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Estimativa do número de gerações de Trichogramma pretiosum Riley na traça do tomateiro Tuta absoluta (Meyrick), com base nas exigências térmicas

Number of Trichogramma pretiosum Riley generations in Tuta absoluta (Meyrick), Related to thermal requirents

Resumos

Determinou-se o número de gerações de Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera:Trichogrammatidae) na traça do tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera:Gelechiidae), para 24 épocas de plantio, em Alegre, ES, utilizando-se dados de temperatura do ar, obtidos em estação meteorológica. Através de estudos em laboratório, determinou-se a temperatura base de 13,0ºC e a constante térmica de 131 graus-dia. O número médio de gerações do parasitóide na traça, por época de plantio de tomate (Lycopersicum esculentum), com ciclo de 90 dias, foi de 7,7, variando de 9,2 no verão a 6,0 no inverno.

Insecta; Trichogrammatidae; controle biológico; traça do tomateiro; constante térmica


A study was carried out in the laboratory to determine the number of generations of Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) parasitizing Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) eggs, considering averages of air temperatures for 24 seasons in Alegre, ES. The lower thereshold temperature and thermal constant were 13.0 °C and 131 degree-days, respectively. The average number of generations of T. pretiosum estimated for each tomato cycle (90 days) was 7.7 generations, ranging from 9.2 in the summer to 6.0 in the winter.

Insecta; Trichogrammatidae; biological control; tomato leafminer moth; thermal constant


CONTROLE BIOLÓGICO

Estimativa do número de gerações de Trichogramma pretiosum Riley na traça do tomateiro Tuta absoluta (Meyrick), com base nas exigências térmicas

Number of Trichogramma pretiosum Riley generations in Tuta absoluta (Meyrick), Related to thermal requirents

Dirceu PratissoliI; José E. M. PezzopaneI; Marlon D. D. EspostiI; Cleir L. BertazoI; José M. FornazierII

ICentro Agropecuário-UFES, Caixa postal 16, 29500-000, Alegre, ES

IIEmpresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária/EEMF, BR 262, km 94, 29.375-000, Venda Nova do Imigrante, ES

RESUMO

Determinou-se o número de gerações de Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera:Trichogrammatidae) na traça do tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera:Gelechiidae), para 24 épocas de plantio, em Alegre, ES, utilizando-se dados de temperatura do ar, obtidos em estação meteorológica. Através de estudos em laboratório, determinou-se a temperatura base de 13,0ºC e a constante térmica de 131 graus-dia. O número médio de gerações do parasitóide na traça, por época de plantio de tomate (Lycopersicum esculentum), com ciclo de 90 dias, foi de 7,7, variando de 9,2 no verão a 6,0 no inverno.

Palavras-chave: Insecta, Trichogrammatidae, controle biológico, traça do tomateiro, constante térmica.

ABSTRACT

A study was carried out in the laboratory to determine the number of generations of Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae) parasitizing Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae) eggs, considering averages of air temperatures for 24 seasons in Alegre, ES. The lower thereshold temperature and thermal constant were 13.0 °C and 131 degree-days, respectively. The average number of generations of T. pretiosum estimated for each tomato cycle (90 days) was 7.7 generations, ranging from 9.2 in the summer to 6.0 in the winter.

Key words: Insecta, Trichogrammatidae, biological control, tomato leafminer moth, thermal constant.

O manejo integrado pode ser facilitado através de modelos matemáticos para previsão de ocorrência de pragas e de inimigos naturais. Dentre os componentes de um modelo, a temperatura é um dos que mais afetam diretamente os insetos, pois, em função das necessidades térmicas dos mesmos e do local analisado, há possibilidades de uma variação na densidade populacional da praga e de seus inimigos naturais (Haddad & Parra 1984). As necessidades térmicas dos insetos podem ser expressas pela constante térmica, em graus-dia. Esta constante, parte da hipótese que a duração do ciclo de desenvolvimento de insetos e vegetais é explicada pelo somatório da temperatura, computado a partir de um limiar térmico inferior (temperatura base).

A determinação das exigências térmicas de parasitóides do gênero Trichogramma pode auxiliar na sua produção massal (Parra et al. 1991); no estudo da influência dos hospedeiros sobre o desenvolvimento desse parasitóide (Butler & López 1980, Goodenough et al. 1983, Pratissoli 1995); nos trabalhos que visam conhecer o desempenho de espécie e/ou linhagens (Bleicher 1990a, Parra et al. 1991 , Tironi 1992) e na previsão de liberações dos mesmos no campo, bem como no potencial de reprodução desses parasitóides em relação a uma determinada praga (Bleicher & Parra 1990b, Parra et al. 1991, Sales Jr. 1992, Tironi 1992, Pratissoli 1995).

O objetivo deste trabalho foi estimar o número de gerações de Trichogramma pretiosum Riley (Hymenoptera: Trichogrammatidae), em ovos da traça do tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), em diversas épocas de plantio, em Alegre, ES, utilizando-se a temperatura base e a constante térmica, determinadas em condições de laboratório.

Material e Métodos

Determinação da Temperatura Base (Tb) e Constante Térmica (K). A linhagem de Trichogramma (denominada de CAUFES-1), coletada em tomate, na região de Alegre, foi mantida em laboratório no interior sacos plásticos, colocando-se, em suas paredes internas, gotículas de mel, para alimentação dos adultos, sendo os sacos fechados com elástico. Foram oferecidos ovos do hospedeiro alternativo Anagasta kuehniella (Zeller), colados em retângulos de cartolina (2,5 X 10 cm), através de goma arábica diluida a 30% (Parra et al. 1985), e inviabilizados pela exposição à lampada germicida, por 45 minutos. As cartelas, contendo ovos parasitados, foram armazenadas em câmaras climatizadas, a 22,0 ± 1,0 ºC, 70 ± 10% UR e fotofase de 14 horas.

Para a determinação das exigências térmicas da linhagem de T. pretiosum, 12 cartelas contendo 70 ovos de T. absoluta foram isoladas em tubos de vidro (13,0 X 1,0 cm), fechados em filme plástico de PVC MagipackÒ, contendo uma gota de mel para alimentação dos adultos do parasitóide. Foram liberadas, em cada tubo, 7 fêmeas, permitindo um parasitismo por 5 horas, em câmara climatizada, mantida à 25,0 ± 1,0 ºC, 70 ± 10% UR e fotofase de 14 horas. Ao final desse período, as fêmeas foram retiradas sob microscópio esteroscópico, sendo cada conjunto de tubos transferidos para câmaras climatizadas BOD, reguladas a 18, 20, 22, 25 e 32 ºC, 70 ± 10% UR e fotofase de 14 horas. O cálculo do limiar inferior (Tb) e da constante térmica (K) foi realizado utilizando-se o método da hipérbole (Haddad & Parra 1984), baseando-se na duração do período ovo-adulto obtido nas seis temperaturas utilizadas.

Número de Gerações. Os dados diários de temperatura máxima e mínima foram obtidos na Estação Agrometeorológica do Centro Agropecuário da UFES, em Alegre, ES (latitude = 20º45'S, longitude = 41º28'W e altitude = 150 m), nos períodos de 1976 a 1983 e 1987 a 1991. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen é do tipo "Aw", tropical com inverno seco. Considerando que o período de atividade da traça T. absoluta e da linhagem de T. pretiosum, na cultura do tomateiro, é de 90 dias, procedeu-se ao cálculo do acúmulo de graus-dia (GD), de acordo com Silveira Neto et al. (1976), para 24 épocas de plantio (iniciando-se em 01 de janeiro, em intervalos de 15 em 15 dias), utilizando-se as temperaturas máximas e mínimas e a temperatura base (Tb)[GD = S (Tmed - Tb).

O número provável de gerações de T. pretiosum (N), por época de plantio, foi calculado utilizando-se os dados de GD em cada época e a constante térmica do parasitóide (K): N = GD/K.

Assumindo válida a distribuição normal, os dados de "N" foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas através do teste de Scott-Knott (1974) ao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Em função da velocidade de desenvolvimento, nas diferentes temperaturas, para o período ovo-adulto, determinou-se uma temperatura base (Tb) de 13,0ºC e uma constante térmica (K) de 131 graus-dia (Fig. 1). Pratissoli (1995), trabalhando com uma outra linhagem de T. pretiosum, sobre o mesmo hospedeiro, obteve valores que diferenciaram em décimos dos obtidos na presente pesquisa. Os valores de Tb e K , obtidos para T. pretiosum em ovos de T. absoluta, foram ligeiramente inferiores aos encontrados por diversos pesquisadores, resultando em uma constante térmica inferior a apresentada em diferentes citações (Orphanides & Gonzales 1971, Butler Jr. & López 1980, Goodenough et al. 1983, Bleicher & Parra 1990b, Tironi 1992). Os valores dessas exigências térmicas vêm confirmar as informações relatadas por Pratissoli (1995) e de outros autores, de que as variações ocorridas na Tb e K estão diretamente relacionadas com a linhagem de T. pretiosum e o hospedeiro de criação.


As constantes térmicas da praga e do parasitóide têm sido comparadas para verificar o potencial de aumento da população de Trichogramma, através do número provável de gerações que o parasitóide apresenta em relação à praga (Bleicher & Parra 1990b, Parra et al. 1987, Sales Jr. 1992). O número médio de gerações do parasitóide (N) durante o ciclo do tomateiro, na região de Alegre, foi 7,7. Entretanto, houve uma flutuação do número de gerações ao longo do ano, pois, na época de plantio de 01 de janeiro, existe uma possibilidade de ocorrerem, em média, 9,2 gerações, e para a época de 01 de junho, podem ocorrer apenas 6,0 gerações (Fig. 2). A análise de variância (teste F) mostrou que essa diferença foi significativa (P < 0,01). O teste de Scott-Knott permitiu juntar as 24 épocas de plantio em oito grupos (Tabela 1).


Os resultados mostraram que, devido à flutuação do balanço energético ao longo do ano, determinando o comportamento da temperatura, houve uma variação temporal do número de gerações de T. pretiosum em tomateiro, sendo, assim, um fator a ser considerado na utilização deste parasitóide no controle de T. absoluta. Apesar do comportamento estável da temperatura, em uma mesma época de plantio, e da importância desse elemento no desenvolvimento do T. pretiosum, a campo, o número de gerações poderá ser influenciado por outros elementos meteorológicos como umidade do ar, fotoperíodo, entre outros e o tipo de manejo da cultura do tomateiro (Butler & López 1980). Esses fatos nos levam a supor que a possibilidade do sucesso de um programa de controle biológico dessa traça do tomateiro, com esse parasitóide de ovos, pode estar respaudada numa recomendação do plantio da cultura do tomate nos períodos em que há um número maior de gerações de T. pretiosum, aumentando a possibilidade do parasitóide manter as populações de T. absoluta em níveis inferiores ao de dano economico à cultura.

O cálculo diário de graus-dia requer experimentações prolongadas de laboratórios e, na tentativa de viabilizar um outro tipo de parâmetro para este tipo de estudo, visando utiliza-lo para outras regiões, foi desenvolvido este modelo linear simples para estimar o número de gerações (N), utilizando-se apenas a temperatura média do ciclo do tomateiro (T): N = -8,36 + 0,667 T.

Utilizando-se apenas a temperatura média trimestral do período de atividade da traça e do parasitóide no tomateiro, um dado disponível em postos agrometeorológicos, pôde-se determinar esse parâmetro, o qual pode suprir a falta de dados diários de temperatura. Este fato pode ser confirmado através do bom ajuste do modelo (Fig. 3). Logicamente, para que o modelo possa ser aplicado em outras regiões produtoras de tomate no Espírito Santo, seria necessário utilizar dados de outras estações meteorológicas para o ajuste de um modelo mais abrangente, bem como determinar a validação desses modelos a nível de campo. Sendo assim, esse modelo poderá ser utilizado na elaboração de um zoneamento ecológico do T. pretiosum, para o Espírito Santo, de acordo com metodologia utilizada por Parra (1985) trabalhando com o bicho mineiro do cafeeiro [Perileucoptera coffeella (Guerin Menneville)].


Literatura Citada

Recebido em 27/05/96. Aceito em 02/02/98.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Ago 2006
  • Data do Fascículo
    Mar 1998

Histórico

  • Recebido
    27 Maio 1996
  • Aceito
    02 Fev 1998
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