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Meus encontros com Mariza Corrêa

Resumo

O acervo documental da antropóloga Mariza Corrêa (1945-2016) foi doado em 2019 ao Arquivo Edgard Leuenroth, mesma instituição que abriga os papeis resultantes de seu trabalho à frente do Projeto História da Antropologia no Brasil, desenvolvido a partir da década de 1980. Este artigo tem como objetivos apresentar três conferências inéditas de Corrêa, assim como seu acervo que abriga essa documentação, de forma a trazer a público alguns trabalhos importantes da autora, bem como incentivar novas pesquisas e reflexões com esse material, relevante para a área de história da antropologia. É um texto baseado também em minha relação com a documentação e com a pesquisa que venho desenvolvendo, que tem como foco a trajetória dessa antropóloga e seus papeis.

Mariza Corrêa; Documentos; Conferências; História da Antropologia no Brasil

Abstract

The document archive of anthropologist Mariza Corrêa (1945-2016) was donated in 2019 to the Arquivo Edgard Leuenroth, the same institution that houses the papers resulting from her work leading the History of Anthropology in Brazil Project since the 1980s. The objective of this article is to present three unpublished lectures by Corrêa, as well as her archives where this documentation is found, to make public some of the author’s important work, and to encourage new research and reflection on this material, which is relevant to the field of the history of anthropology. This text is also based on my relationship with the documentation and the research I have been carrying out, which focuses on the trajectory of this anthropologist and her roles.

Mariza Corrêa; Documents; Lectures; History of Anthropology in Brazil

Introdução

O título deste artigo é inspirado em uma das conferências inéditas de Mariza Corrêa (1945-2016), intitulada Meus encontros com Ruth Landes , que segue publicada nessa edição da Cadernos Pagu . Ali, como analisarei em mais detalhes adiante, ela conta como se deram seus encontros com uma outra importante antropóloga, Ruth Landes (1908-1991). Inspirada em sua fala e nos objetivos deste texto de abertura, no qual pretendo contextualizar o acervo1 1 Ainda que os termos “acervo”, “fundo” e “arquivo” possam ter algumas diferenciações em um âmbito mais técnico, utilizo-os ao longo do texto como sinônimos, ou seja, como um conjunto de documentos reunidos a partir da acumulação de um indivíduo ou instituição. “Arquivo” é também usado ao me referir ao local que abriga esses documentos. documental de Corrêa, assim como a relação da minha pesquisa de doutorado com eles, busco fazer essa analogia entre os títulos.

Não sei precisar exatamente quando se deu o meu primeiro encontro com Mariza Corrêa. Sei que foi em algum momento do início de minha graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Àquela altura, ela já era professora aposentada do Departamento de Antropologia da instituição. A primeira memória mais concreta que tenho é a de encontrar seu livro recém-lançado à época, Traficantes do simbólico & outros ensaios sobre a história da antropologia (Corrêa, 2013b), em uma feira da Editora da Unicamp, no próprio campus. Um colega do curso de Ciências Sociais que atuou neste evento havia ressaltado que “todos os antropólogos estavam levando esse livro” e foi seguindo a fala/conselho dele que comprei e levei um exemplar para casa. Nesse primeiro momento meu contato não passou de uma folheada breve e logo encontrei para a obra um lugar em minha estante. Porém, algum tempo depois, mais precisamente em 2015, em meio a dúvidas sobre que pesquisa seguir, eu conheci o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL)2 2 O Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social, foi criado em 1974 com o recebimento dos documentos do jornalista e militante anarquista Edgard Leuenroth (1881-1968). O arquivo é vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Desde então, constituiu importantes acervos sobre movimentos sociais, o mundo do trabalho, movimento feminista, movimento negro, movimento LGBT, antropologia e outras temáticas relacionadas às pesquisas desenvolvidas no IFCH, que ao todo constituem cerca de 150 fundos e coleções. Dados disponíveis na página do AEL [ https://ael.ifch.unicamp.br/historico - acesso em: 05 set. 2023]. e parte do acervo do Projeto História da Antropologia no Brasil (PHAB)3 3 O PHAB teve início em 1984 e contou com a coordenação de Mariza Corrêa, assim como a atuação de alunos da Unicamp e o financiamento de importantes agências nacionais. A iniciativa almejava “recuperar o que é possível recuperar, seja em termos de memórias dos nativos, seja em termos de material para a análise, da trajetória de nossa disciplina no Brasil” (Corrêa, 2013:16-17)), em um primeiro momento das primeiras gerações de profissionais no país. Porém, com o desenvolvimento do projeto, o escopo se estendeu até a criação dos quatro primeiros programas de pós-graduação em antropologia no Brasil, ou seja, até o início da década de 1970. Para mais informações, consultar também o artigo História da antropologia no Brasil: Projeto da Unicamp ( Corrêa, 1995 ). . Foi nesse momento que me lembrei do livro comprado no ano anterior e desde então ele já foi lido e relido algumas vezes.

Em pesquisas posteriores, segui encontrando com Corrêa no acervo da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) – documentação reunida por ela e organizada anteriormente por sua equipe do PHAB. Esses encontros, mediados por documentos e papeis, aconteceram quando segui trabalhando no acervo de um dos antropólogos fundadores do Programa da Pós-Graduação em Antropologia Social da universidade, Peter Fry (1941-), ambas as iniciativas ocorridas durante a graduação. Já durante meu mestrado, debrucei-me sobre a trajetória do também antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira (1928-2006), um dos principais interlocutores e doadores de acervo ao PHAB. Depois desses encontros e por meio de outros personagens e acervos, encontrei na própria trajetória e nos documentos de Mariza Corrêa o centro de minha pesquisa de doutorado, a qual venho desenvolvendo desde 2021.

Neste sentido, é importante apresentar o acervo da antropóloga – suas características e temas centrais – procurando mostrar como se deu meu trabalho com esse arquivo. Em seguida, faço alguns destaques e considerações sobre as três conferências inéditas que vêm publicadas nesta seção da revista cadernos pagu , sendo elas Girl-Friday, Meus encontros com Ruth Landes , já mencionada, e Comemoração do cinquentenário da primeira Reunião Brasileira de Antropologia (1953 –2003) . Por fim, esboço algumas considerações finais. Publicar esta sequência de conferências na cadernos pagu é também uma forma de homenagear Mariza Corrêa, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu e também desta revista, que há trinta anos abria seu primeiro número com um artigo assinado por ela (cf. Padovani; Simões; Bueno, 2023). Espero que, além das potencialidades que cada documentado apresentado possa ter para outras reflexões antropológicas, essa iniciativa instigue interessadas e interessados a conhecer mais do acervo de Corrêa e a desenvolver mais pesquisas no campo da história da antropologia no Brasil.

O acervo de Mariza Corrêa

O acervo pessoal de Mariza Corrêa foi doado em julho de 2019 ao AEL, três anos após sua morte. Ele corresponde a materiais que estavam no apartamento da antropóloga na cidade de Campinas e em sua antiga sala de trabalho na Unicamp. Quanto aos seus livros, parte desse material foi doado à biblioteca Beth Lobo, do Pagu. A escolha por essas instituições não são meros acasos: em relação aos livros, a participação da antropóloga no núcleo é mais do que conhecida, e a publicação de parte de seus documentos nesta edição da cadernos pagu é mais um reconhecimento de seus anos de colaboração. Corrêa foi coordenadora do Projeto História da Antropologia no Brasil, que ocasionou o início do recebimento de acervos antropológicos no AEL, a partir da doação dos materiais por parte dos interlocutores da iniciativa4 4 São eles Donald Pierson (1900-1995), Herbert Baldus (1899-1970), Roberto Cardoso de Oliveira e parte dos documentos da Associação Brasileira de Antropologia, da qual Corrêa foi presidente (1996-1998). Posteriormente, o AEL recebeu, além do acervo de Corrêa, outros sete fundos de antropólogas e antropólogos. . A incorporação do acervo da própria autora neste arquivo, assim, é significativa para a continuidade das pesquisas sobre a história da disciplina que tanto a mobilizaram.

É interessante destacar a riqueza destes conjuntos documentais, com uma breve descrição de sua composição. O acervo de Corrêa corresponde a pouco mais de setenta caixas-arquivo de documentação textual, além de cerca de dez pastas de grandes formatos (contendo cartazes e jornais), duas caixas de fotografias e seis caixas de material tridimensional (contendo fitas VHS, fitas cassetes, DVDs, disquetes e películas). Esse material, que corresponde a milhares de documentos pessoais sobre sua trajetória, mas também sobre a trajetória de diversos interlocutores, ainda não passou pelo processo de organização, ainda que já possa ser consultado por pesquisadoras e pesquisadores interessados.

O acervo, ainda recentemente incorporado, tem apenas uma listagem simples sobre seu conteúdo, que ajuda a identificar, ainda que de forma muito breve, algumas temáticas que se sobressaem. Durante meu processo de pesquisa, produzi, a partir de um acordo estabelecido com a instituição, uma descrição mais completa do material, buscando possibilitar que outras pesquisadoras e pesquisadores consigam ter uma melhor dimensão do conteúdo de cada caixa e que isso possibilite outras investigações, o que não substitui os instrumentos de pesquisa oficiais utilizados no arquivo. Posteriormente, quando o acervo for organizado pelo AEL, essa nova listagem ajudará também no trabalho de organização e, depois, será substituída pelo inventário – o instrumento de pesquisa utilizado pela instituição que permite às interessadas e aos interessados compreenderem as formas de classificação e algumas características do material, como temas, pessoas, instituições, anos, etc, que envolvem o acervo.

Quanto ao conteúdo do fundo Mariza Corrêa, além de correspondências, materiais de estudos e de docência (como textos de terceiros, resumos, ementas de disciplinas e textos produzidos para as aulas), há muitos documentos referentes a pesquisas e projetos desenvolvidos por ela, ou ainda sobre seu trabalho como jornalista. Há também agendas, cadernos, materiais burocráticos referentes a auxílios e financiamentos de projetos da antropóloga e de seus orientandos, teses e dissertações, programações de eventos, material sobre programas de pós-graduação, relatórios, trabalhos de estudantes, seus próprios trabalhos como aluna do mestrado, anotações diversas e rascunhos de textos de conferências. Dentre os materiais de pesquisa, é possível encontrar as transcrições de vários dos depoimentos do PHAB (a maior parte deles não publicados), acervos e documentos recebidos ou acumulados pelo projeto (mas que não foram oficialmente constituídos como um fundo à parte), e materiais de pesquisa. Há, ainda, publicações que estavam em desenvolvimento, apresentações de congresso não publicadas. Trata-se da materialização de um percurso intelectual que permite acompanhar a forma que algumas temáticas foram sendo desenvolvidas por Corrêa ao longo da carreira. Se, na passagem do mestrado para o doutorado, a antropóloga passou dos estudos sobre violência contra mulheres para o da história da antropologia, é com o PHAB que as imbricações de gênero e o próprio desenvolvimento da disciplina tomaram forma de um projeto intelectual ambicioso e ao mesmo tempo coletivo (tendo em vista sua influência na formação de gerações de estudantes, pesquisadoras e pesquisadores). Mesmo seus estudos sobre corpo e corporalidade, desenvolvidos posteriormente, contam um pouco da riqueza da produção intelectual que, não obstante, é bastante coesa e reflete o interesse crítico e reflexivo de Corrêa sobre a antropologia e as formas de praticá-la. Esse é apenas um breve panorama das potencialidades reflexivas que o estudo do acervo da antropóloga propicia para a história da disciplina.

Ainda que o acervo tenha sido incorporado ao AEL em 2019, meu encontro com esses documentos começou em 2022, pouco depois da reabertura da instituição, após a pandemia do COVID-19. Como já mencionei anteriormente, ainda que a minha relação efetiva com a documentação da antropóloga tenha ocorrido muitos anos depois, seu trabalho já permeava minhas reflexões e minhas experiências de pesquisa há algum tempo, tanto em um sentido mais estrito à disciplina, quanto à prática de lidar com esse tipo de documentação em específico, ou seja, documentos produzidos e reunidos por antropólogas e antropólogos. Entretanto, o acervo de Corrêa me colocou novos desafios e impactou a forma como me relacionei com esse material e como pude e posso me encontrar com essa documentação: de um lado, é um acervo que não havia passado por nenhuma organização institucional; de outro, era um acervo que tem uma característica específica de aglutinar, além da trajetória da antropóloga, um longo trabalho sobre outras e outros profissionais deste campo científico.

Ainda que a falta de organização do acervo não impossibilite seu acesso, isto causa, em certos aspectos, uma possibilidade particular de leitura. De um lado, a não organização institucional não implica um conhecimento da organização prévia da titular (ainda que talvez possa oferecer alguns indícios desta lógica pessoal), já que pode haver outros agentes envolvidos nessa atuação de recolhimento dos materiais; de outro, ela dificulta uma leitura mais “linear” da documentação. Explico: ainda que não existam indícios de que a gestão dos documentos no dia a dia tenha sido realizada por terceiros, ou seja, que outras pessoas tenham se encarregado da documentação além da titular em seu trabalho cotidiano, o próprio recolhimento, transporte e acondicionamento posterior foi realizado por funcionários e colaboradores do arquivo. Essa é uma condição presente em muitos acervos e não é uma problemática para a pesquisa. O que quero chamar atenção aqui é justamente que a não organização não implica mais acesso a titular – já que, como nos alerta Luciana Quillet Heymann (1997HEYMANN, Luciana Quillet. Indivíduo, Memória e Resíduo Histórico: Uma reflexão sobre Arquivos Pessoais e o Caso Filinto Müller. Estudos Históricos (19), Rio de Janeiro, 1997, pp.41-66 [https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/2041 - acesso em: 11 out. 2023].
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; 2013), não podemos entender arquivos como sinônimos de memória, porque os documentos são preservados à luz das preocupações de acumulação de seus titulares e, com isso, não reproduzem, necessariamente, a totalidade de sua trajetória. Além disso, os processos de institucionalização desse material, ou seja, de recolhimento e organização, passam também pela gestão de terceiros – isso significa que, apesar de haver regras técnicas que pautam o trabalho de arquivistas e outras funcionárias e funcionários que trabalham em instituições de memória, essas normas são interpretadas e aplicadas por pessoas, causando, assim, aspectos subjetivos a esse trabalho (cf. Heymann, 1997HEYMANN, Luciana Quillet. Indivíduo, Memória e Resíduo Histórico: Uma reflexão sobre Arquivos Pessoais e o Caso Filinto Müller. Estudos Históricos (19), Rio de Janeiro, 1997, pp.41-66 [https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/2041 - acesso em: 11 out. 2023].
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) e as narrativas produzidas a partir desse material. Mas também significa que este momento permite uma reflexão sobre a própria constituição de um fundo arquivístico, já que, como nos relembra Olívia Maria Gomes da Cunha (2004)CUNHA, Olivia Maria Gomes da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. Mana (10/2), Rio de Janeiro, 2004, pp.287-322 [https://doi.org/10.1590/S0104-93132004000200003 - acesso em: 11 out. 2023].
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, os arquivos são “resultado de procedimentos sucessivos de constituir e ordenar conhecimentos, realizados não só pelas mãos dos arquivistas, mas por seus virtuais usuários” ( Cunha, 2004CUNHA, Olivia Maria Gomes da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. Mana (10/2), Rio de Janeiro, 2004, pp.287-322 [https://doi.org/10.1590/S0104-93132004000200003 - acesso em: 11 out. 2023].
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: 291) e, ao invés de serem concebidos como resultado de procedimentos técnicos, devem ser objeto de reflexão. Entretanto, é justamente no segundo ponto, na dificuldade de uma leitura linear, que encontramos mais impasses para acompanhar determinados assuntos ou desdobramentos em virtude da dispersão do material. E, dessa forma, é apenas com a visão do todo que conseguimos chegar, em parte, a algumas conclusões.

Como afirmei, o acervo de Corrêa tem algumas características particulares, como de aglutinar a trajetória da antropóloga e de outras e outros profissionais. Ainda que o PHAB tenha envolvido uma série de estudantes, pesquisadoras e pesquisadores em seu entorno, já que uma de suas contribuições é também o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa nessa temática na Unicamp, a figura de Corrêa é central para o reconhecimento e sistematização desse trabalho. Dessa forma, os documentos do acervo da antropóloga convergem com essa mistura entre pesquisadora e sua pesquisa. Parte do material do PHAB se constituiu como um conjunto de fundos “autônomos”, a partir do trabalho de organização de estudantes vinculados ao projeto e do financiamento que foi possível obter, mas parte dessa documentação continuou sob a guarda de Corrêa até o final da vida. Ainda que houvesse outros investimentos posteriores no Projeto, fica claro que eles não foram suficientes para dar conta de tudo que foi recolhido. Na realidade, apesar do projeto ter sido financiado por agências de fomento, com prazos estabelecidos, é difícil precisar quando de fato terminou. Apesar de haver um período de intenso trabalho – principalmente quando as entrevistas estavam sendo produzidas na década de 1980 –, os desdobramentos continuaram a ser desenvolvidos nos anos seguintes.

A íntima relação entre a trajetória de Corrêa e o PHAB não é apenas entrevista quando analisamos sua trajetória ou a história do projeto, mas está materializada nos documentos que hoje estão sob a guarda do AEL, mesmo que separados em diferentes conjuntos (o que, sem os dispositivos de referência e remissão, torna tal relação muito difícil de perseguir). É preciso lembrar que, de maneira geral, os arquivos pessoais são sempre espaços de muitas outras pessoas além de seu titular (assim como seus titulares estão esparramados por outros acervos); porém, nesse conjunto particular, isso se sobressai ainda mais. Trata-se de documentos relacionados por uma forte reflexão sobre a própria disciplina antropológica.

As conferências não publicadas

Meu encontro com os três documentos específicos publicados nesta edição ( Girl-Friday, Meus encontros com Ruth Landes e Comemoração do cinquentenário da primeira Reunião Brasileira de Antropologia (1953 –2003) ) aconteceu de duas formas. O primeiro documento, Girl-Friday , é o único da série que é um textual físico; já os demais são documentos textuais digitais e estavam gravados em disquetes. É preciso salientar que o trabalho com todos os suportes materiais presentes no acervo, sejam eles físicos, imagéticos, digitais ou de áudio, seguiram de maneira geral o mesmo processo e necessitavam de um duplo movimento: um primeiro contato com o material total de forma mais geral, e um segundo, já pré-selecionado e com uma análise mais detida sobre cada um dos documentos. Dessa forma, eles foram sendo identificados à sua maneira e relacionados com a trajetória da antropóloga e com o que os outros documentos iam contando, ao longo da análise de seu conteúdo, durante o trabalho documental. A escolha por esses textos em específico seguiu alguns critérios, e o principal foi relacionado ao ineditismo de seu conteúdo. Com isso, as apresentações orais se destacaram tanto pelo caráter de pouca circulação, como também pelo próprio volume desse tipo de material no acervo. Por fim, ressalto que a temática e a afinidade com meus interesses de pesquisa foram também colocadas nessa equação. Passo a falar especificamente sobre cada uma das falas.

A primeira conferência apresentada nesta edição da cadernos pagu é Girl-Friday . Ela foi a primeira por mim encontrada, já que iniciei meu trabalho pelos documentos físicos, mas é também a que mais está imersa em seu contexto de produção e está ligada a uma série de outros documentos do acervo. Ela remonta às relações que Mariza Corrêa estabeleceu com o antropólogo estadunidense Donald Pierson e, em especial com sua esposa, Helen Pierson. Donald Pierson foi um dos principais interlocutores de Mariza Corrêa no PHAB. Com ele, a antropóloga trocou cartas por mais de cinco anos. Esse diálogo – que se iniciou com um pedido de depoimento escrito ao projeto5 5 Publicados nos livros História da Antropologia no Brasil: 1936-1960 – Testemunhos: Emilio Willems e Donald Pierson (1987) e Traficantes do simbólico & outros ensaios sobre a história da antropologia (2013b). e em meio a conversas sobre a trajetória do antropólogo e suas redes de relação no Brasil – desencadeou em Pierson, então residindo nos Estados Unidos, um processo de seleção e de envio de documentos pessoais a Corrêa6 6 Para saber mais, ver Sidetracks: Mariza Corrêa e a história da antropologia no Brasil ( Tambascia; Rossi, 2018) . . A maior parte do material enviado encontra-se hoje no fundo Donald Pierson no AEL, mas uma outra parte deste diálogo pode ser encontrada nos documentos que estão depositados no fundo Mariza Corrêa. Entre as muitas questões que podem ser abordadas nessa intensa troca de correspondência, é possível destacar uma que, à primeira vista, pode passar despercebida. Ainda que a interlocução seja majoritariamente assinada por Corrêa e por Pierson, a figura de Helen Pierson, a esposa do intelectual, que o acompanhou durante sua estadia no Brasil, está presente em todo o material (não apenas na referida troca de cartas, mas também em outras correspondências doadas ao PHAB). Helen é quem datilografa todas essas cartas e em algumas ocasiões é ela mesma quem assina (nesse caso, principalmente quando seu marido está com algum problema de saúde). Porém, mas do que isso, Helen atuou junto a Donald profissionalmente durante toda a vida, ainda que esse papel tenha ficado bastante desconhecido. E é justamente por isso que Corrêa muitas vezes pede para que ela escreva um depoimento sobre seu trabalho no Brasil, de maneira que ela pudesse contar as suas próprias memórias por meio de suas próprias palavras. Porém, é apenas depois de muita insistência, em 1989, que esse texto foi produzido.

Em sua carta, Helen começa se intitulando uma Girl-Friday , ou seja, como uma espécie de coadjuvante da trajetória do marido. Essa parece ser a chave que ajuda a entender o sentido do rememorar de suas atividades no Brasil, que iriam de encontro às dificuldades de seu marido em realizar algumas pequenas tarefas, consideradas menores em importância, mas necessárias. Helen Pierson termina seu depoimento com trechos de seu diário de campo produzidos em uma das viagens à Cruz das Almas, comunidade localizada no estado de São Paulo em que o casal Pierson (e diversos estudantes da Escola de Sociologia e Política de São Paulo) realizava pesquisas. Esse e alguns outros documentos do Fundo Mariza Corrêa nos ajudam a conhecer um pouco mais sobre o trabalho de Helen, mas há um em particular que une essa atuação com o desenvolvimento do trabalho de Corrêa no projeto “Antropólogas e Antropologia no Brasil”7 7 O projeto “Antropólogas e Antropologia no Brasil” foi iniciado na década de 1990 e financiado, principalmente, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para dar continuidade a questões já encontradas no PHAB, dessa vez voltadas para a relação entre gênero e história da antropologia no país. A partir desse trabalho, foram publicados os livros Antropólogas e Antropologia (Corrêa, 2003a) – citado algumas vezes ao longo do artigo – e Querida Heloisa/Dear Heloisa: cartas de campo para Heloisa Alberto Torres ( Corrêa; Mello, 2008) . .

Em junho de 1992, Mariza Corrêa participa de um congresso em Amsterdam, intitulado “ Alice in Wonderland – first international conference on girls and girlhood: Transitions and Dilemmas ”, onde apresenta uma fala na sessão “ Frictions in role models: adulthood and cleverness ” do Workshop “ Education and Upbringing ”. Ali, ela analisa a carta de Helen e reflete sobre seu conteúdo e sobre a questão de sua auto intitulação como uma Girl-Friday , sendo esse o primeiro documento anexo a esta edição da revista8 8 No acervo, encontramos esse texto em inglês, intitulado “ A girl-friday in Brazil & other girls in the woods ”, e a tradução para o português produzida posteriormente. . Sua reflexão gira em torno de pensar sobre a representação da mulher como uma eterna menina que só atinge a maturidade por meio do casamento e da maternidade. Porém, mais do que isso, Mariza atenta para a autodefinição de Helen como uma ajudante, o que se configurou como um pontapé para pensar sobre as outras mulheres que fizeram pesquisa no país nessa época em situações semelhantes. Eram muitas delas relembradas como irmãs, filhas e, principalmente, esposas de determinados antropólogos, que atuavam como “ajudantes” mesmo tendo treinamento em Antropologia. Dessa forma, essa conferência colabora com a compreensão do importante papel do diálogo com Helen e de seu relato para as pesquisas de Corrêa que se seguiram. Na publicação Antropólogas e Antropologia (Corrêa, 2003a), Corrêa cita brevemente o próprio termo Girl-Friday , embora não fique tão clara a importância desse diálogo para o desenvolvimento dessa pesquisa. Indícios como essa comunicação, não publicada, que encontramos em seu acervo, mas também as pistas presentes nas outras correspondências em seus inúmeros pedidos de depoimento, complexificam a trajetória intelectual, desde a pesquisa, a produção de dados empíricos (que, no caso, iluminam a centralidade das relações de amizade entre Corrêa e o casal Pierson), a reflexão sobre os mesmos e sua publicação.

A segunda conferência aqui publicada é Meus encontros com Ruth Landes . Ela dá início a uma série de textos que foram encontrados nos mais de 100 disquetes do acervo de Corrêa. Essa fala foi apresentada em março de 2003 em evento realizado em Salvador, Bahia. Apesar de o tema do evento não ser conhecido apenas com o acesso ao trabalho, fica claro, logo no início, que o foco da reflexão de Corrêa, ao menos no contexto dessa mesa da qual participou, é a trajetória da antropóloga estadunidense Ruth Landes. Aqui, Corrêa remonta aos seus diversos encontros com a autora em diferentes momentos de sua trajetória, sendo eles: uma leitura inicial, uma leitura no mestrado, uma leitura no doutorado e uma troca de cartas9 9 Na conferência, Corrêa não “contabiliza” a escrita do prefácio à segunda edição de A cidade das mulheres (2002), ou o capítulo “O mistério dos orixás e das bonecas” de Antropólogas e Antropologia (2003a), ou ainda a escrita dessa conferência, como outros encontros. . A primeira leitura e as correspondências se distanciam por quase 15 anos. Esses cruzamentos se iniciaram pouco antes do ingresso efetivo de Corrêa na disciplina (nos anos de 1970, quando ela morava nos EUA) e têm como “quarto capítulo” uma troca de correspondências, realizada na década de 1980, durante o desenvolvimento do PHAB10 10 Parte dessa comunicação entre as antropólogas pode ser encontrada no acervo de Corrêa no AEL, assim como a carta com Leni Silverstein que intermediou o contato entre Corrêa e Landes, além das cópias da correspondência de Landes e Melville Herskovits (1895-1963), entre 1939 e 1940, sobre a pesquisa realizada no Brasil, bem como do relatório produzido por Landes e que foi alvo de crítica por Arthur Ramos (1903-1949) e Herskovits – sobre essa questão ver Esboços no espelho ( Corrêa, 2002) e Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo ( Cunha, 2004) . , quando a antropóloga brasileira ainda não havia iniciado efetivamente o já citado projeto de pesquisa sobre antropólogas no Brasil.

Embora a antropóloga brasileira tenha afirmado na conferência que ainda não tinha como foco as imbricações entre gênero e história da disciplina, ao olharmos para outras documentações de seu acervo, encontramos já seu embrião. Na própria troca de cartas com Landes, vemos que Corrêa já apontava para a possibilidade da escrita de trabalhos à parte daquilo que estava previsto no PHAB, sendo um dos temas de grande interesse aquele relacionado a questões de gênero na história da antropologia. É conhecida a importância da análise sobre a trajetória de Dina Dreyfuss (1911-1999) no trabalho da antropóloga brasileira (cf. CORRÊA, 2003a). Dreyfuss veio ao Brasil na década de 1930 junto a missão francesa que ajudou a criar a Universidade de São Paulo (USP), porém, a despeito de sua formação e trabalho realizado (cf. VALENTINI, 2010VALENTINI, Luísa. Um laboratório de antropologia: o encontro entre Mário de Andrade, Dina Dreyfus e Claude Lévi-Strauss (1935-1938). Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010 [https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-06062011-132611/pt-br.php - acesso em: 15 out. 2023].
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), ficou atrelada a figura e ao sobrenome de seu marido à época, o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Quando Corrêa, depois de muita dificuldade, consegue encontrar Dreyfuss percebe que sua trajetória do Brasil foi duplamente apagada: se havia perdido um nome quando se casou, havia perdido também a memória sobre sua passagem e atuação no país. Da mesma forma, a atenção às invisibilidades dos trabalhos de outras esposas de antropólogos permitiu à Corrêa constituir um corpo vigoroso de análise sobre gênero na história da antropologia. Essas discussões foram apresentadas de maneira mais sistemática em Antropólogas e Antropologia (Corrêa, 2003a), à luz de questionamentos encontrados no PHAB – ou seja, à luz dos encontros, ou melhor, dos desencontros com algumas mulheres ao longo das investigações sobre a história da antropologia. Entretanto, seria, também, uma forma de aliar as reflexões sobre sua própria disciplina aos seus interesses pela teoria feminista, desenvolvidos em pesquisas anteriores11 11 Como Os crimes da paixão (1981) e Morte em família. Representações jurídicas de papeis sexuais (1983). .

Não almejo apontar uma nova leitura para a conferência em questão, que desenvolve o argumento de Corrêa sobre os incômodos com uma leitura realizada anos depois do livro The Ojibwa Woman (Landes, 1937) e da própria trajetória de Landes, que acabam por apagar questões importantes do período em detrimento de um foco no gênero da antropóloga estadunidense e em sua análise dos candomblés da Bahia. Ressalto, no entanto, a importância de compreender como essas discussões foram sendo construídas paralelamente, ao longo dos anos e ao longo do trabalho de Corrêa, a partir de relações e encontros significativos, sejam essas relações mais próximas, como no caso de Helen Pierson, ou mais distantes, como no caso de Ruth Landes. Tais relações produziram – mas também foram mediadas por – documentos que ora formaram algumas das bases dos acervos do PHAB, ora constituíram o arquivo daquela que buscava realizar uma história crítica do fazer antropológico.

Como fica claro, essa é justamente a questão que permeia essas duas primeiras conferências. Ela é, também, parte de meus interesses de pesquisa, ao refletir sobre como uma análise de gênero marcou esse fazer antropológico e a historiografia da disciplina através dos desdobramentos da produção de Corrêa e das discussões posteriores em relação à atuação de mulheres no desenvolvimento da antropologia. Busco, por meio da análise da trajetória da antropóloga, com atenção especial às imbricações entre estudos de gênero e a história da disciplina, compreender como sua obra impulsionou uma importante agenda de reflexão crítica para a historiografia da disciplina, bem como para uma etnografia do fazer científico feito no Brasil. O que me leva à terceira conferência é um segundo movimento, desenvolvido ao longo do trabalho no PHAB, sobre a constituição, ou o desenvolvimento, de um campo de estudos sobre a história da disciplina no país.

Comemoração do cinquentenário da primeira Reunião Brasileira de Antropologia (1953 –2003) é a última conferência aqui apresentada, proferida justamente em evento que celebrou a data mencionada no título, em um evento ocorrido no Museu Nacional, em novembro de 2003. A fala ocorreu durante a quarta sessão do seminário “História da Antropologia no Brasil”, intitulada “As reuniões da ABA e o pensamento antropológico no Brasil”. É importante lembrar que, à época dessa apresentação, Corrêa lançou o livro As reuniões brasileiras de antropologia – Cinquenta anos (1953-2006) (Corrêa, 2003b), também em comemoração à celebração. A publicação reúne informações sobre as 23 primeiras reuniões de antropologia do Brasil, a partir de seu trabalho junto aos documentos da instituição e ao PHAB.

No início da conferência, Corrêa sinaliza sobre a preocupação com a memória da associação e a importância de se ter mais pessoas envolvidas nesses processos. Foi durante sua presidência (1996-1998) que o acervo da ABA foi doado ao AEL – prática que foi seguida em algumas gestões seguintes, que enviavam, periodicamente, novos acervos produzidos pela instituição. No arquivo de Corrêa, encontramos o livro sobre as reuniões de antropologia no Brasil, assim como materiais pessoais sobre algumas reuniões – por exemplo, a XXI Reunião Brasileira de Antropologia, realizada em Vitória durante a sua gestão –, mas também um vídeo, em formato de fita VHS e DVD, que registra momentos do evento no qual a conferência foi realizada. Afinal, o arquivo da antropóloga aglutina uma série de materiais que permitem acessar determinados momentos históricos sobre sua trajetória, de seus interlocutores ou sobre temas relacionados a suas pesquisas, de forma a ir além de uma mera reconstituição de um passado histórico, seguindo a própria indagação de sua titular em sua fala.

No vídeo intitulado “Memórias da Antropologia no Brasil”, que registra a reunião de comemoração aos 50 anos da ABA, há um trecho12 12 Esse trecho faz parte de um material bônus, assim chamado no próprio documentário, e que está ao final do vídeo “principal”. Essa seção adicional contém trechos de falas de cada um dos ex-presidentes da Associação que estavam vivos naquela ocasião, com exceção de Luiz de Castro Faria (1913-2004). no qual a antropóloga indaga sobre o desenvolvimento de uma história crítica da disciplina. Corrêa afirma que, até aquele momento, a história da antropologia estava mais preocupada em “registrar”, o que era também necessário, mas que faltava dar o passo seguinte: fazer uma “leitura mais crítica”. Ainda que a antropóloga lançasse mão dessa discussão – que é fundamental para que a história da disciplina não seja apenas um lugar de contemplação (ou reificação de certas narrativas) sobre seu passado, mas construa de fato uma reflexão crítica sobre as nossas práticas atuais –, acredito que seu próprio trabalho permite tecer considerações mais amplas. Ao tomar como foco de análise a historiografia da antropologia, considerando sobretudo como relações de gênero produzem certas celebrações e muitos esquecimentos, Corrêa almejava não apenas fazer com que se conhecesse a história de algumas mulheres que atuaram na disciplina, mas refletir e transformar os constrangimentos causados durante suas trajetórias em recalibrações da prática antropológica no presente – uma forma de olhar e contar sobre o passado, como é notável na tese As ilusões da liberdade: a escola de Nina Rodrigues e a Antropologia no Brasil (Corrêa, 2013a), mas também nas inúmeras publicações resultantes do PHAB, como Traficantes do simbólico & outros ensaios sobre a história da antropologia (Corrêa, 2013b). Entretanto, argumento, conhecer também aquilo que serviu de base para tais publicações, em um longo processo de amadurecimento de certas críticas e pistas investigativas, pode fazer com que se recupere o projeto de história intelectual de Corrêa de renovadas formas.

Apontamentos finais

Este texto não tem a pretensão de esgotar todos os argumentos apontados por Corrêa nas conferências apresentadas a seguir. Não pretende, também, apontar todas as possibilidades de leitura sobre eles. Ao invés disso, busquei lançar mão e desenvolver alguns dos pontos levantados pela antropóloga que mobilizam diretamente os meus interesses de pesquisa (o que orienta as maneiras particulares com que encontrei o acervo de Corrêa, bem como as formas como percorri esse caminho). Desta forma, apresentar rapidamente os textos de Corrêa que agora são disponibilizados à comunidade acadêmica, mas sobretudo deixar que “falem mais por si mesmos”, feito apenas um breve resumo do conjunto de interesses da antropóloga, fazem com que estes sejam peças que se destaquem dentro de muitas outras. Porém, mais uma vez, é importante relembrar algo que tentei desenvolver ao longo da escrita: esses documentos dizem muito mais ao serem consultados em relação uns com os outros. Ou seja, muito do que pude dizer sobre esses três textos de Corrêa é fruto de um conjunto de diversas leituras sobre seu trabalho, mas sobretudo é resultado de um percurso singular sobre um conjunto documental diverso. Deixo o convite para que o acervo de Mariza Corrêa seja consultado por outras pesquisadoras e pesquisadores interessados em sua trajetória, nas temáticas de pesquisa que desenvolveu ao longo de sua carreira, em algum dos interlocutores ou interlocutoras dos projetos realizados ou em história da antropologia brasileira.

Referências bibliográficas

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    » https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-06062011-132611/pt-br.php
  • 1
    Ainda que os termos “acervo”, “fundo” e “arquivo” possam ter algumas diferenciações em um âmbito mais técnico, utilizo-os ao longo do texto como sinônimos, ou seja, como um conjunto de documentos reunidos a partir da acumulação de um indivíduo ou instituição. “Arquivo” é também usado ao me referir ao local que abriga esses documentos.
  • 2
    O Arquivo Edgard Leuenroth, Centro de Pesquisa e Documentação Social, foi criado em 1974 com o recebimento dos documentos do jornalista e militante anarquista Edgard Leuenroth (1881-1968). O arquivo é vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Desde então, constituiu importantes acervos sobre movimentos sociais, o mundo do trabalho, movimento feminista, movimento negro, movimento LGBT, antropologia e outras temáticas relacionadas às pesquisas desenvolvidas no IFCH, que ao todo constituem cerca de 150 fundos e coleções. Dados disponíveis na página do AEL [ https://ael.ifch.unicamp.br/historico - acesso em: 05 set. 2023].
  • 3
    O PHAB teve início em 1984 e contou com a coordenação de Mariza Corrêa, assim como a atuação de alunos da Unicamp e o financiamento de importantes agências nacionais. A iniciativa almejava “recuperar o que é possível recuperar, seja em termos de memórias dos nativos, seja em termos de material para a análise, da trajetória de nossa disciplina no Brasil” (Corrêa, 2013:16-17)), em um primeiro momento das primeiras gerações de profissionais no país. Porém, com o desenvolvimento do projeto, o escopo se estendeu até a criação dos quatro primeiros programas de pós-graduação em antropologia no Brasil, ou seja, até o início da década de 1970. Para mais informações, consultar também o artigo História da antropologia no Brasil: Projeto da Unicamp ( Corrêa, 1995CORRÊA, Mariza. História da antropologia no Brasil: Projeto da Unicamp. Manguinhos (2/2), Rio de Janeiro, 1995, pp.115-118 [https://doi.org/10.1590/S0104-59701995000300008 - acesso em: 11 out. 2023].
    https://doi.org/10.1590/S0104-5970199500...
    ).
  • 4
    São eles Donald Pierson (1900-1995), Herbert Baldus (1899-1970), Roberto Cardoso de Oliveira e parte dos documentos da Associação Brasileira de Antropologia, da qual Corrêa foi presidente (1996-1998). Posteriormente, o AEL recebeu, além do acervo de Corrêa, outros sete fundos de antropólogas e antropólogos.
  • 5
    Publicados nos livros História da Antropologia no Brasil: 1936-1960 – Testemunhos: Emilio Willems e Donald Pierson (1987) e Traficantes do simbólico & outros ensaios sobre a história da antropologia (2013b).
  • 6
    Para saber mais, ver Sidetracks: Mariza Corrêa e a história da antropologia no Brasil ( Tambascia; Rossi, 2018)TAMBASCIA, Christiano; ROSSI, Gustavo. Sidetracks: Mariza Corrêa e a história da antropologia no Brasil. cadernos pagu (54), Campinas, Núcleo de Estudos de Gênero-Pagu/Unicamp, 2018 [https://doi.org/10.1590/18094449201800540007 - acesso em: 11 out. 2023].
    https://doi.org/10.1590/1809444920180054...
    .
  • 7
    O projeto “Antropólogas e Antropologia no Brasil” foi iniciado na década de 1990 e financiado, principalmente, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para dar continuidade a questões já encontradas no PHAB, dessa vez voltadas para a relação entre gênero e história da antropologia no país. A partir desse trabalho, foram publicados os livros Antropólogas e Antropologia (Corrêa, 2003a) – citado algumas vezes ao longo do artigo – e Querida Heloisa/Dear Heloisa: cartas de campo para Heloisa Alberto Torres ( Corrêa; Mello, 2008)CORRÊA, Mariza; MELLO, Januária. Querida Heloisa/Dear Heloisa: cartas de campo para Heloisa Alberto Torres. Campinas, Núcleo de Estudos de Gênero – PAGU, 2008 [https://www.bibliotecadigital.unicamp.br/bd/index.php/detalhes-material/?code=50808 – acesso em: 11 out. 2023].
    https://www.bibliotecadigital.unicamp.br...
    .
  • 8
    No acervo, encontramos esse texto em inglês, intitulado “ A girl-friday in Brazil & other girls in the woods ”, e a tradução para o português produzida posteriormente.
  • 9
    Na conferência, Corrêa não “contabiliza” a escrita do prefácio à segunda edição de A cidade das mulheres (2002), ou o capítulo “O mistério dos orixás e das bonecas” de Antropólogas e Antropologia (2003a), ou ainda a escrita dessa conferência, como outros encontros.
  • 10
    Parte dessa comunicação entre as antropólogas pode ser encontrada no acervo de Corrêa no AEL, assim como a carta com Leni Silverstein que intermediou o contato entre Corrêa e Landes, além das cópias da correspondência de Landes e Melville Herskovits (1895-1963), entre 1939 e 1940, sobre a pesquisa realizada no Brasil, bem como do relatório produzido por Landes e que foi alvo de crítica por Arthur Ramos (1903-1949) e Herskovits – sobre essa questão ver Esboços no espelho ( Corrêa, 2002)CORRÊA, Mariza. Esboço no espelho. In: LANDES, Ruth. A cidade das mulheres. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2002, pp.9-22. e Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo ( Cunha, 2004)CUNHA, Olivia Maria Gomes da. Tempo imperfeito: uma etnografia do arquivo. Mana (10/2), Rio de Janeiro, 2004, pp.287-322 [https://doi.org/10.1590/S0104-93132004000200003 - acesso em: 11 out. 2023].
    https://doi.org/10.1590/S0104-9313200400...
    .
  • 11
    Como Os crimes da paixão (1981) e Morte em família. Representações jurídicas de papeis sexuais (1983).
  • 12
    Esse trecho faz parte de um material bônus, assim chamado no próprio documentário, e que está ao final do vídeo “principal”. Essa seção adicional contém trechos de falas de cada um dos ex-presidentes da Associação que estavam vivos naquela ocasião, com exceção de Luiz de Castro Faria (1913-2004).
  • Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processo nº 2021/05948-9).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    2023
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