de forma significativa (Guia, 2008, p. 221-224). Por outro lado, sabe-se que a percentagem de reclusos brasileiros cresceu nas cadeias portuguesas desde 1999, só tendo conhecido uma pequena inflexão em 2003, logo recuperada no ano seguinte (Guia, 2008, p. 189). Estão posicionados em terceiro lugar, entre os estrangeiros, depois dos cabo-verdianos e dos angolanos.

A criação de imagens estereotipadas é uma realidade quotidiana, que também atingiu os portugueses residentes no Brasil (Feldman-Bianco, 2002, p. 389-393). Assim, por norma, o português vê o brasileiro de forma positiva, caracterizando-o com adjetivos como comunicativo, divertido e exótico, mas também o vê como desconfiado e fanático (Pereira, 2004, f. 150-154). Os brasileiros residentes em Portugal - segundo estudo recente - veem-se como pessoas otimista, esperançosas, alegres, simples e com facilidade de se relacionarem, evidenciando uma imagem de sintomática identificação e de pertença ao povo brasileiro, ao mesmo tempo que caracterizam o português como reservado, formal, desconfiado, pessimista, hipócrita, invejoso, conservador e preconceituoso, não deixando de chamar a atenção para os diferentes tipos de discriminações de que foram vítimas (Bôas, 2004, p. 87-158). Entre estes, saliente-se a ideia de que as mulheres brasileiras são fáceis, isso tanto por parte de alguns portugueses como de alguns brasileiros, independentemente de se estarem a referir ou não às trabalhadoras do sexo (Bôas, 2004, p. 158; Machado, 2003, f. 79-86, 2004, p. 257-278, 2006; Peixoto, 2007, p. 81-85). Tal realidade acaba por ter eco na própria comunicação social europeia (Machado, 2003, f. 108-132). É sintomático o artigo que apresenta uma dissertação de mestrado de Maria Ribeiro apresentada à Universidade do Minho, a qual aborda a questão tendo em conta dois jornais: o Diário do Minho (Braga) e L'Adige (Trento) (Rito, 2009, p. 53). Uma abordagem diferente, tendo em conta os imigrantes de diversas proveniências, foi feita através da análise de notícias sobre imigração publicadas pela imprensa portuguesa escrita de distribuição nacional (68%) e de distribuição regional (32%), entre 1º de janeiro de 2001 e 31 de março de 2002. Os autores recolheram cerca de 4000 unidades de texto (notícias, breves, artigos, reportagens, entrevistas, editoriais, crónicas, opinião e outros: cartas de leitores, direitos de resposta, inquéritos, sondagens, críticas e estudos) e concluíram que 30% das notícias se referiam à imigração da Europa de Leste e 5% à do continente americano, com destaque evidente para o Brasil (Cádima; Figueiredo, 2003). Apesar de diversas contrariedades, segundo sondagem publicada em 2006, relativa aos anos de 2002 a 2004, 66% dos brasileiros residentes em Portugal declararam estar bastante satisfeitos ou muito satisfeitos no país (Lages et al., 2006). De qualquer modo, não obstante as notícias sobre violência e marginalidade urbanas, o Brasil, um destino turístico cada vez mais popular em Portugal, é visto como a terra do sol, do samba, do futebol, da mestiçagem e da sexualidade mais desinibida. Isto é, o Brasil é olhado mais pela positiva do que pela negativa, independentemente dos estereótipos se fazerem sentir.

IV

As transferências culturais resultam das inter-relações entre conjuntos culturais postos em contacto. Ora, desde que os portugueses se estabeleceram no Brasil, o convívio com um modelo alimentar dos índios, exógeno e diferente do português, deu origem a tensões, rejeições, adaptações e até imitações. Mas, desde logo, foi-se dando um enorme leque de trocas e alguma assimilação integradora (Nino, 2008, p. 180-184). O apreço pelos sabores brasileiros foi visível através da exportação de produtos da colónia para o Reino mesmo a título de pequenos mimos. Mesmo após a independência do Brasil, continuaram a chegar produtos alimentares brasileiros a Portugal (Braga, no prelo).

Atualmente, com a presença de muitos imigrantes brasileiros em Portugal, o país assistiu à introdução de diversos produtos e hábitos ao nível da alimentação e da sociabilidade à mesa. Porém, a recepção da diversidade cultural está bastante limitada ao próprio núcleo dos brasileiros que, ao domingo, não dispensam a música - samba, forró, sertaneja, chorinho - o churrasco ou a feijoada, de acordo com a sua proveniência, independentemente da existência dos chamados restaurantes étnicos, frequentados por portugueses e brasileiros, sobretudo pelos primeiros. Porém, se "manger la nouriture des autres, c'est lier une relation avec eux" (Almeida-Topor, 2006, p. 5), portugueses e brasileiros estão cada vez mais próximos.

O salutar convívio alimentar permite o apreço pelos pratos do "outro", inicialmente desconhecido, distante e exótico (Hassoun, Raulin, 1995), em particular por parte dos que têm mais possibilidades económicas. Assim se compreende que, no portal da Casa do Brasil7 7 Ver http://www.casadobrasil.info. em Lisboa se encontrem a par de algumas receitas brasileiras, diversas portuguesas. Outra página, desta feita a da Casa da América Latina,8 8 Ver http://www.c-americalatina.pt. apresenta diversos pratos brasileiros.

A presença de numerosos brasileiros em Portugal teve também repercussões na indústria alimentar, nomeadamente no que se refere à produção de refrigerantes, vendidos a naturais e a estrangeiros. Assim, Portugal foi o primeiro país escolhido para a internacionalização do Guaraná Antarctica, disponível em embalagens individuais de 330 e 500 mililitros e em embalagens familiares de 1,5 litros.9 9 Ver http://www.sumolcompal.pt. Por seu lado, a Compal apresentou, em abril de 2009, um novo sabor na gama light: ananás hortelã, em embalagens de 200 mililitros e de um litro, pensado especialmente para o público feminino10 10 Ver http://www.hipersuper.pt. e, naturalmente, inspirado nos tradicionais sumos naturais de abacaxi com hortelã, consumidos um pouco por todo o Brasil.

V

Se recuperarmos as palavras de Gilberto Freyre (1969, p. 12), "a verdade, porém, é que a cozinha brasileira, importante como é, sob o aspecto de conjunto nacional das cozinhas regionais - a amazônica, a maranhense, a sertaneja, a cearense, a pernambucana, a baiana, a mineira, a fluminense, a gaúcha - vai além como conjunto nacional: é a parte hoje mais rica de um conjunto transnacional de cultura, isto é, o lusotropical", seremos tentados a tentar perceber de que estados são oriundos os brasileiros estantes em Portugal, de que maneira sentem ou não falta dos produtos típicos das suas culinárias e o que oferecem os restaurantes étnicos aos paladares portugueses.

O Brasil, dividido política e administrativamente em 27 unidades federativas - 26 estados e um distrito federal - com uma densidade populacional muito variável, tem uma área total de aproximadamente 8.514.877 quilómetros quadrados e, segundo dados de 2008, cerca de 193 milhões de habitantes. Naturalmente que os imigrantes brasileiros em Portugal não provêm de forma equitativa de cada um dos estados. Sabe-se, por exemplo, que o de Minas Gerais, nomeadamente a região de Governador Valadares, é um grande centro de imigração (Machado, 2006, p. 7). Mas os censos oficiais não têm dado a conhecer a origem dos imigrantes brasileiros residentes em Portugal.

Sabendo-se que a presença de uma comunidade estrangeira numericamente significativa num determinado país dá origem quer à abertura de pequenas lojas de produtos antes inexistentes no país de acolhimento e integrantes do quotidiano das pessoas que se deslocaram, chegando à banalização dos produtos disponibilizados em supermercados (Petitdemange, 2000), quer ao comércio paralelo, tentei sondar que novidades ao nível alimentar brasileiro conheceu Portugal nos últimos anos. Para tentar averiguar como se podem conhecer os sabores do Brasil em Portugal e quais predominam, realizei um questionário e procurei informar-me sobre os chamados restaurantes étnicos, aproximando-me da sociologia da alimentação.

O método de obtenção de dados foi um questionário realizado por entrevista pessoal e por autoadministração, respondido por 265 pessoas nos meses de fevereiro e março de 2009. Visou brasileiros que vivessem em Portugal há pelo menos um mês ou que tivessem vivido no último ano por um período não inferior a um mês. Assim, independentemente da situação em face da lei e de possuírem ou não um visto de estudo ou de trabalho, uma autorização de residência ou de permanência, pretendeu saber-se sexo, idade, estado de onde eram oriundos, atividade a que se dedicavam, prato brasileiro preferido, quais os alimentos que consumiam no Brasil e não conseguiam encontrar em Portugal, quais os alimentos brasileiros que consumiam em Portugal e, finalmente, onde conseguiam obtê-los.

Verifiquei que do ponto de vista socioprofissional, o inquérito abrangeu pessoas de todos os grupos. Nem todos os indivíduos indicaram a atividade que desempenhavam. Entre os que o fizeram, encontram-se aposentados (dois) médicos (sete), professores de vários níveis de ensino (20) e estudantes (23), nesse caso com claro predomínio para os universitários, passando pelos operários (20). Lugar de relevo para os que desempenhavam funções nas áreas do comércio (46) e dos serviços (80), estes últimos os que estiveram representados em maior quantidade.

O grupo foi constituído por 171 mulheres e 94 homens, os quais representaram 65% e 35%, respectivamente. Tinham idades compreendidas entre os 14 e os 74 anos, predominando a população até aos 40 anos, a qual representa 69% entre o universo dos inquiridos.

A maioria dos inquiridos estava em Portugal há menos de cinco anos, o que nos leva a interrogar se parte dos imigrantes da primeira vaga procuraram outros destinos ou regressaram ao Brasil. Efetivamente, 165 pessoas, 62,3% do total, encontram-se nessa situação, enquanto os que vivem no país por um período de entre seis e dez anos constituem um grupo de 70 indivíduos, isto é, 26,4%. Apenas 30, representando 11,3%, estavam há mais de 11 anos.

Entre os 265 inquiridos, não se acham representantes de cinco unidades federativas: Acre, Amapá, Paraíba, Rondônia e Roraima. Em contrapartida, destacam-se, por ordem decrescente, os oriundos dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Dado que o questionário foi distribuído a partir de Lisboa, a esmagadora maioria das respostas foi dada por pessoas que moram na cidade - em número de 183 - a que acrescem muitas outras residentes no próprio distrito de Lisboa. Contudo, conseguiu obter-se entrevistados de outros pontos do país como Porto, Santarém, Abrantes, Évora e diversas localidades algarvias. Note-se que as respostas dos inquiridos exteriores ao distrito de Lisboa em nada diferem das dos seus conterrâneos espalhados por outros pontos de Portugal. De qualquer modo, saliente-se que o número de inquéritos obtidos não permite extrapolar conclusões válidas para toda a comunidade. Trata-se apenas de tentar perceber gostos, dificuldades e facilidades na obtenção de alimentos e não de generalizar conclusões de forma abusiva.

Se por um lado se tem assistido à mundialização dos alimentos e dos gostos, por outro lado, as resistências podem ser significativas desde a valorização das preferências e dos sabores locais até ao aparecimento de grupos como os locavores, ou seja, pessoas que se comprometeram a comer apenas produtos locais produzidos, preparados e embalados num raio de 160 quilómetros. Assim, procurei saber como se colocaram os brasileiros em Portugal, tendo em conta o posicionamento metodológico de Martin Bruegel e Bruno Laurioux (2002, p. 11), segundo o qual

l'alimentation d'un peuple, d'un groupe ou d'un individu, s'élabore à l'intersection des contingences matérielles et des dispositions mentales: parmi tout l'éventail des denrées disponibles, les acteurs sociaux font un choix qui discrimine entre le comestible et l'immangeable, le potable et l'imbuvable; d'autre part, ils hiérarchisent les nourritures, les techniques, les comportements à table. Ces opérations de classification aboutissent à la construction d'un répertoire alimentaire singulier qui, par sa composition et par ses opérations qu'il autorise sur ses composants, distingue les groupes les uns des autres.

Partindo da premissa que identifica cozinha como linguagem de identidade visível através das escolhas alimentares e das maneiras de preparar e consumir os alimentos verifiquei que, no Brasil, ao contrário do que acontece na Europa, uma refeição completa compreende arroz, feijão, alguma preparação com carne, complemento, salada e sobremesa (Poulain; Proença, 2003, p. 369), daí não ser de estranhar o facto de muitas pessoas referirem como prato preferido carne, arroz e feijão. Nessa situação encontraram-se 46 entrevistados, oriundos das várias unidades federativas. Efetivamente, uma das diferenças, em termos de consumo alimentar, salientadas pelos brasileiros diz respeito à variedade das refeições portuguesas, em que as pessoas tentam comer pratos diferentes cada dia. Essas situações são particularmente vividas pelos que se alojam em casas de famílias portuguesas, por exemplo arrendando um quarto.

Apesar das eventuais limitações de algumas respostas fornecidas quando se realizam questionários - dados deformados por esquecimento ou até mesmo por negação e da diferença entre o que faz e o que afirma fazer - creio que carne, feijão e arroz, feijoada brasileira e churrasco são os pratos mais apreciados pelos inquiridos. Efetivamente, a feijoada aparece entre a preferência mais significativa para 58 pessoas dos estados de Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. O popular churrasco do Sul do Brasil aparece em segundo lugar, com 25 menções, não se limitando a ser o prato preferido de alguns naturais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Efetivamente, também tem adeptos entre os oriundos do Distrito Federal e dos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Sergipe e Tocantins. Com igual número de menções, aparece a picanha, com apreciadores igualmente um pouco por todo o lado: Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Se juntarmos os que preferem churrasco e picanha, ainda assim, a primazia da feijoada fica intocável.

Mineiros e baianos não esqueceram os seus pratos típicos. Os adeptos do feijão tropeiro e de carne assada com farofa, costelas e costelinhas mineiras, frangos e galinhas caipiras ou ao molho pardo e tutu à mineira são sobretudo mineiros, embora o feijão tropeiro, com 18 menções, tenha entusiastas igualmente entre pessoas da Bahia, do Espírito Santo, de Goiás e de São Paulo. Já no que se refere à comida baiana, acarajés, bobós de camarão, moquecas de peixe e de camarão e vatapás são habitualmente referidos. As moquecas lideram, com 23 menções. De novo estamos perante um prato apreciado não apenas por baianos como também por pessoas do Espírito Santo - algumas das quais referiram a moqueca capixaba - Rio de Janeiro e São Paulo.

Entre os pratos preferidos referência ainda para um conjunto muito diversificado, mas mais uma vez com predomínio da carne. De entre outros: arroz carreteiro (Rio Grande do Sul), arroz de pequi (Goiás), baião de dois (Ceará), carne de sol com pirão de leite (Nordeste), caruru (Bahia); cuscuz (São Paulo), frango com angu e quiabo (Minas Gerais), galinhada (Minas Gerais), músculo com pinhão (Paraná), torta de camarão com arroz de cuxá (Maranhão); vaca atolada (Minas Gerais) e virado à paulista. Algumas pessoas não deixaram de referir pratos comuns no Brasil, mas não brasileiros, tais como lasanha, pizza e estrogonofe.

Ora, essas indicações levam à tão discutida questão do prato nacional. Uma escolha que é, como defende Annie Hubert (2000), pensada e imposta pelo poder político visando centralizar e uniformizar. Na realidade, parece difícil para os cidadãos de um determinado país elegerem um prato nacional pois as cozinhas regionais têm fortes conotações culturais. Ora, se tal é uma realidade na Europa, ainda é mais significativa no Brasil, um país com escala de continente, composto por 27 unidades federativas. Assim, o prato nacional, a feijoada ou, se quisermos, os pratos nacionais, a feijoada e o churrasco, emergem sobretudo no exterior, como imagem de identidade, como sinónimo do que reforça e torna coeso o grupo, sobretudo entre os imigrados.

Que alimentos lamentaram os brasileiros não poder consumir em Portugal? As respostas foram as mais variadas e abrangeram carnes, peixes, frutas e legumes, mas também pratos específicos e produtos de determinadas marcas. Treze pessoas afirmaram que em Portugal havia todos os alimentos brasileiros que necessitavam. Uma, no entanto, salientou que não tinham o mesmo sabor. Porém, a maioria fez notar faltas. Nas carnes, aparecem 84 referências: 22 respeitam a carnes brasileiras genericamente ou certos cortes (cupim e picanha), linguiças, mortadelas e salames foram referidos em 14 casos, enquanto a carne de animais específicos foram lembrados por poucos: capivara (um), chester (um), jabá (um) e tatu (um). Mas foi a carne salgada, denominada de diferentes maneiras, que obteve mais relevância, com 54 menções: a carne de sertão (um), o charque (seis), a carne de sol (20) e a carne seca (27) que mais foram lembrados. Na área piscícola, os brasileiros não sentem tantas faltas. Apenas 12 referências, cinco das quais com especificações: peixes de água doce (um), da bacia amazónica (um), pirarucu (um), tainha (um) e piaba e surubim (um). A falta de camarão seco foi notada por 10 pessoas. Caranguejos e siris também foram lembrados por dois baianos.

Frutas e legumes mereceram muitas menções. No primeiro caso, mais de 30 entrevistados referiram as frutas em geral. Outros foram mais específicos e lembraram: abacaxi (dois), açaí (oito), acerola (oito), araçá (um), bacuri (um), banana-maçã (um), banana-ouro (um), banana-prata (oito), banana-da-terra (três), cajá (três), caju (seis), carambola (um), coco (cinco), cupuaçu (um), fruta-de-conde (quatro), goiaba (nove), jabuticaba (oito), jaca (cinco), mamão (quatro), mangaba (um), maracujá-azedo (um), murici (uma), papaia (cinco), pequi (cinco), pitanga (três), poncãs (um), pupunha (um) e umbu (um). Nos frutos secos apenas foi notado o pinhão de araucária, por pessoas oriundas do Paraná e de Santa Catarina. Referência ainda para a água de coco, o caldo de cana e as polpas de frutos. No que se refere aos vegetais, por uns referidos genericamente e por outros especificados, foram notados: abóbora-moranga (quatro), abobrinha (um), aipim (dois), batata-baroa, também referida como mandioquinha (sete), batata-doce (um), cará (dois), chuchu (um), inhame (três), macaxeira (dois), mandioca (seis), milho (seis) e quiabo (17).

Outros produtos foram tidos como inexistentes em Portugal: as farinhas, com 23 referências - genéricas (sete), farofa (seis), farinha-d'água (um), de mandioca (quatro) e de milho (cinco) -, os feijões, com 25 menções - nomeadamente carioca, carioquinha, preto, roxo e para acarajé, isto é, feijão-frade - o óleo de dendê e o de pequi, o mate (nove), o polvilho, alguns queijos - catupiry (17), coalho (cinco), minas (15), provolone (cinco), requeijão (dois) e ricota (um) - e os temperos.

Ao verificarmos a lista, podemos concluir que uma boa parte dos alimentos apresentados como inexistentes em Portugal estão disponíveis quer em grandes superfícies quer em lojas especializadas. Efetivamente, as exceções são as carnes e os peixes da fauna americana, as frutas do Nordeste e da Amazónia além da batata-baroa, da mandioquinha e do cará. O mesmo se pode afirmar em relação aos queijos de minas e catupiry, mais difíceis de encontrar.

Alguns inquiridos preferiram indicar doces e salgados, em vez de alimentos propriamente ditos. Assim, entre os pratos e outros salgados que lamentaram não encontrar contam-se abará (um), acarajé (cinco), arroz de carreteiro (um), baião de dois (um), batata recheada (um), bobó de camarão (um), bobó de frango (um), bode assado (um), buchada de bode (um), cachorros-quentes, prensados ou de boa qualidade (três), caldo de piranha (um), carne assada (um), caruru (dois), churrasco (um), cozido (um), cuscuz (cinco), cuxá (um), feijoada (seis), frango caipira (um), lasanha (três), macarronada (um), mocotó (um), pamonha (17), pão de queijo não industrializado (quatro), pão francês (sete), pastel de angu (um), pastel de vento (um), pizza (um), rabada (dois), tacacá (dois), tutu (um) e vatapá (cinco). Entre os doces: arroz-doce (um), bananada (um), biscoito (um), bolo de fubá (um), brigadeiro (um), cajuzinho (um), canjica (um), churros (um), cocada (um), curau (um), doce de banana (três), doce de caju (um), doce de figo (um), doce de leite (13), paçoca e paçoquinha (quatro), pipoca doce (um), rapadura (sete), rocambole de arroz (um), sagu (um), sorvete de açaí (um) e tapioca (12). Mais uma vez se detecta que uma boa parte dos preparados se pode encontrar em Portugal, mormente em restaurantes brasileiros, havendo alguns pratos italianos e árabes disponíveis em diversos locais. No que se refere aos preparados doces, bons supermercados e casas gourmet também disponibilizam alguns.

Muitas pessoas não fazem a destrinça entre alimento e produto já elaborado. Daí referirem marcas de produtos das quais sentem falta. Entre as que mais referências mereceram contam-se o guaraná Antarctica e a cerveja Skol. Porém, também foram mencionados a cerveja Brahma, os chás-mate Leão, os chocolates Bis e Garoto, a farofa Yoki, a massa de pastel Paviolli e o sumo de soja Ades, para nos cingirmos apenas aos que são mesmo brasileiros.

Tendo sido perguntado que alimentos e produtos alimentares os brasileiros consumiam habitualmente em Portugal, alguns dos inquiridos enunciaram exatamente alguns dos que outros consideravam inexistentes em Portugal. Assim, foram arrolados os diferentes tipos de farinhas e de feijões, mas também aipim, chuchu, erva-mate, jiló, goiabada, leite de coco, mandioca, milho, óleo de dendê, palmito, polvilho, polpas de frutas congeladas, pão de queijo e quiabo.

De notar que uma nutricionista de São Paulo, estante em Portugal há quatro anos, afirmou ter procurado conhecer os alimentos e os pratos típicos de Portugal e a eles se ter adaptado, uma professora do Rio Grande do Norte, moradora em Portugal por temporadas, afirmou ter procurado adaptar-se à dieta local utilizado os produtos similares aos que utilizava no Brasil, enquanto uma professora de dança, residente há quatro anos, testemunhou ter-se adaptado aos hábitos alimentares portugueses de tal modo que não procura os alimentos brasileiros.

Aos inquiridos foi perguntado como obtinham alimentos brasileiros: em supermercados, lojas especializadas, trazidos por familiares e amigos ou em outras situações. Esse grupo de perguntas foi o que mais incomodou a comunidade, pois alguns dos inquiridos pretenderam ver alguma intenção escusa nessa questão. De qualquer modo, produtos adquiridos em grandes supermercados - Continente, El Corte Inglés, Feira Nova, Jumbo, Modelo e Pingo Doce - foram objeto de resposta por parte de 204 pessoas. As lojas especializadas, localizadas em Lisboa, Amadora e Porto, foram referidas por 114 pessoas. Já o papel de familiares e amigos só mereceu 66 respostas. No domínio das outras situações, cinco pessoas referiram a aquisição de produtos em lojas indianas, seis notaram a compra em lojas de produtos africanos, afins a muitos utilizados na culinária baiana; outras duas deram conta da importância das semanas gastronómicas do Brasil promovidas por vários supermercados e por outras instituições, três lembraram os restaurantes, duas afirmaram plantar maxixe pois viviam no meio rural e um indivíduo afirmou obter comida brasileira através de uma cunhada que trabalhava num restaurante e trazia os restos.

Outra forma de consumir alimentos e pratos brasileiros é através da frequência de restaurantes. A restauração étnica está limitada às grandes cidades e é atualmente inferior a 10% em face do total (Cozinhas do Mundo..., 2009, p. 194-208; Norte et al., 2004, p. 36).11 11 Ver também http://www.lifecooler.com e http://www.guiadacidade.pt. Implica não só a aproximação entre autóctones e imigrantes como constitui uma fonte de emprego para os próprios imigrantes, se bem que estes não sejam os únicos a trabalhar na primeira, ao mesmo tempo que permite aumentar as opções gastronómicas do país receptor (Montanha, 2007, f. 81-85, 29, respectivamente). No caso dos restaurantes brasileiros em Lisboa sabe-se que a decisão para investir no sector foi marcada pela procura dos membros da comunidade que chegava e desejava comer os alimentos da sua zona de origem, o que potencializou a regionalização (cozinha baiana, mineira, gaúcha), apesar de se saber também que há investidores portugueses donos de restaurantes brasileiros (alguns dos quais viveram antes no Brasil) e que a maioria dos clientes dos restaurantes brasileiros é de origem portuguesa (Montanha, 2007, f. 39-41).

A expansão dos restaurantes brasileiros em Lisboa deu-se entre 1996 e 2000, período em que abriram centros comerciais como o Vasco da Gama e em que decorreu a Expo 98, em cujo Parque das Nações se concentram vários. É também, como vimos, um período de crescente presença de imigrantes brasileiros em Portugal. Alguns dos estabelecimentos albergam na ementa não só pratos brasileiros como também alguns portugueses e até italianos e africanos (Montanha, 2007, f. 57-59). Não obstante, a primeira oferta culinária brasileira na capital é anterior e data de 1981. Referimo-nos ao restaurante Comida de Santo, fundado por um português que aprendeu a cozinhar em Salvador. O espaço é marcado pela cozinha baiana, através de entradas como casquinha de siri e de pratos como moqueca de peixe ou de camarão, bobó de camarão, vatapá, de entre outros. Porém, não se descuidaram receitas de espaços diversos, como, por exemplo, a feijoada, o virado à paulista e o picadinho à mineira. Entre as sobremesas, destaquem-se o quindim e a bananada.

Naturalmente que os restaurantes brasileiros, sobretudo os que apresentam especialização regional, não descuram a decoração dos espaços, recorrendo ao artesanato, nomeadamente com a utilização de miniaturas de instrumentos musicais, pinturas naïf, esculturas de animais da fauna brasileira e até arranjos decorativos com frutas tropicais. Utilizam igualmente produtos brasileiros para a preparação dos pratos, valendo-se de importadores, e, muito raramente, procurando a importação direta (Montanha, 2007, f. 64-70). A presença de exposições temporárias de pintura e escultura brasileiras e de música ao vivo também faz parte das atrações apresentadas por alguns espaços, como por exemplo o Aquarela do Brasil, em Paço de Arcos, ou o Pindorama, em Cascais. Referência ainda para os rodízios, especializados em carnes, cuja introdução em Portugal constituiu uma novidade.

Qual o peso dos produtos alimentares brasileiros nas importações portuguesas? Em meados dos anos 1990, aumentam as relações económicas bilaterais entre Portugal e o Brasil. De facto, com a implementação do Plano Real, em 1994, o Brasil intensificou as relações económicas com Portugal, prática facilitada pela redução da taxa de inflação e pelas privatizações nos sectores da energia e das telecomunicações. O investimento português no Brasil cresceu, centrando-se especialmente nas atividades imobiliárias, nos transportes e telecomunicações e na produção de eletricidade, gás e água. As empresas de maiores dimensões foram as primeiras a investir entre 1995 e 1999, anos que correspondem ao período das privatizações de uma boa parte das empresas estatais brasileiras do sector das concessões: telecomunicações, eletricidade, água e saneamento (Costa, 2003, f. 227-235, passim). Paralelamente, as importações e as exportações entre os dois países aumentaram de forma generalizada, apresentando-se a balança de pagamentos com um deficit sempre desfavorável a Portugal. Relativamente à posição relativa enquanto parceiro comercial, o Brasil representava, em 2001, 1,15% das importações portuguesas e 0,65% das exportações. Em 2004, enquanto fornecedor português, o Brasil posicionou-se em nona posição e enquanto cliente na 19a. Entre as exportações portuguesas destaque para o azeite e para o vinho. No que se refere às importações, salientem-se a soja e derivados. Efetivamente, soja, bagaço de soja, frutas, milho, resíduos de indústrias alimentares, carne, açúcar, café e tabaco representaram 32,4% das importações do Brasil, em 2003 e 34,8% em 2004 (Carvalho, 2007, Leitão, 2002, f. 64).

Os dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística referem-se à globalidade das trocas e não especificam os alimentos. Assim, tendo em conta dados relativos a 2007, o Brasil representou 2,4% das importações portuguesas (A Península Ibérica..., 2008, p. 24). Os últimos dados disponíveis respeitam a outubro de 2008. O total das importações de Portugal foi de 5.283.409.247 euros, sendo as do Brasil no valor de 52.064.309 euros, dividindo-se os alimentos e os produtos alimentares por diversas categorias: animais vivos e produtos do reino animal (1.762.174 euros), produtos do reino vegetal (20.543.933 euros), gorduras e óleos animais ou vegetais, produtos da sua dissociação, gorduras alimentares elaboradas e ceras de origem animal ou vegetal (141.385 euros), produtos das indústrias alimentares, bebidas líquidos alcoólicos e vinagres, tabaco e seus sucedâneos manufaturados (3.699.561 euros).12 12 Ver http://www.ine.pt.

A pressão da procura levou, nos últimos anos, à abertura de pequenas lojas especializadas em produtos brasileiros, sobretudo nas grandes cidades, e ao enriquecimento das ofertas dos médios e grandes supermercados. Antes, apenas as lojas de produtos africanos - algumas situadas na Rua do Arsenal (Lisboa) e no Largo Martim Moniz (Lisboa) - podiam suprir algumas das necessidades da comunidade brasileira residente em Portugal.

Um guia de 2006, destinado a informar acerca da diversidade gastronómica oferecida em Portugal, não registou nenhum estabelecimento especializado em produtos brasileiros. As ofertas limitavam-se a lojas de alimentos africanas, asiáticas (chinesas e japonesas), indianas e da Europa de Leste (Sabores do mundo, 2006, p. 82). Em 2009, a situação já conhecera alterações. Encontram-se casas de produtos brasileiros - alimentares e de higiene e beleza - no Porto, na Amadora e, sobretudo, em Lisboa. Entre as da capital, podem citar-se o Cantinho Luso-Brasileiro, que pretende abrir uma filial em Leiria, e o Sabor a Brasil. Algumas lojas de indianos disponibilizam igualmente iguarias e produtos de higiene e beleza brasileiros.

Transmissões, recepções e transformações alimentares estão em curso, tanto para os brasileiros imigrados em Portugal - que saboreiam e tendem a elaborar alguns pratos portugueses - quanto para os portugueses - que frequentam restaurantes brasileiros, consomem produtos oriundos daquele país e elaboram receitas culinárias disponíveis em livro ou através da internet - pois, como se sabe, a curiosidade, o interesse e o acesso aos pratos diferentes é proporcional ao alargamento dos contactos, à maior vastidão de relações e ao mais significativo poder económico e cultural.

Recebido em: 16/07/2009

Aprovado em: 26/03/2010

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    A obtenção das respostas ao inquérito aqui trabalhado só foi possível com diversas colaborações, a dos que se prontificaram a responder e a de todos - e foram muitos - os que ajudaram a conseguir obter respostas. Nesse sentido, merecem especiais agradecimentos os que mais ativamente colaboraram nessa atividade, nomeadamente, no meio universitário, os Colegas Prof
    a Dr
    a Inês de Ornellas e Castro, Prof
    a Dr
    a Fátima Hanaque e Prof. Dr. Luís de Araújo e as antigas alunas Ms. Ana Cristina Pereira, Dr
    a Maria de Jesus Assunção e Dr
    a Maria Elsa Mourão, a quem também devo o desenho do mapa de Portugal. Fora do meio universitário, os maiores encómios são para as Senhoras Dr
    a Patrícia Pratas, Dr
    a Paula Dinis, D. Andradina Pestana, D. Gislaine Peixoto, D. Irene Oliveira e para o Senhor Márcio Sousa Santos.
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2010

    Histórico

    • Recebido
      16 Jul 2009
    • Aceito
      26 Mar 2010
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