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A casa e a invenção da família afro-americana - vinte e cinco anos depois

Há 25 anos, no dia 13 de dezembro de 1996, realizou-se a defesa da tese de Louis Herns Marcelin, intitulada A Invenção da Família Afro-americana. Família, Parentesco e Domesticidade entre os Negros do Recôncavo da Bahia, Brasil, diante da banca formada pelo orientador, Moacir Palmeira, e pelos professores Luiz de Castro Faria, Giralda Seyferth, Maria Azevedo Brandão, e Mariza Corrêa. A defesa foi pública num sentido pleno: com a sala lotada, com direito a questões levantadas no estilo singularmente polêmico do professor Castro Faria, respondidas enfática e apaixonadamente pelo examinado, seguidas pelo relato emocionado e emocionante de Marcelin sobre a trágica situação política haitiana daquele momento e, mais amplamente, sobre o drama histórico da diáspora negra nas Américas e no Caribe. Ninguém saiu da sala sem se sentir de alguma forma tocado pela intensidade daquele momento.

Quatro anos antes, em 1992, Marcelin iniciara seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia do Museu Nacional. Era então um dos raros estudantes negros no Museu, na UFRJ e na pósgraduação brasileira de modo geral. Tanto mais raro se levarmos em conta sua nacionalidade, numa época em que, fora dos círculos especializados, o Haiti só havia se tornado conhecido em função da música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, lançada em 1993, e que declarava que o Haiti é e não é aqui. Poucos lembravam então da presença de intelectuais haitianos de grande destaque no Brasil, como Jean Casimir, que passaria uma longa temporada exiliado no Rio de Janeiro, enquanto era pesquisador associado ao Centro Latino-americano de Pesquisas em Ciências Sociais - colega, naqueles longínquos anos 1970, de Moacir Palmeira, Otávio Velho e Lygia Sigaud, entre outros. E ninguém podia imaginar, tampouco, naquele momento os múltiplos envolvimentos que anos depois ocorreriam entre os nossos dois países, com a participação de milhares de militares brasileiros na Missão das Nações Unidas para a Estabilização de Haiti (MINUSTAH, 2004-2017), e com a presença de cientistas e ONGs do nosso país na nação caribenha. Impossível imaginar também a vinda de dezenas de milhares de haitianos para o Brasil quando, depois do terremoto que tirou a vida de mais de 250 mil pessoas com epicentro em Port-au-Prince, no dia 12 de janeiro de 2010, o Brasil entraria na geografia da diáspora haitiana. Entre aquela defesa da tese de Marcelin e o nosso presente, também ocorreu a entrada do Haiti e do Caribe na geografia da antropologia feita no Brasil, inclusive muito especialmente a partir do PPGAS do Museu Nacional. Ao longo de todas essas vicissitudes, fortes laços intelectuais e afetivos foram cultivados, projetos foram desenvolvidos e instituições foram criadas - como o Institut Interuniversitaire de Recherche et de Développement, fundado em 2007 em Port-au-Prince, com a participação de vários de nós, antropólogos brasileiros, e que continua até hoje sob a direção de Marcelin.

Essa presença tão singular, e algo fortuita, de Marcelin no Brasil naquele início dos anos 1990 só pode ser entendida pelas particularidades de sua trajetória. Originário da região Sudeste do Haiti (mais precisamente de Jérémie), Marcelin se formou na Faculdade de Etnologia da Université d’État d’Haïti (em Port-au-Prince) com uma tese, apresentada em 1988, que tratou de famílias haitianas em contextos urbanos, esboçando as suas preocupações futuras: La Famille Suburbaine à Saint-Martin. A tragédia política e social que se abateu sobre o país no início dos anos 1990, no turbulento pós-ditadura dos Duvalier (1957-1986), impulsionaria a trajetória diaspórica de Marcelin, com passagens pela Argentina, a França, os Estados Unidos e o Brasil. Aqui chegaria através de redes de amizades, como as que o levaram a encontrar o Instituto de Estudos da Religião (ISER) e, em particular, o antropólogo Rubem Cesar Fernandes; e, de modo mais geral, o seu interesse na antropologia brasileira dedicada aos estudos da plantation e das paisagens da pós-plantation, sobretudo no Nordeste - em particular, a produção de Moacir Palmeira e da equipe por ele coordenada no PPGAS do Museu Nacional desde início dos anos 1970. Usando palavras de hoje, diríamos que Marcelin procurou e encontrou no Brasil um terreno fértil para realizar uma crítica decolonial da literatura sobre família afro-americana, cujo polo dominante era até então a academia norte-americana.

Assim, uma vez no doutorado do Museu Nacional, produziu-se uma série de confluências produtivas entre, por um lado, o seu interesse pelo debate a respeito da família afro-diaspórica em uma perspectiva comparativa e, por outro, pela contraposição à visão da família negra na diáspora americana e caribenha como “desestruturada” ou “anômica”, que se estendia às projeções normativas da produção sociológica sobre as famílias dos setores populares urbanos. O projeto de Marcelin passava pela crítica às formulações relativas à “matrifocalidade”, e pelos debates de historiadores e antropólogos no Brasil que desde os anos 1980 criticavam a noção da “família patriarcal” como modelo central na formação social brasileira, tal como surgida a partir da leitura dos trabalhos de Gilberto Freyre. Foi nesse diálogo inesperado entre o Caribe e o Nordeste brasileiro que a casa ganhou uma centralidade até então só sugerida nos trabalhos do próprio Moacir Palmeira, Lygia Sigaud, Marie-France Garcia, Rosilene Alvim e especialmente Beatriz Heredia (que tinha publicado, em 1979HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. 1979. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra ., o clássico A morada da vida (PALMEIRA, 2009 [1977]PALMEIRA, Moacir. 2009 [1977]. “Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional”. In: WELCH, Cliff et alli. (org.). Camponeses brasileiros: Leituras e interpretações clássicas, vol. I. São Paulo/Brasília: UNESP/NEAD.; SIGAUD, 1979SIGAUD, Lygia. 1979. Os Clandestinos e os Direitos. Estudo sobre trabalhadores da Cana-de-Açúcar em Pernambuco. São Paulo: Duas Cidades.; GARCIA PARPET, 1984GARCIA-PARPET, Marie France. 1984. Feira e trabalhadores rurais: as feiras do Brejo e do Agreste Paraibano. Rio de Janeiro: Tese de doutorado em antropologia social, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.; BARBOSA ALVIM, 1979BARBOSA ALVIM, Maria Rosilene. 1979. “Notas sobre a Família num Grupo de Operários Têxteis”, in LEITE LOPES, J. S. et allii. Mudança Social no Nordeste. Rio de Janeiro: Paz e Terra). Trabalho familiar de pequenos produtores no Nordeste do Brasil).

No ano em que Marcelin iniciava o doutorado no Museu Nacional o tema da casa entrava na agenda da antropologia contemporânea feita nos grandes centros, com a publicação da coletânea organizada por Janet Carsten e Stephen Hugh Jones About the House: Lévi-Strauss and Beyond (CARSTEN e HUGH JONES, 1995CARSTEN, Janet e HUGH-JONES, Stephen(eds). 1995. About the house. Levi-Strauss and beyond. Cambridge: Cambridge University Press.). No ano seguinte à defesa da tese de Marcelin, Carsten publicaria a sua monografia sobre pescadores da Malásia defesa da tese de Marcelin, Carsten publicaria a sua monografia sobre pescadores da Malásia (CARSTEN, 1997CARSTEN, Janet. 1997. The heat of the hearth. The Process of Kinship in a Malay Fishing Community. Oxford: Clarendon Press.), que se tornaria outra das referências importantes nessa nascente antropologia da casa que germinaria ao longo dos anos em terras brasileiras, muito especialmente em diálogo com Marcelin.

Em vez de optar pela região de Pernambuco e Paraíba, onde se haviam centrado desde os anos 1970 as pesquisas da equipe coordenada por seu orientador, Marcelin optou pelo trabalho de campo em uma das regiões de mais marcante presença negra no Brasil, o Recôncavo da Bahia. Região de um estado que, por sua vez, vinha sendo objeto de importante investimento de pesquisa por parte de historiadores como, entre outros, Stuart Schwartz, Katia Queirós Mattoso e João José Reis, revisando e criticando verdades tidas como estabelecidas sobre a escravidão e sofisticando significativamente a interpretação sobre a sociedade escravista brasileira. A Bahia, ademais, havia sido foco de destacados estudos antropológicos nos anos 1950, no contexto de um grande projeto patrocinado pela Unesco, coordenado por Charles Wagley (WAGLEY, 1952WAGLEY, Charles. 1952. Race and Class in Rural Brasil. Paris: Unesco.), centrado na análise e na valorização da perspectiva da “democracia racial” brasileira - perspectiva esta submetida a sucessivas críticas, bem parcialmente no bojo do próprio projeto (no capítulo assinado por Marvin Harris), mas fundamentalmente por inúmeros autores na antropologia e, mais amplamente, nas ciências sociais ao longo das décadas seguintes. O trabalho de Marcelin se somaria a essas críticas e contribuiria decisivamente para a complexificação e para a mudança nos termos desses debates.

Depois do doutorado, Marcelin se estabeleceria na Universidade de Miami, onde hoje é professor, mantendo um vai e vem permanente entre os Estados Unidos e o Haiti. A tese teve um destino tão único quanto singular foi o seu conteúdo: até agora não foi publicada como livro, mas se transformou em referência obrigatória nos estudos sobre família, parentesco e relações raciais, inspirando gerações de jovens antropólogos, nutrindo novos debates e questões que tematizam áreas camponesas e periferias urbanas, no Brasil e no Caribe (em muitos casos, em um retorno ao Haiti por meio do seu trabalho na Bahia). Particularmente instigantes vêm sendo as operacionalizações empíricas e as discussões conceituais motivadas pela noção de “configuração de casas”, que abriu um amplo leque de novas percepções e questões sobre o habitar. Focos etnográficos sinalizados anteriormente, por exemplo, em trabalhos como os de Carol Stack (STACK, 1997STACK, Carol. 1997 [1974]. All our kin. New York: Basic Books) sobre família e redes sociais em bairro negro nos Estados Unidos, em Marcelin são incorporados a uma articulação teórica que passa pela leitura de Pierre Bourdieu, Norbert Elias, Claude Lévi-Strauss e a literatura brasileira sobre plantation, mas sobretudo por uma agudeza etnográfica e metodológica que desloca e critica construções como a “matrifocalidade”, a “anomia” ou a “desestruturação” da família negra, mostrando arranjos complexos e solidariedades organizadas a longo prazo, em meio a tensões de raça e classe que perpassam as relações familiares. A noção traz para o centro da cena configurações que são evidentes e centrais para os de dentro, mas invisíveis para os de fora, e que conjugam mobilidades, estabilizações, individualidades/subjetividades, coletividades, circulações de recursos, e perspectivas de arranjos e desdobramentos futuros, orientadas por valores e memórias compartilhadas. Por outro lado, Marcelin sugere ainda outros focos que vêm repercutindo de maneira muito produtiva e que continuam a apontar para novos desdobramentos e apropriações, tais como a articulação proposta entre sangue e consideração, a dimensão da raça no pensamento da família negra sobre si mesma e suas relações, e a dimensão religiosa da casa na articulação de suas hierarquias internas, de seus arranjos de memória e de suas linhas de mobilidade. Por ocasião de uma das visitas de Louis Herns Marcelin ao Brasil, em 4 de junho de 2018, organizamos no Museu Nacional um seminário para discutir os usos e as repercussões do trabalho de Marcelin em vários desenvolvimentos recentes da antropologia feita no Brasil. As primeiras versões dos trabalhos aqui apresentados foram discutidas naquela oportunidade.1 1 Com exceção do texto de Dibe Ayoub, escrito especialmente para esta publicação. Eles estão longe de esgotar as leituras de Marcelin nesses longos anos no Brasil e que, através do Brasil, impactaram parte da agenda da antropologia da casa e da família também no plano internacional.2 2 Ver, por exemplo, os trabalhos contidos em: João de Pina-Cabral e Emília Pietrafesa de Godoi, dossiê “Vicinalidades e Casas Partíveis”. 2014. Revista de Antropologia, 57 (2); John Comerford, Ana Carneiro e Graziele Dainese (orgs.). 2015. Giros etnográficos em Minas Gerais: casa, comida, prosa, festa, política, briga e o diabo (Editora 7Letras); Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.). 2018. Alquimias do Parentesco: casas, gentes, papéis e territórios (Editora Terceiro Nome); Benoit de l’Estoile e Federico Neiburg, dossiê “Governar a casa”. 2020. Etnográfica 24 (3); Camila Gui Rosatti, Heloisa Pontes e Vincent Jacques, dossiê “Habiter: maison et espace social”. 2020. Brésils, n. 18; e João Biehl e Federico Neiburg, dossiê “Oikography: Ethnographies of House-ing in Critical Times”. 2021. Cultural Anthropology 36 (4). Esperamos que o debate aqui apresentado seja mais um motivo de inspiração para novos capítulos nos desdobramentos caleidoscópicos motivados pelo trabalho pioneiro de Marcelin.

Referências

  • BARBOSA ALVIM, Maria Rosilene. 1979. “Notas sobre a Família num Grupo de Operários Têxteis”, in LEITE LOPES, J. S. et allii. Mudança Social no Nordeste Rio de Janeiro: Paz e Terra
  • BIEHL, João e NEIBURG, Federico. 2021. Dossiê: “Oikography: Ethnographies of House-ing in Critical Times”,Cultural Anthropology36 (4), 2021.
  • CARSTEN, Janet e HUGH-JONES, Stephen(eds). 1995. About the house. Levi-Strauss and beyond Cambridge: Cambridge University Press.
  • CARSTEN, Janet. 1997. The heat of the hearth. The Process of Kinship in a Malay Fishing Community Oxford: Clarendon Press.
  • COMERFORD, John; CARNEIRO, Ana e DAINESE, Graziele (orgs). 2015.Giros etnográficos em Minas Gerais: casa, comida, prosa, festa, política, briga e o diabo Rio de Janeiro: 7Letras.
  • DE L’ESTOILE, Benoit e NEIBURG, Federico. 2020. Dossiê: “Governar a casa”,Etnográfica24 (3).
  • GARCIA-PARPET, Marie France. 1984. Feira e trabalhadores rurais: as feiras do Brejo e do Agreste Paraibano Rio de Janeiro: Tese de doutorado em antropologia social, Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • GUI ROSATTI, Camila; PONTES, Heloisa e JACQUES, Vincent. 2020. Dossiê: “Habiter: maison et espace social”, Brésil(s) No. 18.
  • HEREDIA, Beatriz Maria Alásia de. 1979. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra .
  • PALMEIRA, Moacir. 2009 [1977]. “Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional”. In: WELCH, Cliff et alli. (org.). Camponeses brasileiros: Leituras e interpretações clássicas, vol. I. São Paulo/Brasília: UNESP/NEAD.
  • PINA-CABRAL, João e GODOI, Emília Pietrafesa de. 2014. Dossiê: “Vicinalidades e Casas Partíveis”,Revista de Antropologia, 57(2).
  • MARQUES, Ana Claudia e LEAL, Natacha Simei (orgs). 2018. Alquimias do Parentesco: casas, gentes, papéis e territórios São Paulo: Terceiro Nome.
  • SIGAUD, Lygia. 1979. Os Clandestinos e os Direitos. Estudo sobre trabalhadores da Cana-de-Açúcar em Pernambuco São Paulo: Duas Cidades.
  • STACK, Carol. 1997 [1974]. All our kin New York: Basic Books
  • WAGLEY, Charles. 1952. Race and Class in Rural Brasil Paris: Unesco.

Notas

  • 1
    Com exceção do texto de Dibe Ayoub, escrito especialmente para esta publicação.
  • 2
    Ver, por exemplo, os trabalhos contidos em: João de Pina-Cabral e Emília Pietrafesa de Godoi, dossiê “Vicinalidades e Casas Partíveis”. 2014PINA-CABRAL, João e GODOI, Emília Pietrafesa de. 2014. Dossiê: “Vicinalidades e Casas Partíveis”,Revista de Antropologia, 57(2).. Revista de Antropologia, 57 (2); John Comerford, Ana Carneiro e Graziele Dainese (orgs.). 2015COMERFORD, John; CARNEIRO, Ana e DAINESE, Graziele (orgs). 2015.Giros etnográficos em Minas Gerais: casa, comida, prosa, festa, política, briga e o diabo. Rio de Janeiro: 7Letras.. Giros etnográficos em Minas Gerais: casa, comida, prosa, festa, política, briga e o diabo (Editora 7Letras); Ana Claudia Marques e Natacha Simei Leal (orgs.). 2018MARQUES, Ana Claudia e LEAL, Natacha Simei (orgs). 2018. Alquimias do Parentesco: casas, gentes, papéis e territórios. São Paulo: Terceiro Nome.. Alquimias do Parentesco: casas, gentes, papéis e territórios (Editora Terceiro Nome); Benoit de l’Estoile e Federico Neiburg, dossiê “Governar a casa”. 2020DE L’ESTOILE, Benoit e NEIBURG, Federico. 2020. Dossiê: “Governar a casa”,Etnográfica24 (3).. Etnográfica 24 (3); Camila Gui Rosatti, Heloisa Pontes e Vincent Jacques, dossiê “Habiter: maison et espace social”. 2020GUI ROSATTI, Camila; PONTES, Heloisa e JACQUES, Vincent. 2020. Dossiê: “Habiter: maison et espace social”, Brésil(s) No. 18.. Brésils, n. 18; e João Biehl e Federico Neiburg, dossiê “Oikography: Ethnographies of House-ing in Critical Times”. 2021BIEHL, João e NEIBURG, Federico. 2021. Dossiê: “Oikography: Ethnographies of House-ing in Critical Times”,Cultural Anthropology36 (4), 2021.. Cultural Anthropology 36 (4).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021
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