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Apresentação

Apresentação

Vem bem a propósito esta retomada da discussão sobre a relação entre gênero e trabalho, objeto do dossiê publicado neste número. Duas notícias recentes mostram a sua continuada pertinência: a primeira, apesar da manchete otimista, na primeira página ("Participação das mulheres no mercado cresce em São Paulo", Folha de S.Paulo, 4 de julho de 2002), mostra que se há mais mulheres trabalhando, elas ainda ganham menos do que os homens (75,5% do que eles recebem). A segunda, só trata do assunto indiretamente, ao analisar a crise pela qual passa a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. "Para que servem as humanidades?" pergunta Leyla Perrone-Moisés (Folha de S.Paulo, 30 de junho de 2002), apontando para uma tendência geral no mundo contemporâneo de atribuir menor importância aos estudos humanísticos - aí incluídas as letras e as ciências sociais - no âmbito do ensino universitário. Não é preciso pensar muito para lembrar que são exatamente essas as áreas de estudos que mais se "feminizaram" no decorrer do último século na tradição acadêmica. São também as áreas nas quais mais se produz uma reflexão a respeito da questão de gênero.

Além do dossiê, organizado por Angela Carneiro Araújo, este número traz a tradução de um capítulo do livro de Anne Fausto-Sterling (Sexing the body), que mostra que as teóricas feministas estão atuando também para além do gueto das humanidades, no qual tradicionalmente se localizavam: a contribuição dessa conhecida bióloga e feminista leva a crítica propiciada pelas teorias de gênero bem para o centro das assim chamadas ciências duras - não por acaso, aquelas nas quais a presença masculina é dominante. A resenha de Maria Teresa Citelli faz, assim, um bem afinado dueto com esta tradução - ao mostrar o contexto do trabalho das cientistas feministas. A resenha de Érica Renata de Souza e os artigos de Rosely Gomes Costa e de Cláudia Pereira Vianna também encontram ressonância, seja no dossiê, seja naqueles dois textos. Rosely porque mostra no resultado de sua pesquisa a inflexão prática do tema teórico abordado por Fausto-Sterling; Érica e Cláudia porque falam da importância das atribuições de gênero em sala de aula - tema também tratado no dossiê. A resenha de Durval Muniz de Albuquerque também retoma o tema da docência, mas do ângulo de sua crítica, na personagem anarquista do livro de Margaret Rago. Heloisa Buarque de Almeida fez também uma oportuna resenha sobre um livro que trata das distinções de gênero nas revistas. Por fim, na seção documentos, temos saborosas receitas da irmã Maria Leocádia do Monte do Carmo - fruto da pesquisa de Leila Mezan Algranti -, tratando de outra ciência, a doçaria. Bom apetite.

Comitê Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Mar 2009
  • Data do Fascículo
    2002
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