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Apresentação

Apresentação

Ao apresentar sua pesquisa etnográfica a respeito das novas convenções que começam a ter vigência nas relações entre prostitutas e seus clientes, Elisabeth Bernstein usa a expressão "teatro erótico" para se referir a um dos locais das transações que analisa. Teatros eróticos, agora num sentido figurado, poderia bem ser a descrição de vários dos textos desta edição dos cadernos pagu, a começar pelo dossiê sobre tráfico de pessoas e concluindo com as resenhas aqui publicadas. Ainda que girando em torno de intrincadas manobras legais, policiais e políticas, ou de poderes privados, nos limites nacionais ou nas fronteiras internacionais, responsáveis, afinal, pelo destino de pessoas de carne e osso, é sempre ao "negócio do desejo" (Júlio Simões) que as variadas transações aqui analisadas se referem. O dossiê, que conta com a competente apresentação de Adriana Piscitelli e Marcia Vasconcelos, não só nos mostra as muitas facetas de um problema bem mais complexo do que a novela das oito nos faz crer, como vai apresentando os deslocamentos das pessoas por entre as malhas dessas redes tramadas bem longe delas.

Assim, o texto de Elisabeth Bernstein retoma e recoloca várias das questões levantadas no dossiê, que serão tratadas também - agora no dramático cenário da guerra - pelo texto de José Miguel Nieto Olivar. A prostituição sempre foi uma parceira indefectível da guerra, mas nas guerras modernas é como se ela aparecesse travestida de uma perversidade nova, jogando com os sentidos dúbios da relação entre o negócio gerenciado e a autonomia pessoal inerentes à sua definição. Parte desse teatro erótico é, claro, alimentado pela tradição obscena em literatura, assunto que Eliane Moraes aborda em seguida. Fúlvia Rosemberg e Leandro Andrade nos convidam a uma pausa para refletirmos a respeito das tensões implícitas na relação entre raça/etnia e gênero, também presentes nas guerras literais e nas guerras de sentidos de que se trata aqui - seja no âmbito da educação contemporânea, nas disputas por vagas, seja no aparentemente inocente âmbito do vestuário e suas características desejáveis, influenciadas por uma guerra mais antiga, analisado por Ivana Simili. Guerras de sentidos são travadas também no Congresso Nacional, assim como nas campanhas eleitorais em curso, e no trabalho militante de ativistas católicas, como bem mostram os artigos de Luiz Augusto Campos e Luis Felipe Miguel e de Gabriele dos Anjos.

As resenhas selecionadas para este volume dão um fecho apropriado a esse conjunto de textos e, lidando com as questões de homoerotismo, direitos humanos e moda, de certa maneira alinhavam de outros modos os figurinos apresentados antes no teatro erótico. É, então, à leitura das várias faces desse trânsito entre sentidos, normas e convenções de gênero, permanentemente em tensão, que convidamos a quem está abrindo essas páginas.

Comitê Editorial

Nota importante: Graças ao apoio da OIT foi possível dobrar a tiragem desta edição.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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