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Homens e mulheres com H(GH)1 1 Sigla em inglês para HGH, Hormônio do Crescimento Humano. : gênero, masculinidades e anabolizantes em jornais e revistas de 2010* * Recebido para publicação em 28 de novembro de 2012, aceito em 11 de novembro de 2013.

Men and women with a "Plus": Gender, masculinities and steroids in newspapers and magazines in 2010

Resumos

Este artigo discute as representações de corpo e gênero articuladas ao uso de substâncias anabolizantes nos meios de comunicação. Para isso, tomou-se como objeto o material jornalístico publicado no ano de 2010, disponível no acervo institucional da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. O material analisado indicou que o imperativo do corpo forte se faz presente como o mote para o uso de anabolizantes, tanto para homens como para mulheres, e que, nesse movimento, os jornais e revistas desempenham papel significativo na disseminação de uma corporalidade hiperviril.

Gênero; Masculinidade; Mídia; Esteroides Anabolizantes


The present paper discusses body and gender representations in the media connected to the use of steroids. We took as our subject the content of news and magazines published in 2010, available at the Oswaldo Cruz Foundation collection in Rio de Janeiro, Brazil. Our analysis allows us to indicate that the emphasis in the paradigm of a strong body is directed to both men and women and that news and magazines feature a significant role in the dissemination of a hypervirile corporality.

Gender; Masculinity; Media; Steroids


Introdução

O uso de esteroides anabolizantes (EA) é um fenômeno complexo, que articula diferentes dimensões da vida social. O tema vai além da saúde, englobando as relações de gênero e a construção social das masculinidades. Diversos estudos dos campos da saúde e das ciências sociais já demonstraram que nas últimas décadas, o consumo de EA tem sido relacionado a homens jovens de variadas camadas sociais e padrões econômicos, que buscam obter rapidamente a musculosidade e a melhora do desempenho físico. Dependendo da forma como os indivíduos se relacionam com os anabolizantes e a importância que eles assumem na sua identidade, os EA podem causar danos, muitas vezes irreversíveis (Miguel Bispo, et al., 2009MIGUEL BISPO A. et al. Anabolic steroid-induced cardiomyopathy underlying acute liver failure in a young bodybuilder. World Journal Gastroenterology, vol.15, nº23, 2009, pp.2920-2922.:2920-2922), à saúde física e mental e, no limite, à vida (Silva et al., 2002SILVA, P.R.P.; DANIELSKI, R.; CZEPIELEWSKI, M, A. Esteroides anabolizantes no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, vol. 8, nº 6, Niterói-RJ, 2002, pp.235-243.:241). A insatisfação com a imagem corporal tem sido descrita como uma das causas do abuso de EA, exercendo considerável influência na motivação de homens jovens, que buscam um ideal de corpo visivelmente musculoso (Sabino, 2002SABINO, C. Anabolizantes: Drogas de Apolo. In: GOLDENBERG, M. et tal. Nu & Vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro, Editora Record, 2002, pp.139-188.:148-149).

Os veículos de comunicação têm se mostrado, desse ponto de vista, locide velada ambiguidade: ao mesmo tempo em que alguns discursos midiáticos vêm apontando e recomendando mudanças nas formas de ser masculino, ofertando modelos como o do metrossexual e do "novo homem", outros discursos reforçam o modelo hegemônico de masculinidade presente em nossa sociedade, que tem como duas de suas marcas o corpo musculoso e a força física. Em trabalho anterior, por exemplo, nos debruçamos sobre material de uma publicação especializada em artes marciais, cuja análise sugeriu uma contradição entre a condenação do uso de EA para fins estéticos e a valorização de uma masculinidade baseada em força física (Cecchetto et al., 2012CECCHETTO, Fátima R. et al. Onde os fracos não têm vez: discursos sobre anabolizantes, corpo e masculinidades em uma revista especializada. Physis, Revista de Saúde Coletiva 22 (3), Rio de Janeiro, 2012, pp.873-893.).

Dentro dessa trama de questões, este estudo tem por objetivo descrever e analisar os conteúdos presentes em matérias publicadas nos jornais e revistas de grande circulação no país sobre esteroides anabolizantes, compiladas no acervo da Coordenadoria de Comunicação e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, e que abrangem o período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2010.

Para mapear essa discussão, cumpre primeiro apresentar algumas linhas mestras que conduziram as reflexões. Em seguida, caracterizamos o material, para então partir para sua análise. Por último, alinhavamos algumas conclusões, conectando os achados da pesquisa com os estudos de gênero.

Meios de comunicação, gênero, masculinidades e o uso de substâncias psicoativas

Bourdieu (2004)BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência. Por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo, Editora da Unesp, 2004. já sugeria que a vida nas sociedades complexas tem uma dinâmica que pressupõe segmentos sociais que pensam e agem de acordo com lógicas próprias das atividades que desenvolvem em conjunto, criando "campos". Os campos sociais, dessa forma, são encarados como correlações de força que atualizam as prescrições culturais e posicionam os indivíduos socialmente. Tais "campos" estruturam, assim, determinadas esferas de atuação, complementares, comunicantes, nas quais os grupos humanos se colocam, e que são dinamizadas por relações de poder sempre em mutação e constante interdependência.

O campo jornalístico se constitui enquanto parte do campo intelectual mais amplo e se caracteriza por agentes e regras particulares, eivados de relações de poder. Nesse sentido, indivíduos - os jornalistas - produzem aquilo que se convencionou chamar de notícia, segundo determinadas regras de discurso; a notícia é publicada por organizações de alcance e formato diversos - as empresas de comunicação. Essas regras não são estáticas, mudam ao longo do tempo. Desde os anos 1960, como indica Rossi (1980)ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo? São Paulo-SP, Editora Brasiliense, 1980. num clássico brasileiro da literatura sobre jornalismo, os veículos de comunicação no Brasil vêm seguindo o que se convencionou chamar de modelo americano, segundo o qual uma "boa" matéria jornalística teria que atender a certos critérios, dos quais os mais relevantes seriam a "objetividade" e a "concisão". Dentro desse escopo, o que se sugere é que as notícias ideais deveriam não ser opinativas, nem poderiam conter frases, palavras ou parágrafos "em excesso" (cf. também Travancas, 1993TRAVANCAS, Isabel Siqueira. O Mundo dos Jornalistas. Summus Editorial. São Paulo, 1993.).

Outra prescrição é a necessidade do uso de "fontes", entrevistados que estariam em posição de saber mais sobre o assunto em questão, explicando-o ao público - uma espécie de "especialistas". Além disso, enfatiza-se também a obrigatoriedade de se "ouvir os dois lados" ou as duas versões de uma mesma história a ser narrada - assim se chegaria mais rapidamente, segundo a crença "nativa", à "verdade dos fatos". Outra regra de ouro na comunicação com o outro, representado pelo leitor, seria o imperativo de recorrer a palavras consideradas facilmente inteligíveis e com apelo para chamar o mais rapidamente possível a atenção.

As organizações jornalísticas, em relação de concorrência umas com as outras, disputam a primazia dos recursos de anunciantes e do Estado, assim como a atenção dos leitores. Suas posturas políticas, tamanhos, públicos-alvo, são variados, assim como seu grau de influência sobre a chamada opinião pública. Aqui, trataremos de alguns dos mais prestigiados órgãos da grande imprensa - jornais e revistas que, embora com sede em determinada região brasileira, têm alcance e buscam repercussão nacional.

Outro eixo de análise é a questão de gênero. Concebido como categoria analítica para questionar a formulação de que a biologia é destino, o conceito de gênero permitiu avanços consideráveis na análise e na compreensão das relações sociais entre homens e mulheres, desconstruindo a naturalização das assimetrias de poder entre os chamados "papéis sexuais". Recentemente, no entanto, o conceito vem sofrendo críticas, segundo as quais o binarismo que estrutura a ideia de gênero, daria margem a certo determinismo, por pressupor uma estabilidade de significados inscritos em corpos anatomicamente diferenciados. Nessa matriz, gênero emergiria como um atributo, no limite, tão inquestionável quanto o sexo, hierarquizando pessoas e corpos, a partir de categorias fixas. Ainda de acordo com esse viés crítico, como lembra Judith Butler (2010)BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e subversão. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2010., o que está em jogo - e deve ser questionada - é a presunção de uma heterossexualidade compulsória e do falocentrismo na concepção da sexualidade e do desejo. A proposta seria então uma análise mais situacional de gênero, contestando masculino e feminino como noções estáveis e coerentes, e assumindo seus significados problemáticos e erráticos. Voltaremos a essa discussão mais adiante.

De toda forma, dentro do cenário dos estudos de gênero, nos deteremos mais especificamente na questão da construção social das masculinidades. Quando falamos de masculinidades, nos referimos a uma configuração de práticas em torno da posição dos homens na estrutura das relações de gênero (Connell, 1995CONNELL, Robert. W. Masculinities. Berkeley, University of California Press, 1995.). Assumir o uso do termo no plural - masculinidades - significa admitir a ideia de diversidade de formas de ser masculino e que "masculinidades significam diferentes coisas para diferentes grupos de homens em diferentes momentos" (Kimmel, 1998KIMMEL, Michael, S. A produção simultânea de masculinidades hegemônicas e subalternas. Horizontes Antropológicos, ano 4, nº 9, Porto Alegre - RS, 1998, pp.103-117.:106).

Está claro, ainda, que existem formas distintas de masculinidades produzidas no mesmo contexto social, que convivem no mesmo lugar e momento histórico, e que muitas vezes se relacionam de forma tensa. Essa tensão entre as diversas masculinidades não se manifesta apenas quando se trata da orientação sexual, mas entre os homens que partilham a heteronorma, porém não compartilham características de classe, raça-etnia, idade, formação e profissão, por exemplo. Tais diferenças se constroem e se manifestam como relações de poder, de hierarquia e subordinação entre os homens (Connell, 1995CONNELL, Robert. W. Masculinities. Berkeley, University of California Press, 1995.:188; Kimmel, 1998KIMMEL, Michael, S. A produção simultânea de masculinidades hegemônicas e subalternas. Horizontes Antropológicos, ano 4, nº 9, Porto Alegre - RS, 1998, pp.103-117.; Heilborn e Carrara, 2008).

Como indicamos em outro estudo (Cecchetto et al., 2012CECCHETTO, Fátima R. et al. Onde os fracos não têm vez: discursos sobre anabolizantes, corpo e masculinidades em uma revista especializada. Physis, Revista de Saúde Coletiva 22 (3), Rio de Janeiro, 2012, pp.873-893.), uma das configurações atualmente mais incensadas se ancora numa aparência corporal relacionada ao que Malysse (2002MALYSSE, Stéphane. Em busca dos (H)alteres-ego: olhares franceses nos bastidores da corpolatria carioca. In: Goldenberg, Mirian (org.). Nu & vestido: 10 antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro, Editora Record, 2002, pp.79-138.:133) chamou de "corpolatria brasileira", em que funcionaria a ideia central do corpo como algo que não vem pronto, e sim é "esculpido" a partir de uma "lógica da exibição". Noção semelhante é trabalhada por Goldenberg (2002GOLDENBERG, Mirian. Nu & Vestido: 10 Antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro, Editora Record, 2002.:24-34), no que a autora denomina de "cultura da boa forma", que pode ser obtida através de substâncias várias - para mulheres, por exemplo, por via de botox, silicone, emagrecedores diversos, além de cirurgias plásticas; e para os homens, a partir da ingestão de suplementos alimentares, Viagra, EA, entre outros.

Nesse quadro, o que qualifica os EA é a crença em suas intensidade, extensão e rapidez - ou seja, na sua eficácia - em produzir o corpo almejado e, através dele, uma versão de masculinidade sustentada na força e na resistência física. Assim, pela ingestão dessas substâncias, o corpo como um todo rapidamente se modifica, concretizando as formas desejadas. Nesse diapasão, um padrão fincado na dicotomia masculino (força)/feminino (fraqueza) é reforçado por via do novo corpo. Isso nos permite inferir que, muito mais que outras drogas, o EA opera diretamente sobre as relações de gênero, e não é possível desvincular sua análise desse campo de reflexão.

É claro que a discussão dos EA ganha maior peso a partir de sua conexão também com análises anteriores sobre o uso de substâncias psicoativas de forma mais geral. Assim, estudos como os de Becker (2008)BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2008., Velho (1998)VELHO, G. Nobres e anjos: um estudo sobre tóxicos e hierarquia. Rio de Janeiro, Editora FGV, 1998. e Zaluar (1994)ZALUAR, Alba (org.). Drogas e cidadania: repressão ou redução de riscos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994., para apenas citar alguns, colocam em evidência a diversidade presente no consumo e nos consumidores de substâncias psicoativas, assim como as variações em torno das representações sociais sobre elas.

Versões se contrapõem e se complementam, ampliando a compreensão sobre o tema, particularmente apontando para as percepções e os sentidos dados a cada uma das substâncias pelos próprios usuários. Velho (1998)VELHO, G. Nobres e anjos: um estudo sobre tóxicos e hierarquia. Rio de Janeiro, Editora FGV, 1998., por exemplo, nos sugere que o uso de determinadas substâncias confere distinção entre pares do mesmo círculo social, dentro da discussão de camadas médias urbanas; já Becker (2008)BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2008. frisa as diferentes motivações individuais em determinados contextos de grupos urbanos, que levam ao compromisso maior ou menor com a utilização de drogas. Nesse sentido, indica que não há nenhum determinismo na trajetória dos sujeitos envolvidos nessa atividade. Zaluar (1994)ZALUAR, Alba (org.). Drogas e cidadania: repressão ou redução de riscos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994., por sua vez, lembrará que o consumo de drogas tem variações correspondendo a estilos de uso, e que sempre está ligado a um sistema de trocas comerciais que envolve uma rede de agentes e empreendimentos nacionais e internacionais. Entretanto, em contrapartida, quando observamos a versão dominante das matérias aqui estudadas, vemos que ela se estrutura a partir de uma homogeneização das substâncias, das motivações, dos estilos de consumo e das trajetórias de seus usuários. Mas voltaremos a isso mais adiante.

Dessa maneira, pode-se inferir que a busca por estados alterados de "corpo e alma", a partir do uso de substâncias, é acionada por diferentes grupos, das mais diversas formas. No caso dos anabolizantes, eles estão situados naquele grupo de drogas utilizado para alteração da imagem de si diante dos outros, com o aumento da massa muscular e do desempenho dos seus usuários.

Todavia, deve-se levar em conta que há uma diferença nos status social e legal das substâncias focalizadas nos estudos mencionados em relação aos esteroides anabolizantes. Assim, se as análises acima citadas se referem ao uso das chamadas "drogas proibidas" (ilegais/criminalizadas), nosso estudo focaliza substâncias que em nosso país são classificadas como medicamentos de uso controlado, conforme regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2012)2 2 Segundo portaria que aprova o regulamento técnico de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, os anabolizantes pertencem ao grupo C5, específico dessas substâncias. A venda e a dispensação desses medicamentos ficam sujeitas à apresentação de receita médica em duas vias, das quais uma cópia fica retida no estabelecimento (ANVISA, 2012). . Esse uso controlado dos anabolizantes fica restrito ao que se considera como uso médico, sendo o uso não médico - por exemplo, o uso para fins estéticos - considerado ilícito.

No entanto, mesmo não sendo encarados como drogas da mesma escala que os psicotrópicos, os EA foram incluídos na pesquisa domiciliar de abrangência nacional sobre uso de drogas, realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), por seu potencial de abuso em aplicações não médicas.3 3 Os usuários dessas drogas para fins estéticos chegam a utilizar de 10 a 100 vezes mais a dose médica recomendada, normalmente misturam dois ou mais diferentes anabolizantes, orais e/ou injetáveis, e algumas vezes utilizam compostos veterinários. Agem dessa forma porque acreditam que a mistura de vários compostos possa dar um efeito maior sobre os músculos. O estudo indicou, através de uma comparação entre os anos 2001 e 2005, o aumento de 0,3 para 0,9 do consumo de EA no país.4 4 O II Levantamento Domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil abrangeu a população de 108 cidades brasileiras pesquisadas com mais de 200 mil habitantes. Foram realizadas 9.528 entrevistas com indivíduos na faixa entre 12 e 65 anos de idade. Além dos dados em si, também foram feitas comparações entre o consumo de diferentes drogas pela população entre os anos de 2001 e 2005. Os resultados apontam que, entre as drogas estudadas, os EA foram as que apresentaram maior crescimento no período, tendo seu consumo triplicado. Na classificação por sexo, os homens respondem pela maior taxa de aumento no consumo: de 0,6% para 2,1%, enquanto as mulheres se mantêm no mesmo patamar: 0,1%. Outro dado relevante diz respeito às percepções dos respondentes sobre o acesso às drogas. Nesse item, os anabolizantes são percebidos como uma substância de fácil acesso, observando-se um aumento da prevalência de 47,0%, em 2001, para 48,7% em 2005, com destaque para os homens com um aumento de 49,7% para 54,7%.

É importante evidenciar ainda que o Comitê Olímpico Internacional (COI) também vem enfrentando o aumento de casos positivos de doping por contaminação de atletas usuários de suplementação contendo EA, desde 20015 5 Em 2001, o COI investiu na proposta de investigar em um Laboratório de Colônia, na Alemanha, uma amostra de 634 suplementos alimentares não hormonais, provenientes de 13 países de 215 fornecedores diferentes. Os resultados apresentados foram que 21,1% dos suplementos nutricionais analisados continham EA, enquanto 9,6% desses suplementos positivos eram de empresas que não vendiam pro-hormônios (COI, 2001). . Lise et al.(1999LISE ML, et al. O abuso de esteroides anabólicos androgênicos em atletismo. Revista Associação Médica Brasileira, vol. 45, nº 4, São Paulo, 1999, pp.364-70.:364-370) indicaram falhas no mecanismo de fiscalização, uma vez que os EA podem ser adquiridos facilmente no comércio, no "mercado negro" e nas academias de ginástica. O próprio Ministério da Saúde admitiu o crescimento do compartilhamento de seringas e agulhas com o uso de anabolizantes em academias (Ministério da Saúde, 2003MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Executiva Coordenação Nacional de DST e AIDS. A política do Ministério da Saúde para a atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília - DF, 2003. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pns_alcool_drogas.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2010.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
).

Nesse sentido, nosso recorte tenta dar conta desse novo cenário do consumo de EA no Brasil e sua relação com a atualização, a disseminação e a cristalização de padrões de gênero, a partir dos meios de comunicação. Escolhemos para tanto fazer um levantamento do material jornalístico publicado em 2010, como se detalhará a seguir.

Caracterização do material e procedimentos metodológicos

O estudo foi realizado a partir do material disponibilizado no acervo da Agência Fiocruz de Notícias, composto da seleção de publicações em jornais e revistas de âmbito nacional, sobre notícias referentes à Saúde, Ciência e Fundação Oswaldo Cruz. Esse acervo acompanha notícias na imprensa, reunindo aproximadamente quatro mil matérias no ano de 2010.

A partir daí, iniciamos - uma leitura abrangente, ou seja, o exame de todas as matérias, selecionando as que continham as palavras: "anabolizantes/esteroides" e "doping", nos títulos, nos subtítulos, nos conteúdos e nos "boxes" das reportagens.

Como resultado desse procedimento, foram encontradas apenas 13 matérias. Os jornais que mais informaram sobre anabolizantes foram a Folha de S. Paulo (seis) e O Globo (três). Os demais jornais, Correio Brasiliense, O Dia e Extra, contribuíram com uma matéria cada um. A revista Veja compareceu com uma reportagem (ver Quadro 1).6 6 Segundo dados coletados nos próprios sites desses veículos, Correio Brasiliense, Folha de S. Paulo e O Globo são jornais direcionados para as camadas altas e médias (A e B). O Dia e Extra são voltados para as camadas mais populares (C, D e E). A revista Veja figura como uma publicação dirigida para o público A e B.

Quadro 1
Características gerais das 13 matérias analisadas do acervo da Agência Fiocruz de notícias, do ano de 2010:

O passo seguinte foi a leitura e a classificação do material em profundidade, tendo por base o referencial teórico da antropologia cultural, que privilegia a análise dos significados simbólicos da ação social (Geertz, 1989GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1989.). Dessa perspectiva, os pontos de vista, concepções e expressões do grupo pesquisado podem ser interpretados como textos, conectando-os com a estrutura social mais ampla. Utilizamos também os caminhos metodológicos propostos por Minayo (2008)MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, Editora Hucitech, 2008., desenvolvendo uma análise temática de conteúdo. Aproximamos essa metodologia para tratar dos conteúdos manifestos e/ou latentes nos textos jornalísticos selecionados. A partir desse percurso, foram demarcados três eixos de análise, que nos pareceram mais recorrentes nas matérias consultadas: o enfoque esportivo, o enfoque biomédico e o criminal.

Análise do material: narrativas sobre os EA

Como dissemos antes, jornais e revistas costumam elaborar suas notícias recorrendo a experts que "explicam" aos leitores os temas abordados. No caso presente, as principais fontes de informação foram os médicos (18), seguidos de seis agentes ou autoridades de segurança pública e cinco dirigentes esportivos. Temos ainda três depoimentos de professores de Educação Física, dois de nutricionistas e um de político. Os depoimentos de usuários de EA ou doping, seja o de atletas profissionais (um), sejam os de praticantes de esporte amador (três), aparecem com menor frequência.

Além dos textos, a mídia impressa utilizou, em alguns casos, recursos de informação como boxes, gráficos, fotografias e desenhos. O recurso mais utilizado foi o box, que aparece em oito matérias, seguido de fotografias e desenhos em cinco matérias. Nele encontramos mais informações técnicas sobre os EA. Esse procedimento, comum aos jornais, aponta para a função primeira do recurso do box, qual seja, estender alguma explicação que supostamente o leitor não domina. Assim, vemos reforçada a hipótese de que os jornalistas acreditam que o público em geral não conheça os EA, e necessite, portanto, de mais dados sobre suas características, seus efeitos e sua inserção na sociedade.

As fotografias realçam duas vertentes: numa primeira, focando mais na aparência corporal dos potencias consumidores de EA, temos a exibição de corpos de homens jovens, principalmente, adeptos da malhação pesada. Os corpos masculinos são apresentados com o dorso nu e musculoso. Algumas fotos mostraram homens segurando ampolas de medicamentos e seringas, sugerindo a venda ou o consumo de EA injetável (Bombas..., 2010BOMBAS de verdade. São Paulo, Folha de S. Paulo, 23 de março de 2010, pp.6-8.:6).

No caso do corpo feminino, ele aparece em quatro fotos, sendo duas relativas à mesma reportagem. Os corpos femininos retratados não aparentam musculosidade exacerbada, se comparados aos corpos dos homens, embora estejam realizando "malhação pesada" em três das fotos. Uma delas sugere uma posição mais sexualizada, por meio da projeção da pélvis. Nesse mesmo caminho, da sugestão de sexualidade, há uma reportagem que exibe a foto de um homem musculoso, do qual não se vê o rosto, empunhando com vigor uma seringa.

Figura 1
O momento de injetar Fonte: Bombas... (2010:6)

Voltando à imagem feminina, chamou a atenção uma matéria, intitulada "Segredo íntimo" (2010), sobre cirurgias plásticas reparadoras nos órgãos genitais; nela, se indica esse procedimento para corrigir a hipertrofia dos pequenos lábios vaginais, ocasionada, segundo a reportagem, pelo abuso de anabolizantes. A foto é da mão de uma mulher cobrindo a genitália (Figura 2).

Figura 2
Anabolizantes na intimidade Fonte: Segredo... (2010:24).

Na segunda vertente, são estampadas fotos de grandes quantidades de medicamentos (EA, emagrecedores, estimulantes sexuais e abortivos) e suplementos apreendidos em operações policiais de repressão ao contrabando e à venda ilegal desses produtos. Não são apresentadas as imagens dos "criminosos" e muito menos dos usuários. Porém, a fotografia de um laboratório clandestino na China, fabricante de medicamentos "piratas", ocupa o lugar central de uma reportagem (Perigo.com..., 2010PERIGO.com. Revista veja, 10 de março de 2010, pp.124-128.:126). Há apenas uma reportagem que estampa a foto de um delegado federal responsável pela operação citada no texto.

Em relação aos desenhos, os mais comuns se referem a perfis de homens se exercitando ou fazendo poses, por vezes destacando-se partes ou órgãos diretamente afetados pelo uso de EA (Atestado..., 2010ATESTADO para esportes será mais exigente. São Paulo, Folha de S. Paulo, 11 de maio de 2010, p. C5.:10). Distingue-se desses uma caricatura apresentada em um artigo na coluna Sexo e Saúde, no jornal Folha de S. Paulo, de um médico e frequentador de academias. O texto sugere que só a malhação pesada pode garantir resultados saudáveis. Entretanto, o desenho (figura 3) é de um homem muito magro, fazendo um esforço extremo, levantando peso; parecendo sugerir que o exercício em si não produziu o efeito desejado, com possibilidade de reforçar justamente o que o artigo quis atacar, ou seja, a necessidade do uso de anabolizantes para conseguir músculos (Bauer, 2010BAUER, Jairo. Músculos que vêm fácil têm um preço alto. São Paulo, Coluna Sexo e Saúde, Folha de S. Paulo, 18 de outubro de 2010.).

Figura 3
Músculo fácil, fácil... Fonte: Sexo e Saúde, Folha de S. Paulo (2010:4).

Um pouco menos frequente é o desenho realizado por computação gráfica, que aparece como ilustração do circuito de venda ilegal de medicamentos proibidos, muitas vezes utilizando imagens de pílulas, telas de computador e ícones, remetendo à presença do mundo virtual no consumo de drogas, lícitas e ilícitas. Esse tipo de desenho é apresentado basicamente no eixo aqui identificado como criminal.

Um breve exame dos títulos revelou que a palavra anabolizante não aparece explicitamente nos títulos das manchetes. São utilizadas as palavras bombas, droga lícita, substâncias proibidas e hormônios. A palavra anabolizante, de fato, surge somente nos subtítulos.

Isso faz lembrar a lógica jornalística acima citada, segundo a qual um título deve ser, ao mesmo tempo, chamativo e de fácil entendimento. Nesse sentido, pode ser que a escolha pela palavra "droga" ao invés de "anabolizante" tenha a ver com o menor conhecimento que as empresas jornalísticas acreditam que o público em geral possua sobre essas substâncias. Assim, a presença de subtítulos funciona como um "adendo esclarecedor" do teor da matéria a ser desenvolvida - 12 das 13 matérias possuem subtítulo. Daí sua necessidade e alta recorrência.

Após essas observações gerais, vamos nos deter em cada um dos eixos encontrados. Primeiro, em relação ao eixo esportivo, é possível dizer que tanto os usuários que aparecem nas matérias como as autoridades esportivas centralizam seu discurso no cumprimento das regras e na necessidade do "jogo limpo", colocando os EA como uma ameaça. Nesse sentido, as vozes dos especialistas e as dos usuários convergem.

Essas matérias em geral abordam as opiniões de profissionais da área esportiva (médicos, professores, dirigentes) a respeito dos usos de hormônios como uma prática de doping, envolvendo atletas profissionais e amadores. A matéria "Antidoping flagra pela primeira vez hormônio do crescimento humano" (2010) traz comentários de especialistas reprovando a utilização de estratégias identificadas como ilícitas como o doping para vencer competições no esporte. O tom condenatório recai essencialmente sobre atitudes de atletas profissionais consideradas antiéticas. A matéria traz o caso do atleta Terry Newton (jogador de Rugby, no Reino Unido), cujo exame antidoping detectou pela primeira vez a substância proibida HGH (hormônio do crescimento humano) que resultou no seu afastamento das competições por dois anos. Conforme ratificam os depoimentos de autoridades esportivas abaixo:

(...) Esta primeira vez foi muito significativa. Mostramos a quem duvidava que é possível detectar o HGH (Diretor Geral da Agência Internacional Antidoping).

(...) o banimento de Terry Newton foi um grande passo dado pela ciência para pegar trapaceiros (Diretor do King's College Londres).

Na sequência, a reportagem reproduz o depoimento do atleta que admitiu oficialmente em comunicado à imprensa o uso da substância. É importante ressaltar que a atitude de tornar público o uso do doping contrapõe-se à retórica da negação, um recurso bastante frequente entre usuários de substâncias proibidas no esporte em geral.

A matéria "Suplementos contêm substâncias proibidas"(2010) também focaliza a manutenção e o respeito às regras esportivas, censurando o uso de suplementos nutricionais por estarem sujeitos à contaminação por substâncias proibidas no esporte. Os especialistas recomendam o aumento da fiscalização na produção e na comercialização desses produtos que já estão muito disseminados numa espécie de cultura esportiva. Os depoimentos abaixo exemplificam essa visão:

(...) Não só atletas de alta performance procuram as fórmulas. Virou quase uma competição: quem não toma, se sente menos preparado (nutricionista).

(...) O fato é que não tem como contraindicar os compostos vitamínicos energéticos. Já faz parte da cultura do esportista (médico).

A matéria destaca ainda os anabolizantes como uma dessas substâncias encontradas em 20% dos suplementos "contaminados" na Europa e nos Estados Unidos; é reproduzida a fala do médico do COI sobre a falta de fiscalização na produção de suplementos: "Existem cidades nos EUA em que há muitas fábricas e nenhum controle". Outro depoimento sobre a inexistência de segurança na fabricação de suplementos foi dado por um médico da Unifesp: "É um mercado muito polêmico. A isenção de registro é um retrocesso por parte da Anvisa".

Encontramos ainda notícias que trazem opiniões sobre atletas que, em busca do sucesso esportivo, lançam mão dos EA. Por exemplo, a matéria "Drogas são um perigo para atletas", (2010), baseada em telenovela, relata o drama de um ciclista profissional que é pego no exame antidoping. O personagem em tela é retratado como um "viciado", sendo os anabolizantes apontados como a "porta de entrada para drogas mais pesadas". Nessa perspectiva, o uso de EA é visto como o início de uma escalada para o vício, reforçando o estigma da pessoa que usa essa substância como um fracassado ou desviante.

Em "Músculos que vêm fácil têm um preço alto" já citada, o médico discorre sobre a corrida dos jovens para adquirir resultados mais rápidos. Segundo ele, são homens de 16 a 20 anos frequentadores de academia que recorrem a essa estratégia de modificação corporal:

(...) Nunca caí na tentação de ganho de massa muscular pelo uso de anabolizantes. Mesmo antes de ser médico, já sabia que tudo o que vem muito fácil (no caso, os músculos) tem um preço alto a ser pago! ... O problema é que a saúde em geral, não é uma preocupação central na vida dos jovens. Garotos querem ficar fortes, e meninas magras! Por ser este o foco, muita gente exagera (Bauer, 2010).

Embora o objetivo do artigo seja associar o uso de EA ao discurso contemporâneo da "boa forma" direcionado aos jovens, a matéria acaba por valorizar os aspectos positivos do EA relativos ao ganho "fácil" de massa muscular.

Enquanto isso, no eixo biomédico, especialistas - autoridades médicas - divergem dos usuários quanto aos sentidos associados aos EA. Para os primeiros - com uma notável exceção - essas substâncias causam danos à saúde; já os usuários enfatizam os ganhos corporais a elas relacionados. Existe a preocupação em alertar para as consequências e/ou efeitos inesperados desse uso, como os distúrbios de imagens, o vício em remédios, doenças crônicas e deformidades físicas.

Na matéria "O abuso de hormônios causa danos graves" (2010) temos que agentes hormonais como o HGH, EA, insulina e hormônios da tireoide são utilizados sem controle médico. Os danos ao fígado, o diabetes, as doenças do coração e o óbito são apontados como possíveis efeitos do uso indevido de EA.

A busca por resultados rápidos, sobretudo no verão, é a principal motivação para que os jovens de 18 a 30 anos recorram aos EA, diz a reportagem "Bomba de verdade" (2010). O texto traz depoimentos de jovens usuários de EA que recorrem aos esteroides, apesar de reconhecerem os riscos. Assim, temos a seguinte declaração de um rapaz de 22 anos que usa EA desde a idade de 14 anos:

Não tenho medo de perder o braço, mas de ficar frango. E "frango", se você não sabe, quer dizer fraco.

Na mesma linha, outros dois depoimentos reiteram as expectativas dos usuários quanto ao potencial dos EA em melhorar a aparência:

Quero tomar para melhorar meu corpo. É uma questão de autoestima. Querer melhorar não vai ser ruim... Tenho muitos amigos que tomam. Muitos mesmo. Todos entre 18 e 20 anos (rapaz, 18 anos).

Não tenho medo [de usar "bomba"]. Se tivesse, não estaria tão grande. Tenho fornecedores. Telefono e pego na casa deles (rapaz, 22 anos).

É possível pensar que nessas falas transpareça a ideia, bastante difundida, de que os anabolizantes, por não serem substancias ilícitas, não são considerados como drogas (Escohotado, 1997ESCOHOTADO Antonio. O livro das drogas. Usos e abusos, preconceitos e desafios. São Paulo, Dynamis Editorial, 1997.). Desse modo, os possíveis danos promovidos pelos EA estariam apenas relacionados a qualidade e a quantidade (ciclos) consumidos e não pela substância em si. Tal discurso ecoa uma espécie de moral pragmática sobre autogestão do risco, como enfatiza Le Breton (2003LE BRETON, David. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas-SP, Papirus, 2003.:64-66) quando assinala o crescimento de substâncias utilizadas para a modificação corporal nas sociedades contemporâneas.

As colocações acima nos ajudam a compreender o cenário apresentado. Na mesma reportagem, aparece ainda o depoimento de outro rapaz, Bruno, de 22 anos, cuja experiência com os esteroides foi descrita como traumática. O jovem mencionado estava em busca do corpo perfeito desde os 18 anos:

... Queria ficar forte. Era epidemia aqui onde eu morava. Todo mundo malhava! E eu tinha pressa, né?

A matéria ainda nos informa que o rapaz comprou duas ampolas de anabolizante injetável e aplicou-as em si próprio, uma por semana. Como não deu resultado, seguiu tomando mais comprimidos até que finalmente entrou em coma: "Tomei um por dia, por duas semanas... fiquei sete dias internado... Um em coma... nunca mais eu tomo". O diagnóstico dado ao estado do paciente foi o de uma crise hepática aguda, causada pelo excesso de hormônios no sangue (Bomba..., 2010BOMBAS de verdade. São Paulo, Folha de S. Paulo, 23 de março de 2010, pp.6-8.).

Os usuários de EA se referem às facilidades de obtenção das substâncias seja em farmácias, na internet ou no mercado negro como revelou uma jovem: "Cheguei a comprar em farmácia 20 ampolas de uma vez só para o meu namorado. E eu era menor" (Bomba..., 2010BOMBAS de verdade. São Paulo, Folha de S. Paulo, 23 de março de 2010, pp.6-8.).

Na mesma linha, a matéria "Vício em remédio supera abuso de drogas ilícitas" (2010) indica o crescimento do consumo de drogas lícitas no Brasil, destacando o aumento do uso de EA na população em geral, mencionando o estudo do CEBRID, citado anteriormente. Nessa reportagem, o coordenador do estudo assinala:

É um fenômeno muito perigoso porque não se pode simplesmente abolir a produção desses medicamentos. São substâncias úteis para tratar doenças. O problema é o mau uso.

Na sequência dessa reportagem, o consumo de medicamentos é associado ao estilo de vida ocidental de valorização e culto ao corpo:

(...) Esse abuso é reflexo do mundo em que vivemos, que valoriza a cultura do corpo, a magreza, em que as frustrações devem ser evitadas. Isso tudo combina o uso excessivo de remédios (psiquiatra).

Os depoimentos dos especialistas acima se encontram na relativização da simples condenação do consumo de EA, apresentando algumas das dimensões da questão, como a utilidade do EA "para tratar doenças" e o aspecto cultural desse uso.

Por fim, no âmbito das deformidades físicas decorrentes do abuso de EA, duas matérias destacam o crescimento de mamas nos homens e aumento do clitóris e dos pequenos lábios vaginais em mulheres (Segredo..., 2010SEGREDO Íntimo. O Dia, Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2010, p. 24.; Bombas..., 2010BOMBAS de verdade. São Paulo, Folha de S. Paulo, 23 de março de 2010, pp.6-8.).

Já no material relativo ao eixo criminal, existe uma única voz: a da autoridade policial. Nesse sentido, uma das "regras de ouro" do jornalismo, ou seja, a necessidade de apresentação dos "dois lados" de uma notícia, não se realiza; a voz do "outro lado", ou seja, daquele considerado criminoso não é apresentada. Nesse discurso, o foco é na rede de venda e distribuição ilegais.

As matérias analisadas integram o gênero reportagens policiais. Elas tratam de ações envolvendo operações policiais para apreensão de drogas e prisão de traficantes ou suspeitos. O teor apresentado nas matérias é o da repressão à venda ilegal de medicamentos contrabandeados. Os EA, os emagrecedores, os abortivos e medicamentos para a disfunção erétil estão dentre os mais procurados. A matéria "Perigo. com" (2010) destaca o crescimento mundial do tráfico e do contrabando de medicamentos falsificados:

Há uma tendência mundial no crime organizado, já identificada pela Interpol, de migrar do tráfico de drogas para o de medicamentos piratas (Secretária Executiva da OMS).

A repressão a essas atividades tem envolvido um aparato internacional cada vez maior, implicando operações policiais para prisão dos traficantes. Uma dessas operações foi denominada "Operação Panaceia". No relato sobre a venda ilegal de remédios, inclusive os EA, na internet, temos que a cada 10 desses produtos, oito são falsificados.

Na mesma linha, as reportagens "Polícia prende cinco suspeitos por venda ilegal de remédios" (2010) e "A um clique do crime" (2010) abordam o contrabando de medicamentos falsificados. Para o coordenador da operação acima citada, "a situação do Brasil é preocupante" no que diz respeito à venda ilegal de medicamentos. Essa atividade é classificada como crime hediondo na medida em que, além do risco à saúde, a população é vítima de estelionato:

... isso ocorre porque em média 37% das transações não são concluídas por parte dos fornecedores. Eles (os sites) vendem, mas não entregam. O crime de falsificação de medicamentos recebe a punição por contrabando, já que o produto é de origem estrangeira e entra clandestinamente no país.

Outra autoridade policial, o chefe da Interpol no país, assinala a emergência do "tráfico formiguinha" (A um clique..., 2010A UM clique do crime. Brasília, Correio Brasiliense, 20/10/2010, p. 9.), como um dos meios mais usados para trazer o medicamento para o Brasil. Esse tipo de atividade se caracteriza por uma venda menos centralizada de drogas, realizada por indivíduos que trabalham com relativa autonomia da figura de um chefe ou gerente geral do crime-negócio das drogas.

Os depoimentos convergem no sentido de identificar aspectos socioculturais presentes nessas práticas que envolvem o crime e o contrabando de medicamentos. Na opinião das autoridades policiais, a maioria das pessoas tem ciência de que a venda do medicamento é ilegal, já que é preciso uma autorização especial para a comercialização de muitos deles. Desse modo, existem esforços para aprovar legislação que puna a venda ilegal de anabolizantes com o mesmo rigor da legislação para o tráfico de drogas.

Conclusões

Um primeiro ponto que nos chamou a atenção foi a escassez de matérias encontradas: 13 de um universo de quatro mil. Dado que as duas principais palavras-chave para a busca nos jornais e revistas foram saúde pública e doping, pensamos que esse quadro pode apontar para a fraca conexão que a imprensa apresenta entre EA e esses descritores. Essa relativa invisibilidade do assunto EA, quando relacionada a uma questão de saúde pública, pode revelar a pouca atenção que os segmentos sociais em geral vêm reservando para o tema. No caso de gestores e agentes da saúde coletiva, tal quadro vem sendo gradativamente revertido, como foi dito anteriormente, embora ainda existam poucos dados sistemáticos e poucas iniciativas públicas nesse sentido. Nessa direção, pode-se dizer que o aumento do consumo detectado em levantamentos recentes como o do CEBRID, acima citado, não está espelhado no que vem sendo noticiado.

Entretanto, também é possível supor outra alternativa, isto é, que as informações sobre o assunto EA possam estar conectadas a outros núcleos de sentido. Assim, talvez, se acessarmos o material jornalístico a partir de palavras-chave sob o registro da estética ou do crime, uma quantidade maior de reportagens possa aparecer.

Para qualquer das hipóteses acima, podemos imaginar que, no campo jornalístico, e talvez para os leitores em geral, o EA não se aloca no âmbito de uma questão de saúde e, portanto, não é vinculado a essa palavra-chave.

Outro aspecto que merece destaque na análise dos EA nos meios de comunicação impressos diz respeito às representações de corpo e gênero. Assim, nas notícias publicadas, o imperativo do corpo perfeito se faz presente como o mote para o uso de EA, tanto para homens como para mulheres. Elas na maioria das vezes apresentam um corpo pronunciadamente musculoso, o que sugere pensar que o corpo forte é desejado como um símbolo de status/distinção. Isso remete à tradicional assimetria entre masculino e feminino, que se estrutura a partir da oposição força e fraqueza. Nesse registro, a fraqueza é apresentada como um atributo indesejável, independente do sexo. Dessa forma, o trabalho sobre o corpo se orienta para a construção de uma aparência apoiada em uma identidade de gênero supostamente adequada a uma normatividade da força, associada ao masculino, mas que é extensiva ao feminino, como indica o material analisado.

A fraqueza, tradicionalmente conectada ao feminino, assume uma dimensão de atributo desvalorizado para homens e mulheres - no limite, associando essa fraqueza/feminilidade ao "lugar" do indesejado. Um ícone desse procedimento, no caso das matérias analisadas, é a caricatura anteriormente citada de um esquálido praticante de musculação, que busca o corpo forte, sem anabolizantes.

Porém, o desejo de um corpo forte e o trabalho nessa direção - através da ingestão de esteroides - podem produzir simplesmente efeitos imprevisíveis. As matérias sinalizam esse movimento dos usuários de EA, que, ao procurarem ser e parecer fortes, foram surpreendidos com o crescimento da genitália externa feminina a ponto de necessitarem de plástica corretiva como sinalizado por uma reportagem, ou o coma do praticante de musculação, apresentado por outra. Os corpos excessivos, desconcertantemente musculosos, de alguns praticantes de lutas ou culturistas, também figuram como exemplo da impossibilidade de garantir uma "construção" totalmente coerente da identidade de gênero. Esse "excesso corporal" faz lembrar as críticas de Butler (1990) sobre a pretensa rigidez das fronteiras simbólicas entre indivíduos "adequados" e "não adequados"; no caso do consumo dos EA, a rigidez se torna uma incerteza, pois o imponderável marca os resultados a serem obtidos pelos consumidores.

Sem dúvida, se nota que os meios de comunicação privilegiam em sua abordagem atitudes e comportamentos associados ao gênero masculino, dotando-os portanto de maior visibilidade e maior poder simbólico, para lembrar mais uma vez Bourdieu. Cristalizados como versões mais poderosas, adquirem nuances de modelos fartamente oferecidos e que se tornam, sim, praticamente ideais a serem buscados - como, aliás, em seus estudos, Goffman (1979)GOFFMAN, Erving. Gender Advertisements. New York, Harper and Row, 1979. e Hall (2003) já haviam sinalizado. Entretanto, a imprevisibilidade ronda o processo, e os próprios jornais deixam vislumbrar brechas dessa dinâmica perturbadora.

Os estudos sobre os anabolizantes ainda são poucos, e o volume das análises produzidas sobre sua veiculação/apresentação nos meios de comunicação também não reflete a importância social crescente dessa questão.7 7 Exceção a esse quadro é o trabalho de Noto et al (2003). Os autores mencionam que apesar do crescente uso de anabolizantes no Brasil, as intervenções mencionadas nos artigos publicado na mídia, ao longo do ano de 1998, ficaram apenas no campo da legislação e/ou da repressão, na maioria das vezes, em função da detecção de anabolizantes entre esportistas (doping). Entretanto, como tentamos demonstrar, esse tipo de substância adquire fundamental relevância quando se trata de pensar os modos de produção e representação dos gêneros na contemporaneidade; neles, deve-se pensar o papel desempenhado pelas mais diversas substâncias para a produção dos corpos no reforço das identidades de gênero mais tradicionalmente dispostas.

Retomamos aqui novamente Goffman (1979)GOFFMAN, Erving. Gender Advertisements. New York, Harper and Row, 1979. e Hall (2003) que já haviam sugerido em estudos sobre gênero e "raça" nos meios de comunicação, respectivamente, que a tendência desses meios é cristalizar determinadas representações, reforçando modelos que se tornam, nesse processo, dominantes. O que encontramos no material estudado nos faz supor que essa tendência dos meios de comunicação permanece sendo válida na representação da relação entre os gêneros, tendo em vista a ingestão de anabolizantes.

Todavia, nessa conformação, um paradoxo se insinua: ao mesmo tempo em que se reatualizam nessas matérias jornalísticas padrões fixos de força/masculino e fraqueza/feminino, se apontam maneiras de ultrapassá-los, a partir de matérias e imagens que registram a ingestão das substâncias "masculinizantes" também por mulheres. Vão nessa direção os registros jornalísticos da presença feminina no circuito dos anabolizantes, embora poucos sinalizem o que vem ocorrendo nas interações sociais, e que aparece, por exemplo, no estudo do Cebrid: as mulheres também vêm fazendo uso de anabolizantes. Assim, a exibição da força adquirida por via do consumo de EA, constitui o alicerce de um tipo de masculinidade "epidérmica", que agora se encontra, paradoxalmente ou não, ao alcance de todos - e todas.

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  • 1
    Sigla em inglês para HGH, Hormônio do Crescimento Humano.
  • 2
    Segundo portaria que aprova o regulamento técnico de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, os anabolizantes pertencem ao grupo C5, específico dessas substâncias. A venda e a dispensação desses medicamentos ficam sujeitas à apresentação de receita médica em duas vias, das quais uma cópia fica retida no estabelecimento (ANVISA, 2012).
  • 3
    Os usuários dessas drogas para fins estéticos chegam a utilizar de 10 a 100 vezes mais a dose médica recomendada, normalmente misturam dois ou mais diferentes anabolizantes, orais e/ou injetáveis, e algumas vezes utilizam compostos veterinários. Agem dessa forma porque acreditam que a mistura de vários compostos possa dar um efeito maior sobre os músculos.
  • 4
    O II Levantamento Domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil abrangeu a população de 108 cidades brasileiras pesquisadas com mais de 200 mil habitantes. Foram realizadas 9.528 entrevistas com indivíduos na faixa entre 12 e 65 anos de idade. Além dos dados em si, também foram feitas comparações entre o consumo de diferentes drogas pela população entre os anos de 2001 e 2005.
  • 5
    Em 2001, o COI investiu na proposta de investigar em um Laboratório de Colônia, na Alemanha, uma amostra de 634 suplementos alimentares não hormonais, provenientes de 13 países de 215 fornecedores diferentes. Os resultados apresentados foram que 21,1% dos suplementos nutricionais analisados continham EA, enquanto 9,6% desses suplementos positivos eram de empresas que não vendiam pro-hormônios (COI, 2001).
  • 6
    Segundo dados coletados nos próprios sites desses veículos, Correio Brasiliense, Folha de S. Paulo e O Globo são jornais direcionados para as camadas altas e médias (A e B). O Dia e Extra são voltados para as camadas mais populares (C, D e E). A revista Veja figura como uma publicação dirigida para o público A e B.
  • 7
    Exceção a esse quadro é o trabalho de Noto et al (2003). Os autores mencionam que apesar do crescente uso de anabolizantes no Brasil, as intervenções mencionadas nos artigos publicado na mídia, ao longo do ano de 1998, ficaram apenas no campo da legislação e/ou da repressão, na maioria das vezes, em função da detecção de anabolizantes entre esportistas (doping).
  • *
    Recebido para publicação em 28 de novembro de 2012, aceito em 11 de novembro de 2013.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    28 Nov 2012
  • Aceito
    11 Nov 2013
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