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Gabriel Tarde e as ciências sociais francesas: afinidades eletivas

Resumos

Este artigo investiga os fatores que contribuíram para a ascensão intelectual de Tarde nos anos 1890, tendo-se em conta o fato de que o autor não tinha as credenciais acadêmicas necessárias para a carreira universitária. Procuro mostrar que Tarde conquistou prestígio junto a instâncias do poder intelectual e político contrárias à crescente autonomia da universidade e das ciências sociais. Os grupos pertencentes ao pólo pedagógico e ao pólo técnico-profissional ainda eram hegemônicos nos anos 1890, mas passaram a disputar com Durkheim a definição legítima das novas disciplinas. Como parte de uma estratégia estamental, esses grupos elegeram a psicologia social de Tarde como instrumento de combate, autor que correspondeu às expectativas e acumulou capital social nas mais diversas instâncias intelectuais e políticas, sendo por isso amplamente recompensado.

Gabriel Tarde; Campo intelectual; França; século XIX; Sociologia das ciências sociais


This article investigates the factors that contributed to the intellectual ascension of Tarde during the 1890's. Taking into account the fact that the author lacked the necessary academic credentials for a university career, I seek to show that Tarde obtained prestige among circles of intellectual and political power that were contrary to the growing autonomy of the university and the social sciences. Groups affiliated to the pedagogic pole and the technical-professional pole were still hegemonic in the 1890's, but they began to contend with Durkheim for the legitimate definition of the new disciplines. As part of a strategy of maintaining hierarchy, these groups elected the social psychology of Tarde as an instrument for combat. The author lived up to expectations and accumulated social capital in diverse intellectual and political fields, being thereby amply rewarded.

Gabriel Tarde; Intellectual field; France; 19th century; Sociology of the social sciences


ARTIGOS

Gabriel Tarde e as ciências sociais francesas: afinidades eletivas* * Este artigo é parte de minha tese de doutorado, intitulada Crítica da razão acadêmica: campo das ciências sociais "livres" e psicologia social francesa no fim do século XIX, defendida na Universidade de São Paulo, em 2007.

Marcia Cristina Consolim

Doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo. E-mail: <mconsolim@terra.com.br>

RESUMO

Este artigo investiga os fatores que contribuíram para a ascensão intelectual de Tarde nos anos 1890, tendo-se em conta o fato de que o autor não tinha as credenciais acadêmicas necessárias para a carreira universitária. Procuro mostrar que Tarde conquistou prestígio junto a instâncias do poder intelectual e político contrárias à crescente autonomia da universidade e das ciências sociais. Os grupos pertencentes ao pólo pedagógico e ao pólo técnico-profissional ainda eram hegemônicos nos anos 1890, mas passaram a disputar com Durkheim a definição legítima das novas disciplinas. Como parte de uma estratégia estamental, esses grupos elegeram a psicologia social de Tarde como instrumento de combate, autor que correspondeu às expectativas e acumulou capital social nas mais diversas instâncias intelectuais e políticas, sendo por isso amplamente recompensado.

Palavras-chave: Gabriel Tarde, Campo intelectual, França, século XIX, Sociologia das ciências sociais

ABSTRACT

This article investigates the factors that contributed to the intellectual ascension of Tarde during the 1890's. Taking into account the fact that the author lacked the necessary academic credentials for a university career, I seek to show that Tarde obtained prestige among circles of intellectual and political power that were contrary to the growing autonomy of the university and the social sciences. Groups affiliated to the pedagogic pole and the technical-professional pole were still hegemonic in the 1890's, but they began to contend with Durkheim for the legitimate definition of the new disciplines. As part of a strategy of maintaining hierarchy, these groups elected the social psychology of Tarde as an instrument for combat. The author lived up to expectations and accumulated social capital in diverse intellectual and political fields, being thereby amply rewarded.

Key words: Gabriel Tarde, Intellectual field, France, 19th century, Sociology of the social sciences

Pode-se perguntar se ele [Tarde] serviu ou prejudicou [a sociologia]. [...] Ela era, cada vez mais, algo de trabalhoso e de difícil, inacessível aos não especialistas e não executável pela via da conversação. A política e a moral estavam excluídas. [...] Ele contribuiu para colocar o princípio de que as questões que importam nessa ciência podem ser tratadas sem preparação especial por todos os espíritos cultivados (Espinas 1910:412).

O objetivo deste artigo é examinar as condições sociais que contribuíram para que Gabriel Tarde (1843-1904) ascendesse institucionalmente no campo intelectual francês ao longo da última década do século XIX na França. Esta não é uma questão simples se levarmos em conta que o autor não tinha credenciais acadêmicas num momento em que as carreiras no ensino superior estavam cada vez mais restritas aos portadores de títulos universitários (Karady 1983). Por outro lado, sua trajetória ascendente e seu sucesso mostram que, apesar do momento tardio em que deu início à carreira intelectual, Tarde foi legitimado por grupos importantes do sistema de ensino. Ao contrário da imagem de intelectual marginal que o próprio autor cultivou em vida e que seus filhos difundiram post mortem, sua posição no campo intelectual parisiense nos anos 1890 não foi periférica, mas absolutamente central. Isto foi possível, conforme pretendo argumentar, graças ao estado inacabado do processo de autonomização do campo intelectual à época, mas também porque Tarde representou a melhor solução ideológica no combate republicano contra o socialismo e, principalmente, devido ao fato de sua opção teórica ser mais afim à modernização conservadora pretendida pelos detentores do poder intelectual. No contexto da disputa teórica e disciplinar desta década, a obra do autor teve papel fundamental num amplo movimento de combate à sociologia durkheimiana por parte dos grupos intelectuais tradicionais (leplaystas e pedagogos) e daqueles que — caso dos psicólogos — visavam estender seu domínio disciplinar ao âmbito das questões coletivas. A própria expressão "psicologia social", cunhada originalmente por Tarde, foi relançada pelos intelectuais a ele ligados, no contexto da luta contra a teoria social de Durkheim. O autor foi um instrumento destas redes, das quais se aproximou institucionalmente, sendo beneficiado com a nomeação a postos de prestígio. Por outro lado, a recepção negativa de sua obra por alguns setores universitários — não apenas o durkheimiano — mostra que ambos os autores estiveram no centro de uma luta que os ultrapassava.

Os estudos sobre Tarde têm sido tão intensos nas últimas décadas que Mucchielli (2000) chamou o movimento de "tardomania". Contudo, parece haver nesse ímpeto de "recuperação" do autor uma excessiva impregnação de interesses ligados às posições em conflito no campo intelectual francês atual, uma vez que parte dos "neotardeanos" tem em mente o ataque à escola bourdieusiana, herdeira da sociologia durkheimiana, conforme observou Louis Pinto (2006). Tarde é freqüentemente considerado "inclassificável" pelos estudiosos, em parte porque a imagem de um autor personalista e singular que, apesar de sua projeção no período, nunca formou escola nem discípulos costuma ser assimilada acriticamente. Ele é visto como um outsider no mundo intelectual por não ter se rendido aos cânones do momento (Vargas 2000:256), sendo supostamente marginalizado em virtude da ascensão institucional de Durkheim (Apfelbaum 1981:400-2; Lubek 1981:368), o qual, no entanto, estava longe de ter o poder institucional que costumam lhe atribuir. Neste artigo, procurarei mostrar que Tarde representou, desde os anos 1890 até sua morte, em 1904, o próprio mainstream das ciências sociais e do poder intelectual, motivo pelo qual seu nome foi cogitado ou indicado para postos de prestígio no sistema de ensino e de poder intelectual, tais como o Collège de France e a Académie des Sciences Morales et Politiques. Não se pode confundir o fato do autor não ter formado uma escola ou discípulos, ou melhor, um cluster (Clark 1973:68), com isolamento intelectual. Poder-se-ia mesmo afirmar que a enorme dependência de Tarde em relação à configuração que passou a sustentá-lo nos anos 1890 teria influenciado o gênero e o estilo eclético de sua "psicologia social", para além da maneira autodidata por intermédio da qual introjetou disposições intelectuais.1 1 O "ecletismo" é usado no período em dois sentidos distintos: como sinônimo da psicologia idealista da escola de Victor Cousin, e para caracterizar doutrinas que combinam explicações de natureza distinta. É neste segundo sentido que o emprego neste artigo. Não foi por outro motivo que avançou bastante na carreira, apesar de ser um outsider em relação a alguns setores da universidade.

Campo intelectual e posições em disputa

Desde a segunda metade do século XIX, as elites francesas passavam por um processo de diferenciação interna que resultou na autonomia relativa da elite intelectual em relação às elites políticas e econômicas. Esta tendência intensifica-se a partir de 1880, quando a Terceira República se consolida e dá início a um conjunto de reformas educacionais caracterizadas por uma maior autonomia do campo universitário, ou seja, por regras de funcionamento voltadas para a profissionalização das carreiras e cursos. Inúmeras leis foram criadas no período com esse objetivo: a separação entre a universidade pública e a escola privada; a instituição de novas titulações (licença, estudos superiores e agregação);2 2 Tradicional exame francês que tem por objetivo credenciar o candidato à docência em um liceu, ou seja, no ensino secundário. Na época, realizado após três anos de curso no ensino superior. a criação de regras para a progressão na carreira, para nomeações a postos de ensino e para a concessão de bolsas de estudo; a criação de cadeiras e cursos sobre temas modernos e mais especializados etc. Tais reformas desencadearam uma relativa democratização do ensino e uma mudança no recrutamento do corpo docente, favorecendo a média burguesia intelectual (Charle 1987:251, 1994:17). Nas áreas científicas, tais como a química e a física, o processo de autonomia estava mais avançado, de modo que se reivindicava com maior ênfase o fim da tradicional função da universidade como um corpo do Estado, vigente desde a era napoleônica, bem como se questionava a função intelectual do expert, "conselheiro" ou "ideólogo". Por oposição, nas áreas mais profissionalizantes, tais como o direito e a medicina, a resistência à autonomia era maior devido ao fato de o recrutamento nesses cursos ser feito majoritariamente entre as tradicionais elites do poder (Charle 1994). A polarização entre os adeptos da autonomia universitária e os que pretendiam mantê-la sob uma lógica heterônoma tensionou o campo intelectual e atingiu expressão máxima por ocasião do caso Dreyfus, quando a representação do "intelectual" como grupo profissional foi reivindicada e reconhecida como apartada do poder social.3 3 O caso Dreyfus dividiu a opinião pública francesa entre os partidários e os opositores de Dreyfus, capitão judeu do Exército, condenado por crime de alta traição. Mais adiante indico as implicações deste episódio para o campo intelectual.

Na área de letras e de filosofia, o processo de autonomização não se realizou plenamente neste período, mantendo-se numa posição intermediária entre os cursos científicos e os profissionalizantes (Charle 1994). As figuras intelectuais e as representações sobre a própria função intelectual nesse âmbito polarizaram-se entre um "modelo letrado" e um "modelo científico". De um lado, o intelectual burguês, freqüentador dos salões, que se dirige à própria classe e que ostenta uma cultura clássica; do outro, o especialista universitário, que sustenta um conhecimento científico e que escreve para os pares (Sapiro 2004). Entre estes dois extremos, figuras politicamente engajadas disputavam públicos mais amplos, fosse pela via publicista (escritores de vulgarização científica), assistencialista (funcionários do patronato social ou do Estado) ou pedagógica (professores de escola pública ou privada). Denomino pólo "pedagógico" as posições de grupos e de instituições freqüentemente ligadas às faculdades de filosofia e letras e às disciplinas tradicionais no ensino secundário (história e filosofia), cuja concepção das ciências sociais fundamentava-se em valores morais. O pólo "técnico-profissional", por sua vez, caracteriza-se por posições vinculadas às faculdades de direito, medicina ou engenharia, para quem as ciências sociais são uma função da filantropia patronal e da "engenharia social" — tipicamente representadas pelos herdeiros de Frédéric Le Play.4 4 Frédéric Le Play (1806-1882) pertenceu à primeira geração de sociólogos empiricistas franceses. Fundou um gênero de pesquisa pragmática, voltada para a "paz social". Considerava a família a principal estrutura social, tendo suas pesquisas sobre orçamento familiar influenciado os intelectuais ligados ao patronato social. Cf. Savoye 1989; Topalov (org.) 1999. Estes dois pólos tinham em comum a recusa da ruptura com a tradição intelectual ou com o poder social e, no plano teórico, a defesa das ciências sociais como um conjunto eclético de disciplinas e saberes orientados por um valor moral ou fim político e social. Não é por acaso que mantiveram diálogo e sociabilidade intelectual em instituições tais como revistas e sociedades científicas.

No pólo "técnico-profissional", as ambições eram menos pedagógicas do que tecnocráticas, uma vez que em sua maioria tais grupos ocupavam postos em associações patronais ou em ministérios voltados para a ação assistencial; a docência, nesses casos, era exercida de maneira paralela à carreira principal — freqüentemente em instituições privadas ou em cursos livres. Suas pesquisas focalizavam as relações trabalhistas e as associações mutualistas em busca de soluções para o conflito social. No pólo "pedagógico", os professores do ensino secundário estavam muito mais envolvidos com as reformas do ensino, uma vez que delas dependia diretamente sua reprodução social. Em geral, eram resistentes à especialização disciplinar pelo fato deste processo colocar em xeque o prestígio das disciplinas tradicionais e sua dominação em relação às recém surgidas (Charle 1983:89, 1990:12). Em sua maioria, eram partidários da manutenção das ciências sociais como um ramo da filosofia moral (Ringer 1992).

Isto significa que, apesar do surgimento de uma visão disciplinar mais científica e modernista na Faculdade de Letras, diversas formas de heteronomia ainda dominavam, tais como a formação docente voltada para o ensino secundário, o predomínio das matérias "clássicas" e "letradas" sobre as "modernas" e "científicas" e, finalmente, as nomeações políticas no ensino superior. Nos anos 1890, a criação de novas cadeiras na universidade foi motivada pela luta anticlerical ou anti-socialista dos republicanos, as indicações para estes postos levando em consideração a ficha política do candidato ou sua rede de relações pessoais. O Collège de France esteve mais exposto a tal tipo de nomeação em comparação com a Sorbonne, uma vez que a universidade aliava considerações ideológicas a credenciais propriamente acadêmicas (Charle 1997; Weisz 1979; Clark 1973). Quando da criação ou nomeação para os cursos de Economia Social (1894) na Faculdade de Letras e de Filosofia Social (1897) e Filosofia Moderna (1900) no Collège, os indicados foram, respectivamente, Alfred Espinas, Jean Izoulet e Gabriel Tarde, mas não Émile Durkheim. Os três tinham em comum o fato de defenderem teorias frontalmente críticas ao socialismo e ao conflito trabalhista que então se instalava na França e de manterem relações pessoais com os detentores do poder educacional. Até a virada do século, a desvantagem de uma carreira sem capital social pode ser exemplificada por uma carta de Durkheim a Marcel Mauss expressando seu desalento com a relativa impotência da universidade diante das nomeações políticas:

Em relação ao caso Izoulet, eu fiz tudo o que deveria. Ao mesmo tempo em que escrevia a Liard, enviava meu Suicídio a G. P. [...] Eis tudo sobre essa história.

O que eu ganharei? Pouca coisa provavelmente ou nada. Se não for Izoulet, será Tarde. O que me importa? Você diz que eu sou o candidato da universidade, quer dizer, o candidato de Brochard. Não é suficiente (1998:81).

A visão durkheimiana das ciências sociais, ancorada na defesa da autonomia universitária, na profissionalização das carreiras e na especialização do conhecimento sociológico, representou o que denomino pólo "científico" das ciências sociais.

Uma vez que a maioria dos portadores de títulos de agregação e doutorado seguia carreira no ensino secundário, a criação de revistas científicas era parte de uma estratégia de credenciamento a uma vaga no ensino superior. Nos anos 1890, proliferaram coleções, revistas e sociedades científicas cujos títulos estampavam o nome de uma nova disciplina — psicologia, sociologia, economia social, estatística — bem como fundamentos e concepções distintas dessas novas matérias (Charle 1990, 1994). Nem todas tinham o mesmo prestígio. Na área de ciências sociais, as iniciativas mais especializadas e vinculadas à universidade podem ser representadas por L'Année Sociologique, dirigida por Durkheim, em oposição às mais ecléticas e de recrutamento livre, como a Revue Internationale de Sociologie, dirigida por René Worms.5 5 Apesar das credenciais acadêmicas de René Worms — que obteve quatro títulos de doutorado (em direito, letras, ciências políticas e econômicas e ciências naturais) — ele fez carreira de auditor do Conselho do Estado. A primeira recrutava sobretudo normalistas6 6 Alunos da École Normale Supérieure, escola de grande prestígio que formava professores para o ensino secundário e superior. e doutores da Faculdade de Letras ligados ao ensino superior, enquanto a segunda selecionava colaboradores em duas posições principais: no pólo "pedagógico", principalmente entre professores de filosofia e história do secundário; e no pólo "técnico-profissional", ou seja, entre os leplaystas ligados ao patronato social e ao Estado. Do ponto de vista disciplinar, L'Année defendia a autonomia da sociologia em relação à biologia, à filosofia e à psicologia e, por oposição, a Revue Internationale de Sociologie arregimentava autores que defendiam a redução da explicação sociológica à biologia, ao meio físico ou à psicologia. Tarde foi uma figura importante na Revue e nos meios ligados a Worms, uma vez que sua teoria permitia preservar as posições e concepções disciplinares tradicionais dos pedagogos, bem como defender os valores liberais e assistencialistas dos leplaystas.

A "psicologia social" que Tarde ajudou a construir foi uma temática que se difundiu entre o fim da década de 1880 e os primeiros anos do século XX, numa conjuntura intelectual de definição e de institucionalização de novas disciplinas na área de ciências sociais. Por esta expressão se compreendia, à época, um conjunto de instituições e temas ligados à "questão social" (higienismo, questões trabalhistas, seguridade etc.) que floresceu, basicamente, junto aos meios pedagógicos e patronais preocupados com a resolução de conflitos provenientes da industrialização e da urbanização da sociedade francesa. Para efeito deste trabalho, contudo, as ciências sociais representam um campo constituído pela competição entre as antigas e as novas disciplinas ou discursos sobre o "social" — de um lado, letras, filosofia e história e, de outro, economia, estatística, geografia, psicologia social, sociologia e etnologia — e, principalmente, entre concepções "cultas", "pragmáticas" e "científicas" dessas matérias, correspondentes aos três pólos descritos acima. Ao contrário de todas as outras disciplinas, a "psicologia social" não foi institucionalizada na universidade, não se constituindo em torno dela, nesse período, uma escola de pensamento, uma sociedade científica ou mesmo uma revista especializada.7 7 Em 1907, surgiu uma revista generalista, fundada pelo filho de Gabriel Tarde, chamada Psychologie Sociale. A revista durou apenas um ano e meio, o que mostra o caráter efêmero das configurações sociais que sustentavam esta expressão. Já a sociologia durkheimiana expandiu-se institucionalmente após 1902, quando Durkheim foi nomeado para a cadeira de ciências da educação na Sorbonne, e vários membros ligados a L'Année Sociologique passaram a ocupar posições de destaque no ensino superior. O recrutamento baseado em nomeações políticas daria lugar, a partir de então, a uma seleção mais fortemente ancorada em credenciais acadêmicas.

A recepção de Tarde pelos contemporâneos

Tarde nasceu em Sarlat, na Dordogne, em 1843, em uma família de notáveis locais. Renegou, no entanto, a origem nobre, retirando do nome a partícula "de", símbolo que ele próprio faria retornar oficialmente à família a pedido dos filhos. Estudou em colégio interno jesuíta, era católico e prezava os valores religiosos, uma vez que também educou os filhos em colégio de mesma orientação religiosa. Seu pai, magistrado como ele, morreu quando Tarde tinha apenas sete anos, o que limitou o âmbito de suas escolhas educacionais e profissionais. Ele queria ter estudado na Escola Politécnica, mas acabou por seguir a carreira paterna, provavelmente por lhe garantir a continuidade do patrimônio e a permanência em sua região de origem. A relação com a mãe era extremamente forte, o que fez com que só deixasse definitivamente Sarlat após a sua morte. Sua mulher era, como ele, filha de um magistrado local. Tarde iniciou o curso de direito em Toulouse e o concluiu na Faculdade de Direito de Paris. Sua carreira na magistratura teve início em 1869, atividade que abandonou apenas aos 51 anos, como Juiz de Instrução em Sarlat.

Tarde deixou a Dordogne em 1894 para se instalar em Paris, a convite do Ministério da Justiça, para trabalhar como diretor do Departamento de Estatística Criminal. Apesar da mudança, jamais perdeu o afeto pela terra natal, onde manteve uma propriedade na qual sempre passava as férias. A transferência para a capital não foi bem-vista por sua mulher, possivelmente por conta das novas amizades femininas de Tarde feitas nos salões parisienses. Entre 1894 e 1900, ele permaneceu no Ministério e, paralelamente, continuou a dedicar-se à vida intelectual. O trabalho burocrático não lhe agradava, haja vista a maneira como se queixava do comportamento dos funcionários, da burocracia estatal e das limitações expressivas inerentes à própria linguagem estatística (Salmon 2005). Apenas em 1900, com sua nomeação para o Collège de France, pôde dedicar-se integralmente ao trabalho intelectual.

Tarde conquistou todos os cargos almejados na carreira intelectual, mas jamais sentiu-se completamente à vontade nos meios intelectuais parisienses, fosse pelas disposições provincianas — a origem sulista expressa em seu sotaque, suas vestimentas, seus valores — fosse pelo fato de ter feito apenas o curso superior de direito, sem seguir a carreira clássica que levava então ao ensino superior — marcada pela sociabilidade normalista ou sorbonnarde. Suas cartas fazem recorrente menção a este sentimento, num primeiro momento justificado pelo isolamento intelectual de Sarlat e, já em Paris, pela impossibilidade de dedicar-se integralmente à vida intelectual. Por sua vez, o deslocamento vivenciado não passava despercebido, uma vez que ele era visto como uma figura romântica para os padrões da intelectualidade parisiense.8 8 Segundo seu amigo Henri Mazel, "Tarde tinha uma grande distinção natural. Marchava em longos passos, parecendo por vezes um militar, com suas vestimentas sempre escuras, o casaco abotoado como uma túnica. [...] Os que o encontravam, na rue de Vaugirard, o tomavam por um poeta romântico de outros tempos ou um cientista [ savant] original. Era certamente alguém e as pessoas o olhavam ao passar" (1904:89-102). Tarde era um intectual cujas disposições foram em parte determinadas por uma formação autodidata, o que se refletiu sobre o largo escopo de suas escolhas temáticas, publicando obras nas áreas de filosofia, sociologia, psicologia, criminologia, mas também poesia e teatro.

A recepção à sua obra foi proporcionalmente mais negativa quanto mais se caminha na direção do pólo científico e, em oposição, mais positiva quanto mais se aproxima do campo literário. Entre estes extremos, os autores posicionados no pólo "pedagógico" e "técnico-profissional" adotaram uma visão moderada, equilibrando críticas e elogios à obra do autor. Nestes casos, mesmo quando positivos e feitos por intelectuais que o admiravam, os depoimentos e as resenhas valorizam a "pessoa" de Tarde em detrimento do "profissional" e, no plano disciplinar, o talento criativo ou a vocação filosófica em detrimento da competência propriamente científica. A imagem do autor entre seus contemporâneos remete à do "homem de letras", ou seja, a uma figura que ainda condensava saberes em processo crescente de especialização, tais como a literatura, a filosofia e a ciência.

Elaboradas pelos filósofos do pólo pedagógico, Gustave Belot e Edmond Globot, professores de liceu, as seguintes críticas podem ser pontuadas. Para Belot (1896, 1901), a obra de Tarde é "sintética" e excessivamente generalista; o autor não conseguiria demonstrar suas hipóteses porque seu sistema é deduzido a partir de certos pressupostos, alguns deles ambíguos e contraditórios (como a confusão entre lógica e psicologia). Do ponto de vista político, ele se refere a Tarde como um tradicionalista, em razão de seu elogio ao liberalismo inglês. Goblot, por sua vez, ironiza o grau de generalidade do conceito de "imitação", ao afirmar que o termo significaria "toda ação de um indivíduo vivo sobre outro indivíduo vivo" (1898:209).9 9 Goblot era, na ocasião, professor do secundário. Mais tarde se tornaria professor na Universidade de Lyon. No pólo da filosofia universitária, a crítica de René Berthelot gerou réplica e tréplica na Revue de Métaphysique et de Morale.10 10 René é filho do químico Marcellin Berthelot (1827-1907), que dirigiu a Grande encyclopédie. Dada a cultura positivista da família Berthelot, Tarde possivelmente não era bem-visto nesse meio. O fato de o artigo "Sociologie", da Encyclopédie, ter sido escrito por Mauss e Fauconnet, e não por Tarde, parece corroborar esta suposição. Berthelot (1893-1894), filósofo utilitarista, considera que a teoria de Tarde não é científica por não poder mostrar-se verdadeira ou falsa; a teoria da imitação sendo uma simples dedução do meio vital e físico e, portanto, um princípio sem comprovação empírica. Levy-Bruhl, apesar dos elogios a La philosophie pénale, admite que o método analógico de Tarde é simplista e aventureiro (1890). Bergson, que manteve uma relação amistosa com o autor, o definiu como um "filósofo", um "metafísico" e um "poeta". Quando da morte de Tarde, escreveu: "[...] saudemos em Tarde o filósofo de um pensamento penetrante, de imaginação forte e que nos abriu tantos horizontes; mas sejamos-lhe gratos, sobretudo, por ter realizado a mais alta ambição da filosofia, que é nos tornar melhores e mais fortes" (1909a:62, 1909b). Os adjetivos usados em todos esses depoimentos ou resenhas são importantes: "falante incomparável", "dedutivo", "engenhoso", "original", "poeta" e "metafísico". Eles representam atributos do indivíduo em oposição à descrição de um grupo profissional, ou seja, referem-se a práticas intelectuais ainda indistintas. O ponto fundamental da crítica, que será enfatizado quanto mais próximo estejamos dos meios científicos, é o fato de Tarde partir de um sistema filosófico apriorístico, o que impede o controle sobre a veracidade das afirmações.

Quando se analisa a recepção a suas idéias pelo pólo técnico-profissional — em particular pelo meio jurídico universitário, área de formação do autor — a imagem não difere muito. Paul-Frédéric Girard (1893), jurista e defensor da sociologia jurídica, chegou a cogitar que Tarde estivesse do lado dos que combatiam a ciência na querela que então se estabelecia com os novos intelectuais católicos.11 11 Na década de 1890, alguns intelectuais pertencentes ao campo literário aderiram ao catolicismo (Brunetière) e ao nacionalismo (Barrès), proclamando a "bancarrota da ciência". Sobre este assunto, conferir os debates entre Brunetière (1895, 1898) e Durkheim (1898a). Segundo ele, faltaria ao autor observação e análise, ou seja, pesquisa empírica, sem o que sua teoria da imitação não passaria de um conjunto de pressupostos sem valor científico. Outros autores, tais como Léon Duguit e Maurice Hariou, ambos juristas e professores universitários, travaram uma polêmica sobre sociologia na qual Tarde foi tomado como referência. Para "um doutor em direito" (artigo anônimo, mas provavelmente de Duguit), Tarde raciocina como um crédulo pois, apesar de aceitar o determinismo, deixa espaço para o "milagre" (1894). Hariou retruca que a teoria de Tarde combina cientificidade com os valores morais adequados, pois ele deixa a "estrutura social" em segundo plano e, no bom caminho da tradição, "reabilita a crença e o amor" (1894). René Worms (1905), apesar dos elogios a Tarde quando de seu combate contra Durkheim e da proximidade institucional, definiu a obra do autor, após sua morte, com os seguintes adjetivos: "literária", "engenhosa" e "sugestiva". Considera que seus estudos "não têm um método rigoroso" e "são superficiais", dado que ele estudava assuntos variados e pertencentes a disciplinas distintas (Worms 1901:857, 1905:128). O caso de Worms, contudo, é especial pois, ao longo da década de 1890, teve três opiniões distintas em relação à obra de Tarde: num primeiro momento, valorizou sua teoria em detrimento da de Durkheim; posteriormente, jogou ambos um contra o outro para poder conquistar uma cadeira na universidade; finalmente, após a morte de Tarde e com a ascensão institucional de Durkheim, passou para o outro lado. Dois outros depoimentos, feitos nesta ocasião, merecem destaque: o de Levasseur (1909) e o de Faure (1909), ambos amigos de Tarde, professores universitários e ligados às redes da economia liberal e social leplaysta.12 12 Faure foi secretário do movimento em homenagem a Tarde. Doutor em direito e professor de economia política, foi deputado republicano e ministro das finanças. Levasseur era normalista e portador dos títulos de agregação e doutorado em letras. Tornou-se importante historiador da economia e do trabalho. Foi professor de estatística e de economia social na École Libre des Sciences Politiques. Levasseur caracteriza o autor como um "pensador original", e Faure sintetiza essa disposição pela expressão "independência de espírito". Os elogios revelam certa ambigüidade, uma vez que "originalidade" e "independência" eram palavras cada vez mais distantes das expectativas em relação à produção do conhecimento científico, logo, cada vez mais apropriadas e valorizadas pelos literatos.

Na área da medicina legal, a visão de Alexandre Lacassagne,13 13 Alexandre Lacassagne, médico e professor de medicina legal na Faculdade de Medicina de Lyon, foi diretor dos Archives d'Anthropologie Criminelle desde sua fundação, em 1886. Em 1893, Tarde tornou-se co-diretor da revista, que mudou de nome e passou a incluir a rubrica "criminologia". amigo e patrono de Tarde, também revela tal ambigüidade, o que surpreende se levarmos em consideração que o texto foi publicado por ocasião da morte do autor, quando geralmente são escritas hagiografias. Segundo Lacassagne, "para os filósofos e os psicólogos, ele era um erudito e um metafísico [...] para os cientistas e antropólogos, era mais engenhoso do que sólido, mais literário do que positivo"; tinha um "espírito enciclopédico", mas atento às "questões do momento"; no futuro seria talvez considerado um psicólogo, um sociólogo, um filósofo — o que significa que ele não o era então (1904:501). Outro médico e psicólogo experimental, Nicolas Vaschide (1904:673-674), amigo de Tarde, afirmou nesta mesma circunstância: "Tarde era um filósofo, um poeta, um literato", era um "erudito, preciso, fino e científico", um "homem de elite que escrevia para a elite"; tinha "horror às pesquisas de opinião (enquêtes) e à estatística, que considerava uma ciência dos medíocres feita para os medíocres"; "queria ser economista, psicólogo, filósofo, sociólogo numa época de especialização". Todas estas imagens expõem com clareza a ambigüidade da posição do autor no campo intelectual. Mesmo quando recebeu elogios e foi valorizado como "científico", sua obra foi caracterizada como "filosófica", "literária" e "enciclopédica", termos que naquele período representavam valores anticientíficos, sendo apropriados pelos literatos contra o modernismo intelectual.

Por outro lado, algumas declarações indicam que Tarde era bastante admirado no campo literário, provavelmente em razão da valorização do "mistério" e da "introspecção". Neste sentido, é significativa a apresentação do autor, na Revue Blanche, por ocasião de um balanço sobre a obra de Taine, em 1897: "o mais brilhante intérprete da escola sociológica francesa que, pode-se dizer, ele constituiu, dando-lhe uma tonalidade e um caráter próprio: igualmente distante da temeridade dos paradoxos italianos e do biologismo obstinado e subterrâneo dos ingleses" (Bélugou 1897:284).14 14 A Revue Blanche e o Mercure de France eram revistas literárias vanguardistas e de recrutamento estudantil. Nas palavras de Charle (2004), ambas eram elitistas e voltadas para os "happy few". Com o mesmo tom laudatório, Henri Mazel, crítico literário do Mercure de France e diretor da revista L'Ermitage, tampouco poupava elogios ao amigo, com quem freqüentava os banquetes de Gustave Le Bon.15 15 Le Bon (1841-1931) é considerado, juntamente com Tarde, representante da "psicologia das multidões". Ao contrário deste último, não conseguiu ascender a instituições de prestígio intelectual por ter perdido seu capital social junto ao poder pedagógico.Tornou-se editor da Flammarion em 1902. Tarde é um "grande homem", tal como Taine e Renan; elevou ao mais alto grau o espírito nacional; Tarde vem das "raízes profundas" da França, adora seus camponeses e fala a língua deles; colocou "vida" na ciência social, por oposição aos que a "dissecaram, matematizaram e abstraíram" (1904:89-102; ênfase minha). Essas oposições explicitam os termos da disputa entre o pólo científico e o literário, na qual Tarde recebeu, como seria de se esperar, o voto dos literatos. A preferência de Mazel pelo autor também tinha razões políticas, uma vez que ambos defendiam uma visão liberal das relações sociais, radicalmente oposta a qualquer tipo de concepção igualitária, estatal ou socialista. Duas figuras da tradição literária e politicamente conservadoras, Ferdinand Brunetière e René Doumic, diretor e colaborador regular da Revue des Deux Mondes, também deram seu aval às idéias do autor. Brunetière havia saudado Les lois de l'imitation como uma das dez obras mais importantes do século e, na Revue, elogiou o artigo de Tarde sobre as multidões, artigo que, aliás, tinha um dedo seu.16 16 Carta de Tarde a Brunetière, de 1893: "Eu estou plenamente de acordo com as modificações a fazer em meu artigo, [...] ainda que o senhor não tenha me dito quais" (20 de agosto de 1893). Doumic (1901), quase uma década depois, publicou um artigo concordando totalmente com as teses sobre a "psicologia das multidões" de Tarde, distanciando-se apenas de seu otimismo. A obra deste último era sem dúvida mais facilmente aceita por literatos que se batiam contra o naturalismo e que, pertencentes à burguesia intelectual, valorizavam em Tarde as menções ao mistério, à introspecção, à intimidade, à liderança das elites eruditas, bem como suas críticas aos excessos da ciência. Isso pode ser demonstrado pelo fato de que a leitura da obra de Taine por parte dos romancistas é, como seria de se esperar, bastante próxima à de Tarde: ambos valorizam o Taine da segunda fase, mais conservador — após Les origines de la France contemporaine — em detrimento da fase naturalista (Loué 1966). A grande contribuição deste autor, segundo eles, seria sua percepção do "sentimento religioso", do "indizível" e do "indeterminado" em detrimento do claro e do científico (Belugou 1897).

Pode-se depreender do conjunto destas percepções que a obra de Tarde foi apropriada por vários grupos como mote em disputas internas ao campo intelectual, prestando-se particularmente ao apoio das posições mais refratárias à separação entre literatura e ciência ou entre filosofia moral e ciência social. Sua obra contribuiu, nesse sentido, para a indefinição das áreas do conhecimento e para a sobreposição da dimensão ética, estética e social por oposição às delimitações disciplinares próprias às novas regras do campo.

Ascensão institucional no meio intelectual parisiense

O que todos os depoimentos e resenhas anteriores não revelam, mas de alguma forma sugerem, é que o conservadorismo intelectual e social de Tarde foi determinante para sua ascensão institucional. O Collège de France e a Académie des Sciences Morales et Politiques, ao contrário da Sorbonne, eram instituições abertas ao recrutamento livre e à nomeação política — a segunda não por acaso dominada por membros do pólo pedagógico e técnico-profissional. A Académie recrutava nos meios político, patronal, liberal, ensaístico e jornalístico e, intelectualmente conservadora, defendia a filosofia como matéria fundamental e as ciências sociais como disciplinas subsidiárias — estas últimas representadas pela economia social leplaysta e pela filosofia moral ou psicológica. No que diz respeito aos valores políticos, predominava o republicanismo conservador dos herdeiros da escola de Léon Say, baseado na economia liberal clássica (Delmas 2006).

Tarde precisava cultivar relações com os antigos membros dessas instituições para ser legitimado, algo amplamente favorecido por suas disposições. Por outro lado, ele também precisava do aval dos novos membros e de setores republicanos próximos ao pólo científico, tarefa mais árdua considerando-se sua imagem de "homem de letras". Sua estratégia foi conquistar legitimidade pela assunção pública, em seus artigos, de um compromisso com os valores científicos e republicanos, em oposição ao socialismo, ao darwinismo social e, finalmente, à sociologia durkheimiana.

A Revue Philosophique foi o veículo por meio do qual ele ingressou no incipiente mundo das ciências sociais: em 1880, escreveu uma carta anônima a Théodule Ribot17 17 Théodule Ribot é considerado o fundador da psicologia experimental francesa, além de ter dirigido a importante Revue Philosophique desde sua fundação, em 1876. Em 1885, foi eleito para a Sorbonne e, em 1888, para o Collège de France, na cadeira de psicologia experimental e comparada. que, por sua vez, solicitou que o autor anônimo se identificasse. A partir de então, Tarde iniciou uma intensa colaboração com a revista: entre 1880 e 1893 publicou nada menos que 26 artigos, ou seja, uma média de dois artigos por ano. Além da revista de Ribot, Tarde escrevia também para os Archives d'Anthropologie Criminelle, de Alexandre Lacassagne, desde a sua fundação, em 1886; na qual publicou 26 artigos em seus 20 primeiros anos de existência, cifra menor apenas que a do próprio Lacassagne. Os Archives, sediados em Lyon, publicavam na área de direito penal e de medicina legal, representando a "escola francesa de criminologia". A revista de Lacassagne foi importantíssima na trajetória de Tarde, pois por seu intermédio ele tornou-se o grande adversário de Lombroso e da escola de antropologia criminal italiana. O autor defendia uma maior importância do "meio social" em detrimento da proeminência dada pelos italianos aos caracteres biológicos na explicação do crime, ainda que até certo ponto aceitasse a influência destes últimos (Renneville 1994). Esta oposição gerou impacto a partir dos anos 1890, momento em que as teses da antropo-sociologia e o conceito lombrosiano de "atavismo" caíram em descrédito. Tarde tornou-se co-editor desta revista em 1893 e, no ano seguinte, foi nomeado para Paris por influência de Lacassagne (Lacassagne a Tarde 1893).

Por sua vez, a Revue Philosophique era a revista universitária mais importante na área de filosofia e de ciências sociais na década de 1880. No entanto, sua posição no campo intelectual era ambígua: se, no plano doutrinário, Ribot combateu veementemente o idealismo filosófico em nome da psicologia experimental ou positiva, sua revista nunca rompeu completamente com os meios idealistas, ou seja, com a filosofia dita sorbonnarde. Suas páginas abrigaram tanto autores espiritualistas, tais como Elme Caro e Henry Joly, quanto setores identificados com o positivismo científico, como a nova geração de médicos ligados a laboratórios de psicologia experimental ou patológica, representados por Pierre Janet e Alfred Binet. Com o surgimento de novas revistas especializadas nos anos 1890, essa abertura passou a significar ecletismo e conservadorismo, o que explica o fato de Durkheim ter preferido editar a seção L'Année Sociologique (antes de se tornar uma publicação independente) na Revue de Metaphysique et de Morale, revista concorrente à de Ribot e fundada em 1893 por universitários neokantianos. Xavier Léon, seu diretor, parece ter preferido Durkheim a Tarde, uma vez que enviou condolências ao primeiro por ocasião da eleição de Tarde ao Collège, ao que Durkheim respondeu não se sentir concernido por não ser um "filósofo profissional", lamentando a confusão entre filosofia e sociologia expressa na nomeação de Tarde para a cadeira de filosofia moderna (Durkheim a Léon 1900).

É significativo, portanto, o fato de Tarde ter publicado tão intensamente na revista de Ribot: isso lhe permitia formular uma teoria social a partir de pressupostos gerais e abstratos, como os idealistas, mas também fundamentar e ilustrar suas teses com base em experiências de laboratório ou observações do cotidiano, como os naturalistas. O resultado foi uma mistura compósita de positivismo psicológico e idealismo sociológico, tão característica dos textos de Tarde, e que agradava tanto a Ribot e aos psicólogos naturalistas quanto aos filósofos moralistas. Foi na revista deste último que Tarde atacou, em 1895, a idéia de que haveria taxas "normais" na área criminal e a confusão que Durkheim supostamente teria feito entre o "mediano" e o "normal". Opondo-se a ele, defendeu que o "normal" deveria ser o que é moralmente correto (a solidariedade, a aliança pela vida) e, ao mesmo tempo, que a patologia social poderia ser compreendida como a biológica, aplicando-se à sociedade o estudo de Pasteur sobre a "luta pela vida" entre micróbios e células normais (Tarde 1895). Se, por um lado, o autor lutava contra a naturalização do social nas duas revistas, por outro, as concepções biologizantes sobre o social não desapareceram de seus textos, surgindo às vezes como simples metáfora e outras no sentido estrito do termo.

Nos anos 1890, Tarde diversificou sua estratégia de publicação e passou a colaborar com a Revue Internationale de Sociologie, a Revue Pénitentiaire et de Droit Pénal, a Revue des Deux Mondes e a Revue de Paris. As duas primeiras recrutavam no pólo técnico-profissional, enquanto as duas últimas eram revistas "cultas", de cunho político-literário, com recrutamento majoritário de nobres e "intelectuais livres"18 18 A expressão foi cunhada por Charle para caracterizar os intelectuais sem credenciais acadêmicas (Charle 1990). da grande burguesia parisiense. A Revue des Deux Mondes e a Revue de Paris, dirigidas respectivamente por Fernand Brunetière e Ernest Lavisse,19 19 Ernest Lavisse, famoso historiador, pedagogo e escritor de manuais de história, foi vice-presidente do Conselho do Ensino Superior e membro da Sociedade de Estudos das Questões do Ensino Superior. destinavam-se a um público burguês cultivado, enquanto a Revue Pénitentiaire e a Revue de Sociologie (dirigida por René Worms) contemplavam a burocracia estatal e o patronato social.20 20 A Revue Pénitentiaire era uma publicação da Société Générale des Prisons, órgão privado de utilidade pública destinado a discutir temas legislativos e a propor legislação penal (Kaluszynski 1997:76-94). Esta múltipla inserção institucional de Tarde explicita a ambigüidade de sua posição. Por um lado, havia certa continuidade entre a carreira de alto funcionário da burocracia estatal e as revistas do pólo "técnico-profissional" voltadas para a solução de problemas sociais da ordem do dia; por outro, as disposições românticas e literárias de Tarde eram próximas às das revistas cultas e burguesas. A explicação para esta inserção absolutamente multifacetada encontra-se, ao que parece, na necessidade de corresponder às expectativas de "intermediários culturais", figuras importantes no credenciamento intelectual tais como Lacassagne e Ribot, em medicina e psicologia, Brunetière e Lavisse, em literatura e história e, finalmente, Worms e Dick May, representantes das ciências sociais não universitárias.21 21 Dick May, codinome de Jeanne Weill, foi uma figura importante na fundação de instituições privadas de ciências sociais. Secretária de um convertido leplaysiano, o conde de Chambrum, dizia-se influenciada por Le Play e pelos socialistas para a resolução da "questão social".

O ingresso de Tarde na vida intelectual parisiense possibilitou-lhe o aumento de seu capital de relações sociais, o que lhe abriu portas para a participação em sociedades científicas e em escolas privadas de ensino superior. Por intermédio de Théodule Ribot, passou a freqüentar os salões de Le Bon, onde conheceu o leplaysta Émile Cheysson;22 22 Émile Cheysson estudou na École Polytechnique e na École Nationale des Ponts et Chaussées. Trabalhou como engenheiro na iniciativa privada e na burocracia pública. Leplaysiano e membro do Musée Social, foi também professor da École Nationale des Ponts et Chaussées, da École des Sciences Politiques e da École des Mines. Seus trabalhos analisam a condição operária do ponto de vista da filantropia patronal. este último provavelmente o apresentou a Émile Boutmy, diretor da École Libre des Sciences Politiques, na qual se tornou professor de um curso livre de sociologia. Por intermédio da École de Boutmy, Dick May conheceu Tarde, tornou-se sua amiga íntima e o convidou a ingressar no Collège Libre des Sciences Sociales e na École des Hautes Études Sociales. Numa das recepções no Hôtel de Ville, Tarde conheceu René Worms, que o convidou para participar de suas sociedades científicas na área de ciências sociais (Salmon 2005). Suas conferências deram origem a artigos que, reunidos, foram publicados tanto na coleção Bibliothèque Sociologique Internationale, de Worms, quanto na coleção Bibliothèque Générale des Sciences Sociales, de Dick May.

Théodule Ribot teve uma participação fundamental na carreira de Tarde: em sua candidatura ao Collège de France, conseguiu o apoio de Liard, de Boutroux e de Levêque;23 23 Louis Liard, diretor do ensino superior entre 1884 e 1902; Émile Boutroux, professor de filosofia da Sorbonne e membro da Académie des Sciences Morales et Politiques; Charles Levêque, filósofo espiritualista e católico, professor desde os anos 1850 e docente na Sorbonne, na École Normale e no Collège de France, e também membro da Académie. leitor de seu memorial no Collège de France, ele chegou até mesmo a corrigir expressões que julgava desabonadoras para o candidato, tais como "intra-espiritual" e "extra-espiritual" (carta de Ribot a Tarde 1899). Émile Boutmy deu o apoio do pólo "técnico-profissional" à eleição de Tarde para a Académie des Sciences Morales et Politiques, uma vez que sua escola tinha conexões diretas com a Académie por intermédio de seu secretário perpétuo, Georges Picot, amigo de Boutmy e, como ele, membro da instituição leplaysta Société d'Économie Sociale. Dick May tornou seu nome prestigiado junto ao Ministério da Instrução Pública, usando de sua influência sobre Alfred Croiset, reitor da Sorbonne e, por intermédio dele, sobre Ernest Lavisse e Louis Liard. As cartas enviadas por Dick May a Tarde são reveladoras nesse sentido. Desde 1896, data do início da correspondência entre ambos, May acionava sua rede de relações políticas e intelectuais com o objetivo de eleger Tarde ao Collège de France. A correspondência mostra a importância das relações pessoais — e o prestígio de Dick May junto à administração do ensino — para a criação de novas cadeiras e para a nomeação ao Collège de France. Em 1897, por ocasião da nomeação de Izoulet, ela sondou Poincaré24 24 A família Poincaré é plena de figuras ilustres no mundo político e intelectual. Trata-se, provavelmente, de Raymond Poincaré, ministro da instrução pública (1893 e 1895), das finanças (1894-1895) e futuro presidente da República (1913-1920). sobre uma possível indicação de Tarde e buscou o apoio de Lavisse para uma vaga futura no Collège. Ao mesmo tempo, segundo sua correspondência, usava de sua influência junto a Alfred Croiset, Jules Lemaître, Eugène Fournière, Louis Liard e a outros nomes da vida política parisiense. Em julho de 1899, dia seguinte à morte de Nourrisson, professor do Collège, ela enviou a Tarde uma mensagem reveladora do zelo por sua carreira: "O senhor sabe que enterramos Nourisson nesta manhã? O que o senhor fez? O que está esperando? Que a cadeira vaga seja alterada para Durkheim ou para Worms?" (1899). Alfred Fouillée25 25 Fouillée foi professor da École Normale Supérieure, mas se aposentou cedo por motivo de saúde e sobreviveu da escrita de manuais escolares. Tornou-se conhecido pelo caráter eclético de sua filosofia. Foi um dos principais membros do "pólo pedagógico" das ciências sociais. também articulou minuciosamente a eleição de Tarde para a Académie des Sciences Morales et Politiques.26 26 Fouillée enviou, no ano da eleição, cerca de 12 cartas a Tarde, com explicações de como agir, quem visitar, bem como acerca da contabilidade dos votos. As cartas de Fouillée mostram um forte compromisso com sua eleição: "Com efeito, se o senhor tem os votos do senhor Ribot, Boutroux e Brochard, já tem a maioria mesmo sem mim. Escrevi ao senhor Boutroux longamente e várias vezes a seu favor; ele sabe que estou ao seu lado, que o apóio obstinadamente" (Fouillée 1990).

Contou favoravelmente para a ascensão intelectual de Tarde o fato de ter sido considerado um aliado pelos praticantes das "ciências mentais" do período, ciências estas formadas por uma série de matérias — psicologia experimental, neurologia, psicologia médica, medicina legal — que tinham prestígio científico, inserção universitária e alguma influência sobre as autoridades da administração do ensino. Uma vez que se compreenda que, nos anos 1890, tais meios não eram, de fato, modernistas — como retratados na maior parte dos estudos — e sim moderados ou mesmo conservadores, entende-se sua abertura para intelectuais com o perfil de Tarde. No IV Congresso de Psicologia realizado em Paris, em 1900, Théodule Ribot (1901) reconhece a importância da "psicologia social" francesa, em particular da "psicologia das multidões", ao eleger Gabriel Tarde e Gustave Le Bon seus grandes representantes. Isto não ocorreu por acaso, já que o primeiro era presidente da seção de psicologia social no IV Congresso e o último era amigo de Ribot, também colaborador da Revue Philosophique e organizador do banquete que ele freqüentava. O apoio a Tarde devia-se principalmente à defesa que este fazia da psicologia individual como fundamento da sociologia, mas também às diferenças entre Ribot e Durkheim. Se, por um lado, Tarde defendeu a autonomia da sociologia em relação à biologia e à economia, por outro, lutou por uma autonomia restrita, devido à sua percepção de que o fundamento teórico da sociologia deveria ser a psicologia social ou a "interpsicologia", termo que preferiu após 1898.

Essas tomadas de posição expressam a tentativa de Tarde de encontrar um denominador comum entre as diversas disciplinas e vertentes intelectual e socialmente dominantes nos anos 1890. Suas idéias foram utilizadas não apenas pelos psicólogos, mas também pelos pedagogos e leplaystas, para atacar os darwinistas sociais, os socialistas e, principalmente, os durkheimianos na passagem do século. Eles criaram um clima de desconfiança contra estas vertentes das ciências sociais nos meios políticos, a quem atribuíam o mesmo espírito materialista — biológico, econômico e moral — e potencialmente conflituoso, o que contribuiu para gerar um clima ideológico favorável ao idealismo ou ao moralismo sociológico.

Lacassagne afirmou que Tarde preferia os autores antigos aos modernos, Montaigne a Taine, e o próprio Tarde costumava dizer que foi influenciado por Maine de Biran, Cournot e Tocqueville. Além disso, ele declarou que todo o seu sistema havia sido elaborado quando tinha entre 25 e 30 anos, ou seja, desde a década de 1860, no mundo isolado de Sarlat. Ora, tal declaração deve ser compreendida num sentido preciso, já que pode conduzir à falsa idéia de que seus textos teriam uma lógica interna rigorosa, sendo imunes às influências parisienses posteriores. De fato, há dimensões da doutrina tardeana que não foram alteradas ao longo dos anos: seus valores aristocráticos e sua concepção metafísica e idealista da ordem social não se modificaram com a sociabilidade parisiense. Nesse sentido, julgo equivocadas as interpretações que afirmam haver uma ruptura, no trajeto discursivo do autor, entre uma fase ou dimensão "metafísica" e outra "científica" (Reynié 1987, 1988; Boudon 2000). Por outro lado, era necessário adaptar-se às teorias da época, sob influência do meio e das demandas parisienses. A aproximação entre Tarde e Alfred Fouillée, no fim da década de 1890, é bastante significativa nesse sentido, ao revelar que a agenda temática e as referências teóricas do autor resultaram, em parte, de sua necessidade de acumular capital social nos meios intelectuais. Em 1898, quando se aproximou de Fouillée, passou a defender as mesmas idéias que ele, tornando-se mais otimista e patriótico. Nesse contexto, escreveu que a "era da opinião" seria uma evolução em relação à "era das multidões", uma vez que indivíduos menos socializados teriam condições de raciocinar melhor do que em coletividade. Juntamente com Fouillée, Tarde tornou-se defensor do ensino clássico e da "cultura francesa" em oposição ao "caráter inglês", caracterizado pelo industrialismo, pelo maquinismo e pela divisão do trabalho (Tarde 1899, 1901b, 1904). Fouillée, por sua vez, publicava nesse período suas obras de psicologia do caráter nacional e erigia a psicologia tardeana como fundamento dos estudos sobre mentalidade coletiva (Fouillée 1927 [1898]:1-74). Uma citação ilustra a aproximação entre ambos: o artigo sobre o público e as multidões, de 1898, quando republicado na obra L'Opinion et la foule, em 1901, incorporou uma referência favorável à teoria das "idéias-força" de Fouillée que não constava do artigo original — algo inusitado quando se considera que, em 1890, Tarde havia criticado a teoria deste mesmo autor.27 27 Em La philosophie pénale, de 1890, Tarde criticou em vários momentos a "babel ética" de Fouillée e o caráter ilusório de sua teoria das "idéias-força", afirmando que uma liberdade fictícia não poderia ser a fonte de sua concretização histórica (1890). Em 1901, inseriu a seguinte citação no seu texto: "O pensamento não é a força social por excelência? Pense-se nas idéias-força do senhor Fouillée" (1901a:12). O próprio Espinas, grande amigo de Tarde, reconheceu o ecletismo de seus textos como uma função de seu anseio por aceitação intelectual:

Extremamente sensível à pressão dos meios em razão de sua sociabilidade delicada, quando rompeu com seus sonhos de teólogo solitário, [Tarde] foi em primeiro lugar a expressão do círculo de Sarlat do qual era o modelo. [...] Depois veio o meio parisiense [...] que lhe inspirou tendências [...] modernas [...] que ele tinha de conciliar com seus antigos sentimentos, o que conseguiu graças a uma flexibilidade incomparável e a um charme pessoal que fazia aceitar tudo dele (Espinas 1910:421).

O corolário desta posição no campo intelectual, bastante delicada porque sujeita a constrangimentos e expectativas diversas, é o imperativo da moderação nas tomadas de posição políticas e intelectuais. Nesse sentido, é significativo que Tarde tenha sido signatário do manifesto organizado por Ernest Lavisse e vários membros do Instituto, chamado Apelo à união no caso Dreyfus28 28 Cf. carta de Tarde a Lavisse pedindo sua inclusão na lista (Tarde 1898; Salmon 2005). O Instituto é formado por cinco academias: Academia Francesa, Academia de Inscrições e Letras, Academia de Ciências, Academia de Belas-Artes e Academia de Ciências Morais e Políticas. — um manifesto de apoio à revisão do processo pela mais alta corte de justiça, mas também um compromisso de acato irrestrito à sua decisão. Ao contrário do Apelo, o Manifesto dos intelectuais questionava o processo e a condenação, dirigia ataques ao Exército e pedia a liberação imediata de Dreyfus (Julliard & Winock 2002). O Manifesto também foi importante, do ponto de vista da história intelectual, porque instaurou, entre outras coisas, o poder simbólico dos intelectuais com base em titulações acadêmicas, o que representava uma enorme ruptura em relação às velhas elites e ao "homem de letras", cuja reprodução baseava-se na solidariedade familiar ou econômica, laço que o Exército francês simbolizava. Durkheim e o grupo ligado a L'Année Sociologique assinaram o Manifesto, ao passo que Tarde e o grupo ligado a Ribot assinaram o Apelo, tomadas de posição política que refletem suas posições distintas no campo intelectual.

A teoria social de Tarde permanece eclética, com ares modernistas, mas essencialmente conservadora, uma vez que ele nunca deixou de tentar reunir saberes em vias de separação — filosofia, biologia, fisiologia, antropologia, criminologia, psicologia, sociologia, literatura etc. — numa espécie de cosmologia universal. Este era um ímpeto que resultava, em primeiro lugar, de suas disposições mais profundas, o que remete à maneira autodidata e isolada por intermédio da qual adquiriu capital cultural. Esta experiência primeira, desvantajosa do ponto de vista disciplinar, como ele mesmo reconhecia, foi reinterpretada positivamente pela ótica romântica, ou seja, pelo viés da originalidade. Entretanto, seu ímpeto de construir uma nova disciplina era errático, visto que ele nunca conseguiria romper, de fato, com seu passado nem poderia distanciar-se das redes intelectuais das quais dependia para ascender em Paris. Tarde fez de sua obra uma colcha de retalhos — oscilante entre espiritualismo e naturalismo — por falta de senso de limites, ou melhor, pela ânsia de compensar a solidão provinciana, pela curiosidade ilimitada, mas também porque cedeu demais, de modo que suas idéias se desintegraram em meio ao turbilhão de demandas sociais que ele, consciente ou inconscientemente, era obrigado a atender.

Supremacia em relação a Durkheim

Do que foi dito anteriormente segue-se uma primeira conclusão. Em oposição aos estudos que sustentam que Tarde foi prejudicado em razão de uma suposta dominação institucional de Durkheim (Apfelbaum e Lubek) ou que o retratam como um outsider no meio intelectual ou político do período (Vargas), deve-se reconhecer, ao contrário, que ele serviu ao republicanismo do poder, sendo, conseqüentemente, por ele beneficiado. No que diz respeito à relação entre Tarde e Durkheim, é necessário reconhecer que ocorreu exatamente o oposto do que se difunde nesses estudos: Durkheim foi preterido por Tarde nas duas vezes em que ambos os nomes foram cogitados para o Collège de France — em 1897 e em 1900 — e, uma vez no poder, foi Tarde quem criou um clima ideológico desfavorável à ascensão institucional de Durkheim. Ele parece ter articulado uma espécie de tropa de choque contra este último em todas as instituições às quais pertenceu, inclusive nas dirigidas por Worms, mas principalmente na Académie des Sciences Morales et Politiques e no Collège de France, um dos prováveis motivos pelos quais Durkheim jamais foi aceito nestas instituições.

As cartas trocadas entre ambos podem dar uma idéia equivocada da relação entre eles, ao sugerirem que Durkheim aparentemente reconhecia em Tarde um aliado na luta contra a vulgarização das ciências sociais (Durkheim 1893, 1895).29 29 Entre 1893 e 1901, Borlandi compilou 12 textos de Durkheim contra Tarde e 14 deste contra Durkheim (Borlandi 1994). Em 1893, Durkheim demonstra reverência ao afirmar que as teorias de ambos eram da mesma família; em 1895, apesar de reconhecer diferenças importantes, declara deferência pela obra e pela pessoa de Tarde. Neste mesmo ano, outra carta revela preocupação com a presença do que Durkheim denominou "falsários (faiseurs) em sociologia" e felicita Tarde por inquietar-se com a mesma questão (Durkheim a Tarde 1895). Contudo, nesse mesmo ano, o primeiro chamou o último de diletante e de faiseur numa carta a Lévy-Bruhl (Borlandi 1994:9). A resposta para essa ambigüidade talvez esteja, como sugeriu Borlandi, no fato de que, para escrever O suicídio, Durkheim precisava consultar os arquivos do departamento de estatística do Ministério da Justiça, que estavam sob a responsabilidade de Tarde. O fim da correspondência entre eles data de 1897, quando o livro é finalmente publicado, com críticas devastadoras à teoria da imitação de Tarde.

Apesar de parecer, à distância, que a obra de Durkheim teria superado a de Tarde em razão de sua institucionalização na universidade, é preciso reconhecer que as idéias deste último foram dominantes em sua época. Neste sentido, discordo dos que acreditam numa "vitória" de Durkheim sobre Tarde no plano das idéias (Mucchielli 1998:335-341). Para demonstrar a força das idéias do primeiro no contexto intelectual daquele momento, este autor afirma que antigos colegas e defensores de Tarde — tais como René Worms, Máxime Kowalewski, Raoul de la Grasserie, Alfred Espinas, Eugène de Roberty e Gaston Richard — teriam passado para o lado de Durkheim depois do Congrès des Sociétés Savantes, de 1898, e do congresso organizado pelo Institut International de Sociologie, em 1903. Ora, se as críticas à obra de Tarde se intensificam na segunda metade dos anos 1890, elas não partem desses autores, mas de certos grupos universitários que lutavam pela autonomia do campo intelectual, sendo contrários às sínteses ecléticas entre filosofia, psicologia e sociologia. Ao contrário destes últimos, os autores mencionados por Mucchielli sustentaram Tarde contra Durkheim — salvo Gaston Richard, que pretendia fazer uma síntese entre as teorias de Tarde e de Durkheim, como declarou ao próprio Tarde (Richard a Tarde 1902). Além disso, todos os autores mencionados por Mucchielli, com exceção de Richard, eram organicistas, e suas críticas a Tarde não resultavam de uma suposta adesão às teses de Durkheim, e sim de uma teoria contrária àquelas de ambos autores. No fim do século, eles tentaram inclusive fazer uma costura ou uma síntese entre o organicismo e a teoria tardeana (Novicow a Tarde 1899, 1900). O único autor que passou para o lado de Durkheim foi Worms, mas ainda assim isso ocorreu apenas após a ida do primeiro para a Sorbonne, em 1902.

No meio das ciências sociais, em oposição à sociologia universitária, a adesão às idéias de Tarde era cada vez maior. A mudança na perspectiva de Alfred Fouillée é exemplar neste sentido: até 1897, ele ainda considerava a obra de Durkheim e de Tarde equivalentes; contudo, após aproximar-se deste último, em 1898, os ataques a Durkheim se intensificaram e ele passou a ser cunhado pejorativamente por Fouillée de "materialista moral" (Fouillée 1896, 1905). Isto não ocorreu por razões simplesmente afetivas: as críticas a Durkheim por parte de membros dos pólos "pedagógico" e "técnico-profissional" se aguçaram enormemente após O suicídio e o início da publicação de L'Année, em 1898, uma vez que os durkheimianos desqualificaram explicitamente suas teorias. Em O suicídio, Durkheim recusava as teses biológicas, cósmicas e psicológicas, típicas daqueles meios, e em L'Année, as resenhas não poupavam ironias, tachando-as de literárias, contraditórias e ecléticas (Lapie 1898, 1902). Esta questão é fundamental, pois a rejeição extrema aos durkheimianos por parte dos grupos atacados levou ao aumento da adesão à obra tardeana, o que se refletiu no próprio texto de Tarde, que passou a enfatizar suas divergências com Durkheim.

Os textos de Tarde publicados após O suicídio parecem-me mais compreensíveis quando lidos desta perspectiva. Neles, o autor defende a psicologia social (ou interpsicologia) como fundamento das ciências sociais em oposição à autonomia da sociologia; a "meditação solitária" contra o "método"; o papel do indivíduo contra as explicações "impessoais"; a especificidade biológica e psicológica do homem de gênio contra a visão que o representa como reflexo das aspirações ou necessidades coletivas. No que diz respeito ao conflito social francês, propõe uma análise baseada na divergência de opinião ou na "divisão social das idéias" — supostamente mais fluida e espontânea — em contraposição ao vínculo ou harmonia pela diversidade, ou seja, pelas "especialidades úteis", algo considerado típico de uma fase menos evoluída ou menos afinada com a cultura francesa. Contra a doutrina solidarista dos republicanos radicais,30 30 O solidarismo era o programa social do Partido Radical, ou seja, dos republicanos de esquerda, e foi idealizado em 1896 por Léon Bourgeois. Pregava o dever de uns em relação aos outros com base na idéia do "quase contrato" social, o que justificava a ação social do Estado. afirma que a justiça deveria ser apenas "compensatória" (programas tópicos e filantrópicos para minimizar as dificuldades do doente, do idoso e da criança), posto que ampliar as funções sociais do Estado geraria nivelamento social, ou seja, o fim das desigualdades sociais naturais.31 31 "Segundo os antropólogos, a elevação das raças humanas deve ser julgada menos pelo nível médio [dos indivíduos] do que pelas mais altas individualidades. Aquelas [raças] em que há maior diferença entre os mais altos gênios e os mais baixos cérebros é a mais nobre. [...] É necessário para o progresso que as chances sejam desiguais; essa desigualdade de chances, de fortunas, de condições iniciais se justifica, em grande parte, seja porque ela é a continuação e a conseqüência da desigualdade salutar das aptidões, seja porque ela favorece o desenvolvimento das aptidões as mais altas, ou seja, as descobertas e as invenções" (Tarde 1903a:425). No contexto do debate sobre a proletarização do intelectual, defende o ensino do latim, da filosofia e da história da filosofia como forma de preservação das elites e da sociedade (Goblot 1925; Ringer 1992). Finalmente, se ele considera as multidões (ou grupos sociais), por definição, inferiores em relação aos indivíduos da elite, seria um escândalo teórico considerar as "representações coletivas" mais complexas do que as "representações individuais", como fizera Durkheim. Esse era o ponto mais sensível a todos os praticantes das ciências sociais e Tarde não fugiu à regra: era necessário lutar pela preservação do indivíduo diante do avanço do coletivo e da ciência do coletivo, o que lhes parecia um passo rumo à democracia popular e intelectual. Isto significa que a autonomia da sociologia era percebida como a afirmação de uma lógica para além dos indivíduos, ou seja, das elites; em outras palavras, uma lógica intelectual e socialmente subversiva (Tarde 1898a, 1898b, 1899, 1901a, 1901b, 1903a, 1903b, 1904a, 1904b, 1904c).

Estas tomadas de posição e as oposições a Durkheim são portanto típicas do campo das ciências sociais e não idéias formuladas, para falar como Tarde, em regime de meditação solitária. Neste sentido, seria de se esperar que não houvesse compreensão mútua no debate que se estabeleceu entre ambos, visto não ser possível enxergar a teoria do grupo concorrente com boa vontade. Se Durkheim distorceu alguns conceitos tardeanos, como o de "imitação" (Besnard 2003), Tarde também interpretou de maneira equivocada vários conceitos de Durkheim. Para maior clareza de idéias, parece-me produtivo abandonar o quadro de interpretação "Tarde versus Durkheim", já que deixar esse dueto trocar farpas por si só dá margem para se concluir que ambos usavam de má-fé, quando na verdade representavam posições intelectuais distintas.

Finalizando, pode-se formular a hipótese de que a "psicologia social" de Tarde é a expressão de um medo direcionado não diretamente às massas ou à democracia de forma mais ampla, mas principalmente à autonomia universitária e, particularmente, ao sistema de práticas e de representações que a sociologia durkheimiana personificava. O conceito de "multidão" talvez represente, de forma dissimulada, a "multidão intelectual", uma vez que Tarde percebia o processo de especialização, institucionalização e coletivização do trabalho intelectual como rebaixamento do domínio da antiga aristocracia intelectual à qual pertencia e da figura do pensador erudito que encarnava.

Considerações finais

Conclui-se, portanto, que ao invés de se considerar Tarde um teórico da diferença no sentido democrático do termo, deve-se compreendê-lo como um autor aristocrático, fato, aliás, amplamente reconhecido por seus contemporâneos (Bourdeau 1907:32). Além disso, é necessário que se reconheça sua posição dominante em relação a Durkheim nos anos 1890 e que se compreenda que ela resultou de três condições fundamentais: em primeiro lugar, do processo inacabado de autonomização universitária nas áreas de letras e filosofia; em segundo, do predomínio das posições intelectualmente conservadoras e resistentes ao modernismo intelectual nas ciências sociais; e, finalmente, da capacidade do autor em atender às expectativas dos setores social e intelectualmente dominantes. Tarde não apenas cumpriu estas exigências do ponto de vista das idéias, como também agiu de forma a bloquear a ascensão institucional de Durkheim, tornado inimigo número um naqueles meios. Isto significa que as idéias do autor, longe de representarem um trabalho "puro" de introspecção desinteressada, foram sensíveis às lutas no interior do campo e às demandas (de oposição a Durkheim) que precisava atender. A posição de Tarde não é portanto "inclassificável" ou "singular", mas absolutamente inteligível, quando localizada no quadro de tensões e oposições estruturais ao campo intelectual dos anos 1890: entre o Collège de France e a Nouvelle Sorbonne; entre a psicologia e a sociologia; entre os intelectuais "livres" e os universitários; entre a literatura/moral e a ciência; e, por fim, entre a tradição e o modernismo intelectual.

Notas

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Recebido em 20 de março de 2008

Aprovado em 16 de julho de 2008

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  • *
    Este artigo é parte de minha tese de doutorado, intitulada Crítica da razão acadêmica: campo das ciências sociais "livres" e psicologia social francesa no fim do século XIX, defendida na Universidade de São Paulo, em 2007.
  • 1
    O "ecletismo" é usado no período em dois sentidos distintos: como sinônimo da psicologia idealista da escola de Victor Cousin, e para caracterizar doutrinas que combinam explicações de natureza distinta. É neste segundo sentido que o emprego neste artigo.
  • 2
    Tradicional exame francês que tem por objetivo credenciar o candidato à docência em um liceu, ou seja, no ensino secundário. Na época, realizado após três anos de curso no ensino superior.
  • 3
    O caso Dreyfus dividiu a opinião pública francesa entre os partidários e os opositores de Dreyfus, capitão judeu do Exército, condenado por crime de alta traição. Mais adiante indico as implicações deste episódio para o campo intelectual.
  • 4
    Frédéric Le Play (1806-1882) pertenceu à primeira geração de sociólogos empiricistas franceses. Fundou um gênero de pesquisa pragmática, voltada para a "paz social". Considerava a família a principal estrutura social, tendo suas pesquisas sobre orçamento familiar influenciado os intelectuais ligados ao patronato social. Cf. Savoye 1989; Topalov (org.) 1999.
  • 5
    Apesar das credenciais acadêmicas de René Worms — que obteve quatro títulos de doutorado (em direito, letras, ciências políticas e econômicas e ciências naturais) — ele fez carreira de auditor do Conselho do Estado.
  • 6
    Alunos da École Normale Supérieure, escola de grande prestígio que formava professores para o ensino secundário e superior.
  • 7
    Em 1907, surgiu uma revista generalista, fundada pelo filho de Gabriel Tarde, chamada
    Psychologie Sociale. A revista durou apenas um ano e meio, o que mostra o caráter efêmero das configurações sociais que sustentavam esta expressão.
  • 8
    Segundo seu amigo Henri Mazel, "Tarde tinha uma grande distinção natural. Marchava em longos passos, parecendo por vezes um militar, com suas vestimentas sempre escuras, o casaco abotoado como uma túnica. [...] Os que o encontravam, na rue de Vaugirard, o tomavam por um poeta romântico de outros tempos ou um cientista [
    savant] original. Era certamente alguém e as pessoas o olhavam ao passar" (1904:89-102).
  • 9
    Goblot era, na ocasião, professor do secundário. Mais tarde se tornaria professor na Universidade de Lyon.
  • 10
    René é filho do químico Marcellin Berthelot (1827-1907), que dirigiu a
    Grande encyclopédie. Dada a cultura positivista da família Berthelot, Tarde possivelmente não era bem-visto nesse meio. O fato de o artigo "Sociologie", da
    Encyclopédie, ter sido escrito por Mauss e Fauconnet, e não por Tarde, parece corroborar esta suposição.
  • 11
    Na década de 1890, alguns intelectuais pertencentes ao campo literário aderiram ao catolicismo (Brunetière) e ao nacionalismo (Barrès), proclamando a "bancarrota da ciência". Sobre este assunto, conferir os debates entre Brunetière (1895, 1898) e Durkheim (1898a).
  • 12
    Faure foi secretário do movimento em homenagem a Tarde. Doutor em direito e professor de economia política, foi deputado republicano e ministro das finanças. Levasseur era normalista e portador dos títulos de agregação e doutorado em letras. Tornou-se importante historiador da economia e do trabalho. Foi professor de estatística e de economia social na École Libre des Sciences Politiques.
  • 13
    Alexandre Lacassagne, médico e professor de medicina legal na Faculdade de Medicina de Lyon, foi diretor dos
    Archives d'Anthropologie Criminelle desde sua fundação, em 1886. Em 1893, Tarde tornou-se co-diretor da revista, que mudou de nome e passou a incluir a rubrica "criminologia".
  • 14
    A
    Revue Blanche e o
    Mercure de France eram revistas literárias vanguardistas e de recrutamento estudantil. Nas palavras de Charle (2004), ambas eram elitistas e voltadas para os "happy few".
  • 15
    Le Bon (1841-1931) é considerado, juntamente com Tarde, representante da "psicologia das multidões". Ao contrário deste último, não conseguiu ascender a instituições de prestígio intelectual por ter perdido seu capital social junto ao poder pedagógico.Tornou-se editor da Flammarion em 1902.
  • 16
    Carta de Tarde a Brunetière, de 1893: "Eu estou plenamente de acordo com as modificações a fazer em meu artigo, [...] ainda que o senhor não tenha me dito quais" (20 de agosto de 1893).
  • 17
    Théodule Ribot é considerado o fundador da psicologia experimental francesa, além de ter dirigido a importante
    Revue Philosophique desde sua fundação, em 1876. Em 1885, foi eleito para a Sorbonne e, em 1888, para o Collège de France, na cadeira de psicologia experimental e comparada.
  • 18
    A expressão foi cunhada por Charle para caracterizar os intelectuais sem credenciais acadêmicas (Charle 1990).
  • 19
    Ernest Lavisse, famoso historiador, pedagogo e escritor de manuais de história, foi vice-presidente do Conselho do Ensino Superior e membro da Sociedade de Estudos das Questões do Ensino Superior.
  • 20
    A
    Revue Pénitentiaire era uma publicação da Société Générale des Prisons, órgão privado de utilidade pública destinado a discutir temas legislativos e a propor legislação penal (Kaluszynski 1997:76-94).
  • 21
    Dick May, codinome de Jeanne Weill, foi uma figura importante na fundação de instituições privadas de ciências sociais. Secretária de um convertido leplaysiano, o conde de Chambrum, dizia-se influenciada por Le Play e pelos socialistas para a resolução da "questão social".
  • 22
    Émile Cheysson estudou na École Polytechnique e na École Nationale des Ponts et Chaussées. Trabalhou como engenheiro na iniciativa privada e na burocracia pública. Leplaysiano e membro do Musée Social, foi também professor da École Nationale des Ponts et Chaussées, da École des Sciences Politiques e da École des Mines. Seus trabalhos analisam a condição operária do ponto de vista da filantropia patronal.
  • 23
    Louis Liard, diretor do ensino superior entre 1884 e 1902; Émile Boutroux, professor de filosofia da Sorbonne e membro da Académie des Sciences Morales et Politiques; Charles Levêque, filósofo espiritualista e católico, professor desde os anos 1850 e docente na Sorbonne, na École Normale e no Collège de France, e também membro da Académie.
  • 24
    A família Poincaré é plena de figuras ilustres no mundo político e intelectual. Trata-se, provavelmente, de Raymond Poincaré, ministro da instrução pública (1893 e 1895), das finanças (1894-1895) e futuro presidente da República (1913-1920).
  • 25
    Fouillée foi professor da École Normale Supérieure, mas se aposentou cedo por motivo de saúde e sobreviveu da escrita de manuais escolares. Tornou-se conhecido pelo caráter eclético de sua filosofia. Foi um dos principais membros do "pólo pedagógico" das ciências sociais.
  • 26
    Fouillée enviou, no ano da eleição, cerca de 12 cartas a Tarde, com explicações de como agir, quem visitar, bem como acerca da contabilidade dos votos.
  • 27
    Em
    La philosophie pénale, de 1890, Tarde criticou em vários momentos a "babel ética" de Fouillée e o caráter ilusório de sua teoria das "idéias-força", afirmando que uma liberdade fictícia não poderia ser a fonte de sua concretização histórica (1890). Em 1901, inseriu a seguinte citação no seu texto: "O pensamento não é a força social por excelência? Pense-se nas idéias-força do senhor Fouillée" (1901a:12).
  • 28
    Cf. carta de Tarde a Lavisse pedindo sua inclusão na lista (Tarde 1898; Salmon 2005). O Instituto é formado por cinco academias: Academia Francesa, Academia de Inscrições e Letras, Academia de Ciências, Academia de Belas-Artes e Academia de Ciências Morais e Políticas.
  • 29
    Entre 1893 e 1901, Borlandi compilou 12 textos de Durkheim contra Tarde e 14 deste contra Durkheim (Borlandi 1994).
  • 30
    O solidarismo era o programa social do Partido Radical, ou seja, dos republicanos de esquerda, e foi idealizado em 1896 por Léon Bourgeois. Pregava o dever de uns em relação aos outros com base na idéia do "quase contrato" social, o que justificava a ação social do Estado.
  • 31
    "Segundo os antropólogos, a elevação das raças humanas deve ser julgada menos pelo nível médio [dos indivíduos] do que pelas mais altas individualidades. Aquelas [raças] em que há maior diferença entre os mais altos gênios e os mais baixos cérebros é a mais nobre. [...] É necessário para o progresso que as chances sejam desiguais; essa desigualdade de chances, de fortunas, de condições iniciais se justifica, em grande parte, seja porque ela é a continuação e a conseqüência da desigualdade salutar das aptidões, seja porque ela favorece o desenvolvimento das aptidões as mais altas, ou seja, as descobertas e as invenções" (Tarde 1903a:425).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Dez 2008
    • Data do Fascículo
      Out 2008

    Histórico

    • Recebido
      20 Mar 2008
    • Aceito
      16 Jul 2008
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