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“Era nuestra casa como un hospital”: Os cuidados com a saúde e com a morte de escravos do Colégio Máximo de Córdoba e de suas estâncias (Província Jesuítica do Paraguai, 1718-1765)

“Our House Was Like a Hospital”: Health and Death Care towards Slaves of the Colegio Máximo de Córdoba and its Ranches (Jesuit Province of Paraguai, 1718-1765)

Resumo

Neste artigo, apresentamos e discutimos a destinação de recursos realizada pelos jesuítas para o tratamento de escravos enfermos que desempenhavam funções produtivas e domésticas no Colégio Máximo de Córdoba e nas estâncias de Alta Gracia, Jesus Maria e Candelária, empreendimentos rurais responsáveis pelo sustento material daquele espaço educacional, nas cinco décadas que antecederam a expulsão da Companhia de Jesus da América espanhola no século XVIII. As fontes analisadas são os Libros de Cuentas, relatórios nos quais os jesuítas deixaram registrado o movimento contábil das propriedades por eles administradas, além do Libro de Consultas do Provincial, dos Memoriales e das Cartas Ânuas do período. Se, por um lado, constatou-se que as despesas com aquisição de tecidos para confecção de mortalhas e com dietas especiais para enfermos aumentaram consideravelmente nos períodos das epidemias, por outro, observou-se que seu impacto se deu de forma diferenciada em cada um dos estabelecimentos jesuíticos, uma vez que nem sempre os períodos mais críticos de saúde pública são coincidentes entre si, e tampouco a quantidade de mortos e de atendimentos a doentes.

Palavras-chave:
Escravidão; saúde; doença

Abstract

This article explores the allocation of resources by the Jesuits for the treatment of sick slaves who performed productive and domestic functions. The study focuses on the Colegio Máximo de Córdoba and the estancias of Alta Gracia, Jesús María and Candelaria, rural enterprises that provided material support to that educational space. The time frame of our study spans five decades before the expulsion of the Society of Jesus from Spanish America in the eighteenth century. The primary sources analyzed include the Libros de Cuentas, reports documenting the financial movements of the properties managed by the Jesuits; the Provincial’s Libro de Consultas; Memoriales; and the yearly letters written in the period. The research reveals that while expenses for special diets for the sick and shrouds increased during epidemics, the impact of these costs varied across Jesuit establishments. This variation is due to the different critical periods of public health that were not always synchronized across the studied locations, nor were the number of casualties and the care given to the sick.

Keywords:
Slavery; health; sickness

Introdução

A cidade de Córdoba, na atual Argentina, ocupou, no período colonial, um papel central no comércio de escravos na América Espanhola, fazendo a ligação entre o litoral atlântico (porto de Buenos Aires), a região do Chile e o norte mineiro (Potosí). Como havia pouca mão de obra indígena na região, muitos trabalhadores acabaram sendo comercializados localmente e passaram a ser utilizados nas propriedades cordobesas (BECERRA, 2008BECERRA, María José. Estudios sobre esclavitud en Córdoba: Análisis y perspectivas. In: LECHINI, Gladys (Comp.). Los estudios afroamericanos y africanos en América Latina: Herencia, presencia y visiones del otro. Buenos Aires: CLACSO; Córdoba: CEA-UNC, 2008, p. 145-163., p. 145), com destaque para os estabelecimentos que pertenciam à Companhia de Jesus.

Entre os historiadores que se dedicaram ao estudo das estâncias mantidas pelas Companhia de Jesus no território platino, destacamos Carlos Alberto Mayo (1994MAYO, Carlos Alberto. Las haciendas jesuíticas en Córdoba y el noroeste argentino. In: MAYO, Carlos Alberto (Comp.). La historia agraria del interior: Haciendas jesuíticas de Córdoba y el Noroeste. Buenos Aires: Centro Editor de América Latina, 1994, p. 7-16.) e Jorge Troisi Melean (2004; 2018), que se debruçaram sobre o cotidiano das propriedades rurais jesuíticas ao longo dos séculos XVII e XVIII, contemplando também as condições sanitárias das instalações e a saúde dos trabalhadores, sem, contudo, aprofundarem-se na análise dos gastos realizados pela ordem tanto com os enfermos quanto com os mortos, tema que abordamos neste artigo.

Por mais que os jesuítas adotassem uma série de medidas com vistas à manutenção da saúde de seus trabalhadores escravizados, estes foram afetados pelas condições sanitárias das cidades, principalmente pelas doenças sazonais, relacionadas diretamente com as questões climáticas e as epidemias causadas por doenças virais e bacterianas.1 1 Os vírus foram descobertos somente no final do século XIX. No período colonial, embora já se conhecesse a natureza contagiosa de várias enfermidades, acreditava-se na teoria miasmática, segundo a qual o ar poderia ser contaminado por nuvens de gases tóxicos que emanavam de corpos em decomposição, da vegetação ou de outro material orgânico, causando assim inúmeras doenças (JACKSON, 2014, p. 95). Diversos foram os momentos, ao longo do século XVIII, nos quais foi possível identificar crises demográficas causadas por epidemias na região da grande Córdoba (CELTON, 1998CELTON, Dora E.. Enfermedad y crisis de mortalidad en Córdoba, Argentina entre los siglos XVI y XX. In: CELTON, Dora E.; MIRÓ, Carmen; SÁNCHEZ ALBORNOZ, Nicolás (Org.). Cambios demográficos en América Latina: La experiencia de cinco siglos. Córdoba: Universidad Nacional de Córdoba; International Union for the Scientific Study of Population, 1998, p. 277-301., p. 277). Aníbal Arcondo (1993ARCONDO, Aníbal. Mortalidad general, mortalidad epidémica y comportamiento de la población de Córdoba durante el siglo XVIII. Desarrollo Económico: Revista de Ciencias Sociales, v. 33, n. 129, p. 67-85, 1993., p. 68), por sua vez, identificou, a partir dos registros paroquiais, três momentos de crise demográfica na cidade: o de 1717 a 1720, o de 1729 a 1731, que afetou principalmente as crianças de até 12 anos, e o de 1741 a 1744, constatando que eles estiveram diretamente vinculados à sua situação econômica.

A economia da região de Córdoba era diversificada, sendo que entre as principais atividades econômicas estavam a criação e engorda de gado bovino e muar para exportação, principalmente para abastecer a produção mineira do norte (Potosí), e o comércio de mercadorias importadas desde Buenos Aires, em sua maior parte através de contrabando. Entretanto, a queda da produção mineira e a repressão imposta ao litoral bonaerense levou, na primeira metade do século XVIII, à diminuição do comércio atlântico, gerando como consequência uma grave crise econômica em Córdoba. Somente na segunda metade do século, observou-se um aumento populacional na cidade e na região, que coincidiu com a melhoria de suas condições econômicas (ARCONDO, 1993ARCONDO, Aníbal. Mortalidad general, mortalidad epidémica y comportamiento de la población de Córdoba durante el siglo XVIII. Desarrollo Económico: Revista de Ciencias Sociales, v. 33, n. 129, p. 67-85, 1993., p. 68).

Na primeira metade do século XVIII, as dificuldades econômicas foram potencializadas pelos reincidentes fenômenos climáticos de seca e granizo e pelos ataques de pragas às plantações, que diminuíram a produção de grãos e contribuíram para o aumento dos preços dos alimentos, causando fome e desnutrição. Esses fenômenos econômicos e climáticos e as precárias condições de higiene (FRÍAS; MONTSERRAT, 2017FRÍAS, Susana R.; MONTSERRAT, María Inés. Pestes y muerte en el Río de la Plata y Tucumán (1700-1750). Temas de Historia Argentina y Americana, n. 25, p. 29-59, 2017., p. 30) acabaram impactando os moradores de Córdoba e região e, especialmente, a população escrava. Surtos epidêmicos ocorreram na região de Córdoba nos anos de 1700, 1707, 1710, 1711, 1713-1719, 1722, 1730-1731, 1742-1744, 1748-1749 (ARCONDO, 1993ARCONDO, Aníbal. Mortalidad general, mortalidad epidémica y comportamiento de la población de Córdoba durante el siglo XVIII. Desarrollo Económico: Revista de Ciencias Sociales, v. 33, n. 129, p. 67-85, 1993., p. 70). As doenças que mais acometeram a população foram a varíola, a disenteria, a tuberculose, a gastroenterite e a pneumonia (CELTON et al., 2020CELTON, Dora E. et al.. Estimación de la mortalidad esclava en Córdoba a fines del siglo XVIII. In: CELTON, Dora E.; COLANTONIO, Sonia E. (Ed.). Poblaciones vulnerables a través del tiempo: Negros, mestizos y mendigos en Córdoba, siglos XVIII-XX. Córdoba: Centro de Investigaciones y Estudios sobre Cultura y Sociedad, 2020, p. 111-136., p. 121), levando à morte uma grande quantidade de trabalhadores escravizados. De acordo com Mónica Ghirardi e Liliana Pizzo (2014GHIRARDI, Mónica; PIZZO, Liliana. Cotidianos dolientes: La sociedad cordobesa a través de los registros diarios de la atención de enfermos de los frailes betlemitas (1762-1775). In: GHIRARDI, Mónica (Coord.). Territorios de lo cotidiano: Del antiguo Virreinato del Perú a la Argentina contemporánea. Rosario: Prohistória, 2014, p. 129-159., p. 145), a essas doenças se somaram aquelas decorrentes das condições em que vivia a população, tais como a cólera, a lepra, o paludismo, o tifo, a tuberculose, a difteria, a sarna, vermes, diversos tipos de chagas e febres, entre as quais estava a “calentura gálica”.

Os períodos de epidemias que Córdoba vivenciou no século XVIII coincidem com o aumento de gastos com os tratamentos da população escrava das propriedades jesuíticas, como se pode observar na Carta Ânua2 2 As Cartas Ânuas compreendem os relatórios enviados para o Generalato da Companhia de Jesus sediado em Roma. Podendo abarcar um ou mais anos, descreviam os sucessos e as dificuldades encontradas no cotidiano de cada missão desenvolvida pelos jesuítas e o estado material e espiritual de cada uma delas. de 1714-1720 da Província Jesuítica do Paraguai (em SALINAS; FOLKENAND, 2017SALINAS, María Laura; FOLKENAND, Julio (Org.). Cartas Anuas de la Provincia Jesuítica del Paraguay: 1714-1720. 1720-1730. 1730-1735. 1735-1743. 1750-1756. 1756-1762. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción, 2017., p. 59-60):

Agora vamos falar do ano de 1718, que foi muito triste para os habitantes da cidade e seus arredores devido aos estragos da peste. (…) Acudiram os nossos aos afligidos em tudo que podiam e em todos os lugares (…), não fazendo distinção entre espanhóis, índios e morenos. O Colégio generosamente forneceu aos infectados todos os tipos de medicamentos. (…) Não só em casa, mas também fora dela, trabalharam os nossos até que finalmente muitos começaram a se infectar também. Logo, nossa casa era como um hospital para seus muitos enfermos (…). Aquela calamidade tão longa e irresistível, porém, não nos arrebatou, senão a dois irmãos e a um padre.3 3 Trad. livre dos autores: “Vamos a hablar ahora del año de 1718, el cual ha sido por su mitad muy triste para los habitantes de la ciudad y de sus alrededores por los estragos de la peste. (…) acudieron los nuestros a los afligidos en todo que podían y en todas partes (…), no haciendo distinción entre españoles, indios y morenos. El colegio proporcionó a los contagiados generosamente toda clase de medicamentos. (…) No solo en casa, sino también fuera de ella trabajaron los nuestros hasta que al fin comenzaron muchos a contagiarse (…). Pronto era nuestra casa como un hospital por sus muchos enfermos (…). Aquella calamidad tan larga e irresistible, sin embargo, no nos arrebató sino a dos hermanos y a un padre”.

Por ser um local de passagem obrigatória dos viajantes e escravos que se deslocavam do litoral ao norte mineiro, Córdoba era bastante vulnerável à ocorrência de epidemias. Em carta de 1719, o jesuíta Clausner (citado por MÜHN, 1946MÜHN, Juan. La Argentina vista por viajeros del siglo XVIII. Buenos Aires: Huarpes, 1946., p. 20) chegou a afirmar que os escravos haviam sido os vetores de contágio das doenças ocorridas no ano anterior:

No ano passado, a peste dominou terrivelmente aqui até trezentas léguas ao redor. Ela foi importada pelos ingleses que embarcaram 600 mouros na África para vendê-los depois, mais caro, na América. Essa pobre gente quase toda adoeceu e parte morreu devido ao inusitado e à longa viagem. Apenas nosso colégio na cidade e fazendas perderam 325 desses escravos negros, motivo pelo qual estão os campos e chácaras desertos por falta de cultivo.4 4 Trad. livre dos autores: “El año pasado ha dominado terriblemente la peste aquí hasta trescientas leguas de contorno, ha sido importada por los ingleses que embarcaron en África 600 moros para venderlos luego, más caros en America. Esa pobre gente enfermo casi toda y parte murió debido a lo inusitado y largo del viaje. Sólo nuestro colegio en la ciudad y haciendas, há perdido 325 de esos negros esclavos, con lo que los campos y chacras están desiertos por falta de cultivo”.

De acordo com as pesquisas feitas por Frías e Montserrat (2017FRÍAS, Susana R.; MONTSERRAT, María Inés. Pestes y muerte en el Río de la Plata y Tucumán (1700-1750). Temas de Historia Argentina y Americana, n. 25, p. 29-59, 2017., p. 45), no ano de 1718 houve uma epidemia de “febre pútrida” ou febre tifoide, causada pela bactéria Salmonella enterica typhi, que teria tido como causa as precárias condições de saneamento e higiene pessoal. Desta informação, deduz-se que Clausner pode ter-se equivocado ao afirmar que a epidemia havia sido introduzida na região por um navio inglês carregado de escravos, uma vez que a embarcação permaneceu sob quarentena no porto de Buenos Aires justamente para evitar o contágio.

Outro momento crítico para as propriedades jesuíticas de Córdoba aconteceu entre 1742 e 1743, como se pode constatar na Carta Ânua que registra o ocorrido nesse período (em SALINAS; FOLKENAND, 2017SALINAS, María Laura; FOLKENAND, Julio (Org.). Cartas Anuas de la Provincia Jesuítica del Paraguay: 1714-1720. 1720-1730. 1730-1735. 1735-1743. 1750-1756. 1756-1762. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción, 2017., p. 333):

Este trabalho de assistência aos doentes e moribundos aumentou excessivamente em um contágio cruel, que perdura em Córdoba e no porto de Buenos Aires, desde o início de janeiro de 1742 até agora, no qual escrevemos, 24 de julho de 1743, arrebatando a vida de uma imensa multidão de todas as idades e condições. (…) Aconteceu não raro que aquelas casas fossem tão pequenas e o número de pacientes tão excessivo, que em um único quarto ficavam seis ou oito pacientes prostrados, com pouco espaço entre eles, encontrando-se até dois em uma única cama.5 5 Trad. livre dos autores: “Aumentó excesivamente este trabajo de la asistencia a los enfermos y moribundos un cruel contagio, el cual perdura en Córdoba y en el puerto de Buenos Aires, desde principios de enero de 1742 hasta este momento, em que escribimos, 24 de julio de 1743, arrebatando la vida a una inmensa muchedumbre de todas las edades y condiciones. (…) Sucedió no pocas veces que aquellas casas eran tan reducidas y el numero de los enfermos tan excesivo, que en un solo aposento estaban postrados seis u ocho enfermos, habiendo poco espacio entre ellos, encontrándose hasta dos en una sola cama”.

O atendimento dos escravos enfermos pelos jesuítas sanava duas preocupações. A primeira era de ordem religiosa. Nesses momentos, a administração dos sacramentos era acelerada, a fim de que não morressem em situação de pecado, podendo comprometer a salvação de sua alma. A segunda preocupação era de ordem econômica, uma vez que boa parte do sustento material da Companhia de Jesus dependia do trabalho escravo em seus colégios e fazendas. Os escravizados eram considerados bens móveis, e seu cuidado estava relacionado com a manutenção de uma alta produtividade. Assim, quando eles adoeciam, os jesuítas dispendiam altas somas para assegurar sua recuperação, que eram investidas em dietas especiais, no preparo de medicamentos, no pagamento de atendimentos médicos especializados e, ainda, na aquisição de mortalhas para o sepultamento daqueles que sucumbiam às enfermidades.

Entretanto, nem tudo o que era investido na recuperação da saúde dos escravizados pode ser quantificado, haja vista que, pela natureza contábil das fontes investigadas, os cuidados médicos prestados pelos jesuítas e pelos próprios trabalhadores escravos, principalmente por aqueles que integravam confrarias,6 6 “As confrarias de negros batizados na América Espanhola foram implantadas no século XVI e nasceram da necessidade de oferecer aos cativos africanos um marco de evangelização, de organização e de diversão. Cada uma estava protegida por um santo padroeiro e seus membros celebravam missas, ajudavam-se mutuamente em caso de enfermidade e participavam nas procissões e festas religiosas”. Trad. livre dos autores: “Las cofradías de negros bautizados en Hispanoamérica fueron implantadas en el siglo XVI y nacieron de la necesidad de ofrecer a los cautivos africanos un marco de evangelización, de organización y de diversión. Cada una estaba protegida por un santo patrón y sus miembros celebraban misas, se ayudaban mutuamente en caso de enfermedad y participaban en las procesiones y fiestas religiosas” (PAGE, 2011, p. 95). não se encontram registrados nem precificados. Apesar de os registros de gastos não identificarem a população atendida, impossibilitando a verificação dos recursos investidos especificamente na saúde de escravizados enfermos, entendemos que as fontes permitem caracterizar as condições sanitárias do Colégio Máximo de Córdoba e de suas estâncias no período analisado. Por sua natureza, elas não permitem o estabelecimento de uma relação entre as atividades laborais realizadas pela população escrava e as doenças delas decorrentes.

O Libro de Cuentas, no entanto, oferece informações sobre algumas das tarefas desempenhadas pelos trabalhadores escravizados no Colégio Máximo de Córdoba, com destaque para os trabalhos domésticos, o acompanhamento de religiosos nas missões que ocorriam nas proximidades da cidade, o cuidado de animais, a participação na construção de prédios e o transporte de mercadorias e de pessoas. Já nas estâncias, segundo essa mesma fonte, os trabalhadores se dedicavam ao cuidado de animais, ao plantio, à colheita e ao beneficiamento de cereais, à tosa de ovelhas e à tecelagem, a trabalhos domésticos na residência dos administradores da propriedade e ao apoio em funções religiosas. Independentemente do local de trabalho, a jornada laboral iniciava-se no nascer do sol e se estendia até o anoitecer, exceto aos domingos e dias de festa religiosa, estando sujeitos a um regime disciplinar bastante rígido.

Neste artigo, apresentamos e discutimos a destinação de recursos para o tratamento médico ou, então, para o sepultamento de escravos que se encontravam ligados ao Colégio Máximo de Córdoba e às suas estâncias - Alta Gracia, Jesus María e Candelária7 7 Foi no Generalato do padre Cláudio Aquaviva, ao redor de 1600, que a Companhia de Jesus teve sua estrutura organizativa finalizada. Nessa estrutura, cada Colégio devia contar com recursos suficientes para sua fundação e conservação futura, estabelecendo um administrador dos bens, o procurador, pessoa responsável pelo seu provimento material. Também nas estâncias havia um religioso, geralmente irmão coadjutor, embora pudesse ser um sacerdote, que fazia o papel de administrador temporal, chamado de procurador ou de padre ou irmão estancieiro (PAGE, 2002, p. 245). - nas cinco décadas que antecederam a expulsão dos jesuítas da América Espanhola, no século XVIII. Além dos Libros de Cuentas,8 8 Os Libros de Cuentas são relatórios contábeis que registram o que era produzido, consumido, comprado e vendido pelos estabelecimentos jesuíticos, e podem ser consultados no Museo Nacional Estancia Jesuítica de Alta Gracia y Casa del Virrey Liniers (MNEJAG), em Córdoba, Argentina. Os livros utilizados nesta investigação foram gentilmente disponibilizados pelo professor Carlos Page. Mais do que apresentar lucros ou perdas econômicas das estâncias, esses livros registram os artigos que o Colégio enviava à estância, e os que a estância enviava ao Colégio, funcionando como um sistema conjunto, e não individual. A cada produto enviado ou serviço realizado era atribuído um valor segundo os preços correntes da época (PAGE, 2002, p. 245-246). recorremos aos dados registrados no Libro de Consultas do Provincial,9 9 O Libro de Consultas do Provincial da Província Jesuítica do Paraguai, desde 1731 até 1747, como já indica o nome, era um livro no qual eram registradas as consultas feitas pelo padre provincial aos religiosos da Província com o intuito de tomar decisões acerca de assuntos cotidianos, muitas vezes espinhosos ou complexos. Essa prática fazia parte do processo de tomada de decisões existente na Companhia de Jesus. ARCHIVO GENERAL DE LA NACIÓN (AGN), Buenos Aires. Libro de Consultas de la Compañía de Jesús, 1731-1747, Leg. 69-70. nos Memoriales10 10 Os Memoriales são documentos enviados pelos superiores jesuítas para os estabelecimentos jesuíticos, contendo ordens a serem cumpridas com a finalidade de corrigir comportamentos, alinhar a ação dos religiosos às Regras e Constituições da Companhia de Jesus, e realizar transferências de pessoas de um local a outro. e nas Cartas Ânuas do período para abordar a questão.

Gastos com escravos doentes e/ou com seu sepultamento no Colégio Máximo de Córdoba

Na cidade de Córdoba, onde foi instalada a estrutura administrativa e de formação dos futuros missionários da Província Jesuítica do Paraguai, destacavam-se o Colégio Máximo de Córdoba e as estâncias a ele ligadas - Alta Gracia, Jesus María e Candelária -, as quais, em 1723, segundo seus Libros de Cuentas, possuíam 422 trabalhadores escravizados. Quarenta e quatro anos depois, em 1767, ano em que foi decretada a expulsão dos jesuítas da América Espanhola, o Colégio Máximo possuía 323 escravos; a estância de Jesus María, 273; a de Alta Gracia, 278; e a de Candelária, 183, totalizando 1.057 trabalhadores (TANODI, 2011TANODI, Branka (Coord.). Temporalidades de Córdoba: Colégio Máximo de Córdoba. Estancias jesuíticas. Inventario 1771. Secuestro de los bienes. Córdoba: Encuentro, 2011.). Principalmente na primeira metade do século XVIII, esse número sofreu, contudo, diversas flutuações, causadas, principalmente, pelas constantes epidemias que assolaram Córdoba e a região adjacente naquele momento.

Tabela 1:
Variação do número de escravos do Colégio Máximo de Córdoba e de suas estâncias (1718-1765)

Como podemos constatar na Tabela 1, apesar dos nascimentos e das aquisições de novos trabalhadores, em cinco censos houve uma significativa variação para menos no número da população escrava do Colégio Máximo de Córdoba, se consideramos os anos de 1718-1719, 1722-1723, 1740-1742 e 1747-1750. Independentemente das vendas de escravos ocorridas no período, essas variações tiveram outras causas, como é possível constatar na consulta ao Libro de Cuentas do Colegio de Córdoba referente ao período de 1711 a 1763. Nele, para além das vendas de escravizados envolvidos em fugas ou que causavam ou participavam de movimentos de resistência, encontramos registros que apontam para um maior consumo de tecidos utilizados em mortalhas e de alimentos que compunham a dieta dos doentes, o que indica um aumento do número de enfermos e de mortos nesses períodos, como veremos adiante.

Quanto aos gastos feitos pelo Colégio Máximo de Córdoba, de acordo com o Libro de Cuentas do Colégio, entre janeiro de 1712 e dezembro de 1713, houve um consumo de 2.027 carneiros, que foram destinados para a cozinha geral e para os enfermos. Considerando que os carneiros eram criados, em sua maioria, nas fazendas jesuíticas, e que cada carneiro custava 6 reales, e que 8 reales equivaliam a 1 peso, deduz-se que o consumo implicou um gasto, em dois anos, de 1.520 pesos e 2 reales.11 11 MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 163-189. Em 1717, os gastos foram em torno de 60 pesos por mês, com um consumo mensal de 80 carneiros. Em março de 1715, embora não haja o registro do número de doentes atendidos, o consumo baixou para 30 animais. Ovos e aves também compunham a dieta dos doentes, e, em 1718, o Colégio consumiu 31 pesos nesses dois itens: “Por 26ps6 de ovos, cozinha e enfermos (…). Por 4ps2 em aves para enfermos”.12 12 Trad. livre dos autores: “Por 26ps6 de guebos cocina, y enfermos (…). Por 4ps2 en aves para enfermos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 222v-223.

Carneiros, aves, pães e ovos faziam parte tanto da dieta oferecida aos enfermos como da composição de vários medicamentos. Os procedimentos terapêuticos adotados à época, de matriz hipocrático-­galênica, podem ser observados em manuais médicos empregados pelos jesuítas, tais como a Materia Médica Misionera, publicada em 1710 por Pedro Montenegro (1945MONTENEGRO, Pedro. Materia Médica Misionera. Buenos Aires: Ed. Biblioteca Nacional, 1945.), e o apócrifo Libro de Cirugía (FLECK, 2022FLECK, Eliane Cristina Deckmann (Ed.). Libro de Cirugía: Trasladado de autores graves y doctos para alívio de los enfermos. Escrito en estas Doctrinas de la Compañía de Jesús, en 1725. São Leopoldo: Oikos, 2022.), editado em 1725, nos quais se defendia que a saúde humana resultava do equilíbrio dos quatro humores (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra) presentes no corpo.13 13 Um dos fundamentos dessa medicina é que a saúde e a doença decorrem da proporção ou mistura correta ou incorreta dos quatro humores. A doença apareceria quando essas substâncias estivessem presentes de forma deficitária ou excedente no corpo humano, ou ainda fossem encontradas separadas e não misturadas com as outras (MOSSÉ, 1985, p. 45). A esses humores, a medicina acrescentava as qualidades de quente/frio e seco/úmido. Seguindo esse princípio, nos episódios de febres chamadas de pútridas, por exemplo, em que o calor faria com que o corpo ficasse seco, era necessário que o paciente, para reequilibrar os humores, ingerisse alimentos frios e úmidos, entre eles a dieta à base de carneiro e aves, conforme indicado no Libro de Cirugía (FLECK, 2022, p. 444).14 14 Sobre o Libro de Cirugía e outros tratados médicos e de farmácia escritos por jesuítas ou que circularam na América espanhola no século XVIII, recomenda-se ver mais em Fleck; Biehl (2020).

Nos anos de 1718 e 1719, período em que o número de escravos baixa de 132 para 90, houve a aquisição pelo Colégio Máximo de uma grande quantidade de tecido destinado a compor mortalhas, como se constata nos registros de abril de 1719, nos quais a despesa informada totalizou 147 pesos e 4 reales: “Por 245 bs [varas]15 15 Vale ressaltar que uma vara (0,8359 metros) de tecido para mortalhas valia 4 reales. de tecido que se gastou em mortalhas nos morenos que morreram da rancharia do colégio”.16 16 Trad. livre dos autores: “Por 245 bs de lienzo que se gasto en mortaxas en los morenos que murien de la rancheria del collegio”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 227v.

Em 1718, a epidemia levou à morte, pelo menos, dois jesuítas de Córdoba:

O Irmão Antonio Martinez, que foi enviado para ajudar os índios e morenos de serviço em nossa estância de Santa Catalina, atacados por uma epidemia, ocasião em que ele próprio contraiu a peste. (…) Foi arrebatado pela mesma epidemia o Padre Antonio Torquemada, reitor do seminário de Córdoba e professor vespertino de teologia17 17 Trad. livre dos autores: “el hermano Antonio Martinez, el cual fue enviado a socorro de los indios y morenos de servicio en nuestra estancia de Santa Catalina, atacados por una epidemia, con cual ocasión el mismo se contagio con la peste. (…) Fue arrebatado por la misma epidemia el padre Antonio Torquemada rector del seminario de Cordoba, y profesor vespertino de teología”. (Carta Ânua 1714-1720, em SALINAS; FOLKENAND, 2017SALINAS, María Laura; FOLKENAND, Julio (Org.). Cartas Anuas de la Provincia Jesuítica del Paraguay: 1714-1720. 1720-1730. 1730-1735. 1735-1743. 1750-1756. 1756-1762. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción, 2017., p. 53).

Em 1720, conforme dados da Tabela 1, a população escrava do Colégio voltou a aumentar, sendo que encontramos o registro da entrega de roupas destinadas a parturientes, e não para a confecção de mortalhas. Em 1721, a população apresentou um acréscimo considerável, estimando-se que tenha havido em torno de 10 nascimentos em um ano, um número bastante alto, considerando-se que, entre as 100 pessoas registradas no censo daquele ano, havia idosos, crianças, homens e mulheres desacompanhados. No período em questão, localizamos apenas um registro de compra de um escravo, por 400 pesos, o que pode ser considerado um valor bastante alto e explicado justamente pela baixa oferta e pela alta demanda. Nos anos subsequentes, devido ao grande número de mortos, a força de trabalho precisou ser reposta, sendo que, em 1724, há o registro da compra de cinco escravos para o Colégio.18 18 MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 247v-278.

Em meio aos repetidos episódios de epidemias, a botica19 19 A botica do Colégio de Córdoba atendia não apenas aos religiosos, mas também a pessoas de fora da Companhia, sobretudo, durante as epidemias. Vale lembrar que, em 1637, o Papa Urbano VIII havia permitido que os jesuítas se dedicassem ao preparo de medicamentos somente para a própria comunidade, proibindo a venda para pessoas externas. Entre 1687 e 1692, foram baixadas diversas disposições pontifícias relativas ao exercício da função de boticários por religiosos. Em 1722, o Papa Inocêncio XII ratificou a proibição de venda de medicamentos, exceto pelos Irmãos Hospitalários de San Juan de Dios, o que foi mantido por Benedito XIV, em 1747. Essas disposições não foram, contudo, cumpridas, haja vista a quantidade de pleitos promovidos pelos boticários seculares contra as boticas e os boticários religiosos que continuaram exercendo a função e vendendo medicamentos durante todo o período (FLACHS; PAGE, 2010, p. 118-120). era continuamente mencionada nos registros de pagamentos e de recebimentos financeiros do Colégio Máximo, como se pode constatar no registro de março de 1721: “Por 4 @ de açúcar que se pagaram à Botica -28ps”,20 20 Trad. livre dos autores: “Por 4 @ de azucar que se pagaron à la Botica -28ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 248v. e no de setembro do mesmo ano: “Por 7 @ de erva à botica -14p”.21 21 Trad. livre dos autores: “Por 7 @ de yerba à la botica -14p”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 255. Importante destacar que uma das características dos empreendimentos jesuíticos era sua autossuficiência econômica, e a botica também seguia essa lógica, tanto que, em julho de 1746, pagou 100 pesos ao Colégio, possivelmente por produtos recebidos: “100ps que deu o Ir. Boticário”.22 22 Trad. livre dos autores: “100ps que dio el Ho Boticario”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 79v.

A botica do Colégio Máximo de Córdoba desempenhava também um papel importante na administração da dieta aos enfermos, como indica a informação que consta no Memorial do Padre Provincial Jerónimo Herrán (em BARRABINO, 2013BARRABINO, Martín. Memoriales de los Provinciales para los domicilios de Córdoba (1era parte). IHS: Antiguos Jesuitas en Iberoamérica, v. 2, n. 1, p. 195-225, 2013., p. 207): “A comida dos enfermos se fará na pequena cozinha da botica para que haja mais esmero e se destinará para que cuide dela algum dos meninos que assistem na botica, com o irmão enfermeiro que atenderá a cozinhar e temperar”.23 23 Trad. livre dos autores: “La comida de los enfermos se hará en la cozinilla de la botica para que aya mas esmero y se destinara para que cuide de ella alguno de los muchachos que asisten en la botica, con el hermano enfermero quien atenderá a guisar y sazonar”. Isso parece explicar o repasse de vários gêneros alimentícios à botica, uma vez que cada doença requeria uma dieta especial. Considerando que tal ordem não foi revogada nos Memoriales posteriores, essa cozinha deve ter sido usada para preparar as dietas dos enfermos até o momento do decreto de expulsão dos jesuítas, em 1767.

1731 foi outro ano crítico para as casas e propriedades jesuíticas de Córdoba, pois há no Libro de Cuentas do Colégio Máximo menção à distribuição de tecido para mortalhas e enfermos ao longo do ano. No mês de abril, há o registro de “tecido pa uma mortalha”; em maio, de “Mortalha 5vs de tecido luto 3vs”. Em agosto, encontramos a informação de que “Por 2b½ de baeta para os enfermos (…), 5 varas de tecido para mortalha”, enquanto em setembro foi providenciado “tecido para 2 mortalhas” e, em novembro, “para 2 mortas [de] 10bs de tecido 5p (…), 2 varas de baeta para enfermos”.24 24 Trad. livre dos autores: “Lienzo pa una mortaja”; “Mortaja 5vs de lienzo luto 3vs”; “Por 2b½ de Vaieta para los enfermos (…), 5 varas de Lienzo para mortaja”; “Lienzo para 2 mortajas”; “Para 2 mortas [de] 10bs de lienzo 5p (...), 2 varas de Vaieta para enfermos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Collo de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 319-322v.

Mas, se cabia aos jesuítas administradores encarregar-se do tratamento dos escravizados enfermos de suas propriedades, em 1736, o reitor do Colégio Máximo precisou ser lembrado dessa obrigação, o que parece apontar para omissões no atendimento dos escravizados: “Volto a encarregar a V. R. o cuidado com os enfermos na comida, nos remédios, em visitá-los, consolá-los e não desacreditar de seus males”25 25 Trad. livre dos autores: “Vuelvo a encargar a V. R. el cuidado con los enfermos en la comida, en las medicinas, en visitarlos, consolarlos y no descreer sus males”. (em PIANA; CANSANELLO, 2015PIANA, Josefina; CANSANELLO, Pablo (Comp.). Memoriales de la Provincia Jesuítica del Paraguay (siglos XVII-XVIII). Córdoba: Ed. Universidad Católica de Córdoba, 2015., p. 298).

Em 1740, para otimizar o atendimento prestado pela botica, o Colégio Máximo recebeu autorização do Padre Antonio Machoni, através de um Memorial (em PIANA; CANSANELLO, 2015PIANA, Josefina; CANSANELLO, Pablo (Comp.). Memoriales de la Provincia Jesuítica del Paraguay (siglos XVII-XVIII). Córdoba: Ed. Universidad Católica de Córdoba, 2015., p. 331), para que dois escravos pernoitassem no recinto: “Dois meninos se concederão ao Ir. Boticário para que durmam na Botica, para o que se possa oferecer de noite”.26 26 Trad. livre dos autores: “Dos muchachos se concederán al H. boticario para que duerman en la Botica, para lo que se le puede ofrecer de noche”.

O ano de 1742 parece ter sido marcado por um aumento exponencial de mortes de escravizados, a julgar pelo fato de que o Colégio de Córdoba adquiriu 173 varas de tecido para mortalhas.27 27 MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 369-372v. Os efeitos da epidemia sobre indígenas, escravos e religiosos vinculados ao Colégio Máximo e às estâncias fizeram com que o Padre Provincial Antonio Machoni (em PIANA; CANSANELLO, 2015PIANA, Josefina; CANSANELLO, Pablo (Comp.). Memoriales de la Provincia Jesuítica del Paraguay (siglos XVII-XVIII). Córdoba: Ed. Universidad Católica de Córdoba, 2015., p. 343) ordenasse ao reitor do Colégio que, naquele ano, tivesse cuidado especial com as oficinas, principalmente com a fabricação de tecidos, de onde saía boa parte de seu sustento, a fim de que a produção não decaísse:

Se terá especial cuidado com ocasião desta peste para que não diminuam as oficinas. E mesmo assim, as faltas que nelas existam serão repostas devido à morte de vários oficiais, pelo menos substituindo em lugar destes outros tantos meninos para que vão aprendendo cada qual o seu ofício.28 28 Trad. livre dos autores: “Se tendrá especial cuidado con ocasión de esta peste no decrezcan las oficinas. Y aún por tanto se reemplazarán las fallas que hay en ellas por haber muerto varios oficiales, por lo menos sustituyendo en lugar de estos otros tantos muchachos para que vayan aprendiendo cada cual su oficio”.

No ano de 1743, se comparado ao de 1742, houve uma menor aquisição de tecidos para mortalhas, embora tenham sido adquiridas 59 varas e meia para essa finalidade.29 29 MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 374-378. No mesmo período, o Colégio destinou soma considerável de recursos para a alimentação dos escravos doentes. E, embora nem sempre os registros separem os gastos da cozinha geral daqueles que se deviam às dietas destinadas aos enfermos, é possível perceber os produtos que as compunham, tais como carneiro, pão e aves.

Gastos com escravos doentes e/ou com seu sepultamento nas estâncias vinculadas ao Colégio Máximo de Córdoba

Assim como o Colégio Máximo de Córdoba, as estâncias da Candelária, Alta Gracia e Jesus María não ficaram imunes aos efeitos das epidemias que ocorreram ao longo do século XVIII, sofrendo igualmente uma grande variação no número de seus trabalhadores escravos nesse período, conforme indicado na Tabela 1. No caso da Estância da Candelária, a documentação analisada não permite identificar a quantidade da população escrava ao longo do período, por falta de registro no Libro de Cuentas do Colégio Máximo de Córdoba. Os poucos dados que levantamos permitem aferir que a acentuada diminuição de trabalhadores aconteceu na estância entre 1741 e 1748. Já os números referentes à Estância de Alta Gracia permitem observar uma grande flutuação numérica dos trabalhadores escravos, sendo que ocorreu uma significativa diminuição da população nos períodos de 1718-1720; 1722-1723; 1731-1734; 1734-1736; 1741-1743; 1743-1745 e 1747-1750. O Livro de Contas da Estância Jesus María, infelizmente, está perdido, o que impossibilita o cotejo com as informações que constam no Livro de Contas do Colégio Máximo e a discussão sobre o atendimento prestado aos escravos enfermos e mortos daquela estância.

A seguir, analisamos os gastos com a saúde dos trabalhadores dessas três estâncias. Contudo, como nem sempre os registros contábeis separavam os gastos com os trabalhadores escravos daqueles tidos como trabalhadores livres - os contratados, que, geralmente, eram indígenas -, alertamos, mais uma vez, que fica impossível determinar quais gastos foram feitos exclusivamente com os escravizados.

Quanto aos gastos feitos pela Estância da Candelária com o tratamento de seus escravos enfermos, sabe-se que, no final de 1718, o Colégio Máximo enviou produtos tanto para o tratamento quanto para a confecção de mortalhas para os que haviam falecido. Em setembro de 1718 teriam sido enviados “2 fanegas de farinha para o gasto com os enfermos da peste e pa casa -16ps (…) 6 pesos em erva e tabaco por galinhas pa os enfermos -64ps (…) uma lib. de polvilho em frangos e ovos pa os enfermos -2ps”.30 30 Trad. livre dos autores: “2 fanegas de harina para el gasto por los enfermos de la peste y pa casa -16ps (…) 6 pesos en yerba y tabaco por gallinas pa los enfermos -64ps (…), e una lib. de polvillo en polos y huevos pa los enfermos -2ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 201-201v. Em outubro do mesmo ano, teriam sido adquiridas “duas arrobas de erva e uma de tabaco em galinhas, frangos e ovos pa os enfermos da peste [sem valor], (…) 20 vs de tucuio em mortalhas -20ps, (…) 12 libs de açúcar nos enfermos -3ps (…), 16 carneiros nos enfermos e para casa -16ps”.31 31 Trad. livre dos autores: “dos arrobas de yerba, y una de tabaco en gallinas, polos y huevos pa los enfermos de la peste [sem valor], (…) 20 bs de tucuio en mortajas -20ps, (…) 12 libs de asucar en los enfermos -3ps (…), 16 carneros en los enfermos y para casa -16ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 201v. No mês de novembro, o gasto foi de “24 reses e duas fanegas e meia de farinha para casa e enfermos - 64ps, (…) 10 bs de tucuio para mortalhas -10ps”. Por fim, em dezembro de 1718, gastou-se “meia @ de erva em galinhas pa enfermos -4rs”.32 32 Trad. livre dos autores: “24 reses, y dos fanegas y media de harina para casa y enfermos - 64ps, (…) 10 bs de tucuio para mortajas -10ps”; “media @ de yerba en gallinas pa enfermos -4rs”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 202. A maioria das transações econômicas realizadas entre os estabelecimentos jesuíticos com pessoas de fora da Companhia de Jesus e com outras instituições, inclusive com os trabalhadores contratados, acontecia mediante a troca de um produto por outro, sendo poucas as transações que envolviam o repasse de moeda corrente.

Embora o período de maior descenso populacional na Estância da Candelária tenha ocorrido durante a epidemia de 1741, alguns outros momentos foram também críticos, como o de novembro de 1728 a julho de 1731, quando foram relacionadas despesas com mortalhas e dieta para enfermos. Naquele período foram gastas 25,4 varas de tecido. O maior gasto ocorreu no mês de abril de 1729, quando houve o consumo de 1,4 vara de tecido, o que sugere, pela quantidade, que o morto fosse uma criança, além de mais outras 17 varas para atender outros falecidos. Ainda no mês de abril, foram gastos 109 pesos em cobertores para os enfermos.33 33 MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 182. Nem sempre esses cobertores eram descartados posteriormente, como se depreende desta passagem: “Item por 85bs de roupa que se gastaram em cobertores dos escravos enfermos -85ps; Itt por 4 cobertores usados que se gastaram nos ditos enfermos -24ps”.34 34 Trad. livre dos autores: “Itt por 85bs de ropa que se gastaron en fresadas de los esclavos enfermos -85ps; Itt por 4 fresadas usadas que se gastaron en los dos enfermos -24ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 182.

A epidemia de varíola que se abateu sobre Córdoba fez com que o Padre Provincial Lorenzo Rillo recomendasse ao Procurador do Colégio, em memorial redigido após visita em 30 de abril de 1729 (em PIANA; CANSANELLO, 2015PIANA, Josefina; CANSANELLO, Pablo (Comp.). Memoriales de la Provincia Jesuítica del Paraguay (siglos XVII-XVIII). Córdoba: Ed. Universidad Católica de Córdoba, 2015., p. 241), que fossem providenciadas roupas para os escravos, uma vez que a tosquia das ovelhas, de onde era extraída a lã para a fabricação de tecidos, encontrava-se prejudicada:

Supondo que a peste da varíola não deu lugar a que a gente da estância se previna de vestuário e que a dilação na tosquia também tem atrapalhado, acudirá o Ir. Antonio Muñoz ao P. Procurador do colégio para que lhe socorra com roupa para o dito vestuário, e seja o quanto antes porque começam os frios.35 35 Trad. livre dos autores: “Supuesto que la peste de las viruelas no ha dado lugar a que la gente de la estancia se prevenga de vestuario y la dilación en la trasquila también lo ha embarazado, acudirá el H. Antonio Muñoz al P. Procurador del colegio para que le socorra con ropa para dicho vestuario, y sea cuanto antes porque empiezan los fríos”.

Se o ano de 1731 foi crítico para o Colégio Máximo de Córdoba, devido ao adoecimento de escravos, isso não parece ter acontecido na Estância de Candelária. Em julho de 1731, houve a entrega de tecido somente para a mortalha de uma criança: “Item por 1 vara de tecido para mortalha de uma criatura”.36 36 Trad. livre dos autores: “Itt por 1 bs de lienzo para mortaja de una criatura”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 188v. Diante desse registro, é plausível supor que os jesuítas tenham adotado alguma política de isolamento social da população daquela estância, a fim de controlar localmente a doença.

Nos anos seguintes, foram registrados vários matrimônios de escravos na Estância da Candelária. Diante dessa informação, não seria descabido pensar que os missionários tenham incentivado os casamentos na propriedade, visando à reposição dos que haviam falecido devido às epidemias. Essa suposição se baseia nos registros de distribuição de roupas para nubentes e noivos em 1731 e 1732 - algo, no mínimo, curioso, tendo em vista que se trata da única menção a essa destinação que encontramos em todos os Libros de Cuentas analisados. O total dos gastos com tal finalidade foi de 138 pesos e 2 reales:

Item por 24 vs de Panhete, 40 vs de Baeta, 33 vs de tecido, e 3 vs de Bretanha em 3 casamtos de Escravos -86ps2 (…) Item por 12 vs de panhete, 12 vs de tecido, 11 vs de Baetas, 1 vs de Bretanha a Escravos q casaram -26 (…) Item por 12 vs de panhete, 12 vs de tecido, 11 vs de Baetas, e 1 v d Bretanha a Escravos namorados -26.37 37 Trad. livre dos autores: “Itt por 24 bs de Pañete, 40 bs de Bayeta, 33 bs de lienzo, y 3 bs de Bretaña en 3 casamtos de Esclavos -86ps2 (…) Itt por 12 bs de pañete, 12 bs de lienzo, 11 bs de Bayetas, 1 bs d Bretaña a Esclavos q cassaron -26 (…) Itt por 12 bs de pañete, 12 bs de lienzo, 11 bs de Bayetas, y 1 bs d Bretaña a Esclavos novios -26”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 189-191v.

Com relação aos gastos com roupas para nubentes e noivos, deve-se considerar o incentivo ao casamento entre escravos, havendo, inclusive, o cuidado para que fosse mantida a paridade dos sexos nas propriedades dos jesuítas, possibilitando a formação de casais,38 38 Veja-se o registro da consulta realizada pelo Provincial em 3 de maio de 1734 na estância de Jesus María: “e se determinou que, dos 20 escravos que se haviam de comprar, se lhes dessem 10 por necessitar deles, assim para que as morenas tivessem com quem casar-se por ter muitas solteiras, como também por necessitar deles a vinha e demais trabalhos”. Tradução livre dos autores: “y se determino, qe de los 20 esclavos, qe se avian de comprar se le diessen 10 por necessitarlos, assi pa qe las Morenas tubiessen con quien casarse por ter muchas solteras, como tambien por necessitarlos la viña, y demas faenas”. AGN, Buenos Aires. Libro de Consultas de la Compañía de Jesús, 1731-1747. Leg. 69-70, f. 25. e também a separação dos homens solteiros das mulheres na mesma condição, a fim de que fossem evitadas as relações sexuais antes do casamento.39 39 Em meio a ordens emitidas pelo padre visitador Andrés de Rada nos anos 1660 (em PIANA; CANSANELLO, 2015, p. 507), lê-se: “e disponha-se que os solteiros não durmam nos ranchos dos casados, e sim à parte e sozinhos”. Trad. livre dos autores: “y dispóngase que los solteros no duerman en los ranchos de los casados, sino aparte y de por sí”. Quanto à menção feita aos namorados, pode-se supor que fossem pessoas prometidas em casamento ou até congregantes, sendo que a entrega de roupas pode ter sido um incentivo ao casamento.

Em relação às despesas com compra de medicamentos, há o registro de que, em agosto de 1734, a estância recebeu do Colégio de Córdoba “uma botija de aguardente em remédios [sem valor declarado]”.40 40 Trad. livre dos autores: “una votija de aguardiente en remédios [sem valor declarado]”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 196. É importante ressaltar que a aguardente era largamente usada como remédio no tratamento de diversas enfermidades. No já citado Libro de Cirugía (FLECK, 2022FLECK, Eliane Cristina Deckmann (Ed.). Libro de Cirugía: Trasladado de autores graves y doctos para alívio de los enfermos. Escrito en estas Doctrinas de la Compañía de Jesús, en 1725. São Leopoldo: Oikos, 2022.), bem como em Materia Médica Misionera (MONTENEGRO, 1945MONTENEGRO, Pedro. Materia Médica Misionera. Buenos Aires: Ed. Biblioteca Nacional, 1945.), o uso de aguardente é indicado para produção de tinturas, composição de emplastros e remédios e preparo do corpo para certos tratamentos.41 41 Veja-se, como exemplo: “Outros extraem o azeite da madeira, como ‘palo santo, sasafrás, junípero’ etc, extraindo deles primeiro a tintura com aguardente, que, uma vez destilada, fica no fundo do azeite condensado”. Trad. livre dos autores: “Otros sacan el Azeyte de los Leños, como palo Santo, sazafràs, junipero &ª, sacando de ellos primero la tintura con aguardiente, la qual destilada, queda en el hondo el Azeyte condensado” (FLECK, 2022, p. 267). A aguardente era igualmente usada como remédio no tratamento de picadas de cobras e de espasmos, conforme indicado na Carta Comum para toda la Provincia del P e Simon de Leon de 16 de Octubre de 169542 42 CARTAS (97) de los Generales y Provinciales de la Compañía de Jesús sobre las misiones del Paraguay [16 de julio de 1623 a 15 de septiembre de 1754], p. 177. In: Biblioteca Digital Hispánica. Disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000071287. Acesso em: 31 ago. 2022. enviada às Doutrinas jesuíticas.

Quanto à Estância Jesuítica de Alta Gracia, sabe-se que ampliou, entre 1718 e 1760, sua população escravizada, que passou de 187 para 250 escravos, conforme a Tabela 1. Vários foram, entretanto, os momentos, ao longo desse período de mais de 40 anos, em que, mesmo havendo nascimento de pessoas e compra de escravos, houve variação numérica para menos - o que, acreditamos, se deveu, em grande medida, às mortes decorrentes das epidemias enfrentadas, e não às vendas de escravos.

Nos registros referentes às despesas do mês de julho de 1718, encontramos um gasto considerável com mortalhas e cobertores: “30 vs de tecido para mortalhas (…) Por uma peça q se [teceu] aqui de fio de Córdoba com 70 vs, e esta se gastou pa os enfermos porque não alcançaram os cobertores (…); Por 8 ps que também se deram aos enfermos na conta do colégio”.43 43 Trad. livre dos autores: “30 bs de lienzo para mortajas (…). Por una piesa q se [tegió?] aquí del hilo de Cordoba con 70 bs, y esta se gastó pa los enfermos porq no alcansaron las fresadas (…); Por 8 ps que también se dieron a los enfermos de cuenta del colegio”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.

Um balanço dos gastos desta estância entre janeiro de 1725 e novembro de 1726 revelou que muitos recém-nascidos morreram: “Primte em mantilhas e mortalhas para os recém-nascidos, em tecido e baeta 49bs - 49ps”.44 44 Trad. livre dos autores: “Primte en mantellinas y mortaxas para los recién nacidos, en lienzo y vaieta 49bs-49ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota. E também revelou gastos com a alimentação dos enfermos: “Por 264 carneiros a 3 cada semana ainda se gastou as vezes mais pelos enfermos -264ps”.45 45 Trad. livre dos autores: “Por 264 carneros a 3 cada semana aún se gasto a veces mas por los enfermos -264ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.

Os gastos com mortalhas para recém-nascidos permaneceram altos até 1730. Apesar de não haver qualquer menção às razões, isso aponta para um alto índice de mortalidade infantil que não se encontra tão bem caracterizado em nenhum outro momento na documentação. Em 1727, gastou-se com “mantilhas e mortalhas de criaturas recém-nascidas 36vs - 36ps46 46 Trad. livre dos autores: “para mantellinas, y mortaxas de las criaturas recién nacidas 36bs - 36ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota. e, em 1728, “58vs de baeta feita na estância - 58ps”.47 47 Trad. livre dos autores: “para mantelinas y mortaxas de las criaturas recién nacidas 58bs de vaieta echo en la estanca - 58ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota. Em 1729, gastaram-se 35 varas de tecido e, em 1730, foram adquiridas 28 varas para a mesma finalidade. Importante destacar que, entre 1729 e 1731, também houve um alto índice de mortes de crianças com até 12 anos em Córdoba e região (ARCONDO, 1993ARCONDO, Aníbal. Mortalidad general, mortalidad epidémica y comportamiento de la población de Córdoba durante el siglo XVIII. Desarrollo Económico: Revista de Ciencias Sociales, v. 33, n. 129, p. 67-85, 1993., p. 75).

Quais teriam sido as causas da morte de tantos recém-nascidos? Mesmo que a documentação analisada não se detenha nessa questão, o estudo liderado por Dora Celton (2020CELTON, Dora E. et al.. Estimación de la mortalidad esclava en Córdoba a fines del siglo XVIII. In: CELTON, Dora E.; COLANTONIO, Sonia E. (Ed.). Poblaciones vulnerables a través del tiempo: Negros, mestizos y mendigos en Córdoba, siglos XVIII-XX. Córdoba: Centro de Investigaciones y Estudios sobre Cultura y Sociedad, 2020, p. 111-136.) pode indicar algumas possibilidades. De acordo com esse trabalho, a elevada mortalidade infantil decorria do estado nutricional das mães, sendo que a carência de cálcio e de tiamina afetava a qualidade do leite materno, causando o beribéri infantil, que se manifestava através de vômitos, palidez, perda de apetite, insônia e morte por convulsões. Outra possível causa seria o tétano, conhecido como “mal dos sete dias”, causado pela falta de higiene e pela aplicação de substâncias inapropriadas no coto umbilical, algumas de origem animal, como esterco ou teia de aranha. Vale lembrar que, à época, acreditava-se que o tétano era causado pela água fria do batismo, pelo deslocamento do osso occipital na hora do parto e pela transmissão da doença pelo ar ou pela água. Outro momento crítico para as crianças escravizadas acontecia aos seis anos, quando eram gradativamente inseridas no cotidiano laboral (CELTON et al., 2020CELTON, Dora E. et al.. Estimación de la mortalidad esclava en Córdoba a fines del siglo XVIII. In: CELTON, Dora E.; COLANTONIO, Sonia E. (Ed.). Poblaciones vulnerables a través del tiempo: Negros, mestizos y mendigos en Córdoba, siglos XVIII-XX. Córdoba: Centro de Investigaciones y Estudios sobre Cultura y Sociedad, 2020, p. 111-136., p. 123-124).

A fim de estabelecer uma comparação dos índices de mortalidade entre recém-nascidos nas estâncias jesuíticas, consideramos os dados divulgados no estudo feito por Cushner (1975CUSHNER, Nicholas P.. Slave Mortality and Reproduction on Jesuit Haciendas in Colonial Peru. Hispanic American Historical Review, v. 55, n. 2, p. 17-199, 1975.) sobre a mortalidade e a reprodução dos escravos dos jesuítas no período colonial. No Peru, o autor encontrou uma alta taxa de mortalidade infantil e infantojuvenil, causada, provavelmente, não apenas por doenças ou epidemias, mas também por desnutrição. Os números apresentados por ele indicam que cerca de 35% dos nascidos naquelas estâncias não sobreviveram ao primeiro ano de vida (CUSHNER, 1975CUSHNER, Nicholas P.. Slave Mortality and Reproduction on Jesuit Haciendas in Colonial Peru. Hispanic American Historical Review, v. 55, n. 2, p. 17-199, 1975., p. 196). Talvez a desnutrição tenha sido uma causa de tantas mortes de crianças na Estância de Alta Gracia, considerando-se que, no ano de 1732, Córdoba foi assolada por seca e granizo e pela incidência de pragas nas plantações, provocando carestia e doenças (ARCONDO, 1993ARCONDO, Aníbal. Mortalidad general, mortalidad epidémica y comportamiento de la población de Córdoba durante el siglo XVIII. Desarrollo Económico: Revista de Ciencias Sociales, v. 33, n. 129, p. 67-85, 1993., p. 68).

Em seu estudo sobre os Libros de defunciones da catedral de Córdoba, relativos ao período de 1722 a 1799, María del Carmen Ferreyra (2001FERREYRA, María del Carmen.. La muerte entre las castas en el siglo XVIII cordobés. In: VI JORNADAS DE LA ASOCIACION DE ESTUDIOS DE POBLACION DE LA ARGENTINA, 2001, Neuquén. Anais... Neuquén: CELADE, 2001, p. 30-48.) constatou que o número de crianças mortas foi de 1.632, sendo que 555 delas eram livres e 1.077 escravas. Apesar de a pesquisa não se referir aos escravos das propriedades da Companhia de Jesus, ela demonstra que as crianças escravas estavam mais suscetíveis à morte do que as que pertenciam aos demais grupos sociais, certamente pelas condições de trabalho a que eram submetidas desde pouca idade ou por deficiências na alimentação.

Entre 1728 e 1729, de acordo com o Libro de Cuentas, a Estância de Alta Gracia, apesar de possuir oficina para a produção de tecidos, recebeu do Colégio Máximo três grandes remessas desse item para mortalhas, totalizando 126 varas.48 48 MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 25-66v. Pode-se considerar a possibilidade de que as varas de tecido tenham sido adquiridas para serem utilizadas de acordo com a necessidade, mas, tendo em vista o padrão de aquisição das demais estâncias, é possível supor que a compra tenha tido relação com o número elevado de mortes no período.

Ainda em relação às despesas relacionadas com a manutenção da saúde dos escravizados, no resumo dos gastos totais da Estância de Alta Gracia referente ao período de 1741 a 1743, encontra-se a informação de que “nesta peste gastou-se para alívio dos Escravos enfermos 300 carneiros e 10 fanegas de farinha”,49 49 Trad. livre dos autores: “En esta peste se ha gastado para alivio de los Esclavos enfermos 300 carneros, y 10 fanegas de harina”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 255v. o que evidencia os efeitos da peste sobre os trabalhadores daquela propriedade jesuítica.

Apesar de serem poucos os dados disponíveis sobre a Estância Jesus María, as despesas com a saúde dos trabalhadores escravos ligados a esse estabelecimento jesuítico podem ser dimensionadas a partir da consulta aos registros de gastos do Colégio Máximo, como o de janeiro de 1729, que informa que “Por 20 ps q se deram a quem sangrou aos escravos”.50 50 Trad. livre dos autores: “Por 20 ps q se dieron al q fue asangrar alos esclavos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 304v.

Embora essa seja a única referência ao pagamento para a realização de sangria51 51 A sangria era utilizada no tratamento de uma série de doenças, que iam desde uma simples dor de cabeça ou dor de dentes até dores nas costas, disenteria ou varíola e sarampo, constituindo-se em um procedimento que visava a equilibrar os humores. dos escravos enfermos que encontramos na documentação analisada, ela indica que nem sempre os jesuítas contaram com padres ou irmãos habilitados para o atendimento dos enfermos e, no caso específico, para a realização da sangria dos escravos enfermos da Estância de Jesus María. Lamentavelmente, seu Libro de Cuentas não menciona a doença que acometia os escravizados e que se procurava remediar com esse procedimento. Sabe-se, entretanto, que entre as doenças virais que acometiam indistintamente trabalhadores e religiosos que viviam nas estâncias jesuíticas estava a tuberculose, conhecida como tísis. Entre as mortes registradas na Estância de Jesus María, estava a de um padre jesuíta: “O quinto que morreu foi Gabriel Patino, natural do Paraguai, professo de 4 votos, o qual, consumido pela tuberculose, acabou seus dias na estância Jesus Maria, em 30 de junho de 1729, na idade próxima de 70 anos”.52 52 Trad. livre dos autores: “El quinto que murió fue Gabriel Patino, natural del Paraguay, profeso de 4 votos, el cual, consumido por la tisis, acabo sus días en la estancia de Jesús María, el 30 de Junio de 1729, a la edad de cerca de 70 anos” (Carta Anua 1720-1730, em SALINAS; FOLKENAND, 2017, p. 97).

Os registros dos gastos com dietas especiais oferecidas aos trabalhadores escravizados enfermos e com a compra de medicamentos e de tecidos para mortalhas feitos por três das estâncias responsáveis pelo provimento do Colégio Máximo de Córdoba, bem como daqueles relacionados com o restabelecimento da saúde dos trabalhadores do próprio colégio, revelam, por um lado, a adoção de procedimentos semelhantes para todas as propriedades jesuíticas, pautados na moral cristã e nas teorias médicas vigentes à época; e, por outro, que as epidemias impactaram de forma diferenciada cada um dos estabelecimentos jesuíticos.

Considerações finais

Apesar de o Colégio Máximo de Córdoba e de suas estâncias estarem submetidos às orientações e normas administrativas de uma mesma ordem religiosa e inseridos em um mesmo contexto e cenário regionais, os Libros de Cuentas analisados mostram que cada uma das propriedades dos jesuítas, a despeito de características em comum, apresentou suas particularidades. É importante, assim, ressaltar que as epidemias não atingiram as propriedades jesuíticas com a mesma intensidade nem ao mesmo tempo. Assim, se a documentação, por um lado, revela que, em 1731, na Estância da Candelária, foram celebrados casamentos entre escravos, por outro, menciona que, nesse mesmo ano, o Colégio de Córdoba vivenciava uma terrível epidemia, com uma alta proporção de morte de enfermos. É preciso também considerar como plausível que algumas propriedades, em comparação com outras, tiveram um percentual menor de doentes e, consequentemente, de despesas com a dieta de enfermos e com as mortalhas, porque adotaram medidas eficazes de controle de circulação de pessoas, animais e objetos, a fim de evitar o contágio.

Outra particularidade foi a ocorrência de um alto índice de mortalidade de recém-nascidos na Estância de Alta Gracia, entre 1725 e 1730, o que não foi encontrado em outras propriedades jesuíticas. Esse fato suscita vários questionamentos, aos quais não podemos responder a partir, exclusivamente, dos Libros de Cuentas: essas mortes aconteceram apenas em Alta Gracia? Aconteceram também em outras estâncias jesuíticas? Em caso afirmativo, por que não foram registradas? Caso não tenham ocorrido nas outras propriedades da Companhia, o que poderia explicar as mortes ocorridas nessa estância?

Convém também ressaltar que a forma de registrar e um maior ou menor detalhamento das compras ou pagamentos dependiam muito de quem realizava o registro. Algumas vezes os registros que constam nos Libros de Cuentas não informam o público ou a situação atendida; noutras vezes, dependendo do administrador da estância ou do procurador do Colégio, há um detalhamento maior, com o objetivo de justificar os gastos. De forma geral, entretanto, a maioria dos registros de gastos que constam nos Libros de Cuentas são genéricos e não identificam o número ou os nomes das pessoas atendidas, impossibilitando-nos de quantificar os índices de mortalidade e de incidência de enfermidades no Colégio Máximo e em suas estâncias no período estudado.

A documentação analisada tampouco se refere à assistência médica prestada pelos próprios trabalhadores escravos e ou pelos jesuítas encarregados do atendimento espiritual e da administração da fazenda, o que pode ser explicado pela natureza contábil das fontes. A inexistência desse tipo de informação não deve, contudo, ser tomada como indicativo de que escravizados e religiosos - habilitados ou não nas artes de curar - não se tenham encarregado do atendimento dos escravos enfermos, uma vez que receituários e tratados de medicina, farmácia e cirurgia circularam entre os colégios, reduções e estâncias da Companhia de Jesus.

As fontes consultadas permitem, ainda, constatar a larga utilização de pressupostos hipocrático-galênicos, evidenciada na administração de uma dieta alimentar e de medicamentos que buscavam recuperar o equilíbrio dos humores, sendo que um considerável percentual das despesas do Colégio Máximo de Córdoba e de suas estâncias esteve associado a esse tipo de tratamento oferecido aos trabalhadores enfermos.

Vale lembrar que as epidemias afetavam as propriedades jesuíticas e, consequentemente, comprometiam a manutenção dos colégios e residências da Companhia de Jesus, provocando, inclusive, o endividamento do Colégio de Córdoba. Era, portanto, fundamental assegurar a saúde dos escravos ou, então, o seu restabelecimento, a fim de não haver maiores comprometimentos da produção e das finanças da ordem. Mas, concomitantemente aos cuidados prestados aos enfermos, a Companhia optou pela aquisição de novos trabalhadores e pelo incentivo à procriação, com a finalidade de repor a mão de obra vitimada pelas doenças. Quando, na segunda metade do século XVIII, houve a retomada das atividades produtivas na cidade de Córdoba e região, devido à diminuição dos elevados índices de mortalidade decorrentes das epidemias e à não incidência de fenômenos naturais que prejudicavam as plantações, a prosperidade econômica dos estabelecimentos jesuíticos, assentada sobre a mão de obra escravizada, seria interrompida pelo decreto de expulsão da ordem dos domínios coloniais espanhóis no ano de 1767.

Referências

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  • 1
    Os vírus foram descobertos somente no final do século XIX. No período colonial, embora já se conhecesse a natureza contagiosa de várias enfermidades, acreditava-se na teoria miasmática, segundo a qual o ar poderia ser contaminado por nuvens de gases tóxicos que emanavam de corpos em decomposição, da vegetação ou de outro material orgânico, causando assim inúmeras doenças (JACKSON, 2014, p. 95).
  • 2
    As Cartas Ânuas compreendem os relatórios enviados para o Generalato da Companhia de Jesus sediado em Roma. Podendo abarcar um ou mais anos, descreviam os sucessos e as dificuldades encontradas no cotidiano de cada missão desenvolvida pelos jesuítas e o estado material e espiritual de cada uma delas.
  • 3
    Trad. livre dos autores: “Vamos a hablar ahora del año de 1718, el cual ha sido por su mitad muy triste para los habitantes de la ciudad y de sus alrededores por los estragos de la peste. (…) acudieron los nuestros a los afligidos en todo que podían y en todas partes (…), no haciendo distinción entre españoles, indios y morenos. El colegio proporcionó a los contagiados generosamente toda clase de medicamentos. (…) No solo en casa, sino también fuera de ella trabajaron los nuestros hasta que al fin comenzaron muchos a contagiarse (…). Pronto era nuestra casa como un hospital por sus muchos enfermos (…). Aquella calamidad tan larga e irresistible, sin embargo, no nos arrebató sino a dos hermanos y a un padre”.
  • 4
    Trad. livre dos autores: “El año pasado ha dominado terriblemente la peste aquí hasta trescientas leguas de contorno, ha sido importada por los ingleses que embarcaron en África 600 moros para venderlos luego, más caros en America. Esa pobre gente enfermo casi toda y parte murió debido a lo inusitado y largo del viaje. Sólo nuestro colegio en la ciudad y haciendas, há perdido 325 de esos negros esclavos, con lo que los campos y chacras están desiertos por falta de cultivo”.
  • 5
    Trad. livre dos autores: “Aumentó excesivamente este trabajo de la asistencia a los enfermos y moribundos un cruel contagio, el cual perdura en Córdoba y en el puerto de Buenos Aires, desde principios de enero de 1742 hasta este momento, em que escribimos, 24 de julio de 1743, arrebatando la vida a una inmensa muchedumbre de todas las edades y condiciones. (…) Sucedió no pocas veces que aquellas casas eran tan reducidas y el numero de los enfermos tan excesivo, que en un solo aposento estaban postrados seis u ocho enfermos, habiendo poco espacio entre ellos, encontrándose hasta dos en una sola cama”.
  • 6
    “As confrarias de negros batizados na América Espanhola foram implantadas no século XVI e nasceram da necessidade de oferecer aos cativos africanos um marco de evangelização, de organização e de diversão. Cada uma estava protegida por um santo padroeiro e seus membros celebravam missas, ajudavam-se mutuamente em caso de enfermidade e participavam nas procissões e festas religiosas”. Trad. livre dos autores: “Las cofradías de negros bautizados en Hispanoamérica fueron implantadas en el siglo XVI y nacieron de la necesidad de ofrecer a los cautivos africanos un marco de evangelización, de organización y de diversión. Cada una estaba protegida por un santo patrón y sus miembros celebraban misas, se ayudaban mutuamente en caso de enfermedad y participaban en las procesiones y fiestas religiosas” (PAGE, 2011, p. 95).
  • 7
    Foi no Generalato do padre Cláudio Aquaviva, ao redor de 1600, que a Companhia de Jesus teve sua estrutura organizativa finalizada. Nessa estrutura, cada Colégio devia contar com recursos suficientes para sua fundação e conservação futura, estabelecendo um administrador dos bens, o procurador, pessoa responsável pelo seu provimento material. Também nas estâncias havia um religioso, geralmente irmão coadjutor, embora pudesse ser um sacerdote, que fazia o papel de administrador temporal, chamado de procurador ou de padre ou irmão estancieiro (PAGE, 2002, p. 245).
  • 8
    Os Libros de Cuentas são relatórios contábeis que registram o que era produzido, consumido, comprado e vendido pelos estabelecimentos jesuíticos, e podem ser consultados no Museo Nacional Estancia Jesuítica de Alta Gracia y Casa del Virrey Liniers (MNEJAG), em Córdoba, Argentina. Os livros utilizados nesta investigação foram gentilmente disponibilizados pelo professor Carlos Page. Mais do que apresentar lucros ou perdas econômicas das estâncias, esses livros registram os artigos que o Colégio enviava à estância, e os que a estância enviava ao Colégio, funcionando como um sistema conjunto, e não individual. A cada produto enviado ou serviço realizado era atribuído um valor segundo os preços correntes da época (PAGE, 2002, p. 245-246).
  • 9
    O Libro de Consultas do Provincial da Província Jesuítica do Paraguai, desde 1731 até 1747, como já indica o nome, era um livro no qual eram registradas as consultas feitas pelo padre provincial aos religiosos da Província com o intuito de tomar decisões acerca de assuntos cotidianos, muitas vezes espinhosos ou complexos. Essa prática fazia parte do processo de tomada de decisões existente na Companhia de Jesus. ARCHIVO GENERAL DE LA NACIÓN (AGN), Buenos Aires. Libro de Consultas de la Compañía de Jesús, 1731-1747, Leg. 69-70.
  • 10
    Os Memoriales são documentos enviados pelos superiores jesuítas para os estabelecimentos jesuíticos, contendo ordens a serem cumpridas com a finalidade de corrigir comportamentos, alinhar a ação dos religiosos às Regras e Constituições da Companhia de Jesus, e realizar transferências de pessoas de um local a outro.
  • 11
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 163-189.
  • 12
    Trad. livre dos autores: “Por 26ps6 de guebos cocina, y enfermos (…). Por 4ps2 en aves para enfermos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 222v-223.
  • 13
    Um dos fundamentos dessa medicina é que a saúde e a doença decorrem da proporção ou mistura correta ou incorreta dos quatro humores. A doença apareceria quando essas substâncias estivessem presentes de forma deficitária ou excedente no corpo humano, ou ainda fossem encontradas separadas e não misturadas com as outras (MOSSÉ, 1985, p. 45). A esses humores, a medicina acrescentava as qualidades de quente/frio e seco/úmido.
  • 14
    Sobre o Libro de Cirugía e outros tratados médicos e de farmácia escritos por jesuítas ou que circularam na América espanhola no século XVIII, recomenda-se ver mais em Fleck; Biehl (2020).
  • 15
    Vale ressaltar que uma vara (0,8359 metros) de tecido para mortalhas valia 4 reales.
  • 16
    Trad. livre dos autores: “Por 245 bs de lienzo que se gasto en mortaxas en los morenos que murien de la rancheria del collegio”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 227v.
  • 17
    Trad. livre dos autores: “el hermano Antonio Martinez, el cual fue enviado a socorro de los indios y morenos de servicio en nuestra estancia de Santa Catalina, atacados por una epidemia, con cual ocasión el mismo se contagio con la peste. (…) Fue arrebatado por la misma epidemia el padre Antonio Torquemada rector del seminario de Cordoba, y profesor vespertino de teología”.
  • 18
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 247v-278.
  • 19
    A botica do Colégio de Córdoba atendia não apenas aos religiosos, mas também a pessoas de fora da Companhia, sobretudo, durante as epidemias. Vale lembrar que, em 1637, o Papa Urbano VIII havia permitido que os jesuítas se dedicassem ao preparo de medicamentos somente para a própria comunidade, proibindo a venda para pessoas externas. Entre 1687 e 1692, foram baixadas diversas disposições pontifícias relativas ao exercício da função de boticários por religiosos. Em 1722, o Papa Inocêncio XII ratificou a proibição de venda de medicamentos, exceto pelos Irmãos Hospitalários de San Juan de Dios, o que foi mantido por Benedito XIV, em 1747. Essas disposições não foram, contudo, cumpridas, haja vista a quantidade de pleitos promovidos pelos boticários seculares contra as boticas e os boticários religiosos que continuaram exercendo a função e vendendo medicamentos durante todo o período (FLACHS; PAGE, 2010, p. 118-120).
  • 20
    Trad. livre dos autores: “Por 4 @ de azucar que se pagaron à la Botica -28ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 248v.
  • 21
    Trad. livre dos autores: “Por 7 @ de yerba à la botica -14p”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 255.
  • 22
    Trad. livre dos autores: “100ps que dio el Ho Boticario”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 79v.
  • 23
    Trad. livre dos autores: “La comida de los enfermos se hará en la cozinilla de la botica para que aya mas esmero y se destinara para que cuide de ella alguno de los muchachos que asisten en la botica, con el hermano enfermero quien atenderá a guisar y sazonar”.
  • 24
    Trad. livre dos autores: “Lienzo pa una mortaja”; “Mortaja 5vs de lienzo luto 3vs”; “Por 2b½ de Vaieta para los enfermos (…), 5 varas de Lienzo para mortaja”; “Lienzo para 2 mortajas”; “Para 2 mortas [de] 10bs de lienzo 5p (...), 2 varas de Vaieta para enfermos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Collo de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 319-322v.
  • 25
    Trad. livre dos autores: “Vuelvo a encargar a V. R. el cuidado con los enfermos en la comida, en las medicinas, en visitarlos, consolarlos y no descreer sus males”.
  • 26
    Trad. livre dos autores: “Dos muchachos se concederán al H. boticario para que duerman en la Botica, para lo que se le puede ofrecer de noche”.
  • 27
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 369-372v.
  • 28
    Trad. livre dos autores: “Se tendrá especial cuidado con ocasión de esta peste no decrezcan las oficinas. Y aún por tanto se reemplazarán las fallas que hay en ellas por haber muerto varios oficiales, por lo menos sustituyendo en lugar de estos otros tantos muchachos para que vayan aprendiendo cada cual su oficio”.
  • 29
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 374-378.
  • 30
    Trad. livre dos autores: “2 fanegas de harina para el gasto por los enfermos de la peste y pa casa -16ps (…) 6 pesos en yerba y tabaco por gallinas pa los enfermos -64ps (…), e una lib. de polvillo en polos y huevos pa los enfermos -2ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 201-201v.
  • 31
    Trad. livre dos autores: “dos arrobas de yerba, y una de tabaco en gallinas, polos y huevos pa los enfermos de la peste [sem valor], (…) 20 bs de tucuio en mortajas -20ps, (…) 12 libs de asucar en los enfermos -3ps (…), 16 carneros en los enfermos y para casa -16ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 201v.
  • 32
    Trad. livre dos autores: “24 reses, y dos fanegas y media de harina para casa y enfermos - 64ps, (…) 10 bs de tucuio para mortajas -10ps”; “media @ de yerba en gallinas pa enfermos -4rs”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 202. A maioria das transações econômicas realizadas entre os estabelecimentos jesuíticos com pessoas de fora da Companhia de Jesus e com outras instituições, inclusive com os trabalhadores contratados, acontecia mediante a troca de um produto por outro, sendo poucas as transações que envolviam o repasse de moeda corrente.
  • 33
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 182.
  • 34
    Trad. livre dos autores: “Itt por 85bs de ropa que se gastaron en fresadas de los esclavos enfermos -85ps; Itt por 4 fresadas usadas que se gastaron en los dos enfermos -24ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 182.
  • 35
    Trad. livre dos autores: “Supuesto que la peste de las viruelas no ha dado lugar a que la gente de la estancia se prevenga de vestuario y la dilación en la trasquila también lo ha embarazado, acudirá el H. Antonio Muñoz al P. Procurador del colegio para que le socorra con ropa para dicho vestuario, y sea cuanto antes porque empiezan los fríos”.
  • 36
    Trad. livre dos autores: “Itt por 1 bs de lienzo para mortaja de una criatura”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 188v.
  • 37
    Trad. livre dos autores: “Itt por 24 bs de Pañete, 40 bs de Bayeta, 33 bs de lienzo, y 3 bs de Bretaña en 3 casamtos de Esclavos -86ps2 (…) Itt por 12 bs de pañete, 12 bs de lienzo, 11 bs de Bayetas, 1 bs d Bretaña a Esclavos q cassaron -26 (…) Itt por 12 bs de pañete, 12 bs de lienzo, 11 bs de Bayetas, y 1 bs d Bretaña a Esclavos novios -26”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 189-191v.
  • 38
    Veja-se o registro da consulta realizada pelo Provincial em 3 de maio de 1734 na estância de Jesus María: “e se determinou que, dos 20 escravos que se haviam de comprar, se lhes dessem 10 por necessitar deles, assim para que as morenas tivessem com quem casar-se por ter muitas solteiras, como também por necessitar deles a vinha e demais trabalhos”. Tradução livre dos autores: “y se determino, qe de los 20 esclavos, qe se avian de comprar se le diessen 10 por necessitarlos, assi pa qe las Morenas tubiessen con quien casarse por ter muchas solteras, como tambien por necessitarlos la viña, y demas faenas”. AGN, Buenos Aires. Libro de Consultas de la Compañía de Jesús, 1731-1747. Leg. 69-70, f. 25.
  • 39
    Em meio a ordens emitidas pelo padre visitador Andrés de Rada nos anos 1660 (em PIANA; CANSANELLO, 2015, p. 507), lê-se: “e disponha-se que os solteiros não durmam nos ranchos dos casados, e sim à parte e sozinhos”. Trad. livre dos autores: “y dispóngase que los solteros no duerman en los ranchos de los casados, sino aparte y de por sí”.
  • 40
    Trad. livre dos autores: “una votija de aguardiente en remédios [sem valor declarado]”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 196.
  • 41
    Veja-se, como exemplo: “Outros extraem o azeite da madeira, como ‘palo santo, sasafrás, junípero’ etc, extraindo deles primeiro a tintura com aguardente, que, uma vez destilada, fica no fundo do azeite condensado”. Trad. livre dos autores: “Otros sacan el Azeyte de los Leños, como palo Santo, sazafràs, junipero &ª, sacando de ellos primero la tintura con aguardiente, la qual destilada, queda en el hondo el Azeyte condensado” (FLECK, 2022, p. 267).
  • 42
    CARTAS (97) de los Generales y Provinciales de la Compañía de Jesús sobre las misiones del Paraguay [16 de julio de 1623 a 15 de septiembre de 1754], p. 177. In: Biblioteca Digital Hispánica. Disponível em: http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000071287. Acesso em: 31 ago. 2022.
  • 43
    Trad. livre dos autores: “30 bs de lienzo para mortajas (…). Por una piesa q se [tegió?] aquí del hilo de Cordoba con 70 bs, y esta se gastó pa los enfermos porq no alcansaron las fresadas (…); Por 8 ps que también se dieron a los enfermos de cuenta del colegio”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.
  • 44
    Trad. livre dos autores: “Primte en mantellinas y mortaxas para los recién nacidos, en lienzo y vaieta 49bs-49ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.
  • 45
    Trad. livre dos autores: “Por 264 carneros a 3 cada semana aún se gasto a veces mas por los enfermos -264ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.
  • 46
    Trad. livre dos autores: “para mantellinas, y mortaxas de las criaturas recién nacidas 36bs - 36ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.
  • 47
    Trad. livre dos autores: “para mantelinas y mortaxas de las criaturas recién nacidas 58bs de vaieta echo en la estanca - 58ps”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. num. rota.
  • 48
    MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 25-66v.
  • 49
    Trad. livre dos autores: “En esta peste se ha gastado para alivio de los Esclavos enfermos 300 carneros, y 10 fanegas de harina”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Entradas y gastos de la Estancia de la Candelaria, 1718-1767. Inv. 88, f. 255v.
  • 50
    Trad. livre dos autores: “Por 20 ps q se dieron al q fue asangrar alos esclavos”. MNEJAG, Córdoba. Libro de Cuentas de este Coll o de Córdoba de la Compa Jhs Prouincia del Paraguay, mayo 1711-dic. 1762. Inv. 85, f. 304v.
  • 51
    A sangria era utilizada no tratamento de uma série de doenças, que iam desde uma simples dor de cabeça ou dor de dentes até dores nas costas, disenteria ou varíola e sarampo, constituindo-se em um procedimento que visava a equilibrar os humores.
  • 52
    Trad. livre dos autores: “El quinto que murió fue Gabriel Patino, natural del Paraguay, profeso de 4 votos, el cual, consumido por la tisis, acabo sus días en la estancia de Jesús María, el 30 de Junio de 1729, a la edad de cerca de 70 anos” (Carta Anua 1720-1730, em SALINAS; FOLKENAND, 2017, p. 97).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2022
  • Revisado
    31 Ago 2022
  • Aceito
    01 Set 2022
Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
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