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Captura de Rhynchophorus palmarum (L.) pelo uso de feromônio de agregação associado a árvore-armadilha e inseticida

Field trapping of Rhynchophorus palmarum (L.) using trap plants treated with aggregation pheromone and insecticide

Resumos

A eficiência do feromônio de agregação do Rhynchophorus palmaram (L.), 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol, associado com inseticida foi avaliada na captura de adultos desta praga em árvores de dendenzeiros Elaeis guineensis. Entalhes confeccionados em árvores de dendenzeiros atacadas pelo nematóide Rhadinaphelenchus cocophilus Cobb., agente causal da doença do anel-vermelho foram pulverizados com inseticida (Furadan 350 SC) mais 3 ml do feromônio. Outro grupo de árvores foram tratadas somente com inseticida. A captura de R. palmarum nas árvores tratadas com feromônio mais inseticida foi entre 65 e 89 % superior ao tratamento com inseticida.

Insecta; Coleoptera; Curculionidae; bicudo das palmáceas; Elaeis guineensis; anel-vermelho


The efficacy of the aggregation pheromone of Rhynchosphorus palmarum (L.), 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol, mixed with insecticide to capture adults of this pest on oil palm tree Elaeis guineensis was evaluated. Cuttings into the trunk of oil palm trees attacked by Rhadinaphelenchus cocophilus Cobb., the agent of red ring disease, were sprayed with Furadan 350 SC plus 3 ml 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol. Another group of plants was treated with insecticide only. The capture of R. palmarum on oil palm trees treated with pheromone plus insecticide was 65 to 89% greater than those treated with insecticide only.

Insecta; Coleoptera; Curculionidae; palm weevil; Elaeis guineensis; red ring disease


Captura de Rhynchophorus palmarum (L.) pelo uso de feromônio de agregação associado a árvore-armadilha e inseticida

Field trapping of Rhynchophorus palmarum (L.) using trap plants treated with aggregation pheromone and insecticide

José I. L. MouraI; José M. S. BentoII; Jonas de SouzaI; Evaldo F. VilelaIII

IEstação Experimental Lemos Maia, CEPLAC, 45690-000, Una, BA

IIIÍCA/EMBRAPA/CNPMF, Caixa postal 07, 44380-000, Cruz das Almas, BA

IIIUniversidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Animal, 36571-000, Viçosa, MG

RESUMO

A eficiência do feromônio de agregação do Rhynchophorus palmaram (L.), 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol, associado com inseticida foi avaliada na captura de adultos desta praga em árvores de dendenzeiros Elaeis guineensis. Entalhes confeccionados em árvores de dendenzeiros atacadas pelo nematóide Rhadinaphelenchus cocophilus Cobb., agente causal da doença do anel-vermelho foram pulverizados com inseticida (Furadan 350 SC) mais 3 ml do feromônio. Outro grupo de árvores foram tratadas somente com inseticida. A captura de R. palmarum nas árvores tratadas com feromônio mais inseticida foi entre 65 e 89 % superior ao tratamento com inseticida.

Palavras-chave: Insecta, Coleoptera, Curculionidae, bicudo das palmá-ceas, Elaeis guineensis, anel-vermelho.

ABSTRACT

The efficacy of the aggregation pheromone of Rhynchosphorus palmarum (L.), 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol, mixed with insecticide to capture adults of this pest on oil palm tree Elaeis guineensis was evaluated. Cuttings into the trunk of oil palm trees attacked by Rhadinaphelenchus cocophilus Cobb., the agent of red ring disease, were sprayed with Furadan 350 SC plus 3 ml 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol. Another group of plants was treated with insecticide only. The capture of R. palmarum on oil palm trees treated with pheromone plus insecticide was 65 to 89% greater than those treated with insecticide only.

Key words: Insecta, Coleoptera, Curculionidae, palm weevil, Elaeis guineensis, red ring disease.

O adulto de Rhynchophorus palmarum (L.) (Coleoptera: Curculionidae) é o principal vetor do nematóide Rhadinaphelenchus cocophilus Cobb., agente causal da doença do anel-vermelho (Genty et al. 1978). Esta doença é mortal para coqueiros (Cocos nucifera) dendenzeiros (Elaeis guineensis) e outras palmeiras.

Plantas debilitadas pelo anel-vermelho ou que tenham sofrido ferimento mecânico ou ataque por inseto, exalam odores de fermentação da seiva que atraem os adultos de R. palmarum (Bondar 1940, Moura et al. 1989, Rochat 1987). Uma vez encontrada a planta hospedeira, o macho de R. palmarum libera um feromônio de agregação atraindo fêmeas e outros machos, que se agrupam sobre à fonte de alimento, promovendo o acasalamento (Nadarajan 1986, Rochat 1987, Moura et al. 1989, Sanches et al. 1993). Ao se alimentarem de plantas debilitadas pelo anel-vermelho, estes insetos tornam-se vetores do nematóide R. cocophilus reiniciando o ciclo da doença.

O controle de R. palmarum tem sido baseado no uso de atrativos alimentares, principalmente iscas a base de estipe de dendenzeiros e coqueiros ou toletes de cana-de-açúcar colocadas em diversos tipos de armadilhas para capturar e matar os adultos (Morin et al. 1988, Chinchil et al. 1990, Moura et al. 1991).

Com a descoberta do feromônio de agregação do R. palmarum, o 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol (Rochat et al. 1991), esperava-se uma redução no uso de atrativos alimentares. Entretanto, demonstrou-se que o feromônio exercia pouca ou nenhuma atratividade sobre os demais adultos quando utilizado sozinho, havendo a necessidade de associá-lo a um atrativo alimentar o que o tornava eficiente (Oehlschlager et al. 1992, Jaffe et al. 1993). Isto fez com que as técnicas de manejo visando o controle desta praga fossem aprimoradas, recomendando-se a associação do feromônio mais a presença de um atrativo alimentar. O uso de árvore-armadilha, que consiste no aproveitamento de plantas atacadas pelo anelvermelho impregnadas com inseticida mais feromônio, ainda não foi avaliado como método de controle de R. palmarum, sendo este o objetivo deste trabalho.

Material e Métodos

Utilizou-se para este estudo um plantio, de 33 ha de dendenzeiros, com idade de 15 anos, na Estação Experimental Lemos Maia (CEPLAC), em Una-BA, durante os meses de julho a outubro de 1995.

Foram selecionadas 22 árvores atacadas na fase inicial da doença anel-vermelho, como atrativo alimentar aos adultos de R. palmarum. Nestas plantas, promoveu-se no tronco, a uma altura de 1,5 m um entalhe no formato de cunha de 15 a 20 cm de profundidade. Em seguida, preparou-se uma calda inseticida, misturando-se 120 ml de Furadan 350 SC em 20 l de água, sendo utilizados cerca de 50 ml da calda em cada entalhe. Abaixo do entalhe, efetuou-se um corte transversal e injetou-se com seringa, aproximadamente, 100 ml do herbicida Daconate (MSMA), com a finalidade de acelerar a mortalidade dos dendenzeiros, aumentando a atratividade destas plantas para adultos de R. palmarum. Ao acaso, selecionou-se 11 das 22 árvores para receberem 3 ml do feromônio de agregação 2(E)-6-methyl-2-hepten-4-ol, dentro dos entalhes. Este feromônio foi acondicionado em tubos de plástico contendo microporos, para liberação lenta do produto. Assim, permitiu-se que os adultos de R. palmarum atraídos pelos odores liberados dos entalhes das plantas com ou sem feromônio fossem mortos em contato com o inseticida.

As avaliações consistiram da retirada e contagem dos adultos de R. palmarum capturados nos entalhes a cada 10 dias. Após 120 dias, os dendenzeiros foram seccionados transversalmente visando constatar se algum inseto havia escapado ou não da ação do inseticida e colonizado o interior do tronco.

Resultados e Discussão

Ao longo de 120 dias foram coletados 1089 adultos do R. palmarum nas árvores-armadilha contendo o feromônio de agregação, contra 330 nas árvores-armadilha sem o feromônio. Em todas as avaliações a cada 10 dias, o tratamento com o feromônio correspondeu entre 65 e 89% de todos os adultos do R. palmarum capturados no período (Fig. 1).


As árvores-armadilha associadas ao feromônio permanecem mais tempo atrativas ao R. palmarum do que iscas a base de cana-de-açúcar ou pedaços de estipe de palmáceas. Segundo Moura et al. (1991), o tempo de duração da atração das iscas com cana-de-açúcar e pedaços de estipe de palmáceas é de, aproximadamente, 15 e sete dias, respectivamente. No caso das árvores-armadilha, constatou-se que as mesmas se mantiveram atrativas ao longo de três meses. Embora estas plantas possivelmente viessem a atrair novos adultos de R. palmarum, o seu uso não é aconselhado. Após este período, corre-se o risco de alguns insetos escaparem a ação do inseticida e colonizarem o interior do meristema do dendenzeiro, já que o ciclo de vida deste inseto é cerca de quatro meses e o herbicida não tem ação sobre as formas jovens. Das 22 plantas seccionadas transversalmente, somente duas apresentaram larvas de R. palmarum nos entalhes. Entretanto, um corte longitudinal nos dendenzeiros demonstrou que oito árvores possuíam uma ou mais larvas. Com isso, deve-se eliminar estas árvores após três meses de uso como árvores-armadilha.

A vantagem no uso de árvores-armadilha com feromônio, impregnadas com inseticida, está no aproveitamento dos dendenzeiros atacados pelo anel-vermelho e na sua eficiência na coleta dos adultos de R. palmarum. Tratando-se de plantações acima de 10 anos é mais viável economicamente que a simples erradicação das árvores atacadas ou, possivelmente, que o uso de outras armadilhas a base de cana-de-açúcar ou estipe de palmáceas (Moura et al. 1995).

A desvantagem deste método é de não poder ser utilizado em plantações com menos de 10 anos devido a espessura das árvores. Outra desvantagem está na constante exposição da doença no campo, pois pode ocorrer que um besouro se alimente da planta sem entrar em contato com o inseticida e infecte outras palmas, ou ainda, de uma forma mais remota, que outros insetos ou instrumentos cortantes, transmitam a doença (Franco 1964, Dean 1979). Outra possibilidade, seria a contaminação de uma planta doente para uma planta sadia via sistema radicular (Warwick & Bezerra 1992).

Num programa de manejo integrado de dendenzeiro em Nazaré, BA, Moura et al. (1995) reduziram, ao longo de dois anos, em até 65% a população de R. palmarum e em 8% a doença do anel-vermelho, numa área de 1.115 ha. Dentre as táticas empregadas, cita-se o uso de árvores-armadilha com inseticida mais herbicida. Contudo, quando as plantas se apresentavam secas pela ação do herbicida, utilizou-se fogo com o propósito de eliminar os insetos nela presente. Neste caso, observou-se larvas, pupas e adultos de R. palmarum mortos pela ação do fogo.

Em plantações de dendê no Norte do Brasil, onde casos de anel-vermelho estão associados com o amarelecimento fatal, doença letal ainda desconhecida, o uso de árvore-armadilha com feromônio poderá ser bem sucedido, pois nestas plantações os dendenzeiros não são erradicados, e sim mortos através da aplicação de óleo diesel na região da flecha (J.I.L. Moura, não publicado).

Observou-se, ainda, que Rhinostomus barbirostris (L.) foi atraído pelas árvores-armadilha com e sem feromônio. Este curculionideo, como R. palmarum, é uma séria praga dos coqueiros do Nordeste do Brasil. Entretanto, não é atraído por iscas constituídas de estipe de palmáceas e cana-de-açúcar. Desse modo, esta técnica poderá ser útil em estudos etológicos e de controle do R. barbirostris.

Literatura Citada

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  • Dean, C.G. 1979. Red ring disease oïCocus mucifera L. caused by Rhadinaphelenchus cocophilus (Cobb, 1919) Godoy, 1960. An annoted bibliography and Review. St. Albans, Herts, Commonwaith Institute of Helminthology. Tech. Com. I 47,70p.
  • Franco, E. 1964. Estudo sobre o anel vermelho do coqueiro. Sergipe. Insp. Def. San.Veg., 235p.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 1997

Histórico

  • Aceito
    22 Jan 1997
  • Recebido
    30 Maio 1996
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