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A (i)mobilidade e a pandemia nas paisagens haitianas

(I)mmobility and the pandemic in Haitian landscapes

Resumo

A mobilidade é constitutiva das paisagens haitianas, no território nacional e na diáspora. Há décadas, boa parte da população circula em escalas local, nacional e transnacional em busca de uma vida melhor, visando contribuir para a manutenção econômica e emocional das pessoas que ficam. Este texto oferece um panorama dos efeitos dramáticos produzidos pelo novo coronavírus na mobilidade haitiana. Retornos voluntários e involuntários (como no caso das deportações dos Estados Unidos), diminuição sensível do envio de remessas em dinheiro, restrições ao comércio e ao vaivém entre o campo e a cidade, e entre a capital do país e os centros comerciais haitianos fora do território nacional (em especial na República Dominicana e na América do Norte) são algumas das consequências mais notáveis das restrições à mobilidade suscitadas pela pandemia. O artigo mostra as implicações econômicas e sociais e o sofrimento imposto pela imobilidade, ainda que, até o momento, os efeitos epidemiológicos do Sars-CoV-2 no Haiti estejam longe das predições dramáticas realizadas no início da pandemia.

Palavras-chave:
Covid-19; Haiti; mobilidade; imobilidade e vida

Abstract

The mobility is constitutive of the Haitian landscapes, in the national territory and in the diaspora. For decades, a large part of the population has been moving on local, national and transnational scales to seek a better life and to contribute to the economic and emotional care of the people who stay. This text offers an overview of the dramatic effects produced by the new coronavirus on the Haitian mobility. Voluntary and compulsory returns (as in the case of deportations from the United States), a significant decrease in the sending of cash remittances, restrictions on trade and on the back and forth between the countryside and the city, and between the Haitian capital and commercial centers outside the national territory (especially in the Dominican Republic and North America), are some of the most notable consequences of the restrictions on mobility caused by the pandemic. The article shows the economic and social implications, and the suffering imposed by immobility, despite the fact that the epidemiological effects of SARS-CoV-2 in Haiti have so far been far behind the dramatic predictions made at the beginning of the pandemic.

Keywords:
COVID-19; Haiti; mobility; immobility and life

Na tarde do dia 19 de março, o presidente Jovenel Moïse anunciou os dois primeiros casos de Covid-19 no Haiti, declarando estado de urgência sanitária e anunciando as primeiras medidas governamentais, notadamente um programa de proteção social para combater os efeitos econômicos da pandemia. Rapidamente nos principais jornais impressos e televisivos do país e da diáspora, nas casas e nas ruas, as pessoas comentaram o assunto, kowona sou nou (o coronavírus chegou).1 1 Bulamah (2020) e Mézié (2020) descrevem os rumores que rodearam o surgimento do novo coronavírus no Haiti.

No Haiti, até o mês de fevereiro, a Covid-19 era considerada uma doença de blan.2 2 Blan é uma categoria utilizada para denominar o outro, o estrangeiro, o branco, mas também serve para qualificar objetos e comportamentos como quando se afirma que alguém faz coisa de blan. Sobre a pragmática do conceito de blan no Haiti, ver Joseph (2015). O vírus circulava fora do país e atingia os haitianos na diáspora,3 3 No universo social haitiano, diáspora (dyaspora, em crioulo) é uma categoria prática que serve para designar espaços geográficos (os principais são Estados Unidos, França, Canadá), e também como substantivo e adjetivo para qualificar pessoas (moun dyaspora), objetos (como o dinheiro que chega de fora, lajan dyaspora, principalmente o dólar americano e o euro) ou as casas das pessoas que moram no exterior (kay dyaspora). O termo é empregado em diversas formas com distintas conotações: ser diáspora, ter objetos diáspora, se comportar do jeito diáspora. Sobre a pragmática do conceito, ver Joseph (2015, 2019, 2020). Ver também Audebert (2012). principalmente na França e nos Estados Unidos. O Sars-CoV-2 teria sido introduzido no território haitiano, em meados de março, por um blan que viajou para a Espanha e os Estados Unidos e por um músico haitiano de passagem pela França.

Três dias após o anúncio presidencial, circulou nas redes sociais um vídeo que mostrava uma comerciante haitiana expressando sua indignação pelo modo como o governo lidava com a pandemia:

O presidente pede para ficarmos em casa, mas em quais condições? Tenho seis filhos, sustento minha mãe, meu pai, tenho um irmão mais jovem que sustento. É aqui que eu me viro, você acha que posso ficar em casa com as mãos abanando? Ele [o presidente] deve dar uma ajuda às pessoas, deve fazer como os países estrangeiros. Posso compreender que não dá para ajudar a todos, mas deve auxiliar do jeito que puder. Pede para a gente ficar em casa, é para a gente morrer? Se ficarmos em casa, não é o coronavírus que vai nos matar, mas é a fome, a miséria. Não temos hospital, não temos nada, qual é a preparação que fez para o coronavírus que está chegando? Não fez nada. Disse para todos os pobres que devem ficar em casa. É morrer. Devemos morrer? Imagina, estou acostumada a cozinhar 8 kg de arroz para vender na rua, mas agora não há movimento, fui obrigada a cozinhar só 2 kg. Se eu ficar em casa, vou morrer. Enquanto isso, ele está com a geladeira cheia, todas as autoridades têm condições, e eu não tenho nada, é num país pobre que vivo, sou obrigada a aceitar, não importa que eu morra, é na rua que vou morrer.4 4 No original: “Prezidan an mande pou nou rete lakay nou, men ki sa k nan men nou? Mwen gen 6 pitit, manman m sou kont mwen, papa m sou kont mwen, mwen gen yon ti frè m ki sou kont mwen. Se la m ap degaje m, eske w panse mwen ka ale chita lakay mwen ak de pò bouda m? Fòk li bay chak moun yon bagay, se pou l fè men m jan ak peyi etranje. Mwen ka konpran nou pa ka satisfè tout moun, men satisfè jan w kapab. Ou mande pou n ale lakay nou, sa vle di se pou n ale mouri? Si n ale chita lakay nou kounia, se pa kowona non k ap tiye nou, se lafen, grangou, mizè. Nou pa gen lopital, nou pa gen anyen, ki preparasyon ou fè pou kowona a k ap vini a? Li pa fè anyen. Epi l di pou tout malere al chita lakay yo, se mouri pou n al mouri? Imajine w, mwen abitie kwuit 8 mamit diri pou vann nan lari, men kounia pa gen lavant, mwen oblije kwuit 2 mamit. Si m ale chita lakay mwen, se mouri mwen pral mouri. Epi li menm frigidè l plen, tout otorite yo gen bagay nan men yo, mwen menm, mwen pa gen anyen nan menm, se nan yon peyi pòv m ap viv, mwen aksepte, zafè mwen mouri, se nan lari a m ap mouri.”

Relatos como esse ilustram sofrimentos e sentimentos de indignação que podemos encontrar em vários outros lugares, muito além do Haiti. Para boa parte da população mundial, a vida depende do movimento, da economia de rua, do ir e vir entre o campo e as cidades, da mobilidade nos circuitos internacionais nos quais se geram as remessas enviadas aos que residem no país. Pessoas, lugares, economias em movimento em diferentes escalas.5 5 Segundo o Instituto Haitiano de Estatística e de Informática, o país conta com uma população de mais de 11 milhões de habitantes (Institut Haïtien de Statistique et d’Informatique, 2020), sendo que, destes, mais de 3 milhões residem em Port-au-Prince. Outros 3 milhões vivem na diáspora, particularmente nos Estados Unidos, na República Dominicana, no Canadá, na França e, mais recentemente, no Brasil e no Chile.

Neste texto, examinamos as relações entre mobilidade e imobilidade nas paisagens haitianas, no território nacional e na diáspora. Mostramos como ambos os conceitos remetem ao espaço e ao território e, também, a escalas diferentes:6 6 Sobre a multiescalaridade das paisagens haitianas em movimento, ver Neiburg (2020a). o confinamento nas casas, as restrições às viagens dentro dos territórios nacionais e entre as fronteiras, o efeito sobre as remessas internacionais e sobre o comércio de curta e longa distância, aspectos centrais nas formas por meio das quais as pessoas buscam uma vida melhor para si e para seus próximos. Mostramos também como as relações entre mobilidade e imobilidade se apresentam de forma diferenciada, acentuando as desigualdades.

A pandemia do novo coronavírus ocorre em um momento no qual o mundo apresenta um intenso crescimento dos deslocamentos de população, o número de migrantes tendo atingido 272 milhões em 2019.7 7 Ver Le nombre… (2019). O conceito de mobilidade é um novo paradigma (nos termos de Sheller e Urry, 2006SHELLER, M.; URRY, J. The new mobilities paradigm. Environment and Planning A, v. 38, n. 2, p. 207-226, 2006.) que substitui as formas anteriores de se conceituar as migrações e a circulação de pessoas, objetos, ideias e dinheiro. O foco não mais recai sobre as pessoas que saem de um local de origem para chegar em um local de destino, ou sobre as práticas transnacionais estabelecidas através de “campos sociais que transpõem fronteiras geográficas, culturais e políticas” (Basch; Blanc-Szanton; Glick-Schiller, 1992BASCH, L.; BLANC-SZANTON, C.; GLICK-SCHILLER, N. Transnationalism: a new analytic framework for understanding migration. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 645, n. 1, p. 1-24, 1992., p. 1, tradução nossa), mas sobre os modos de se viver em movimento (Ingold, 2011INGOLD, T. Being alive: essays on movement, knowledge and description. London: Routledge, 2011.).

No caso haitiano, como em tantos outros, no horizonte dos movimentos que permitem procurar uma vida melhor fora do país, encontra-se a obrigação moral de contribuir para a vida dos que ficam no território nacional e, ao mesmo, tempo, abrir as portas, fazer o caminho, para os que virão depois. A mobilidade territorial, o trânsito entre fronteiras, o tempo que se vive em um local, enquanto permanentemente se avaliam as possibilidades de trazer mais alguém (voye chache, fil para os que ficam) ou se deslocar de novo, constitui uma forma de procurar a vida (chache lavi) que é, ao mesmo tempo, pessoal e coletiva, material e moral - pois implica quem se desloca e as pessoas com quem mantém relações, se fazendo pessoas conjuntamente - envolvendo, por exemplo, a procura por dinheiro e também a procura de uma vida melhor e plena, mesmo nos contextos da maior escassez e penúria.

O Haiti e a (i)mobilidade

No Haiti, aproximadamente 80% da população vive com menos de dois dólares por dia, percentagem semelhante não possuindo salário ou emprego fixo (Programme des Nations Unies pour le Développement, 2020PROGRAMME DES NATIONS UNIES POUR LE DÉVELOPPEMENT. A propos d’Haïti. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.ht.undp.org/content/haiti/fr/home/countryinfo/ . Acesso em: 14 jun. 2020.
https://www.ht.undp.org/content/haiti/fr...
). Aquilo que a literatura costuma descrever com o termo “informalidade” é de fato um sinônimo de mobilidade: se não há salário com alguma estabilidade, é preciso mexer-se, pular de um bico a outro, estar sempre atento, cultivar o senso de oportunidade, procurando uma vida melhor em movimento, se deslocando nos territórios que conformam as paisagens haitianas, no país e na diáspora, nas ruas e nas estradas.

Por outro lado, as remessas enviadas pelos haitianos que circulam entre os diferentes espaços da diáspora conformam aproximadamente 35% do PIB nacional, em muitos casos constituindo a única renda relativamente regular dos lares, além de servirem para o custeio de eventos extraordinários, como os ligados ao ciclo da vida, nascimentos, casamentos, doenças e morte. Da mesma forma como ocorre com outros migrantes, boa parte dos haitianos (nos Estados Unidos, principalmente, onde se concentra seu maior contingente) ocupa posições desvalorizadas no mercado de trabalho, ou seja, aquelas mais diretamente afetadas pela precariedade estrutural e, agora, pelas medidas de distanciamento social e pelo confinamento, gerando uma diminuição dramática do volume de remessas enviadas ao país.8 8 De acordo com o Banco Mundial, essa diminuição das remessas pode alcançar 20% (Banque Mondiale, 2020b). Segundo o relatório do Banco da República do Haiti, só em março de 2020, houve uma diminuição de 8,17% em comparação com o mesmo mês do ano anterior (Banque de la Republique d’Haïti, 2020). A interdependência entre os haitianos no Haiti e na diáspora intensifica a crise provocada pela pandemia.9 9 Ver também Cela e Marcelin (2020). A fronteira com a República Dominicana, por exemplo, uma passagem-chave de pessoas e mercadorias, foi também fechada ou se estabeleceram fortes restrições limitando o vaivém que alimenta mercados e famílias nos dois países.10 10 Em 16 de março, o governo fechou a fronteira com a República Dominicana (RD), após a confirmação de 11 casos no país vizinho, autorizando somente a circulação de mercadorias e o retorno dos haitianos ao Haiti. Com o apoio da Organização Internacional para as Migrações, a Embaixada do Haiti em Santo Domingo e a Embaixada da RD em Port-au-Prince planejaram um “Plano de retorno voluntário assistido”, permitindo que mais de 100 mil haitianos retornassem ao Haiti. Além desses, há registro de 30 mil deportados, totalizando cerca de 130 mil haitianos que regressaram da RD, segundo os dados do Grupo de Apoio aos Refugiados e Repatriados. Certamente, entre as razões que motivaram esses retornos, estão a propagação do vírus na RD e a situação indocumentada da maioria deles, impedindo-os de aceder aos auxílios concedidos pelo governo e colocando-os em situação de extrema vulnerabilidade (Haïti…, 2020; Lambert, 2020).

A imobilização atravessa todas as escalas da vida das pessoas e dos coletivos humanos com efeitos devastadores. Em Port-au-Prince, logo após os anúncios do presidente, reduziu-se o funcionamento dos mercados que costumam estar abertos sete dias por semana, irrigando com bens e dinheiro circuitos nacionais e internacionais. Alguns passaram a funcionar já não todos os dias, mas de uma a três vezes por semana. Esse fato, somado às demais restrições, diminuiu drasticamente a circulação de pessoas e de objetos entre a capital e o interior, provocando reclamações (Sergo, 2020SERGO, L. J. Viração, confinamento e mercado de rua em Pétion-Ville. Observatório CEMI COVID-19, n. 49, 17 maio 2020. Disponível em: Disponível em: https://cemiunicamp.com.br/observatorio-no-49/ . Acesso em: 14 jun. 2020.
https://cemiunicamp.com.br/observatorio-...
). Como afirma Montinard (2020)MONTINARD, M. Son lari a sobre a epidemia do Covid-19. Observatório CEMI COVID-19, n. 32, 19 abr. 2020. Disponível em: Disponível em: https://cemiunicamp.com.br/observatorio-no-32/ . Acesso em: 14 jun. 2020.
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, “o confinamento não elimina a presença na rua, ele a reinventa”: é preciso maximizar os deslocamentos, diminuir os tempos, imaginar novas rotas e, também, saber esperar (sendo a espera nada passiva, mas um ato fundamental de agência individual e coletiva, cf. a respeito Hage, 2009HAGE, G. (ed.). Waiting. Melbourne: MUP Academic, 2009.).

As restrições ao movimento

A pandemia alterou o regime de mobilidade. Milhares de residentes no exterior não conseguiram retornar do Haiti aos seus países de residência. Na diáspora, milhares de afetados pela crise desejaram retornar de forma voluntária e, em outros casos, especialmente nos Estados Unidos e na República Dominicana, foram obrigados a deixar seus países de residência, tendo sido deportados para o Haiti.

Em março de 2020, a chegada de deportados dos Estados Unidos foi identificada como um dos vetores do vírus (Fortin, 2020FORTIN, O. COVID-19 et la migration de retour force en Haïti. The Interuniversity Institute for Research and Development (Blog), 1 June 2020. Disponível em: Disponível em: http://www.inured.org/blog/covid-19-et-la-migration-de-retour-forcee-en-haiti . Acesso em: 15 jun. 2020.
http://www.inured.org/blog/covid-19-et-l...
). As pessoas indocumentadas ou em situação migratória irregular são mais suscetíveis de serem descartadas, sendo expostas à Covid-19 e à morte. Nas palavras de Soledad Álvarez Velasco (2020ÁLVAREZ VELASCO, S. (In)movilidad en las Américas en tiempos de pandemia. LASA Forum, v. 51, n. 3, p. 17-23, 2020., p. 17):

Antes del COVID-19, como parte del régimen de control migratorio global, la tendencia ya era el cierre selectivo de los espacios nacionales a cuerpos racializados, empobrecidos o en necesidad de protección internacional y la adopción de políticas restrictivas que han desposeído de derechos elementales a las personas en condición de movilidad. Por eso, la movilidad desigual se ha perpetuado determinando globalmente cuáles cuerpos pueden moverse libremente y cuáles no, cómo y por dónde se mueven.

Ao mesmo tempo que as restrições à mobilidade internacional avançavam com a construção de muros legais (e a suspensão dos vistos, por exemplo), também se fechavam os aeroportos e as viagens eram reduzidas às “essenciais”. Porém, toda essencialidade responde a um ponto de vista11 11 A respeito da essencialidade em contextos de emergência, ver Neiburg (2020b). e, em sua definição, por exemplo, não foram contempladas as madanm sara, a figura clássica das mulheres comerciantes impedidas de ser o que são: “pássaros” treinados nas artes da fala e das vendas, que voam em várias direções, entre Port-au-Prince, as províncias e as capitais comerciais haitianas transfronteiriças, como Santo Domingo, Panamá, Miami ou Nova York.

As restrições ao movimento ameaçam arruinar a pequena produção agrícola e encarecer ainda mais os produtos de primeira necessidade. Mais de 80% deles são importados, principalmente dos Estados Unidos, da República Dominicana e da China (Banque de la Republique d’Haïti, 2020BANQUE DE LA REPUBLIQUE D’HAÏTI. Note sur la politique monetaire. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.brh.ht/wp-content/uploads/note_polmon2t20.pdf . Acesso em: 14 jun. 2020.
https://www.brh.ht/wp-content/uploads/no...
). A inflação já vinha crescendo desde finais de 2018, bem como a desvalorização do gourde, a moeda nacional. Em 2019, o aumento dos preços foi estimado em aproximadamente 20%, e o gourde desvalorizou-se em mais de 25% (Banque Mondiale, 2020cBANQUE MONDIALE. Haïti présentation. 11 mai 2020c. Disponível em: Disponível em: https://www.banquemondiale.org/fr/country/haiti/overview . Acesso em: 14 jun. 2020.
https://www.banquemondiale.org/fr/countr...
). Em outubro de 2019, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) emitiu um alerta, advertindo que, devido à emergência alimentar, 3,7 milhões de pessoas no Haiti necessitavam de ações urgentes para preservarem suas vidas. A FAO afirmava que, se nada fosse feito, esse quadro se agravaria dramaticamente (Integrated Food Security Phase Classification, 2019INTEGRATED FOOD SECURITY PHASE CLASSIFICATION. IPC alert on Haiti. 19 Oct. 2019. Disponível em: Disponível em: http://www.ipcinfo.org/ipcinfo-website/ipc-alerts/issue-14/en/ . Acesso em: 14 jun. 2020.
http://www.ipcinfo.org/ipcinfo-website/i...
).

Num outro plano, no Chile, que juntamente com o Brasil constitui um dos principais destinos da diáspora haitiana na América do Sul, mais de 200 homens, mulheres e crianças acamparam adiante da embaixada haitiana em Santiago, exigindo que os governos chileno e haitiano financiassem seu retorno ao país em voos humanitários. No final de agosto, uma viagem com 150 haitianos foi organizada pela Fundación Frè e o Instituto Católico Chileno de Migración (Saint-Pré, 2020SAINT-PRÉ, P. Covid-19: des Haïtiens en difficulté au Chili impatients d’être fixés sur leur date retour en Haïti. Le Nouvelliste, 10 août 2020. Disponível em: Disponível em: https://lenouvelliste.com/article/219511/covid-19-des-haitiens-en-difficulte-au-chili-impatients-detre-fixes-sur-leur-date-retour-en-haiti . Acesso em: 26 jun. 2020.
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).

Na história da mobilidade internacional haitiana, pela primeira vez após quase 30 anos, há um fluxo de retorno tão significativo. Em seis meses de pandemia, aproximadamente 200 mil haitianos regressaram ao Haiti. Esses movimentos, oriundos principalmente da República Dominicana, do Chile e dos Estados Unidos, ressignificam a mobilidade e têm um impacto na circulação do vírus e na gestão da pandemia no território nacional.

Os retornados sofrem duplamente: primeiro, pelo fato de o retorno estar associado ao fracasso do projeto de buscar uma vida melhor na diáspora, para si próprios e para os familiares que permanecem no Haiti; segundo, pelo estigma de serem vistos como aqueles que trazem a doença para o país. Alguns padecem de um duplo isolamento, pela quarentena exigida pelas autoridades sanitárias e pela rejeição moral e social que acompanha o retorno.

O último relatório do Banco Mundial, de 2016, indica que as despesas anuais do Estado haitiano na área da saúde somaram de US$ 13 por habitante (Banque Mondiale, 2016BANQUE MONDIALE. Mieux dépenser pour mieux soigner: un regard sur le financement de la santé en Haïti. 2016. Disponível em: Disponível em: http://documents.worldbank.org/curated/en/835491498247003048/pdf/116682-WP-v2-wb-Haiti-french-PUBLIC-fullreport.pdf . Acesso em: 14 jun. 2020.
http://documents.worldbank.org/curated/e...
). O principal hospital do país, situado em Port-au-Prince e dependente da Université d’État d’Haïti, ainda se encontra em reconstrução após o terremoto de janeiro de 2010. Os demais hospitais públicos e centros de saúde são praticamente disfuncionais. Em janeiro, pouco antes da Covid-19, a organização Médicos Sem Fronteiras divulgou um relatório mostrando que, uma década após o terremoto, a maioria das organizações médicas humanitárias havia deixado o país.

No entanto, durante a pandemia, houve um incremento no número de leitos, de respiradores e de profissionais da área de saúde como resultado de medidas governamentais e de organizações da sociedade civil, como a Fundación Zile, que colocou cem médicos à disposição dos governos dominicano e haitiano principalmente nas regiões fronteiriças.

Em março de 2020, foi criado o Centro de Informações Permanentes sobre o Coronavírus (CIPC) e a Comissão Multissetorial de Gestão da Pandemia, que gerencia uma ajuda emergencial de 3.000 gourdes (equivalente a US$ 27,71) destinada a 1,5 milhão de pessoas. O país recebeu equipamentos médicos vindos do exterior, principalmente da China, além da doação de 20 milhões de dólares prometida pelo Banco Mundial (Banque Mondiale, 2020aBANQUE MONDIALE. La Banque mondiale approuve un don de 20 millions de dollars pour soutenir la réponse d’Haïti face au Covid-19 (Coronavirus). 2 avril 2020a. Disponível em: Disponível em: https://www.banquemondiale.org/fr/news/press-release/2020/04/01/world-bank-approves-us20-million-grant-to-support-covid-19-response-in-haiti . Acesso em: 27 ago. 2020.
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). Ao mesmo tempo que as autoridades clamam por ajuda internacional, são acusadas pela população, diante da pequena dimensão dos auxílios redistribuídos e da má gestão dos recursos disponibilizados, atravessada pela corrupção.

A singularidade haitiana, um processo em aberto

Escrever sobre um processo em andamento como a atual pandemia envolve um enorme risco. Toda avaliação não é mais do que uma fotografia, ou um curta de um longo filme cuja duração e desenlace desconhecemos. Países que em algum momento representaram modelos de gestão da doença, posteriormente enfrentaram situações de extrema gravidade. Outros, para os quais se previam taxas de mortalidade elevadíssimas, até o presente não as enfrentaram. No momento em que escrevemos este ensaio, o Haiti encontra-se nesse segundo grupo. O país está muito longe das piores previsões que estimavam em 300 mil as mortes pela doença. Isso motivou elogios do representante da Organização Mundial da Saúde no Caribe, atribuindo a baixa propagação do vírus a uma bem-sucedida “gestão domiciliar” da doença, além da diminuição da circulação de pessoas e do controle da fronteira com a República Dominicana (World Health Organization, 2020WORLD HEALTH ORGANIZATION. Home care for patients with suspected or confirmed COVID-19 and management of their contacts. 13 Aug. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/home-care-for-patients-with-suspected-novel-coronavirus-(ncov)-infection-presenting-with-mild-symptoms-and-management-of-contacts . Acesso em: 27 ago. 2020.
https://www.who.int/publications/i/item/...
). Reforçando essa avaliação, a organização Médicos Sem Fronteiras fechou seu centro de atendimento que havia sido instalado no hospital des Grands-Brûlés de Drouillard em Cité Soleil, Port-au-Prince (St Juste, 2020ST JUSTE, E. Médecins sans Frontières sort de la Covid-19 faute de patient. Le Nouvelliste, 11 août 2020. Disponível em: Disponível em: https://lenouvelliste.com/article/219690/medecins-sans-frontieres-sort-de-la-covid-19-faute-de-patient . Acesso em: 27 ago. 2020.
https://lenouvelliste.com/article/219690...
).

A distribuição desigual da pandemia entre dois países que dividem uma mesma ilha e que estão unidos por laços históricos e por uma circulação intensa de pessoas e de mercadorias tem chamado a atenção (Figuras 1 e 2). No início, a decalagem foi atribuída a uma forte subnotificação do lado haitiano, ao déficit na testagem e à falta de registros de óbitos, além da vinculação da causa dos falecimentos a outras doenças. O fato é que, quando concluímos este artigo, mais de oito meses após os primeiros casos, o número de infectados e de mortos no Haiti permanece relativamente baixo.

Figura 1
Dados da Covid-19 no Haiti e na República Dominicana, 24 de agosto de 2020.

Figura 2
Dados da Covid-19 no Haiti e na República Dominicana, 20 de agosto de 2020.12 12 Até o momento da conclusão deste texto em 15 de novembro de 2020, a RD era o país mais afetado pela pandemia no Caribe, com quase 140 mil casos e 2.238 mortos, segundo o Boletín Especial Epidemiológico # 240 do Ministerio de Salud Pública de la República Dominicana. No caso do Haiti, eram 9.168 casos e 232 mortos, de acordo com o Boletim # 222 do Ministère de la Santé Publique et de la Population.

Na fronteira entre ambos os países, a Organização Internacional para Migrações, em parceria com o governo haitiano, realiza exames médicos aos retornados da República Dominicana. As pessoas que apresentam febre são encaminhadas para os centros de atendimento hospitalares. As mulheres, principalmente as grávidas, recebem tratamento médico e psicológico com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas e do Centro para o Desenvolvimento e a Saúde, que também tentam monitorar e mitigar a violência de gênero.

A essas ações, além de outras como o isolamento social e o uso de máscaras, e à média de idade da população são atribuídas as causas da relativa baixa incidência da doença no Haiti. É importante salientar que boa parte dos afetados opta por permanecer em suas casas e se tratar por meio da medicina tradicional, acionando conhecimentos já testados em outras epidemias, como, notadamente, a de cólera, que matou mais de 10 mil pessoas no país logo após o terremoto de janeiro de 2010. Um comitê científico criado pela Université d’État d’Haïti identificou mais de 70 receitas à base de plantas medicinais utilizadas pela população no tratamento da Covid-19, o que reafirma o protagonismo da sociedade civil na gestão da pandemia, independentemente da ação das autoridades (Noël, 2020NOËL, W. UEH: environ 72 recettes traditionnelles recensées pour prévenir et combattre la Covid-19 en Haïti. Le Nouvelliste, 13 août 2020. Disponível em: Disponível em: https://lenouvelliste.com/article/219774/ueh-environ-72-recettes-traditionnelles-recensees-pour-prevenir-et-combattre-la-covid-19-en-haiti . Acesso em: 29 ago. 2020.
https://lenouvelliste.com/article/219774...
).

Em julho de 2020, o governo anunciou a retomada progressiva das atividades e a reabertura da fronteira terrestre com a República Dominicana, mesmo enfrentando resistências das autoridades desse país, que optaram por manter o fechamento e permitir os voos, o que, segundo elas, facilita a gestão da pandemia. No final de julho, as aulas presenciais do ensino fundamental e médio começaram a ser retomadas gradualmente. Os comércios também reabriram, ocasionando um relaxamento nas medidas de distanciamento social e no uso de máscaras e gerando apreensão sobre o futuro da pandemia, pois a circulação do vírus continua intensa, o que torna impossível prever o futuro da crise sanitária e dos seus desdobramentos econômicos e políticos.

Como sabemos, a pandemia se desenvolve em contextos sociais, econômicos, sanitários e políticos específicos. Antes do surgimento do novo coronavírus, o Haiti estava imerso em uma aguda crise política. Desde 2018, manifestações de rua reclamam da lavi chè (literalmente, a vida cara), pedindo a demissão do presidente, acusando-o de cumplicidade com a corrupção generalizada e com a violência que assola o país. Manifestações como essas ameaçam reatualizar-se no contexto da atual crise sanitária.

Conclusão: a busca da vida em movimento

Os efeitos das restrições à mobilidade provocados pelo vírus e pela depressão econômica mundial se retroalimentam, gerando sofrimento de maneira exponencial. No dia a dia dos haitianos, enquanto alguns ainda esperam pelo agravamento da pandemia (sobretudo, para quem pode, dentro de casa), reatualiza-se a memória de outras crises, notadamente daquela provocada pelo terremoto de 2010, que custou a vida de mais de 250 mil pessoas, e da epidemia de cólera, que assolou o país logo depois ( além dos furacões, como o Matthew, em 2016, e agora, em agosto de 2020, o furacão Laura, que também causam morte e destruição - nos termos de Paul Farmer (2011FARMER, P. Haiti after the earthquake. New York: Public Affairs, 2011., p. 21), “acute-on-chronic events”. Pode-se dizer que a crise é endêmica no Haiti (Beckett, 2019BECKETT, G. There is no more Haiti: between life and death in Port-au-Prince. Oakland: University of California Press, 2019.) e que as formas de se lidar com ela estão associadas ao mesmo tempo à história e ao movimento. O conceito kriz, utilizado no dia a dia por haitianas e haitianos, para descrever as paisagens de dificuldades nas quais as vidas são buscadas (chache lavi) e feitas (fè lavi), é nesse sentido revelador. Trata-se também de um conceito que descreve um estado de coisas permanente e, ao mesmo, tempo, evoca as formas de navegar temporalidades turbulentas e contínuas.

Se tivéssemos que escolher um lema entre os que modulam as vidas haitianas, seria precisamente o seguinte: não fique quieto(a), continue se movendo para buscar uma vida melhor (chache lavi miyò). Nas paisagens haitianas, estar preso, impedido de se mover, é sinônimo de ausência de vida, como nos casos extremos das pessoas escravizadas nas plantações ou mortas por magia, o que impede a alma do defunto de continuar sua viagem para a Ginen ou para o paraíso. As formas de se mover também estão ligadas à história e à memória, aos tempos longos da escravidão e da marronage, e também à história sem história da crise endêmica do país.

A busca por uma vida melhor está invariavelmente articulada à virtualidade da morte. A destruição da vida é a outra face, constitutiva da própria vida, como nos provérbios em crioulo que tratam da relação entre chache lavi e detwi lavi (destruir a vida) ou, como nas palavras da comerciante no início deste texto, “não importa que eu morra, é na rua que eu vou morrer”, sendo a rua, paradoxalmente, um dos lugares da própria vida. Nas paisagens haitianas, constituídas no movimento, diaspóricas e transnacionais, a pandemia age de forma multidimensional e sistêmica, produzindo múltiplos feedbacks em relação a processos que ocorrem em outros espaços nacionais e em rotas globais, intensificando os sentidos das barreiras, dos controles, da imobilidade, das desigualdades e dos sofrimentos.

Referências

  • 1
    Bulamah (2020)BULAMAH, R. C. Times and metaphors of pandemics. Social Anthropology, v. 28, n. 2, p. 232-233, 2020. e Mézié (2020)MÉZIÉ, N. A água sanitária e a Bíblia: o coronavírus em Porto-Príncipe (Haiti). Observatório CEMI COVID-19, n. 9, 2 abr. 2020. Disponível em: Disponível em: https://cemiunicamp.com.br/observatorio-no-09/ . Acesso em: 14 jun. 2020.
    https://cemiunicamp.com.br/observatorio-...
    descrevem os rumores que rodearam o surgimento do novo coronavírus no Haiti.
  • 2
    Blan é uma categoria utilizada para denominar o outro, o estrangeiro, o branco, mas também serve para qualificar objetos e comportamentos como quando se afirma que alguém faz coisa de blan. Sobre a pragmática do conceito de blan no Haiti, ver Joseph (2015)JOSEPH, H. Diaspora: as dinâmicas da mobilidade haitiana no Brasil, no Suriname e na Guiana Francesa. 2015. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015..
  • 3
    No universo social haitiano, diáspora (dyaspora, em crioulo) é uma categoria prática que serve para designar espaços geográficos (os principais são Estados Unidos, França, Canadá), e também como substantivo e adjetivo para qualificar pessoas (moun dyaspora), objetos (como o dinheiro que chega de fora, lajan dyaspora, principalmente o dólar americano e o euro) ou as casas das pessoas que moram no exterior (kay dyaspora). O termo é empregado em diversas formas com distintas conotações: ser diáspora, ter objetos diáspora, se comportar do jeito diáspora. Sobre a pragmática do conceito, ver Joseph (2015JOSEPH, H. Diaspora: as dinâmicas da mobilidade haitiana no Brasil, no Suriname e na Guiana Francesa. 2015. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015., 2019JOSEPH, H. Diáspora. In: NEIBURG, F. (org). Conversas etnográficas haitianas. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens Edições, 2019. p. 229-249., 2020JOSEPH, H. Maisons diasporas et maisons locales: mobilités haïtiennes et réseaux transnationaux. Etnográfica, v. 24, n. 3, p. 749-774, 2020. Disponível em: Disponível em: http://journals.openedition.org/etnografica/9566 . Acesso em: 10 nov. 2020.
    http://journals.openedition.org/etnograf...
    ). Ver também Audebert (2012)AUDEBERT, C. La diáspora haïtienne: territoires migratoires et réseaux transnationaux. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2012..
  • 4
    No original: “Prezidan an mande pou nou rete lakay nou, men ki sa k nan men nou? Mwen gen 6 pitit, manman m sou kont mwen, papa m sou kont mwen, mwen gen yon ti frè m ki sou kont mwen. Se la m ap degaje m, eske w panse mwen ka ale chita lakay mwen ak de pò bouda m? Fòk li bay chak moun yon bagay, se pou l fè men m jan ak peyi etranje. Mwen ka konpran nou pa ka satisfè tout moun, men satisfè jan w kapab. Ou mande pou n ale lakay nou, sa vle di se pou n ale mouri? Si n ale chita lakay nou kounia, se pa kowona non k ap tiye nou, se lafen, grangou, mizè. Nou pa gen lopital, nou pa gen anyen, ki preparasyon ou fè pou kowona a k ap vini a? Li pa fè anyen. Epi l di pou tout malere al chita lakay yo, se mouri pou n al mouri? Imajine w, mwen abitie kwuit 8 mamit diri pou vann nan lari, men kounia pa gen lavant, mwen oblije kwuit 2 mamit. Si m ale chita lakay mwen, se mouri mwen pral mouri. Epi li menm frigidè l plen, tout otorite yo gen bagay nan men yo, mwen menm, mwen pa gen anyen nan menm, se nan yon peyi pòv m ap viv, mwen aksepte, zafè mwen mouri, se nan lari a m ap mouri.”
  • 5
    Segundo o Instituto Haitiano de Estatística e de Informática, o país conta com uma população de mais de 11 milhões de habitantes (Institut Haïtien de Statistique et d’Informatique, 2020INSTITUT HAÏTIEN DE STATISTIQUE ET D’INFORMATIQUE. Ve Recensement Général de la Population et de l’Habitat. Port-au-Prince: IHSI, 2020. Disponível em: Disponível em: http://www.rgph-haiti.ht . Acesso em: 14 jun. 2020.
    http://www.rgph-haiti.ht...
    ), sendo que, destes, mais de 3 milhões residem em Port-au-Prince. Outros 3 milhões vivem na diáspora, particularmente nos Estados Unidos, na República Dominicana, no Canadá, na França e, mais recentemente, no Brasil e no Chile.
  • 6
    Sobre a multiescalaridade das paisagens haitianas em movimento, ver Neiburg (2020a)NEIBURG, F. Multiscale home. Shifting landscapes and living-in-movement in Haiti. 2020a. Texto submetido a Cultural Anthropology..
  • 7
    Ver Le nombre… (2019)LE NOMBRE de migrants internationaux atteint 272 millions, en hausse dans toutes les régions du monde. ONU Info, 17 sept. 2019. Disponível em: Disponível em: https://news.un.org/fr/story/2019/09/1051802 . Acesso em: 14 maio 2020.
    https://news.un.org/fr/story/2019/09/105...
    .
  • 8
    De acordo com o Banco Mundial, essa diminuição das remessas pode alcançar 20% (Banque Mondiale, 2020bBANQUE MONDIALE. Selon la Banque mondiale, les remises migratoires devraient connaître un repli sans précédent dans l’histoire récente. 22 avril 2020b. Disponível em: Disponível em: https://www.banquemondiale.org/fr/news/press-release/2020/04/22/world-bank-predicts-sharpest-decline-of-remittances-in-recent-history . Acesso em: 14 jun. 2020.
    https://www.banquemondiale.org/fr/news/p...
    ). Segundo o relatório do Banco da República do Haiti, só em março de 2020, houve uma diminuição de 8,17% em comparação com o mesmo mês do ano anterior (Banque de la Republique d’Haïti, 2020BANQUE DE LA REPUBLIQUE D’HAÏTI. Note sur la politique monetaire. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.brh.ht/wp-content/uploads/note_polmon2t20.pdf . Acesso em: 14 jun. 2020.
    https://www.brh.ht/wp-content/uploads/no...
    ).
  • 9
    Ver também Cela e Marcelin (2020)CELA, T.; MARCELIN, L. H. Haitian families and loss of remittances during the COVID-19 pandemic. The Interuniversity Institute for Research and Development (Blog), 18 May 2020. Disponível em: Disponível em: http://www.inured.org/blog/haitian-families-and-loss-of-remittances-during-the-covid-19-pandemic. Acesso em: 15 jun. 2020.
    http://www.inured.org/blog/haitian-famil...
    .
  • 10
    Em 16 de março, o governo fechou a fronteira com a República Dominicana (RD), após a confirmação de 11 casos no país vizinho, autorizando somente a circulação de mercadorias e o retorno dos haitianos ao Haiti. Com o apoio da Organização Internacional para as Migrações, a Embaixada do Haiti em Santo Domingo e a Embaixada da RD em Port-au-Prince planejaram um “Plano de retorno voluntário assistido”, permitindo que mais de 100 mil haitianos retornassem ao Haiti. Além desses, há registro de 30 mil deportados, totalizando cerca de 130 mil haitianos que regressaram da RD, segundo os dados do Grupo de Apoio aos Refugiados e Repatriados. Certamente, entre as razões que motivaram esses retornos, estão a propagação do vírus na RD e a situação indocumentada da maioria deles, impedindo-os de aceder aos auxílios concedidos pelo governo e colocando-os em situação de extrema vulnerabilidade (Haïti…, 2020HAÏTI - Ouanaminthe: «Plan de retour volontaire assisté» pour les haïtiens en RD. HaïtiLibre, 25 mai 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.haitilibre.com/article-30859-haiti-ouanaminthe-plan-de-retour-volontaire-assiste-pour-les-haitiens-en-rd.html . Acesso em: 15 jun. 2020.
    https://www.haitilibre.com/article-30859...
    ; Lambert, 2020LAMBERT, R. Covid-19: près de 100 000 Haïtiens sont revenus de la République dominicaine ces six derniers mois. Le Nouvelliste, 17 juil. 2020. Disponível em: Disponível em: https://lenouvelliste.com/article/218716/covid-19-pres-de-100-000-haitiens-sont-revenus-de-la-republique-dominicaine-ces-six-derniers-mois . Acesso em: 26 ago. 2020.
    https://lenouvelliste.com/article/218716...
    ).
  • 11
    A respeito da essencialidade em contextos de emergência, ver Neiburg (2020b)NEIBURG, F. Life, economy and economic emergencies. SASE Newsletter, 13 July 2020b. Disponível em: Disponível em: https://sase.org/newsletter-summer-2020/life-economy-and-economic-emergencies/ . Acesso em: 13 nov. 2020.
    https://sase.org/newsletter-summer-2020/...
    .
  • 12
    Até o momento da conclusão deste texto em 15 de novembro de 2020, a RD era o país mais afetado pela pandemia no Caribe, com quase 140 mil casos e 2.238 mortos, segundo o Boletín Especial Epidemiológico # 240 do Ministerio de Salud Pública de la República Dominicana. No caso do Haiti, eram 9.168 casos e 232 mortos, de acordo com o Boletim # 222 do Ministère de la Santé Publique et de la Population.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    31 Ago 2020
  • Aceito
    27 Out 2020
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